NÓS VAMOS SORRIR … SORRIAM!
Não é todo dia que o Brasil e a Letônia se engajam em uma Cerimônia como o Óscar. Porém, a 97ª Edição do Prêmio da Academia de Artes Cinematográficas dos Estados Unidos fez surgir um sentimento nacionalista em partes dessas nações. Isso porque Ainda Estou Aqui (I’m Still Here, 2024), do diretor Walter Salles, concorria em três categorias. Já o letão Flow (Streame, 2024), do cineasta Gints Zilbalodis, foi nomeado em duas. Entretanto, em termos de títulos, a estrela da noite, de maneira inegável, foi Anora (Anora, 2024), conquistando não somente o título de Melhor Filme, como também outras quatro categorias, sendo o maior agraciado da noite de premiações. Sem dúvida, tanto Ainda Estou Aqui, Flow e Anora merecem ser reconhecidos como destaque dessa noite que levou o Brasil ao estrelato, tendo chances de mudar o ponto de vista do Brasil sobre o seu cinema.

O 1º ÓSCAR DO BRASIL TEM NOME … E ELE É “AINDA ESTOU AQUI”:
É impossível não começar qualquer coisa e falar sobre ele. Ainda Estou Aqui é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, que conta a história de sua mãe, Eunice Paiva, e sua busca para que o Estado Brasileiro reconhecesse o desaparecimento e morte do marido, o deputado Rubens Paiva, durante o período da Ditadura Militar (1964-1985). Interpretada por Fernanda Torres e pela sua mãe nos momentos finais, Fernanda Montenegro, Ainda Estou Aqui conquistou o amor e o ódio. O longa sofreu com um boicote por parte de um grupo reacionário e conservador da sociedade brasileira quando de seu lançamento. Porém, isso parece ter surtido um efeito contrário. E, no período de premiações do Hemisfério Norte, o filme despontou como o representante do Brasil não somente no Óscar como também em outras celebrações, como o britânico BAFTA, o espanhol Goya, e o também estadunidense Globo de Ouro.
Aliás, a aclamação do filme de maneira geral se deve à atuação de Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva. Sua vitória no Globo de Ouro como Melhor Atriz de Drama a coloca na história como a primeira atriz brasileira a obter tal premiação. Afinal, Fernanda Montenegro, sua mãe, foi nomeada por Central do Brasil (Central Station, 1998), que acabou levando apenas o prêmio de Melhor Filme Internacional. Depois do Goya de Filme Ibero Americano, foi a vez do Óscar. Obtendo a estatueta de Melhor Filme Internacional, o longa ainda competia novamente nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Filme. Porém, em ambos, perdeu para a Anora, o maior premiado da noite. Mesmo assim, a história já estava escrita. O filme que fala dos horrores de uma família durante os nefastos eventos da Ditadura Militar é o detentor do primeiro Óscar do país.

UM GATINHO PRETO FOI O RESPONSÁVEL PELO 1º ÓSCAR DA LETÔNIA:
Se o Brasil, em pleno Carnaval, transformou a torcida por Ainda Estou Aqui em uma Copa do Mundo de Futebol, outro país parecia seguir os mesmos eventos. E seu nome é Letônia. A pequena nação báltica fez de um precioso gatinho preto o seu mascote oficial. Flow, uma animação sem voz, destravou feitos inéditos durante a jornada de premiações. Ao mesmo tempo, somente sua produção deve ser comemorada. O filme, que fala da aventura de um gato e outros animais em um mundo sem os seres humanos e inundado, foi feito por um software gratuito, o Blender. O diretor Gints Zilbalodis e sua equipe de cinco pessoas foram responsáveis por praticamente tudo. E aos poucos, o filme foi ganhando seu espaço. Da mesma forma que no Brasil, a Letônia levou um Globo de Ouro, o de Melhor Animação, sendo o primeiro do país.
