AS CIRCUNSTÂNCIAS AFETAM O COMPORTAMENTO
As séries policiais cultivam uma legião de fãs fiéis há muitos anos, estando entre as ‘queridinhas’ pelos telespectadores do Brasil e do exterior. Mas várias delas têm cenas que deixam a gente com uma ‘pulga atrás da orelha’: será que isso é realmente verdade? Por isso, o advogado, professor de Direito e ex-policial Felipe Pereira de Melo analisou 7 obras da televisão e conta o que é real e o que é ‘fake’ nessas séries.
“Sou um grande apreciador dessas séries, sobretudo porque a arte reflete a vida de maneira fascinante”, explica. O professor tem o currículo perfeito para esta missão: além de advogado, é especialista em Direito Penal, Ciências Criminais e Inteligência Policial. Além disso, foi policial militar no Estado do Paraná de 2010 a 2014 e policial civil de 2014 a 2023. No período, atuou como professor dos cursos de Formação e Pós-graduação da Escola Superior de Polícia Civil do Paraná e coordenador de pós-graduação da Escola Superior de Polícia Civil do Paraná. Coordenou ainda o curso de Entrevista Investigativa da Escola Superior da Polícia Civil do Paraná. É professor de Direito na UNIASSELVI. E com essa bagagem, trás a verdade de sete séries policiais de sucesso.

#1 – MINDHUNTER:
Mindhunter aborda a criação da Unidade de Análise Comportamental do FBI nos anos 1970, mostrando o desenvolvimento do criminal profiling, ou traduzindo, o perfilamento criminal. A série acompanha Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany) entrevistando assassinos em série para entender padrões de comportamento e antecipar crimes futuros.
“A série é extremamente fiel ao trabalho pioneiro do FBI, sendo baseada no livro de John Douglas, um dos primeiros analistas de comportamento criminal. As entrevistas são inspiradas em casos reais e os perfis desenvolvidos pelos agentes refletem técnicas adotadas até hoje”, diz Melo sobre a série disponível no catálogo da Netflix.
Mas ele faz algumas ressalvas. “Embora realista, Mindhunter romantiza o perfilamento criminal como uma solução quase infalível, quando, na prática, ele é apenas um dos muitos recursos utilizados na investigação. Além disso, não aborda os desafios práticos, como a falta de recursos para investigações de grande duração, a necessidade de cumprimento de prazos e o grande volume de casos que acabam superlotando as unidades de investigação”.

#2 – CRIME SCENE INVESTIGATION (CSI), DE LAS VEGAS, E SEUS SPIN-OFF’S:
Esta foi a série que popularizou a investigação forense. Afinal, CSI mostra peritos criminais resolvendo crimes por meio de evidências científicas, como análise de DNA, impressões digitais e reconstrução de cenas e que até hoje é carta registrada no catálogo do canal fechado AXN, estando disponível na Prime Vídeo e também no Paramount.
“Muitas das técnicas apresentadas são reais e fazem parte da rotina da perícia criminal. O problema está no formato. Na série, os peritos fazem interrogatórios, portam armas e participam diretamente da ação policial, o que não condiz com a realidade. No mundo real, peritos não têm a mesma autonomia dos investigadores. Eles analisam provas, mas não conduzem a investigação”.
“A série transmite a ideia de que a perícia criminal, por si só, é capaz de resolver todos os crimes de maneira rápida e definitiva. No entanto, na prática, a investigação policial é um processo complexo e multifacetado, no qual a perícia é uma ferramenta fundamental, mas não a única. O trabalho investigativo envolve cruzamento de informações, diligências de campo, análise de registros, inteligência policial e, em muitos casos, o depoimento de testemunhas e suspeitos”, destaca.

#3 – LAW & ORDER (TANTO O SVU QUANTO O CRIMINAL INTENT):
Diferente de muitas produções do gênero, Law & Order equilibra as fases investigativa e judicial do crime, proporcionando uma visão ampla do funcionamento do sistema de Justiça criminal. A série conta com dois spin-offs: SVU, focando em crimes sexuais e violência contra grupos vulneráveis; e Criminal Intent, que prioriza a análise psicológica dos criminosos, destacando a perspicácia dos investigadores para desvendar casos complexos. “O maior mérito da série é apresentar a dinâmica entre polícia e promotoria, evidenciando as dificuldades na obtenção de provas, os dilemas éticos na persecução penal e os impactos da impunidade”, ressalta Melo.
“A série traz um nível de realismo superior ao de produções como CSI, pois expõe as dificuldades operacionais da polícia na coleta de provas, a dependência de testemunhas e os desafios enfrentados pelo Ministério Público na formação da acusação. Além disso, SVU aborda com sensibilidade as questões relacionadas ao atendimento a vítimas de crimes sexuais, algo que, historicamente, muitas jurisdições negligenciam”. Aliás, Law & Order é uma das séries com a maior quantidade de canais a disposição. Desde o Prime Vídeo, até a Netflix, passando pela Globoplay.
Embora seja uma das séries mais realistas do gênero, Law & Order ainda apresenta algumas distorções, segundo ele. “Na série, investigações complexas são solucionadas em poucos dias ou semanas, enquanto, na realidade, crimes de difícil elucidação podem levar meses ou até anos para serem esclarecidos. A série também apresenta frequentemente provas irrefutáveis e confissões detalhadas, o que não condiz com a realidade. A série ainda transmite a ideia de que promotores orientam investigações quase diariamente, algo que não ocorre, principalmente no Brasil. Aqui, os promotores atuam majoritariamente na fase processual e não na linha de frente da apuração dos crimes”, diz.

