Depois de vencer Éris, Durval e Abel, Os Cavaleiros do Zodíaco precisavam de uma folga. Contudo, a Toei Animation buscava lançar mais um especial, desta vez exclusivamente para o VHS como os dois primeiros, para encerrar a tetralogia que ficou conhecida os antigos filmes da animação japonesa. É então que em 1989, um ano depois de A Lenda dos Defensores de Atena, surge Os Cavaleiros do Zodíaco: Guerreiros do Armagedon. Sendo o mais diferente de todos até então produzidos, o longa de 45 minutos coloca Atena contra ninguém menos do que Lúcifer, o anjo caído da Bíblia. Destinado a destruir a humanidade, o Anjo Caído revive após a morte de antigos deuses e tem ao seu lado os Anjos da Morte e o seu santuário, o Pandemônio. Então, cabe a Seiya e Companhia, mais uma vez livrar a terra das forças do mal.
A religião cristã aparece com o vilão da história, Lúcifer, o anjo caído:
Primeiramente, e como já dito, esse é o filme mais diferente de toda a franquia. Tanto pelo fato de usar o cristianismo como plano de fundo, como também pela sua direção. Fato é que Cavaleiros do Zodíaco já tinha misturado conceitos nórdicos, como em A Grande Batalha dos Deuses como budistas em seus próprios Cavaleiros. Contudo, essa é a primeira vez de um destaque tamanho da religião cristã, o que pode causar certo desconcerto, mas consegue-se encaixar bem por um simples fator, o roteiro é rápido, raso e fácil de entender. Pode parecer confuso que, pela primeira vez um roteiro raso seja um fator positivo, mas em Os Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon se foca praticamente em apresentar o inimigo e partir para batalhas. Para isso, usa apenas alguns minutos de seu início para destacar o perigo do anjo.
Quanto as animações, o cenário é muito mais escuro e sombrio, afinal, o rival é ninguém menos do que o Senhor do Inferno. E o longa não faz questão em diminuir isso, os tons são soturnos, muito próximos ao da aventura de Odin. Há um certo desconforto justamente pelo personagem, e que combina com a história. As animações seguem o padrão Cavaleiros do Zodíaco, com uma melhor em relação ao filme de Abel por exemplo. Entretanto, se por um lado o roteiro parte para as batalhas, podemos dizer sem dúvida que esse é o ponto principal da animação. E é aqui que começam os problemas com Os Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon. Os quatro Anjos da Morte são poderosos ao ponto de derrotaram os Cavaleiros de Ouro remanescentes, mas suas lutas não são gloriosas.
As lutas não são memoráveis, e o roteiro tem furos consistentes quando analisado a história de Saint Seiya:
E é então que grande parte das batalhas perde o seu charme não pelo tempo. Elas são produzidas com um certo rigor e pensando-se na cronologia da aventura. Contudo, os diálogos entre as batalhas são simplesmente sofríveis. É claro que Cavaleiros do Zodíaco não é um parâmetro em seu texto, porém esse é de fato o pior da tetralogia. Pelo menos, a título de compensação, a trilha sonora não está descompensada, e retorna com louvor o que se perde em A Lenda dos Defensores. Cantos gregorianos, músicas sentimentais que marcam a franquia de Seiya conseguem fazer com que as lutas, parcas, sejam até interessante pela interação com o som. No entanto, mesmo com todas estas falhas e acertos, Os Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon peca em seu terceiro e último ato, culpa causada pelo aparente conflito de informações que o próprio roteiro fez questão de criar.
Esquecendo claramente a integração de sua história com a animação tradicional, e vendo-a de maneira separada é possível tirar esse defeito. Contudo, quando analisamos a aparição de Poseidon ao lado de Abel e Éris como as almas que dão forças a Lúcifer, temos uma contradição do roteiro. Afinal, Poseidon não está no inferno, ele foi aprisionado em uma ânfora por Atena. E sequer apareceu em longas animados, apenas na série. Sendo um universo, esses defeitos tiram a credibilidade do longa como um todo. Além deste, o último ato simplesmente é piegas pelo fato de que repete, pela terceira vez o mesmo argumento. Seiya, trajando a armadura de ouro de Sagitário, atira uma flecha em Lúcifer que desaparece. Isso aconteceu com Éris e com Abel. Por mais que o protagonismo de Seiya se faça presente, o espectador praticamente teve uma reprise tripla do fim, sem criatividade alguma.
Mesmo com o roteiro rápido e partindo para batalha, Os Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon fica na média:
No fim das contas, Os Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon não tinha a audácia de um roteiro inteligente. Ele na verdade é uma introdução para que depois a ação entre Atena e Lúcifer possa acontecer. Essa diretiva da história é um ponto positivo, que junto com uma atmosfera mais antiga – tal como O Templo da Perdição em Indiana Jones – o tornam diferente dos demais. Mesmo essa indisposição inicial por ter acrescentado um tema cristão depois perde sua força, afinal, Lúcifer é como os outros deuses que apareceram. Malvado e que quer dominar todo o mundo. Justamente por este nível de roteiro, nem mesmo o vilão é tão explorado como aconteceu com Éris e com o próprio Abel. As animações são boas, e a trilha sonora ajuda na imersão, mantendo o espírito de Cavaleiros do Zodíaco.
Contudo, é inerente que o longa tem falhas sensíveis. As lutas não são tão memoráveis assim, uma vez que os Guerreiros de Lúcifer são simplesmente esquecíveis. E como o próprio vilão não tem carisma não facilita a inserção da história. Os problemas de lógica de roteiro também são um ponto chave, mantendo uma premissa apresentada em praticamente todos os filmes. Por mais que isso seja Saint Seiya, não é necessário seguir a cartilha fiel de Atena passando por um perigo e Seiya, depois de vestir a armadura de Sagitário a salva. Existem outros Cavaleiros no conjunto, e eles poderiam ter uma participação melhor explorada. No fim das contas, Os Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon fecha a tetralogia com qualidades e defeitos. Um meio termo entre a luz e a sombra é o que se pode dizer desse longa.
https://www.youtube.com/watch?v=_hmWNs7ioSU
Números
Os Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon
Entre a luz e a sombra, Os Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon é o mais diferente da tetralogia, sendo ao todo mediano.
PRÓS
- Enredo rápido, o vilão aparece e partimos para a batalha.
- Fotografia e animação mais sombria, destacando o longa dentre os demais.
- Trilha sonora representa a franquia Cavaleiros do Zodíaco.
CONTRAS
- Final terrivelmente repetitivo, sem inspiração alguma.
- As batalhas são esquecíveis pelos vilões não serem tão apresentados.
- Conflitos entre a história do longa e da animação causam confusão no universo da franquia.