NÓS VAMOS SORRIR. SORRIAM!
O ano era 1998. O filme Central do Brasil era o responsável por levar o país ao conhecimento de Hollywood. O longa era indicado para Melhor Filme Estrangeiro e de Melhor Atriz, com Fernanda Montenegro no Óscar. Embora sem prêmios, o destino é imprevisível. Assim, vinte e cinco anos depois e com o mesmo diretor, Walter Salles, é a filha, Fernanda Torres, com Ainda Estou Aqui, que não somente volta para o circuito como conquista algo inédito. É a primeira vez na história da premiação que um longa brasileiro é indicado na categoria de Melhor Filme. Enfim, foram dez longas. Da máfia russa de Anora para as intrigas do Vaticano de Conclave. De uma Hollywood desprezível em A Substância para uma Oz cantarolante de Wicked e um México questionável de Emilia Pérez. Assim, os indicados de Melhor Filme no Óscar de 2025 esperam pelo seu tempo para serem conhecidos.

#1 – AINDA ESTOU AQUI, DE WALTER SALLES:
Baseado no livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, Ainda Estou Aqui se passa no período da Ditadura Militar do Brasil. Nesse contexto, temos o desaparecimento do deputado federal Rubens Paiva pelas forças do regime, deixando sua esposa, Eunice Paiva e seus filhos num mundo que sequer confirma a sua morte. É então que a família passa a perseguir a verdade. Trata-se não de um filme geral, mas Ainda Estou Aqui é expressivo em usar todo o conflito da família Paiva como uma janela de um passado não muito distante. Com uma poderosa atuação de Fernanda Torres como a viúva Eunice Paiva, premiada no Globo de Ouro. Já no Óscar, além da categoria principal, Ainda Estou Aqui possui indicações nas categorias de Melhor Atriz, com Fernanda Torres e Filme Estrangeiro, por ser uma produção brasileira e francesa, distribuída pela Sony Pictures, de O Exorcista do Papa (The Pope’s Exorcist, 2023).
#2 – ANORA, DE SEAN BAKER:
Ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes, Anora é uma representação em tons divertidos de um clássico, a relação de classes sociais distintas. No longa, a personagem título é uma stripper vivendo em um reduto russo nos Estados Unidos que acaba se relacionando com o filho de um oligarca. Tudo parece ser um sonho até que os pais do jovem Ivan se mudam para Nova York, depois do casamento de seu filho, para anular essa relação. Muito dessa sensação que vai de felicidade para o caos está no desempenho de Mikey Madison, indicada ao prêmio de Melhor Atriz. Ao todo, Anora conta com seis indicações, como Melhor Ator Coadjuvante por Yuri Borisov e a trinca de Direção, Roteiro Original e Edição. Anora, no fim das contas, é um filme independente que conseguiu seu lugar, distribuído no Brasil pela Universal Pictures.
#3 – O BRUTALISTA (THE BRUTALIST), DE BRADY CORBET:
A parceria entre a A24, de A Bruxa (The Witch, 2015) e a Universal Pictures levou à produção do épico dramático O Brutalista. Adrien Brody retorna, após O Pianista (The Pianist, 2002) para os eventos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Dessa vez, como o arquiteto húngaro judeu László Tóth, sobrevivente do Campo de Concentração de Dachau que emigra para os Estados Unidos. O que ele acreditava que seria um recomeço acaba trazendo marcas ainda mais profundas através da xenofobia e do desprezo da sociedade local pelos imigrantes. Mesmo com algumas polêmicas quanto ao uso de Inteligência Artificial, o filme foi nomeado para dez categorias no Óscar. O Brutalista conta com a representação em Melhor Atriz Coadjuvante com Felicity Jones, Melhor Ator Coadjuvante com Guy Pearce, Direção, Roteiro Original, Trilha Sonora Original, Edição, Cinematografia e Design de Produção. No Brasil, coube à Universal Pictures a sua distribuição.
