O coração de estúdios independentes pode forjar as mais mirabolantes ideias quando o assunto é o mundo dos games. Aliás, muito da criatividade dessa indústria sem dúvida alguma deve ser aplaudida pelos esforços de pequenos desenvolvedores independentes. Esqueça a grandiosidade sideral de Starfield, da microsoftiana Bethesda, ou de ser um heroi em um Zelda da Nintendo. Aqui, uma viagem de trem, metrô ou bondinho é o pontapé para o puzzle game da neozelandesa Dinossaur Polo Club. Disponível para iOS e Android além de outros, Mini Metro tem uma dinâmica simples. Controle a frota e as linhas de alguma grande cidade do mundo, se atentando para que as estações não se transformem em um formigueiro humano – como a Estação da Sé de São Paulo. Objetivo simples! Pelo menos, parece. Então, prepare-se e embarque no Trem das Onzes, ou então no Último Trem nessa Review do Guariento Portal.
Sem dúvida, a marca registrada dentro de Mini Metro é a sua simplicidade gráfica, o que não é ruim para começo de conversa. Na proposta apresentada pela Dinossaur Polo Club, ter um game em que os acontecimentos ocorrem no meio de um mapa de linha de metrô é uma ideia brilhante, como já diria Hermione Granger de Harry Potter. É através deste mapa, com dezenas de cidades ao redor do mundo a disposição, que as estações vão aparecendo. E o jogador deverá iniciar a construção de linhas de metrô, trem ou outro meio de transporte para cumprir o seu dever e encaminhar as pessoas por entre as regiões da cidade. Acontece que esse aparecimento de novas estações é aleatório. Então, espere pela necessidade de criar cada vez mais linhas e paradas, e entender que isso demanda tempo. E tempo, no capitalismo, é dinheiro, muito dinheiro.
Cuide para que alguma estação não lote. Esse é o problema.
Simuladores ou gerenciadores de alguma coisa não são incomuns. Sim City, da Maxis por exemplo é o exemplo clássico de construtor de cidades. No mundo ferroviário, Railway Empire, da Kalipso Media até pode te colocar em algo que se aproxima de Mini Metro. Porém, esqueça um pouco como dito nesta Review a ideia de um game que se provoca por gráficos. Aqui, temos a simplicidade feita na Engine Unity como peça chave. Não temos trens da época vitoriana, com sua fumaça poluente, mas simplesmente a imagem de quadrados levando passageiros. No entanto, Mini Metro também ganha um aspecto bem maior de puzzle justamente pelo fato de que, com o decorrer do tempo, a cidade passa a se tornar um quebra cabeça de tendências suicidas a se resolver. A Central do Brasil, no Rio de Janeiro em horário de pico passa a ser uma possibilidade cada vez maior.
Claro que isso acontece em apenas um dos modos de Mini Metro, o mais tradicional deles e o responsável por liberar conquistas. Essas conquistas são os mapas de outras cidades que se encontram escondidas e impossíveis de jogar, como Budapeste por exemplo. Esse modo, por assim dizer, é o meio termo. Há também um modo relaxante e infinito, o Criativo, onde o mundo pode caminhar para o caos, que todos os viajantes terão de esperar os trens no horário. Não há game over com a lotação de algum lugar do mapa. Já o Modo Extremo não perdoa, sendo o Dark Souls desse puzzle game. Afinal, existe a chance de alterar a rota de suas linhas. Não nesse nível de dificuldade, já que uma vez construído, nada é desfeito. Esse modo acaba embutindo estratégia ao conceito de trilhos do trem para que você não seja levado ao fracasso.
Relaxante pela trilha e cenário? Não é bem assim.
