Quando um game, ou outro ramo do entretenimento tem em mente nações ou impérios antigos, é necessário estudo. Afinal, seria bizarro pensar na inexistência das particularidades de cada nação em Civilization VI (2016), da Firaxis Games. Ou em Age of Empires IV (2021), da Xbox Game Studios. Pensando nisso, uma viagem para o passado é necessária. Há uma época em que o Levante e o Oriente Médio eram bem diferentes dos dias de hoje. Perto da Idade do Bronze (3.600 a.C – 1.200 a.C), Egípcios, Canaanitas e Hititas se destacavam entre seus pares. Seja no Delta do Nilo, na costa do Levante ou dentro da Península da Anatólia. Essas três nações são vistas em Total War: Pharaoh, título de estratégia da Creative Assembly e distribuído pela SEGA. Resta então conhecer um pouco de cada uma dessas nações que realmente existiram em eras anteriores á Cristo.
Dos Faraós Egípcios, temos as bigas e o poder do Delta do Nilo.
Primeiramente, começamos com aqueles que dão nome ao game produzido pela Creative Assembly Sofia. Afinal, Total War é Pharaoh não por acaso. Os egípcios são uma das civilizações mais antigas que se tem notícia, datando de seu período mais arcaico em 3.100 a.C. Isso o coloca ao mesmo lado dos Sumérios de Enheduana e Gilgamesh e as Civilizações do Vale do Indo, onde os Vedas nasceram. Entretanto, o apogeu dos egípcios ocorreu no chamado Império Novo (1.550 a.C até 1.069 a.C), com faraós importantes, como Ramsés II, o Grande. Esse mesmo período também iniciou a sua derrocada, sendo chamado de Colapso da Era do Bronze. Os egípcios travaram conflitos em Canaã, contra os povos do mar, e até mesmo com Hititas, Assírios e Babilônicos, até ser subjugado pelo Império Romano em seu período Ptolemaico, nas mãos da mítica Cleópatra.

No entanto, engana-se que os Egípcios sejam uma sociedade pura e com os mesmos padrões genéticos. No decorrer de sua história, o Egito foi inicialmente dividido entre o Baixo Egito, onde o Delta do Nilo e Alexandria existem até hoje, e o Alto Egito. A Núbia, região ao Sul, na fronteira do atual Sudão teve forte importância nessa comunidade. Não por menos, existem faraós oriundos deste grupo. Ou seja, é errado pensar em faraós exclusivamente brancos. O mesmo com os Hicsos, um povo semita que antes do Império Novo dominou o Egito e absorveu o estilo de vida e culto dessa civilização. No fim das contas, o Egito pode ser um Império, mas seu povo é uma salada de civilizações assimiladas em milênios de história e prestígio. As múmias, o Vale dos Reis e as Pirâmides são apenas parte de seu conjunto de crenças.
Da Guerra até a Diplomacia. Existe uma gama de escolha pelos egípcios.
Com uma sociedade tão eclética e milenar, é impossível destacar os egípcios ou como exímios militares ou diplomatas. Na verdade, a depender do momento, os faraós e sacerdotes podiam ser os dois. Um dos primeiros Tratados Diplomáticos da História envolve o Egito com o povo Hitita. É o Tratado de Kadesh. Entretanto, a região Canaanita foi palco de disputas por zonas de influência, onde as bigas egípcias ganhavam destaque nas areias do Levante. No período de Total War: Pharaoh por exemplo, os egípcios passam pela morte do faraó Merneptá (1283 a.C até 1203 a.C). É claro que isso leva a problemas de sucessão. Na campanha dos egípcios, existem quatro personagens que a depender da escolha do jogador, levará a uma jogabilidade focada no conflito, na diplomacia ou na mescla de ambos. Sendo necessário sobreviver a este colapso.

