De tempos em tempos, os extremos do gênero de terror aparecem. De um lado, temos as mesmas releituras com os motes de possessão demoníaca e atividade sobrenatural, em um roteiro bem conhecido. É o caso por exemplo de Annabelle 2 e de A Freira. Por outro lado, temos premissas deveras diferente que tentam buscar uma certa inovação no gênero de horror. Foi assim com O Exorcismo de Emily Rose que une investigação policial com o sobrenatural. Verdade ou Desafio (2018) surgia com uma premissa interessante e usando das redes sociais para engajar sua trama. Na narrativa, um grupo de jovens de férias acaba fazendo uma brincadeira de Verdade ou Desafio libertando um demônio que está ali para revelar os piores medos dos personagens. Como isso termina? Bem, é o que vamos ver a seguir:
Como uma brincadeira tão simples quanto Verdade ou Desafio pode se tornar tão mortal?
Primeiramente, e deixando bem claro, Verdade ou Desafio (2018) pode parecer ter uma premissa simples. De férias no México, um grupo de amigos protagonizado por Olivia (vivida por Lucy Hale) parte para um Igreja antiga levados por um desconhecido, mas que se passa por um amigo. Ali, eles entram em um jogo de Verdade ou Desafio que aos poucos vai sendo revelado de forma mais perigosa. É interessante notar que o demônio do filme não possui corpos, mas sim ideias, como é a questão da brincadeira. E o longa não deixa dúvidas do que virá a seguir; o primeiro ato basicamente constrói a narrativa sem muitos argumentos. Após estarem dentro do jogo, eles percebem que algo não está certo, sendo revelada a criatura que para o espectador, já está mais do que na cara a sua existência. Assim, cabe ao seleto grupo de pessoas jovens tentar sobreviver.
E de fato, essa dinâmica do jogo é interessante. No momento em que o jogador não cumpre o desafio ou não diz a verdade, seu destino é a morte. Que aliás são mirabolantes e com um componente gráfico interessante. Não é algo admirável, mas acaba sendo satisfatório. Quanto a direção, ela é até competente com a trama que possui. Existem cenas dos desafios que realmente passam uma sensação de suspense. Afinal, com o decorrer da narrativa, os desafios ficam cada vez mais difíceis e mortais. Contudo, aqui basicamente existe uma cerca para Verdade ou Desafio (2018) pois quando adentra em outros aspectos, o longa peca como ninguém. A começar é claro pela sua estrutura narrativa.
Primeiro ato cria expectativa, que não é entregue de forma alguma:
Como já mencionado, o primeiro ato é contundente em apresentar o problema e ponto. Contudo, quando é necessário o desenvolvimento, isso é completamente deixado de lado. Os personagens são completamente rasos, mesmo que o roteiro tente buscar alguma profundidade. O filho homossexual que não assume ao pai, a menina alcoólatra e a jovem que gosta do namorado da melhor amiga. Claro que não pode faltar o canastrão por sexo. Os personagens são esses, e não espere nenhum pouco de exposição deles. Seja pela atuação quanto pelo próprio roteiro, que os colocam em um derradeiros abate, Junte isso a uma tentativa de colocar conflitos éticos e morais dentro da história, porém, jogados sem nenhuma justificativa. Dentre tantos momentos, apenas um deste tipo de conflito é justificado pela personagem principal, o restante é simplesmente esquecível.
Vale lembrar que o roteiro é escritor pelo mesmo diretor do longa, Jeff Wadlow. Sem criatividade alguma, o roteiro também sofre simplesmente com as falas e os diálogos dos personagens. São momentos completamente desconexos com a realidade, em parceria com atuações robóticas. E tudo isso afeta gravemente toda a estrutura do longa. Momentos em que a narrativa pedia algo mais assustador ou de certa forma de suspense, entra uma espécie de falastrão. Parte do ato final simplesmente perde seu poder devido a essa tentativa de se criar o terror, mas tão caricato que o que resta é uma dúvida se aquilo era de fato para assustador. A interação com as redes sociais seria um interessante ponto, se devidamente abordado, mas até no terceiro ato é jogador na tela. Tem uma justificativa, mas poderia ser bem mais caprichado.
Achou que não teria um murro de clichês, achou errado!