Como destacado nesta Review, a parte simplificada de Mini Metro não incomoda de forma alguma. Na verdade, ela consegue personificar a dificuldade com poucos traçados e linhas. Mesmo com todo o caos que vai ocorrer com o crescimento de sua cidade, Mini Metro chega a ter uma aura de título acolhedor e que, em uma viagem de trem, você facilmente consegue passar três ou quatro horas na tela de seu celular. Seja ele iOS ou Android. A trilha segue o mesmo rumo: simples. Afinal, seu foco tem de ser no gerenciamento. E em português por sinal. Esse gerenciamento aliás é longevo. Não somente pelos modos que o título possui quanto o tempo necessário e o desafio que vai se colocando nas mãos do jogador. No total, essa longevidade pode beirar a 40 horas de quiser conquistar tudo, ou 5 horas no modo principal da campanha.
Mini Metro também conta com uma interface bastante intuitiva, onde com o apertar da tela de seu celular, é possível criar o seu caminho. Seja ele para a vitória ou para a derrota. O uso de cores para as linhas – que lembra a vontade paulistana de colocar os nomes de seu tráfego metroviário de cores ou pedras preciosas, que nem Pokémon – resgata uma forma simples de entender o cenário. Nesses aspectos, o game da Dinossaur Polo Club é bastante eficiente em trazer uma imersão considerável ao jogador, deixando-o passar um bom tempo imaginando suas enormes e únicas possibilidades, ao mesmo tempo que controla estações, carrinhos, pontes e trens como o Shinkansen do Japão, que trazem novidades ao cardápio final. A cada nova cidade, um novo desafio, como um bondinho mais lento do que o do Pão de Açúcar que irá te estressar brevemente.
Narrativa para construir um metrô? Não temos!
Mini Metro tem todo um mérito em se apresentar como um game despretensioso de iOS e Android que prende o jogador por um bom tempo. E essa Review destaca bastante isso. Mas ele não está isento de acidentes ou de alguns apagões na hora do rush que deixa o proletariado a ver navios voltando para casa. O mais essencial é que, mesmo com todas as recompensas de desbloqueio – mais mapas de outras cidades – o game simplesmente não possui um modo de história. Simplesmente, o jogador já é jogado diretamente no seu trabalho de gerenciar toda uma malha de transportes e aprender aos poucos. Sorte que tudo dentro do game é extremamente intuitivo. Porém, um mísero momento em que se agregar algo como uma história, um acontecimento que colocasse as habilidades do nobre jogador em prática não existe. E não seria algo ruim.
Um segundo ponto que merecem aspas no game da Dinossaur Polo Club fica por conta da versão analisada nesta Review. No Android, em determinados momentos, especialmente quando o inferno ressurge na Terra – sem ser o de Hellraiser – devido ao congestionamento das estações, fazer o traçado de uma nova rota se torna confuso e complicado. Mini Metro pode as vezes não responder com a propriedade devida quanto mais linhas estão a disposição e maior se encontra a cidade. Não foram poucas as vezes que foi necessário pausar o título para que não fosse perdido nenhum cliente. Assim como para que o game não chegasse a beira do abismo com a lotação de alguma estação. Então, veja o aviso sinalizado antes das portas abrirem. O jogador certamente terá de pausar algumas vezes para pensar em suas linhas e a necessidade de fazer um novo traçado em cada uma delas.
Inventivo e mais curioso que o Eurotúnel.
Uma das grandes sacadas de Mini Metro, além da simplicidade dita exaustivamente nessa Review é a ideia fora da casinha de seus desenvolvedores. Sem dúvida alguma, algo bastante criativo para um conceito tão banal quanto horário de pico e trânsito. Milhares, ou até milhões de pessoas passam horas dentro de um transporte público para o trabalho, para a escola, ou para simplesmente viver. Se estressam, se irritam e querem morrer por isso. E colocar o jogador na pele de um gerenciador de toda uma frota metroviária é praticamente como quebrar a quarta parede. Não por menos, Mini Metro é o típico game que consumirá parte da existência de seus jogadores durante o percurso ao trabalho de trem ou de metrô. É simplesmente a arte imitando a vida, em sua construção mais pura, e mais potente que construir sua casa em Irmãos a Obra ou em House Flipper.