Ramsés, que não é o criador do Templo de Abul Simbel é a escolha do jogador iniciante e mais pragmático. Unificando a artilharia com uma boa relação com os escribas. Junto de Ramsés, temos Amémmesse, um desconhecido, mas real faraó da 19° Dinastia focado na riqueza das Terras do Nilo. Com zero interesse em diplomacia, temos o herdeiro designado de Merneptá, Seti, em que o poder está em sua cavalaria e seus arqueiros poderosos. Já Tausret, a consorte de Seti é chamada de A Estrategista por um simples motivo. Sua sinergia com as áreas do Egito e seu foco na diplomacia e na defesa de suas terras garantem uma jogabilidade mais estratégica do que seus companheiros. Todos estes personagens de fato existiram através de escrituras em tumbas, palácios e templos. A ficção só fica no modus operandi de cada um, formando facções dentro dos egípcios em Total War: Pharaoh.
A Batalha de Kadesh é a principal porta de entrada para os Hititas.
O outro grupo disponível em Total War: Pharaoh é o dos Hititas. A outra contraparte no Tratado de Kadesh, os Hititas habitavam o que hoje é a Turquia, mais precisamente a Península da Anatólia. Embora a Bíblia coloque os Hititas como canaanitas, eles não são de origem semita, mas sim um povo indo europeu, da mesma forma que os iranianos e indianos atuais, responsáveis por fundar um poderoso Império (1.600 a.C até 1.180 a.C). A capital, Hattusa é o resquício do que já foi; sendo tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade. Seu modo de escrita era peculiar, usando uma língua própria e uma espécie de escrita cuneiforme que lembram sumérios e assírios. Pouco se sabe, em comparação aos outros Impérios, de como os Hititas viviam, pois diferente da Babilônia e do Egito, eles não resistiram ao Colapso da Era do Bronze.

Porém, o que se sabe pela historiografia é que os cavalos eram venerados como deuses. E o mesmo acontecia com o Rei, em algo similar ao Faraó, o filho de Rá para os egípcios na Terra. Habilidosos também no combate, não eram poucos os embates na esfera de influência pelas regiões do Levante e do Mar Morto entre Egito, os Hititas e outros sociedades. Seus carros de guerra eram diferentes das bigas egípcias, pois comportavam três pessoas. Sendo dois arqueiros e um comandante da cavalaria. Esse poderio militar fazia dos Hititas um rival formidável e poder regional no Oriente Médio. Dentro da sociedade, as leis e o papel do monarca eram registrados. Sendo esse um dos poucos registros da cultura Hitita. Diferente do violento e brutal Código de Hammurabi, as leis Hititas eram mais suaves quanto as penitências e condenações de criminosos. Claro que para os padrões do Mundo Antigo.
Tente reescrever a história dos Hititas para sempre.
Já a figura do Rei era imponente. Assim, ao mesmo tempo que representava a política e seu povo, ele também era o representante dos deuses na Terra. Infelizmente, também não se sabe muito do panteão Hitita. O tão citado Tratado de Kadesh é talvez a peça fundamental para se entender essa sociedade. Escrito nos dois idiomas, ele detalha com maestria a Batalha de Kadesh, ocorrida em uma cidade Canaanita que foi palco das tropas de ambas as nações. Não havia informações da parte Hitita do Tratado, já que somente a parcela Egípcia havia resistido, esculpidas no Templo de Karnak, em Luxor. Porém, tabuletas perto de Hattusa já estão à disposição no Museu de Istambul trazendo a versão hitita do acordo, assim como o nome de seu rei, Hatusil III. Entretanto, não é este o Rei Hitita em Total War: Pharaoh disponível aos jogadores.

Nos palcos do game da Creative Assembly, os Hititas são representados por dois membros, seu último Rei, a desaparecer no Colapso da Idade do Bronze, Suppiluliuma e Kurunta, um usurpador da Corte Hitita. Ambos os personagens não são aconselhados para os jogadores mais inexperientes, uma vez que a conclusão histórica é o desaparecimento do Império Hitita. E para isso, será necessário reescrever a história além de vários turnos. Porém, para aqueles que preferem desafios e perigos, Suppiluliuma fará do jogador um estrategista em manter as ameaças internas fora de alcance, enquanto busca a unidade de seu Império. Já Kurunta é focado na desestabilização do status quo atual. Assim, além de prestigiar a velocidade das ações, há também a necessidade de entender de sabotagem e até mesmo das maiores teorias da conspiração que o jogador poderá se entreter ao ser um separatista na facção Hitita.
Entre as grandes nações, existe um pedaço de terra, Canaã.