#4 – THE SOPRANOS:
The Sopranos é uma das melhores séries de todos os tempos. E isso não apenas pelo desenvolvimento de seus personagens, mas também pela forma como retrata a dinâmica do crime organizado. A série apresenta um retrato cru da máfia ítalo-americana em Nova Jersey, abordando suas operações financeiras, a relação com a política, os conflitos internos e a constante ameaça representada pelas forças de segurança. Uma das séries imperdíveis da Max, ao lado de Game of Thrones, The Last of Us e Breaking Bad.
O professor da UNIASSELVI tece elogios à obra. “A série retrata com fidelidade o funcionamento do crime organizado nos EUA, especialmente no que diz respeito à estrutura da máfia, suas regras e códigos de conduta. Alguns dos aspectos mais realistas incluem a lavagem de dinheiro por meio de empresas de fachada, a corrupção política, e o uso de informantes e delatores nas investigações”.
Segundo ele, outro ponto de destaque na série é seu enfoque psicológico, mostrando a vida de um chefe da máfia que, apesar de comandar uma organização criminosa, sofre de crises de ansiedade e busca tratamento psiquiátrico. “No entanto, algumas dramatizações são feitas para fins narrativos, como o alto número de assassinatos internos dentro da organização, que, na realidade, seriam mais esporádicos, até pelo fato de que a atenção da polícia seria instigada”, afirma.

#5 – DEXTER:
Dexter é uma série que mistura elementos de investigação criminal e thriller psicológico, centrando-se em um analista forense especializado em padrões de dispersão de sangue que, secretamente, é um serial killer. A trama explora a dualidade moral do personagem. Afinal, ele mata apenas criminosos que escaparam da justiça, funcionando como uma espécie de “vigilante” dentro do próprio sistema.
Apesar de abordar a psicopatia de forma envolvente, explorando a frieza emocional do protagonista e seu método meticuloso de ocultação de crimes, a premissa central (um perito criminal que comete assassinatos sem ser descoberto por anos) apresenta várias inconsistências. Isso do ponto de vista da realidade policial e pericial, segundo Melo.
“Dexter parece ter conhecimento técnico em todas as áreas da perícia criminal, o que não condiz com a realidade. Na prática, análises ocorrem por equipes multidisciplinares, com peritos especializados em cada área. Ele parece ter acesso a todas as investigações de homicídios da cidade e, convenientemente, consegue manipular laudos e eliminar provas que poderiam incriminá-lo. Na realidade, qualquer irregularidade em um laudo pode ser descoberta em uma auditoria ou revisitada em reexames técnicos. Além disso, o desaparecimento frequente de suspeitos que ele assassina certamente geraria padrões investigativos que alertariam as autoridades. Crimes em série sem motivação aparente são objeto de análises criminais aprofundadas”, é o que revela o professor da UNIASSELVI.
“Dexter elimina evidências de forma simplificada, sem levar em conta o rigor das técnicas de investigação modernas. Pequenos vestígios biológicos (DNA, cabelo, fragmentos de tecido) são praticamente impossíveis de serem apagados completamente, além da própria necessidade de preservação da cadeia de custódia”, complementa o advogado e ex-policial.