No fim das contas, todo mundo se pergunta toda vez que tem uma Review no Guariento Portal. O game então é divertido? E como sempre a resposta é quase sempre a mesma. Depende do referencial adotado. Acontece que, se tratando do game da Dinossaur Polo Club, um estúdio indie da Nova Zelândia, seus aspectos positivos se sobressaem muito mais do que qualquer negatividade dentro do título. Ao ponto de que Mini Metro é o tipo de game que pode ser claramente recomendado para todos os gêneros, e todos os tipos de pessoas. Desde que saibam claramente o tipo de diversão que estão buscando. Como dito, isso não é um tiroteio no moscovita Metrô 2033, nem a caça frenética de Lilith nas hordas de Diablo. É algo simples, banal, mas muito divertido dentro de um puzzle game com alguns pingos de estratégia.
Compre sua passagem na King’s Cross e se divirta com esta Review.
Existe um certo preconceito quando se fala de jogos de smartphones, sejam eles para iOS ou o Android. Uma parte do público cativo deste universo sequer consideram games destas plataformas como de verdade. Ledo e grosso engano. Títulos agradáveis são encontrados nos celulares mundo afora e Mini Metro entra nesse grupo, como Game Dev Tycoon, o gerenciador de jogos dentro dos jogos e o estratégico Rebel Inc. Mas, guardando as devidas proporções, o título da neozelandesa Dinossaur Polo Club é espontâneo em ser simplesmente despretensioso e divertido dentro de sua própria estratégia de ser um puzzle. Seu visual simplificado é um grande acerto, visto que esse é o tipo de game que se passam horas dentro de um transporte público, mesmo que fale sobre isso. Os seus modos aumentam a longevidade e o colocam como um ótimo quebra cabeça. Com desafios e conquistas.
Seus pequenos deslizes não descarrilham suas intenções, mas apenas incrementariam sua viagem rumo aos Alpes nesta Review. Um modo história, por exemplo, seria interessante no sentido de colocar a evolução dos meios de transporte, ou algum tipo de desastre em que o jogador, em toda a sua maestria, deveria gerenciar todo o risco que realmente ocorre em uma situação real. Os dedos também passam a sofrer com o aumento de sua malha, já que reconstruir rotas é um trabalho que exigirá uma leve pausa, um respiro para prosseguir. Mesmo assim, Mini Metro é um puzzle game extremamente divertido, que se inventa justamente pela banalidade de seu argumento. Se você tem um celular disponível e passa tempos em um transporte público, cuidado para não ser assaltado. Mas se não for, Mini Metro é altamente recomendado. Você pode estar jogando ele ou ouvindo My Immortal, olhando para a janela sem destino.
Números
Mini Metro
Nunca uma viagem de trem ou de metrô foi a protagonista para um jogo de gerenciamento, pelo menos até Mini Metro. Simplista, curioso e extremamente criativo e difícil a depender de suas escolhas, trace os rumos de uma boa malha metroviária ou veja sua cidade de transformar no mais puro caos neste puzzle game indie da Dinossaur Polo Club para smartphones e outros.
PRÓS
- Simplicidade é a alma do negócio. E aqui, tudo fica mais fácil de entender em como usaram a Unity.
- Longevidade absurda para um puzzle game em um celular. Jogar tudo pode chegar até a 40 horas de duração.
- Criatividade em seu argumento. Projete a melhor malha de transporte público do mundo. Simples assim!
- União do estilo puzzle com estratégias e seus variados modos de jogo, do extremo ao criativo. Basta o jogador querer.
- Extremamente divertido, e não causa cansaço com a trilha relaxante. Perfeito para jogadas rápidas.
CONTRAS
- Faltou um modo história ou outras coisas que incrementassem a força do jogador. Catástrofes cairiam bem.
- Quando o mapa vira um emaranhado de linhas, controlar as quantidade e reescrevê-las pode ser difícil.