Muitos são os locais vindos da mente criativa de George R.R. Martin, o criador das Crônicas de Gelo e Fogo. Desde a sombria Asshai no extremo leste, até o Mar Dothraki e os Sete Reinos, seu mundo é imerso em criaturas mitológicas e homens dispostos a tudo pelo poder. Algo não tão diferente do nosso mundo. Porém, nenhum acontecimento é tão impactante quanto à ascensão e queda do Império Valiriano. Valíria, em seus tempos áureos, foi o centro do mundo, rodeada por uma cadeia montanhosa e por seu conhecimento em domar dragões. Mas nem tudo é para sempre, e um cataclismo conhecido como “A Perdição” dizimou não somente a cidade e o Império, como todo o conhecimento que ali existia, assim como os dragões, fazendo da família Targaryen uma raridade. Conheça então um pouco do início e do fim de Valíria com sua Perdição nesta Curiosidade do Guariento Portal.
Valirianos, de pastores de ovelhas para domadores de dragões.
Primeiramente, tudo começa num ponto distante. Cerca de cinco mil anos antes dos acontecimentos das Crônicas de Gelo e Fogo, o povo chamado de Valiriano nada tinha de poderoso. Na verdade, eram pastores de ovelhas. Porém, no melhor estilo de Como Treinar o Seu Dragão (2010), os valirianos encontraram ovos de dragão nas redondezas das Quatorze Chamas, uma cordilheira vulcânica nas Terras de Longo Verão e aprenderam a domesticar essas criaturas. Como? Não temos ideia. Entretanto, com o poder e a chama dos dragões, é óbvio que de uma sociedade pastoreia, Valíria se transformou em um império a ser temido. Assim, nem mesmo Impérios passados como o Ghiscari na Baía dos Escravos tiveram forças para resistir ao conhecimento valiriano. Aos poucos, os senhores de cabelos brancos e olhos arroxeados conquistaram grande parte ocidental de Essos, criando cidades colônias e partindo para Westeros e Sothoryos.
Bem como um eco do Império Romano no mundo real, em seu maior poder, Valíria foi capaz de reformular a infraestrutura de Essos, criando estradas e trazendo o comércio para suas colônias. Destas, oito possuíam certa gerência própria. Eram as cidades que mais a frente seriam chamadas de “Cidades Livres”. Em Valíria, a questão da religiosidade estava bem resolvida. Afinal, mesmo tendo sua própria religião, era possível seguir qualquer credo ou crença, seja o Deus Vermelho ou a Fé dos Sete. No entanto, a escravidão era uma prática comum, e na verdade, um ponto importante na economia do Império. Reinos antigos e caídos se tornaram massa de escravos para os senhores dos dragões. Na parte da política, as cerca de quarenta famílias mais poderosas de Valíria se revezavam no poder da cidade e do Império.
O Sonho do Dragão salvou o último dos domadores de dragões.
Dentro destas famílias, existia o clã Targaryen, que nem de longe o mais importante. Porém, tinham dragões entre seus animais de estimação. Nesse meio tempo, os milênios de domínio Valiriano passavam, e na época de Lorde Aenar Targaryen, sua filha, Daenys (nos braços de Morfeus e intitulada como A Sonhadora) sonhou que aquela cidade inteira iria para os ares. Ou seja, seria completamente destruída por um evento cataclísmico. Diferente do que se pode pensar, Lorde Aenar deu ouvidos aos sonhos de sua filha, e partiu com tudo da Casa Targaryen; tesouros, espadas, escravos e dragões, como Balerion, para o posto mais ocidental de Valíria no mundo, uma fortaleza em uma ilha Westerosi, Pedra do Dragão. Ninguém pensava que mais de uma década depois da partida, a Perdição ocorreria. No fim, quem riu por último foi toda a família Targaryen.
No dia da Perdição de Valíria, conta-se através dos escritos dos Meistres da Cidadela, já que ninguém que estava no local sobreviveu ao desastre, que a região se transformou em um inferno. Às Quatorze Chamas entraram em erupção e o ar se transformou em algo tão tóxico que nem mesmo os dragões conseguiam voar. Ao mesmo tempo, a terra se abriu e nenhum palácio, morada ou fortaleza ficou de pé. Lagos próximos ferveram. Enormes ondas, que beiravam os noventa metros de altura atingiram cidades e regiões portuárias próximas. Desta forma, o evento foi tão forte que fez com que a Península Valiriana se destruísse. Em seu interior surgiu o Mar Fumegante, uma área onde até hoje das águas surgem vapores. Todo o conhecimento, como a forja do Aço Valiriano foi completamente perdido, e de um dia para o outro, o Império Valiriano se perdeu no tempo.
No dia da Perdição, a terra cedeu e o mar pegou fogo.
“No Dia da Perdição, todos os montes ao longo de quinhentas milhas tinham se despedaçado para encher o ar com cinzas, fumo e fogo. Incêndios tão quentes e famintos que mesmo os dragões no céu foram envolvidos e consumidos. Grandes rasgos tinham-se aberto na terra, engolindo palácios, templos e cidades inteiras. Lagos ferveram e transformaram-se em ácido, montanhas arrebentaram e fontes de fogo cuspiram rocha fundida até uma altura de trezentos metros. De nuvens vermelhas choveu vidro de dragão e o sangue negro dos demônios, e ao norte o terreno fraturou-se, ruiu e caiu para dentro de si mesmo. Em seu lugar, um mar furioso jorrou em todas as direções. A mais orgulhosa cidade do mundo inteiro desapareceu num instante, e seu fabuloso Império evaporou-se em um dia”.
