NO ESPAÇO, NINGUÉM PODE TE OUVIR GRITAR…
No cinema, é comum que renomadas franquias tenham seus pontos altos e baixos. É o caso de Alien. Sua introdução em 1979, e a continuação em 1986, celebram tudo o que ficou conhecido como o melhor do horror e da ação espacial. Entretanto, a franquia caiu em um limbo, especialmente com Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017). É tentando dar uma guinada nesse ardiloso caminho que a 20th Century Studios, de A Noite das Bruxas (Hallowe’en Party, 2023), criou o projeto Romulus. Uma ressurreição de Alien, dessa vez nas mãos do uruguaio Fede Álvarez. Abusando do cânone e de todo o conhecimento anterior, como o reboot de A Morte do Demônio (Evil Dead, 2013), Álvarez cria uma atmosfera digna do Xenomorfo, tecnicamente impecável que acaba jogando em elementos seguros no desenvolvimento de Alien: Romulus, tornado-se um cenário de terror visceral no espaço disponível na Disney+.
O MELHOR DOS EFEITOS ESPECIAIS, TODOS DIGNOS DE ÓSCAR:
Primeiramente, a característica que se sobressai em Alien: Romulus é a sua parte técnica. Em especial, a inteligência de evitar efeitos digitais em excesso. Da mesma forma que em Evil Dead, o diretor optou por criar o Xenomorfo como animatrônico e usando efeitos práticos. Um acerto essencial para a atmosfera de sobrevivência. Elementos de gore são muito mais próximos da origem da criatura e que se encaixam na claustrofobia do espaço, onde absolutamente ninguém consegue ouvir. Inclusive, a estrutura da estação Renaissance é perfeita para a manutenção do suspense e das cenas mais desconfortáveis de Alien: Romulus. Sem dúvida, é possível destacar que aquela ambientação é fruto da mente da corporação Weyland-Yutani e de seus segredos. Essa mesma sensação, fruto da excelente fotografia de Galo Olivares, consegue passar o mesmo resultado daquela vista em Abismo do Medo (The Descent, 2005), em níveis de ansiedade.

Os enquadramentos da direção de Fede Álvarez antecipam essa sensação sufocante e opressiva da fotografia de Olivares. Mesmo que todo o longa já tenha uma estética distópica de perda de liberdade em uma tecnocracia espacial. Em seu primeiro ato, a câmera é calma para a apresentação do destino dos personagens. A partir da invasão da Renaissance, muda-se de uma estrutura stealth para a sobrevivência, com o abuso inclusive do escuro e da sonoplastia. Como os Facehuggers não enxergam, o uso do silêncio é fundamental. E a trilha sonora de Roque Baños, que trabalho com Álvarez em O Homem nas Trevas (Don’t Breathe, 2016), colabora de forma eficaz. Os ruídos da criatura, seu rastejo na água e os alarmes ensurdecedores da estação criam uma atmosfera caótica de sobrevivência, algo também presente no mundo dos videogames, como os vistos em Alien: Isolation (2014), produzido pela britânica Creative Assembly.
A HISTÓRIA JOGA COM SEGURANÇA, COM UMA ESTRUTURA ASSUSTADORA:
Ademais, Alien: Romulus pode parecer um filme mais longo do que deveria, com seus 119 minutos de duração. Porém, seus atos são bem estruturados e criveis, o que não ocasiona nenhuma quebra abrupta de sua história. Na verdade, a evolução do desespero é crescente e, de certa forma, é necessário conhecer o grupo de personagens, mesmo que apenas dois sejam os grandes protagonistas. O terceiro ato, que é sempre problemático em filmes desse gênero é satisfatório, concluindo de forma análoga ao que ocorreu aos títulos originais. Emborta deixe uma aberta uma possível sequência. Tudo que está contido em Alien: Romulus é uma espécie de expansão de todo o universo da franquia do Xenomorfo com a qualidade necessária e o gore apropriado, não devendo em nada com as películas de Ridley Scott, de Napoleão (2023) e de James Cameron, de Titanic (2017) que o antecederam e responsáveis pela padronização da franquia.

Todas estas características fazem com que Alien: Romulus jogue com segurança. E isso se sobressai no roteiro, também de Álvarez e do uruguaio Rodo Sayagues, de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface (The Texas Chainsaw Massacre, 2022). Realmente, é difícil criar uma final girl como foi a de Sigourney Weaver. Entretanto, o filme condiciona a personagem Rain (Cailee Spaeny) como a protagonista da vez, que busca sair de sua vida miserável e viajar para um sistema planetário melhor do que o do planeta LV-410. O que ninguém sabia era que, no ano de 2142, a Weyland-Yutani tinha ciência do ocorrido na Nostromo. Em outras palavras, Alien: Romulus ocorre entre Alien: O Oitavo Passageiro (Alien, 1979) e Aliens: O Resgate (Aliens, 1986). Mesmo com diversos elementos canônicos, a estrutura do roteiro é direta ao conduzir a narrativa da mesma forma que as anteriores.
COM TODA CERTEZA, ESQUEÇA QUALQUER TIPO DE INVENTIVIDADE:
Não há grande inventividade em Alien: Romulus, fazendo o filme ser uma grande homenagem ao que é mais marcante para a franquia. E isso acaba sendo uma faca de dois gumes. Por um lado, estabelece uma ligação emocional e estrutural com toda a franquia. Por outro lado, acaba se firmando em uma segurança ao se tornar uma cópia contemporânea ou moderna de Alien. Isso inclusive impacta nos personagens. Rain segura os momentos que exigem carga dramática, seu grupo de amigos apenas está disponível para serem as barrigas de aluguel dos Facehuggers. Até mesmo o androide Andy (David Jonsson), que faz às vezes de um irmão adotivo de Rain, começa como um protagonista, para então revelar comportamentos questionáveis. Isso não seria questionável se androides imorais não fossem utilizados tanto na trilogia original, como o Ash de Iam Holm e do David de Michael Fassbender no prequel.