Agora, no meio de dois grandes Impérios, resta uma sociedade que pode não ter forjado um Império naquele momento. Porém, seriam os responsáveis pela expansão Fenícia (1.200 a.C até 539 a.C) na Costa do Mediterrâneo. Na Bíblia, os Canaanitas são os povos a serem expulsos pelos hebreus de Canaã, a Terra Prometida, após os anos de escravidão no Egito. Essa história é contada de forma completa em Êxodo, parte do Antigo Testamento. O nome Canaã parece ser ainda mais antigo, pois um século antes dos Fenícios, os egípcios e os amorreus (um Reino vassalo do Faraó) trocavam tabuletas de argila descrevendo os povos Canaanitas. Compreendendo os atuais estados de Israel, a Palestina, e partes dos territórios de Síria, Líbano e Jordânia, Canaã foi literalmente o entroncamento de grandes impérios, e nunca viveu em paz. Nem mesmo com o Reino de Israel e o de Judá.

Entretanto, embora fosse extremamente difícil a paz ao lado de Impérios que sempre buscavam se expandir, os Canaanitas prosperaram, especialmente através do comércio. E não era incomum algumas incursões desses povos para o Egito. Afinal, os Hicsos, povo levantino que tomou o poder na região se tornando faraós eram da estirpe Canaanita. Mesmo assim, durante o Colapso da Idade do Bronze, não havia um Estado Forte completamente canaanita para que chamassem de seu. A região inclusive foi uma das que mais sofreu com esse estranho acontecimento. Sem o comércio, e com a destruição das cidades pelas guerras, Canaã perdeu parte de seu poder, e seus cidadãos passaram a viver próximo da costa ou migraram para outras regiões sobreviventes. Essa pelo menos é a versão da maioria dos historiadores para Canaã neste período, pois existe a versão da minoria.
Os Canaanitas não eram uma nação, mas sobreviveram ao Colapso.
Assim, a versão que contradiz a maioria é a de que os Canaanitas conseguiram sobreviver bem ao Colapso da Era do Bronze. Cidades até podem ter sido queimadas e destruídas, mas os números não são tão grandes quanto se acredita. Especialmente no Sul do Levante, onde nenhuma cidade apresenta detalhes destrutivos daquele período. O comércio também não foi completamente modificado. O Egito, mesmo depois das Cartas de Amarna, comercializava seus produtos com os Canaanitas, que também o faziam com os gregos micênicos e com regiões mais longínquas, como o atual Cazaquistão. Desta forma, é provável que, com o vácuo ocasionado pela Idade do Bronze, foi possível que algumas tribos dentro dos Canaanitas se organizassem em reinos mais poderosos. É o caso da já mencionada fenícia, assim como os reinos hebreus de Israel e Judá. Que, embora longe do senso comum, pela arqueologia e linguística, é um povo Canaanita.

Porém, Total War: Pharaoh fecha o cerco antes da criação desses estados. Em um momento de colapso sem nenhum grande estado dos Canaanitas. Por isso mesmo, temos um completo anarquista, Irsu, e um falso moralista, porém exímio político de nome Bay. No primeiro caso, temos o foco predominante em batalhas, conflitos, destruição e caos. A questão para Irsu é que quanto mais conquistar, melhor. Não necessariamente governar. Sua artilharia é rápida e favorece os jogadores mais agressivos do que metódicos. Do outro lado Canaanita, temos Bay. Sendo bem-visto aos olhos de Merneptá, o político em questão tem particular gosto pela causa egípcia, mesmo sendo de Canaã. Entretanto, seu verdadeiro sentimento é que através de uma boa estratégia, os conflitos palacianos podem representar a ascensão ou a queda de um Império. Assim, um verdadeiro estilo Game of Thrones dentro do Oriente Médio do Mundo Antigo.
Total War: Pharaoh destaca os conflitos do Oriente Médio.
