E então, Balrog tem asa ou não tem? Essa pode ser a pergunta de décadas que leva os fãs de J.R. R. Tolkien (1892-1973) a loucura sem visitar as Montanhas da Loucura. Desde as adaptações cinematográficas de Peter Jackson de um dos maiores clássicos da literatura fantástica, O Senhor dos Aneis é sem dúvida a peça fundamental do Legendarium. Esse é o nome do Universo construído por Tolkien com geografia deslumbrante e cultura singular. E, no meio de todo esse arcabouço, existem criaturas que caíram em desgraça por seguirem o caminho do mal. Uma dessas entidades são os Balrog’s, antigos servos de Morgoth, o Primeiro Senhor do Escuro. Um deles na verdade seria responsável pela queda de Khazad-Dum, depois chamado de Moria. Mas então, quem é este Balrog? É o que você vai ver nessa viagem pelas Montanhas Cinzentas com o Guariento Portal.
Então Gandalf, tentou levá-los através de Caradhras. E se não der certo, o que você fará? Se a montanha derrotá-lo, se arriscará em uma estrada mais perigosa… Moria, você tem medo de entrar naquelas minas, os anões cavaram bastante e muito profundamente. Sabe o que eles acordaram na escuridão de Khazad-Dum? Sombra e chamas.
Saruman, o Mago Branco em O Senhor dos Aneis: A Sociedade do Anel sobre Moria / Khazad-Dum.
Atenção: Esta Curiosidade sobre o Balrog de Moria tem spoiler tanto dos filmes produzidos por Peter Jackson, quanto dos livros como também da série Aneis de Poder e relata o sétimo episódio da primeira temporada. Se você não viu nenhuma destas obras, não faço a mínima ideia do que você está fazendo aqui. Porém, se quiser ver primeiro para não estragar a experiência retorne depois. Agora, se já viu tudo ou não liga para spoilers, sinta-se bem vindo a mais uma Curiosidade do Guariento Portal.
Servos de Melkor, os Balrog já foram seres iluminados.
Primeiramente, os Balrog são seres da mesma casta de Gandalf, Saruman e todos os outros magos, os maiar. Quando da criação de Arda e antes mesmo das Duas Árvores de Valinor, ou da Inundação de Númenor, Melkor tentou subverter a música da Criação, colocando partes de sua corrupção dentro dela. Dentro dessa “batalha pela criação”, Melkor se tornou Morgoth, o Primeiro Senhor do Escuro que corrompeu outros seres, em especial outros Maiar. Essa corrupção tem comparação com a Guerra do Céu de Lúcifer contra Deus, mas não é o momento para prosear sobre isso. Destes novos servos, temos os Balrog’s e o próprio Sauron. Este, aliás, seria o seu sucessor e responsável por forjar o Um Anel na Montanha da Perdição. No entanto, os Balrog foram seres de considerável poder.

Afinal, durante os eventos da Primeira Era, os Balrog deram trabalho acima da média no conflito contra os elfos que ficou conhecido como A Guerra da Ira. Da segunda tentativa de dominar a tudo de Melkor, depois de passar três mil anos acorrentado, o Primeiro Lorde do Escuro leva para Angband os seres que corrompeu, em especial antigos Maiar, os Balrog, e especialmente seu fiel escudeiro e intendente, Sauron, aquele que viria a ser o Segundo Senhor do Escuro e forjaria o Um Anel com ajuda da língua negra de Mordor e o fogo da Montanha da Perdição. Conta-se que tanto Sauron quanto os Balrog eram os inimigos mais mortíferos dentro do exército de Morgoth, uma vez que os dragões haviam sido subjugados ainda na Primeira Era. Em termos de aparência, o Balrog, assim como sua quantidade foi alterada no decorrer do tempo.
Fazia sentido Gandalf temer a sombra escondida em Moria.
O que o tempo não apaga é que os Balrog tinham um físico de duas vezes maior que o de um humano normal. Além disso, eles são cobertos, ou mesmo feitos, de mais pura chama e escuridão. Alguns deles portam uma maçã como arma, ou uma espada em uma das mãos, enquanto em outra mão porta um chicote de fogo. Tanto a adaptação de Peter Jackson de O Senhor dos Aneis quanto à série da Amazon Prime Vídeo apresentam o Balrog com um conceito mais demoníaco. Não por menos, Gandalf, o Mago da comitiva do Anel o informa como “demônio do Mundo Antigo”. No Legendarium, somente a parte física de um Balrog pode ser destruída, mesmo que sua composição seja de fogo e sombras. Quanto às asas, fica a critério de cada um imaginar se o demônio tem ou não tem; não entraremos ainda nesta Terceira Guerra Mundial.