No fim das contas, Alien: Romulus é uma sincera e satisfatória homenagem para uma franquia que, de tempos em tempos, se perde em sua concepção e futuro. Não há dúvida de que o design de produção obedece ao estabelecido, com ambientes futuristas dignos de pesadelos, mas que parecem ser de uma humanidade distópica. Além disso, sua área técnica é particularmente soberba na fotografia, direção e sonoplastia, levando à imersão do espectador. Álvarez e sua equipe entenderam tudo que deu certo na franquia e a transportou para a sua visão moderna, sem relegar os efeitos digitais. Porém, abusa dos efeitos práticos, algo que se mostra a melhor opção desde filmes como Jurassic Park (1993) e Anaconda (1997). Definitivamente, o passo a passo estabelecido em Alien é posto em prática com ótimo esforço e competência, o que inclui o seu roteiro e a emulação de um final girl.
ALIEN: ROMULUS É A EXCELENTE HOMENAGEM E UM CAMINHO DA FRANQUIA:
Infelizmente, essa absoluta segurança em jogar dentro das regras acaba trazendo certa previsibilidade na história de Alien: Romulus. Mesmo com um certo background, os coadjuvantes responsáveis por invadir a estação espacial servem apenas como isca da criatura. Não há uma tentativa de sair de tudo aquilo que já foi estabelecido e repetido, mas sim modernizar. Isso inclusive em seu subtexto, ainda mais expositivo sobre a exploração de grandes corporações. Entretanto, nada disso apaga o trabalho competente de Álvarez pela primeira vez na franquia. Alien: Romulus é uma janela que consegue divertir tanto os amantes da franquia, os espectadores de primeira viagem e aqueles que passam os dias jogando títulos como o remake de Dead Space (2023) e The Callisto Protocol (2022). Pode não ser inventivo, mas é uma experiência satisfatória e de qualidade técnica inegável, trazendo mais uma vez o Xenomorfo de volta para as telas do cinema.
Números
Alien: Romulus
Em um mundo distópico onde não existem escolhas, um grupo em uma colônia decide invadir uma estação espacial. Acontece que nas áreas Rômulo e Remo da Renaissance, o Xenomorfo criava suas próprias vítimas e ressurgia no cinema como uma homenagem a toda a franquia com Alien: Romulus, do diretor uruguaio Fede Álvarez.
PRÓS
- Fotografia, design de produção e sonoplastia são unânimes em construir uma atmosfera opressora, mesmo com os gigantescos corredores e salas sem fim.
- Uso competente de efeitos práticos para as cenas de gore, assim como o uso não excessivo dos efeitos especiais, trazendo uma essência de extrema qualidade.
- A direção consegue fluir junto ao roteiro, no sentido de conformar seus atos entre calmaria e caos, ao mesmo tempo que intensifica a claustrofobia do espaço.
- Sendo uma homenagem com o que há de melhor em Alien, é impossível não se divertir e relembrar os ótimos momentos da franquia.
- Não há deslizes no roteiro de Alien: Romulus. Tudo acontece de maneira segura e cadenciada.
CONTRAS
- Com exceção dos dois protagonistas, todos os outros personagens servem apenas como um plantel à disposição do Xenomorfo.
- Jogando em uma segurança extrema, o longa não aposta em grandes inovações, trazendo um roteiro literal do que esperar de um filme da franquia Alien.
Phometeus e Covenant são incompreendidos. Dar uma ideia de onde surgiram as criaturas era algo que o público queria? Não. Mas expandiu a mitologia. Pena que não dá melhor forma, então entendo o motivo desses filmes levarem um hate desproporcional ao que de fato são.
Agora, quanto a Alien: Romulus, de fato é um Alien em propriedade. A atmosfera assustadora e o bom uso de efeitos práticos, como vocês mesmo falaram, é o ponto forte. Dá para se sentir no filme de 1979 sem problema algum. Claro que com uma tecnologia melhor. Uma nota que no fim também acredito que seja de acordo.
Admito que você é corajoso em falar que Covenant é bom kkkkkk. Prometheus tem até seus pontos interessantes como filme de origem, mas não vai muito além disso. Particularmente, essa galera entre sempre no mesmo nicho de filmes de terror que tentam buscar o inexplicável e aquilo que ninguém queria, tipo Massacre da Serra Elétrica: O Início. Por isso mesmo foi bom que o Ridley Scott tenha ficado apenas na produção desse. Vou defender as escolhas do Álvarez pois foram as melhores.
É gostoso quando uma franquia acaba voltando com tudo aquilo que já era conhecida. Alien: Romulus é tudo que os fãs da franquia pediam, sem sombra de dúvida. Claro que sobre ele pesa um clássico que é Oitavo Passageiro, mas ainda assim conseguiram agradar e agregar valor nesta franquia. Ainda mais do que as tentativas feitas com Predador (com exceção de um último filme que foi bem interessante).
De fato, só não tem Oitavo Passageiro no nome pois não tinha como. Romulus pegou um script e as anotações de tudo que um fã quer ver de um filme de Alien e colocou na tela. E isso não é pouco se comparado com o precedente da franquia. Dizem que além de uma sequência que poderia ter a Sigourney Weaver novamente em seu papel de Ripley (lembrando que em teoria, ela está perdida no espaço depois dos eventos de Alien), a 20th Century tem interesse em refazer um crossover com o Predador.
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