#6 HOMELAND:
Homeland é uma série de espionagem e contraterrorismo que acompanha Carrie Mathison, uma agente da CIA que suspeita que um fuzileiro americano, prisioneiro no Oriente Médio por anos, pode ter sido radicalizado e está planejando um ataque terrorista nos Estados Unidos. Tal como a Marvel, a série é parte da Fox, comprada pela Disney e agora no streaming Casa de Mickey Mouse. “Esta é uma das séries mais técnicas e precisas sobre inteligência e contraterrorismo. A obra se destaca por sua abordagem política e psicológica, retratando operações clandestinas, recrutamento de informantes e uso de vigilância tecnológica para antecipar ameaças terroristas. Diferente de produções exageradamente fantasiosas sobre espionagem, Homeland busca um tom mais realista, evidenciando dilemas éticos, falhas operacionais e os desafios da guerra contra o terrorismo”, destaca Melo.
Apesar dos pontos fortes, há concessões narrativas para tornar a trama mais dinâmica. É o caso da agilidadeem obter informações e a centralização de todas as operações em uma única agente. “A protagonista age com grande liberdade, muitas vezes contrariando ordens superiores e tomando decisões unilaterais. Na realidade, agentes da CIA operam sob rígidas cadeias de comando e têm raramente a autonomia mostrada na série. Além disso, Homeland mostra a CIA como uma entidade quase onisciente. Como exemplo, a capacidade de monitorar qualquer pessoa em tempo real por meio de drones e escutas ultrassofisticadas, frequentemente antecipando ataques terroristas. Na prática, mesmo as agências mais avançadas enfrentam limitações operacionais e legais”.

#7 – FAUDA:
Fauda é uma das séries mais realistas sobre contraterrorismo e operações militares clandestinas. Criada por Lior Raz e Avi Issacharoff, ambos ex-membros de unidades especiais das Forças de Defesa de Israel, a série acompanha um time de operativos israelenses infiltrados para desmantelar redes terroristas palestinas. Inclusive, parte do elenco atuou em forças de segurança e na atividade de Inteligência na realidade.
“Diferente de séries exageradamente dramatizadas, Fauda retrata com um grau elevado de autenticidade as operações de infiltração, vigilância e operações táticas em zonas de conflito. Tiroteios, emboscadas e resgates são retratados de maneira verossímil, o que evita cenas exageradas de ação cinematográfica. Inclusive, o uso das técnicas de Combate em Ambientes Confinados (CQB, na sigla em inglês), planejamento estratégico e operações coordenadas é semelhante ao que é empregado por BOPE, CORE e forças especiais em ações contra o crime organizado no Brasil”.
A série é notavelmente fiel à realidade das operações especiais israelenses. “As unidades israelenses infiltradas, ou Mista’arvim, realmente operam disfarçadas entre palestinos, dominando a língua e os costumes locais. Esse tipo de infiltração prolongada é complexa e requer treinamento intensivo. No Brasil, as unidades das polícias judiciárias são as responsáveis por esses tipos de infiltrações, mas geralmente com alvos diferentes, como o crime organizado e o tráfico internacional de drogas. Os personagens da série também lidam com traumas, estresse e o peso moral das execuções e missões falhas”.
Em Fauda, os agentes frequentemente tomam decisões por conta própria, ignorando cadeias de comando. Na realidade, operações desse porte exigem coordenação rigorosa e aprovações hierárquicas. A série também faz parecer que os personagens são capazes de se infiltrar com facilidade em qualquer ambiente, sem levantar suspeitas. No entanto, infiltrações são extremamente sensíveis, com meses de preparo e execução, com enormes desafios burocráticos, como aprovações judiciais.
CURSOS APROXIMAM A FICÇÃO DA REALIDADE:
O professor lembra que vários cursos da UNIASSELVI, nos quais ele ministra aulas, podem agradar aos aficionados por séries policiais. Alguns cursos citados por ele são: Criminologia; Investigação Forense e Perícia Criminal; Gestão em Segurança Privada; Segurança Pública; entre outros. Quem gosta desse tipo de série, muito provavelmente vai gostar de estudar o assunto mais profundamente. “Sem dúvida, o conhecimento altera fortemente nossa experiência ao assistir essas séries, tornando nosso olhar mais analítico e exigente em relação a cada detalhe. Tanto é que a maioria das séries conta com a assessoria de profissionais qualificados e com grande especialização em suas áreas, para que tudo seja o mais real possível”, explica Melo.
SOBRE A UNIASSELVI:
A UNIASSELVI é uma das mais conceituadas instituições de ensino superior do Brasil. Com uma oferta diversificada de mais de 500 cursos, que incluem Graduação, Pós-Graduação, Profissionalizantes e Técnicos. Tanto na modalidade presencial quanto a distância (EAD), a instituição se destaca pela sua abrangência e qualidade educacional. Presente em todos os estados brasileiros, a UNIASSELVI conta com uma ampla rede de mais de 1,3 mil polos. Além de mais de 16 campi de ensino presencial. É a única instituição de grande porte nacional a receber nota máxima no Recredenciamento Institucional, concedido pelo Ministério da Educação (MEC). A missão da UNIASSELVI é fornecer os recursos e o suporte necessários para que os alunos construam suas próprias histórias e alcancem o sucesso acadêmico e profissional. Isso leva a promoção do desenvolvimento pessoal e profissional de cada estudante.