Isso foi o suficiente para que as coisas mudassem em sua terra natal. O gatinho protagonista ganhou uma estátua na capital do país, Riga, assim como pinturas em paredes e muros. O Globo de Ouro está no Museu de Artes Nacionais da Letônia. Disponível para seus compatriotas e com uma proteção especial de duas estátuas de gatos. Até mesmo políticas governamentais mudaram. O governo letão decidiu investir mais na produção audiovisual e seu diretor recebeu a maior honraria do país. Além de levar o César, o Óscar da França, Flow chega também ao estrelato com o Óscar de Melhor Animação, derrotando estúdios de peso, como a Disney de Elementos (Elemental, 2023) e a DreamWorks. A outra indicação foi de Melhor Filme Internacional, essa vencida pelo Brasil. De outra forma, a 97ª Edição do Óscar foi brilhante para estas duas nações, que ganharam cada uma o seu primeiro prêmio.

ANORA VENCE SEUS ADVERSÁRIOS, SENDO O CAMPEÃO DA NOITE:
Porém, quem realmente se transformou em uma constelação, desbancando filmes com as maiores indicações como Emília Peréz (Emília Peréz, 2024) e O Brutalista (The Brutalist, 2024) foi Anora. O longa, que conta a vida de uma profissional do sexo que se envolve com um filho mimado de um oligarca russo inicialmente não contava com o impulso necessário para ser algo óbvio entre os mais cotados. Mikey Madison, por exemplo, sua protagonista, não foi sequer nomeada para o Globo de Ouro, e o filme nesse evento não angariou nenhuma vitória. Porém, conforme as premiações se aproximavam, seu nome, assim como o filme, era notado. Com a vitória de melhor Atriz no BAFTA e de Melhor Filme no Critics Choice Awards, o caminho de O Brutalista, Conclave (Conclave, 2024) e A Substância (The Substance, 2024) ganhavam uma pedra russa pesada demais para ser retirada.
Como as premiações que antecedem o Óscar servem como um termômetro desta Academia, não era possível pelo menos confirmar certa primazia de algum filme, especialmente em certas categorias. Mas Anora conseguiu passar as adversidades e escrever seu nome, ao obter cinco vitórias de seis indicações. Além é claro de Melhor Filme, o longa levou os já cotados Melhor Roteiro Original e Melhor Edição. Quando Sean Baker levantou a estatueta de Melhor Diretor, o caminho já estava marcado, e quando Mikey Madison derrotou Fernanda Torres e a favorita Demi Moore, tudo se tornou óbvio. E o preconceito com latinos e filmes de terror também. No fim das contas, Anora acabou saindo como a grande premiada da noite, com algumas das principais categorias, e encerrando uma temporada de premiações bastante atípica, onde nenhum filme até então levou um certo favoritismo desde o início. Diferente de Oppenheimer (Oppenheimer, 2023).
TRÊS FILMES … TRÊS HISTÓRIAS … SERÁ QUE ALGUMA COISA MUDA?
Assim, para o Brasil, a Cerimônia pode ter deixado um gosto agridoce pela derrota na categoria de Melhor Atriz. Porém, é importante destacar que nem tudo é escuridão. Na verdade, Ainda Estou Aqui, Walter Salles e Fernanda Torres fizeram história justamente por sua maior conquista, o Óscar de Melhor Filme Internacional. E isso não é nenhum desmerecimento do filme, especialmente ao considerar o hoje e a história do longa, que retrata a história do Brasil, no qual esquecer não é uma opção. No Brasil, o filme está sendo distribuído pela Sony Pictures. Enquanto isso, o premiado Flow tem sua distribuição por uma coparticipação entre a Mares Filmes e a Alpha Filmes. Por fim, Anora, o Melhor Filme de 2024, produzido pela independente Neon, tem sua distribuição em terras brasileiras a cargo da Universal Pictures. Três filmes, três histórias. O que acharam da 97ª Edição do Óscar?
Galera, só passando pra avisar que, por questões editoriais, estamos deixando aos poucos o X. Afinal, não é possível questionar uma rede social e se manter nela sabendo que existem similares. Desta forma, optamos pelo Bluesky. Além deles, também começamos a colocar as nossas coisas no Threads e no Youtube. Então, agradecemos se quiserem dar aquela olhada e seguir tudo isso e mais um pouco.
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Maravilhado que Ainda Estou Aqui levou o prêmio de Filme Internacional. Contudo, entretanto e todavia, é inadmissível que Anora tenha sido o verdadeiro grande vencedor, levando até mesmo o prêmio de Melhor Atriz.