Mesmo que sem dragões e profecias envolvendo famílias de olhos violetas, Total War: Pharaoh é competente em mostrar o desequilíbrio de forças no Oriente Médio ao fim da Era do Bronze. Assim, os milenares Egípcios podem ter sobrevivido, os Canaanitas também, já os Hititas sucumbiram a todas estas mudanças. Pelo nome, Total War: Pharaoh foca na sociedade egípcia dentro de seu intuito, sendo um jogo de PC, mas ainda assim interessante ressaltar sua criação e o cuidado demonstrado. Desta forma, quem disse que não é possível aprender um pouco de história com videogames? Pelo menos aqui, o leitor e jogador pode entender um pouco mais destes três povos, que o esperam em Total War: Pharaoh para remodelar seu destino. No Brasil, a Theo Games é a responsável pela comunicação e social media de Total War: Pharaoh e da SEGA como um todo.
Irônico vocês que, como um site de games que tenta falar de história também postar em uma rede social bandeirinhas de Turquia e Egito, sendo que quando vocês falam de Canaã, a maior parte de seu território é onde hoje fica Israel. Aí fica a pergunta que não quer calar? Não colocaram a bandeira deles pois estão do lado de quem nessa história toda não é mesmo? Patético!
Prezado Senhor Antônio, vejo que é a primeira vez que falas neste Site. Então, quanto a sua indagação, ratificamos que postamos esse Especial com as bandeiras de Jordânia, Turquia e Egito pois representam essas três nações. Israel sim faz parte da região de Canaã. Porém, dados os conflitos recentes com os Palestinos e a Faixa de Gaza, o Guariento Portal preferiu NÃO postar nem a bandeira judaica, nem a palestiniana. Simples assim. Caso não tenha gostado, é de seu direito de não aparecer mais no site. Tenha uma boa noite.
Legal da parte de vocês de misturar história e videojogos. Sai daquela situação simples de ensinar tradicional. Espero que continuem assim, a postagem tem boa qualidade.
Que bom Bruno que você também gostou, e faz tempo que você não aparece por aqui. Pode continuar comentando sem problemas. Esperamos mais visitas de você por aqui em breve!
Olha Antônio, meu irmão foi até comportado em te responder. Só um conselho, a Israel de hoje não é a Israel do Velho Testamento, do Povo Prometido nem nada não. Aliás, você nem deve ter lido nada do que ele, ou que a gente escreve, e qual o motivo de ter aberto um diálogo aqui e no X não ter colocado uma vírgula. Seja menos por favor!
Hola, hablo desde Bolivia. Felicitaciones por el sitio web. Si te gusta Total War, te recomiendo jugar a uno antiguo, llamado Shogun, también para PC. Aunque los gráficos no son los más actuales, tiene todo lo que han mejorado estos juegos más nuevos. Pero sigo prefiriendo el más viejo. Es como jugar a Roller Coaster Tycoon, el primero en lugar del tercero, aunque este esté en 3D.
Felicitaciones de Brazil. Espero que te haya gustado lo que escribimos. Mi hermano, el autor de esta publicación, ama.
¡Saludos! ¿De qué parte de Bolivia estás hablando? Me alegro que te haya gustado la publicación. Por cierto, es interesante que comentes sobre Roller Coaster Tycoon, ya que también me gusta y prefiero el primero al tercero, aunque este último está completamente en 3D. De hecho, fue uno de los primeros juegos que jugué en PC.
Está muito bacana a interação entre história e o jogo que vocês estão falando. Porém, uma observação de quem pode ajudar: sei que vocês estão falando dos Hititas, povo indo-europeu. Porém, cuidado quando forem escrever novamente para não confundir com os Hatitas. Sim, o nome não ajuda. Porém, os Hatitas estavam no mesmo local dos Hititas, só que bem antes, eram um povo da própria Anatólia e existia uma cidade chamada Hattusa, que mais tarde seria a cidade capital dos Hititas. Então, muita coisa pode ser confundida entre essas duas sociedades que são bem diferentes. No mais, texto interessante e que vocês continuem esse trabalho.
Poxa, é um prazer imenso ver um comentário assim, e pelo teu email, se vê que é uma acadêmica (da UFRJ, aqui do Rio de Janeiro mesmo). Obrigado Célia, de verdade. Não sabe como isso nos deixa feliz em saber que tenhas gostado do conteúdo. E mais, pode deixar que teremos todo o cuidado com o termo, e sim, os nomes não ajudam nenhum pouco não é mesmo? Abraços e espero que continue nos acompanhando por aqui.