O próprio Tolkien, aliás, não deixa clara a quantidade de Balrog que existiam. Apêndices mais recentes falam que não existiam mais do que sete destes nas fileiras de Morgoth. Em contos mais antigos, o próprio Tolkien fala de “exército de Balrog’s”. Pois bem, não importando a quantidade, praticamente todos foram mortos na Guerra da Ira, o principal conflito da Primeira Era. Porém, um desses escapou, e foi dar uma cochilada no fundo de Caradhras, uma dos picos das Montanhas Cinzentas. Durante milênios, aquele Balrog ficou adormecido enquanto acima dele, uma verdadeira civilização chegava ao auge. Eram os anões, que fundaram um dos maiores reinos; Khazad-Dum. Ali, a cidade mina dos anões foi a responsável por encontrar um mineral único na Terra-Média, o Mithril. Esse metal leve mais extremamente resistente levou com que a dinastia de Dúrin cavasse cada vez mais funda dentro da terra.
A busca de riquezas fez a queda de todo um reino.
A questão é que quanto maior o buraco, maior é a queda dentro dele. E no caso dos anões de Khazad-Dum, além de Mithril, eles encontraram fogo e escuridão, despertando do sono o Balrog que até então não tinha nome. Era 1981 da Terceira Era quando o filho de Dúrin III, Dúrin IV e seu filho são mortos pelo fogo e escuridão e todos os anões de Khazad-Dum que sobreviveram tiveram de deixar suas casas. Daquele momento em diante, o Balrog seria conhecido como A Queda de Dúrin, e Khazad-Dum passaria a ser chamado de Moria, o Abismo Negro na língua dos elfos. É esse mesmo Balrog que Gandalf, em 3019 da Terceira Era, durante os acontecimentos de O Senhor dos Aneis enfrenta na Ponte de Khazad-Dum, ordenando que ele não passasse daquele lugar.

Tal batalha dura por dias, levando a derrota do último Balrog que se tinha confirmação de existência e também de Gandalf, que retornaria a Terra-Média como Gandalf, o Branco, e não mais como o Cinzento. Nesse meio tempo entre A Queda de Khazad-Dum e a Sociedade do Anel, os anões não ficaram quietos e por diversas vezes tentaram recuperar o antigo reino. Quando perderam Érebor, a Montanha Solitária para o dragão Smaug, a dinastia de Thórin, Escudo de Carvalho tentou recuperar Khazad-Dum, mas o Balrog não permitiu. Bálin, um dos membros da comitiva dos anões que reconquistaram a Montanha Solitária, até conseguiu depois dos acontecimentos de O Hobbit criar uma colônia em Moria, que poderia restabelecer o reino anão. Porém, com o Balrog e os orcs por todos os cantos, a colônia foi completamente destruída.
Com a Perdição de Khazad-Dum, o reino agora é escuro.
Durante milênios, os salões que um dia sentiam o calor das fornalhas e joias agora sentiam o frio e a crueldade de orcs e trolls, e o fogo da escuridão do Balrog, que se tornou seu anfitrião. Depois do fim de Dúrin, nem mesmo os elfos, que usavam a cidade como passavam, não mais usavam tal caminho, e sim a passagem sobre Caradhras, uma das maiores montanhas daquela região. Aliás, é interessante destacar que os anões detestavam o uso do nome Moria, oriundo do élfico para aquela região, uma vez que menciona o depois da queda. Antes, Khazad-Dum era o nome anão para a região, que significaria mansão ou salões dos anões. Agora, repare bem, tais acontecimentos ocorrem com toda certeza na Terceira Era da Terra Média, em momentos após a forjadura dos Aneis de Poder.
Isso é importante mencionar, pois a série da Amazon Prime Aneis de Poder trouxe no penúltimo episódio da primeira temporada o despertar do Balrog através de uma folha. Além de mostrar que a criatura deve ter um sono pequeno, isso pode levar a um problema cronológico com a narrativa original. Ocorre que a forjadura dos Aneis de Poder e toda a história envolvendo Sauron e Eregion, a cidade de Celebrimbor ocorre na Segunda Era da Terra Média. O despertar do Balrog só ocorre, ou deveria ocorrer na Terceira Era da Terra Média, depois da primeira derrota de Sauron. Colocar a criatura já em atividade pode ser apenas um easter-egg, uma forma de mostrar que o fim de Kahazad-Dum está relativamente próximo. Ou então a escolha seja realmente trazer a Ruína de Dúrin mais cedo do que a cronologia oficial de Tolkien produziu.
E assim se acredita ter terminado o último Balrog vivo.
Não importando exatamente quando a criatura se tornará desperta, fato é que o último dos Balrog é um demônio do mundo antigo, como o próprio Gandalf proferiu. Sendo um dos Maiar, da mesma casta do futuro mago branco, a criatura era forte o suficiente para destruir a comitiva, e mostrou o seu poder ao simplesmente devastar uma cidade tão emblemática quanto Khazad-Dum. Sendo apenas um, quando Morgoth no mínimo detinha sete destas criaturas em suas fileiras. Não se sabe se outros Balrogs estão dormindo dentro das montanhas, mas A Ruína de Dúrin foi emblemática ao mostrar o terrível poder de uma era esquecida e da audácia dos anões, que ao escavar tão profundamente em sua busca insaciável por riquezas, levou a sua própria Perdição. Que não é de Valíria, mas se pode colocar certa comparação entre a cidade franca e o reino dos anões.