Com um roteiro um tanto duvidoso em qualidade, é óbvio que sendo de um gênero de terror chegamos aos mais variados clichês possíveis e imaginados. E Verdade ou Desafio (2018) não faz questão alguma de esconder nenhum deles. O som estridente quando algo está para acontecer quebra completamente a expectativa, mas ele está ali para demarcar o momento do susto. Risadas sombrias e olhares maquiavélicos fazem aparecer na tela justamente para mostrar que o mal, Calux, o demônio do filme, ali está presente. Sendo sincero, o longa atira para tantos clichês que até consegue acertar em alguns momentos, mas sua repetição cria cansaço. O desenvolvimento no fim das contas, é apenas usar dos personagens ali presentes para levar a trama de um ponto A até o B. Não existe uma justificativa ou uma narrativa contundente. É como seu os personagens fossem meras marionetes.
Com péssimo desenvolvimento, Verdade ou Desafio é uma promessa não cumprida:
O grande fato é que Verdade ou Desafio (2018) se perde em sua própria estrutura. Não o desmerecendo completamente, o primeiro ato sim tem qualidade. O filme é bem seco, e sem muitos questionamentos já introduz o problema de forma interessante. Afinal, o demônio é de certa forma jocoso e gosta da brincadeira, numa espécie de ouija diferenciada. Assim, o espectador cria em sua mente que o desenvolvimento manterá a qualidade do início. Contudo, é devidamente desmotivado com a narrativa rasa e que se perde. O horror é deixado de lado em determinados momentos para uma tentativa de construção de personagens que não leva a basicamente lugar nenhum. Afinal, o roteiro nada criativo não permite nenhuma atuação digna. Não há carisma deles, o que deixa o telespectador simplesmente esperando pela morte de cada um deles pela maldição do longa.
Desta forma, Verdade ou Desafio (2018) acaba entrando no hall de filmes que já tem até alguns conhecidos. Sua premissa é interessante. O importância das redes sociais no primeiro momento também leva a acreditar em algo interessante, mas tudo leva a um roteiro que simplesmente é prepotente em se mostrar como a moral e os bons costumes contraditórios. Se essa era a real intenção do filme, seu desenvolvimento beira a ruindade dada a forma que foi produzido. O uso e abuso dos clichês, em especial da trilha sonora estridente em momentos antes da desgraça acontecer também fazem com que o longa seja esquecível ao não criar uma interação com o espectador. Podia ter sido algo melhor, mas no fim das contas, é apenas mais um filme que, sem força narrativa, escorrega em praticamente tudo que tenta fazer.
Veja mais no Guariento Portal se gostou de nossa análise: Não deixe de comentar também!
Bem, Verdade ou Desafio (2018) pode não ser uma obra prima do gênero de horror, mas é claro que o Guariento Portal trás uma verdadeira coletânea para você ler e discordar. Para os amantes desse gênero, temos Halloween (2018) a continuação do original de 1978 que apresenta Michael Myers de volta as telas do cinema. Assim como temos o especial de Annabelle, onde você pode conferir os três filmes atualmente da franquia (o primeiro de 2014, o segundo de 2017 e o terceiro de 2019). Continuando nessa franquia do Invocaverso, temos também A Freira e a Maldição de Chorona para que você posa conferir. No entanto, não é somente de terror que o Guariento Portal vive. Caso goste de animações, além da remasterização de Pokémon: O Filme, temos um especial de Cavaleiros do Zodíaco. Veja toda a tetralogia de Atena lutando contra Éris, Odin, Abel e finalmente Lúcifer.
Números
Verdade ou Desafio (2018)
Produzido pela Blumhouse, Verdade ou Desafio (2018) é um terror teen neutro. E, como muitos do gênero, ideia interessante mas execução precária.
PRÓS
- Premissa bem interessante, a entidade possui ideias, e não pessoas.
- Primeiro ato bem produzido, sendo simples e direto.
CONTRAS
- Desenvolvimento horroroso do roteiro.
- Atuações abaixo do esperado mesmo para um filme deste estilo.
- Tentativa frustrada de desenvolver personagens, sem conseguir.
- Abuso de clichês, em especial da trilha estridente antes de um susto.
- Diálogos risíveis que não dão medos, mas riso involuntário em momentos inadequados.