Descrição do Dia da Perdição de Valíria.
Pois bem, quanto ao que de fato aconteceu para a Perdição de Valíria, o mais cotado é a erupção completa das Quatorze Chamas. Afinal, é absolutamente perigoso criar a sua morada próximo de uma região vulcânica, como é o caso da Indonésia no mundo real. Porém, como os valirianos também se envolviam com magia, é possível que entre seus encantos e feitiços, algo tenha dado completamente errado, e levado à destruição completa da região. Os Meistres da Cidadela tem uma predileção por esta possibilidade. Entretanto, aqueles que são mais fiéis à Fé do Sete dizem que, por serem hereges, os próprios Sete foram diretamente para Valíria e destruíram toda a civilização. Fato é que, não importando qual a justificativa para a Perdição de Valíria, a Cidade Franca não mais existia, e seu império, assim como a Região de Essos caiu em desgraça.
Em desgraça, a Península Valiriana atraía atenções do Oeste.
Alguns Senhores dos Dragões sobreviveram à Perdição junto com os Targaryen, mas veriam seu fim pouco tempo depois nas guerras de sucessão em Essos. Assim, com o fim do poder valiriano, as colônias sobreviventes começaram a guerrear entre si para estender seus tentáculos e se tornarem herdeiras. Além disso, os Dothraki, que até então se mantinham afastados pelo correto medo dos dragões, começaram a se aproximar e a dominar cidades e regiões mais ocidentais. Até mesmo as três cidades escravocratas da Baía dos Escravos; Astapor, Yunkai e Meereen prosperaram independentes. Essas cidades seriam conquistadas de um jeito especial, séculos depois, por Daenerys Targaryen e seus dragões. Esse período de vácuo no poder foi chamado de Século de Sangue. Quanto aos Targaryen, seu posto em Pedra do Dragão lhes preservou os tesouros e os dragões, que começaram ali a fazer ninhada.
Nesse meio tempo das Crônicas de Gelo e Fogo, o cadáver do que foi um dia Valíria é uma região que guarda muitos tesouros, e igualmente muitos perigos. São vários os exemplos de Lordes que um dia tentaram desbravar a região e nunca mais voltaram. A Casa Lannister, por exemplo, não possui mais sua espada de aço valiriano, a Rugido Brilhante (Brightroar). Ainda quando eram os Reis do Rochedo e bem antes das Chuvas de Castamere, Tommen II Lannister embrenhou uma expedição para Valíria, porém não mais foi visto. O tio de Tyrion Lannister, Gerion Lannister, ousou ir para Valíria buscar a espada ancestral de sua casa, e teve o mesmo destino. Porém, o mais emblemático momento do que a Perdição fez esconder Valíria e seus perigos foi o caso de Aerea Targaryen, filha de Rhaena Targaryen.
O que existe no Mar Fumegante? Pois bem, ninguém sabe!
Em outro tempo, no reinado do Rei Jaehaerys I, a pequena Aerea Targaryen vivia em Pedra do Dragão, depois da Conquista de seu ancestral, Aegon, a todos os reinos de Westeros. No entanto, desgostosa daquele lugar e das companhias, em especial a de sua mãe, a jovem montou ninguém menos do que Balerion, o Terror Negro e voou para algum lugar. Assim, durante um ano inteiro e mais um pouco, sua mãe Rhaena procurou por todos os cantos de Westeros, sem efeito algum. Até que em uma noite, Balerion retornou com a criança em sua montaria em um estado lastimável. A versão oficial da história conta que Aerea morreu “de febre”. Bem, não que seja mentira. A jovem Aerea estava completamente queimada. Sua pele chegava a ficar escurecida e ela gritava de dor quando foi acolhida por Septões.
No entanto, o mais impressionante é que, dentro de seu corpo, parecia haver criaturas rastejantes que faziam ferver de dentro para fora. Sua temperatura estava tão alta que suas órbitas oculares explodiram, e saía fumaça de sua boca e de seu nariz. Assim, para tentar aliviar seu sofrimento, o Septão Barth, um dos encarregados de cuidar da Princesa e amigo do Rei Jaehaerys I a colocou dentro de uma banheira com gelo. O septão conta em seu diário que assim que colocou Aerea, essas criaturas, que pareciam minhocas com rosto, saíram do corpo da garota, e logo morreram, sendo uma delas maior que o seu braço. Obviamente, Aerea não sobreviveu ao nascer do sol. Porém, mais tarde, Barth acreditou que Balerion e Aerea haviam sofrido do mesmo mal, uma vez que as grossas escamas do enorme dragão também estavam machucadas.
Valíria é a ruína do que um dia foi. Perigosa e mortal.
Quanto ao lugar que estavam, Barth presumiu que tenha sido a Antiga Valíria. Afinal, como o único ser vivo naquele momento que conheceu o esplendor da cidade antes de sua Perdição, pelo fato de ter vindo na comitiva de Aenar Targaryen, Balerion decidiu retornar ao seu lar. Contudo, o que exatamente ele encontrou naquele local esquecido pelo mundo ficou nas sombras. Isso foi o suficiente para que o Rei Jaehaerys I decretasse que todo navio que tivesse passado por Valíria e pelo Mar Fumegante estava proibido de atracar em toda a Westeros. Da mesma forma, qualquer marinheiro ou Lorde que voltasse deste lugar seria executado. Desde então, o decreto não precisou de validação, uma vez que praticamente todos os Lordes que ousaram chegar em Valíria não voltaram mais. No fim das contas, Valíria ficou no passado com o seu poder, e sua Perdição guardada nos escritos dos Meistres.