Viagem para outros mundos é algo conhecido no mundo do entretenimento eletrônico. Mas sem dúvida, a viagem promovida por Agony é diferente de tudo que já se viu. O título da Madmind Studios, multiplataforma e com versão para o Nintendo Switch coloca o jogador como uma alma perdida no Inferno, e no conceito mais brutal deste mundo inferior. Sem memórias, o jogador deve seguir a procura da Rainha Vermelha para tentar escapar do local. Assim, por mais que a teoria de fugir do Inferno seja de certa forma pacífica, Agony detinha a ideia de se transformar em uma ideia chocante, criando uma ambientação que poderia ser encontradas nos piores pesadelos já vistos. Resta saber é claro se a teoria, que se apresenta ótima e singular conseguiu ser produzida com maestria na prática. Ou se o jogador, além de visitar o inferno, também vive um verdadeiro martírio no jogo.
Primeiramente, e talvez o principal e um dos poucos onde Agony se faz presente é sua premissa e sua ambientação, sendo esta com alguns destaques. Inicialmente, o jogador se encontra em um título muito próximo a outros como Outlast e Amnesia, onde o seu dever é explorar e se esconder. Demônios se encontram em todos os lados e direções, e destruirão a alma do personagem, que retornará apenas no último checkpoint ao qual passou. Dentro desta jogabilidade que já cria um certo grau de suspense, uma vez que você não consegue se defender, há também o pano de fundo do cenário. E aqui, não existem sinônimos para onde a criatividade do estúdio chegou. Usando-se da teoria do inferno judaico-cristão com fogo, enxofre e demônios, a estética de Agony é como o próprio nome diz: agonizante.
Agony impressiona pelo conceito de Inferno. Sem dúvida brutalidade é o seu nome:
Cenas com mutilações, bebês em formatos bizarros, pessoas crucificadas aparecem aos montes. Da mesma forma que paredes vivas de carne e gordura, pessoas nuas desesperadas e demônios estilizados são o pior pesadelo. A todo o momento, e em qualquer lugar, a curiosidade pode ser aflorada no jogador, mas o título faz questão de enojar, e no bom sentido. Não existe uma concepção de Inferno mais nojenta e que provoque mais aversão do que a apresentada por Agony. E isso é realmente positivo e o intuito do título. Porém, os pontos positivos praticamente terminam. O que teoricamente seria uma peça no cenário de horror, passa a ser um pesadelo na jogabilidade e na própria estética do game. Primeiramente, por mais que os cenários sejam de fato insanos com a presença de imagens perturbadoras, o nivelamento gráfico não apresenta o mesmo grau da concepção.
Além disso, Agony apresenta uma terrível tendência de queda na taxa de quadros por segundo que incomoda demais. Normalmente, quando o cenário se intensifica com a aparição de demônios e outras criaturas, é comum perceber essa queda na movimentação. Não ocorre nenhum travamento da jogatina, porém essa queda de qualidade incomoda e até mesmo para olhares menos atentos é visível. Sem dúvida, o trabalho conceitual merecia sim ter um retoque gráfico e necessário, uma vez que a atmosfera do título é interessante e poderia ser ainda mais interessante. Entretanto, a queda de qualidade durante a jogatina tira parcialmente esse brilho que Agony poderia ter. Além disso, é bom destacar que embora a trilha sonora seja feita para incomodar, afinal, estamos no Inferno, ainda assim ela é enjoativa, e torna-se descompassada. Alguns momentos de silêncio seriam já o suficiente para passar a ideia de pavor.
Entretanto, as falhas começam a aparecer, em especial na jogabilidade:
Na jogabilidade, além de contar com a queda de qualidade, os controles de Agony não são previsíveis. E isso no pior dos sentidos. A movimentação do personagem em diversos momentos é falha e até mesmo dura para um título que inicialmente é de sobrevivência. Depois, o jogo até inova em elevar o poder do jogador, fazendo-o com que controle seus próprios demônios. O que de fato trás uma nova perspectiva e invertendo a ideia de presa e predador. Contudo, ela poderia ser melhor aproveitada, e se encontra presente no título quase que como um bônus. Mesmo neste momento mais poderoso do jogador, os controles ainda assim não são os ideais, fazendo com que o virtual não responda ao comando do real. Além disso, é bom destacar, que Agony conta com um nível de dificuldade que é entendível por sua proposta, porém acaba pecando inclusive na produção de seus cenários.
Obviamente, esse ponto se reserva aos Checkpoints. Ocorre que em Agony, no caso de sua alma ser dilacerada por um demônio, o jogador retora para o último momento em que salvou a jogatina. Entretanto, a forma como os cenários foram produzidos colocam esses pontos extremamente distantes. Da mesma forma que outros estão extremamente perto. O senso de espaço se perdeu no título. Além disso, retornar a um ponto do jogo onde você já passou e refazer algumas vezes cenários inteiros pode ajudar na longevidade de Agony. Entretanto, sem dúvida não é a melhor forma de se fazer isso em um título que pode ser destinado ao incômodo. Com tais pontos, há ainda a questão do roteiro. De fato, ele apresenta até uma narrativa inicial com um bom suspense. Contudo, aos poucos, com o decorrer da jogatina, a história passa a se perder.
As falhas acabam se sobressaindo ao que Agnony poderia ter sido:
Por isso, Agony pode ser dito como um título que tinha uma excelente concepção, mas que foi produzido sem o mesmo primor. Com a ideia de revelar um Inferno aterrador e repugnante, Agony destaca os piores pesadelos e acerta nisso ao mostrar imagens que causam ojeriza ao público. Afinal, não é recomendado ver fetos sendo arrebatados pelo cordão umbilical e mulheres pregadas com o ventre aberto pedindo socorro. Esse lado visceral é sem dúvida o que de mais há interessante no título, e infelizmente é o único ponto que acerta, ainda sofrendo com falhas. A começar pelo próprio nivelamento gráfico, onde é possível perceber trabalhos medianos em determinadas áreas, com estruturas aquém de outras partes demonstradas pelo game.
Contudo, a pior parte se refere sem dúvida a queda da qualidade e aos controles do título. No primeiro cenário, as quedas são constantes e perceptíveis, trazendo um relaxamento ao título que não deveria existir, emperrando a fluidez que o Inferno poderia possuir. Já o segundo caso é ainda mais assustador, uma vez que é capaz de causar a falta de interesse do público justamente pelos controles rígidos. Uma vez mais, é possível entender o conceito do Inferno e sem ambiente anti vida praticamente. Contudo, essa atmosfera poderia ser melhor apreciada com um detalhamento gráfico melhor e sem dúvida com controles mais amigáveis para o jogador. Por isso, no fim das contas, Agony é um pesadelo. Ótima premissa, mas completamente mal estruturado.
Números
Agony
Agony trás um inferno visceral e assombroso para o jogador, que acaba sofrendo além do necessário pelos controles e pela qualidade do título.
PRÓS
- Premissa interessante com um inferno completamente macabro.
CONTRAS
- Quedas vertiginosas e constantes nos quadros por segundo.
- Gráficos aquém da premissa e da arte gráfica.
- Controles terríveis, que podem não responder ao jogador.
- História sem uma inspiração e que não cativa.
- Longevidade é elevada do jeito errado.