Se não fosse a Torres, que fosse Demi Moore com toda a sua história e com um filme que fala exatamente o que Hollywood faz com a idade das atrizes… Acabou que a própria Moore foi trocada por uma atriz mais nova, exatamente o que acontece em A Substância. Coralie Fargeaut estava sempre a frente de seu tempo. Devia ter ganhado o de Diretora sem dúvida só por isso.
Perfeito! Aliás, A Substância nunca foi tão verdade. Não que a Mikey Madison não seja boa. Anora é carregada por ela e pelo seu diretor. Porém, não é a melhor atuação da temporada de longe. Estava já me acostumando a perder para a Demi, que de fato veio muito bem (embora perca tempo de tela com a Margaret Qualley), e se não fosse ela, que fosse a nossa querida Fernanda Torres que somente com a cena do banheiro e da sorveteria conseguiu trazer toda a emoção necessária e mais além.
I’m Still Here fue el verdadero representante latino. Eso fue filmado en un país latino y tiene actores latinos. A diferencia de cierta película que intentó hablar de México, pero era herética en todo lo que hacía. Fernanda Torres estuvo sensacional!
Gracias por las felicitaciones. I’m Still Here fue realmente el epítome de Brasil, especialmente por su historia, de un período que dolió, como la Dictadura Militar. Y ser el primer Oscar del país para una película que trata este tema tiene mucho más que celebrar.
Ainda Estou Aqui teve uma das melhores mecânicas para premiação, a Sony acreditar que investir nesse lobby poderia dar certo. Não somente pela história do longa, que é claro é importante. Mas sem eles, o filme poderia ser um novo Cidade de Deus que a Academia dos Estados Unidos jamais se interessaria. E acredite, isso é comum para esse tipo de premiação.
Tenho questões com Anora, especialmente da questão de que o filme embora seja independente, tenta ser ousado embora não seja em termos de roteiro. Tem umas barrigas no meio do contexto que acaba fazendo o longa ser mais chato. No entanto, é inegável que a Mikey Madison foi realmente uma excelente atriz. Mas é claro que estava torcendo para a Fernanda Torres.
Concordo integralmente que o lobby é uma coisa deve ser considerado nessas cerimônias. Não por menos, se a Sony Classics não tivesse acreditado no filme, ele poderia ser o melhor da Terra, não estaria sequer cogitado entre os melhores. Dito de outra forma, não basta o filme ser bom, tem que ter estratégia nessa situação. Quanto a Madison, ainda não sei o que pensar. Não é de todo o ruim, mas existiam na mesma categoria atrizes com atuações bem melhores.
Irei defender Anora aqui. Ele pode até ter passado despercebido por algumas premiações. Porém, desde o início, o filme ganhou a Palma de Ouro de Cannes, e depois do SAG (Prêmio de Sindicatos), ele despontou como grande favorito. E de fato é um ótimo filme que pega o estilo Cinderela de contos de fada, de final feliz e subverte. E tudo isso por causa da atuação de Mikey Madison. Não estou menosprezando a atuação de todas as outras atrizes, mas Madison mereceu sua premiação assim como o filme, independente ainda por cima.
Pois então defenda pois ele de fato não é ruim. Só de fato não é um filme que pelo menos para mim, despontava como um maravilhoso filme a ganhar tantos títulos como no Oscar. Claro que depois do BAFTA, ele começou a despontar, mas se for colocar lado a lado, Conclave ainda é melhor e ninguém me tira essa ideia. Mas como dito, não é horrível, ruim é Emília Peréz (esse pela madrugada, foi dívida de jogo, só pode!).
Ainda Estou Aqui, quer algumas pessoas não queiram, já vai ficar marcado na história. O filme que começou com uma tentativa de boicote se tornou o único do Brasil com uma estatueta do Oscar. Bem, tem gente que está chorando até agora. E pra essa galera, só falo o seguinte, manda áudio que está pouco. Ou melhor, chora na cama que é un ligar quentinho.
Estou ainda com menos pena. O Brasil levar a estatueta em um filme que fala da Ditadura Militar é um tapa na cara para as pessoas que acham que tudo já passou, ou que já está tudo apagado… Ai, mas não colocaram as vidas perdidas do outro lado? F@da-se! Era o Estado Brasileiro sendo responsável pela execução e desaparecimento de uma galera. Tem mais que ser lembrado sim para que uns certos alguns não voltem com essa mesma ladainha.