#4 – UM COMPLETO DESCONHECIDO (A COMPLETE UNKNOWN), DE JAMES MANGOLD:
Saindo do drama húngaro para uma biografia de um personagem real, Um Completo Desconhecido é baseado no livro de 2015 Dylan Goes Electric!, do norte-americano Elijaw Wald que parte da história do cantor Bob Dylan, no Festival Folk de Newport de 1965. O cantor, conhecido pelo seu gênio muitas vezes arrogante, tem essa particularidade sustentada por Timothée Chalamet. O ator não só protagoniza, como também é produtor do longa. Um Completo Desconhecido, distribuído no Brasil pela 20th Century Studios, de A Noite das Bruxas (Hallowe’en Party, 2023) o longa é uma tradicional biografia, seguindo a lógica de A Hora Mais Sombria (Darkest Hour, 2017) e Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011). Essa segurança foi suficiente para sua indicação em oito categorias, o que inclui também as de Melhor Ator Coadjuvante com Edward Norton e Melhor Atriz Coadjuvante por Mônica Barbaro, assim como Direção, Roteiro Adaptado, Som e Figurino.
#5 – CONCLAVE, DE EDWARD BERGER:
Do ganhador de Filme Estrangeiro em 2023 com Nada de Novo no Front (Im Westen nichts Neues, 2022), Edward Berger surge na categoria principal do Óscar com Conclave. O título, baseado em um thriller de investigação policial escrito pelo britânico Robert Harris, conta a dinâmica da escolha do Colégio dos Cardeais após a morte do Papa. Cheio de reviravoltas e segredos obscuros, o filme ganha uma aparência de Sherlock Holmes através da atuação de Ralph Fiennes, indicado também ao prêmio de Melhor Ator, como o cardeal Thomas Lawrence, aquele que deverá conduzir a eleição. Também vencedor no Globo de Ouro pelo Melhor Roteiro, Conclave tem ao todo oito indicações, incluindo a de Melhor Atriz Coadjuvante de Isabella Rossellini, Trilha Sonora Original, Roteiro Adaptado, Edição, Design de Produção e Figurino, estando disponível no Brasil pela Diamond Films, de Entrevista com o Demônio (Late Night with the Devil, 2023).
#6 – DUNA: PARTE DOIS (DUNE: PART TWO), DE DENIS VILLENEUVE:
Produzir e dirigir óperas especiais pode ser uma maravilha ou uma tragédia. Pelo visto, Denis Villeneuve parece ter encontrado a condução ideal com a franquia Duna, baseada no livro do norte-americano Robert Hebert. Sequência direta do primeiro longa de 2021, Duna: Parte Dois continua os eventos que levaram à destruição da Casa Atreides e as traições dentro daquele universo, onde nada parece ser tão seguro dentro do poder. Com o uso absurdo de efeitos especiais, categoria em que se destaca, Duna: Parte Dois é o candidato eminentemente técnico dentro da categoria principal. Assim, suas cinco indicações incluem Efeitos Especiais, sendo um dos dois únicos títulos indicados a Melhor Filme nessa categoria, como também Cinematografia, Design de Produção e Som, algo que também seu antecessor foi indicado e obteve sucesso. No Brasil, Duna: Parte Dois se encontra no streaming Max e foi distribuído pela Warner Bros.
#7 – EMILIA PÉREZ, DE JACQUES AUDIARD:
Emilia Pérez é o segundo estrangeiro dentro da categoria principal. Trata-se de um musical, baseado em uma peça de ópera escrita pelo próprio Jacques Audiard, que se concentra na chefe de um cartel de drogas mexicano que contrata uma advogada para desaparecer, e assim, poder fazer sua transição de gênero. Embora com atuações de norte-americanas como Selena Gomez, o filme utiliza o espanhol e, por isso, é visto como estrangeiro. Conta também com a atuação de Carla Sofía Gascón, a primeira transgênero a ser indicada para Melhor Atriz. Também envolvida em polêmicas pelo uso da Inteligência Artificial, Emilia Pérez parece não ter sentido. Sendo o maior indicado do Óscar de 2025 com treze categorias. Tal desempenho se iguala a filmes como O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, 2001). No Brasil, sua distribuição está a cargo da Paris Filmes.
#8 – NICKEL BOYS, DE RAMELL ROSS:
Mais um filme de raízes em produções literárias. Baseado no livro homônimo de 2019, o filme viaja até a década de 60 do século XX, onde dois jovens afro americanos, Elwood e Turner, são enviados para um reformatório na Flórida conhecido pelos seus maus tratos. Essa história é baseada na Florida School for Boys, instituição datada desde 1900 e fechada pelo estado norte-americano devido às denúncias de maus tratos, estupro e até mesmo assassinato. Vale lembrar que a década de 60 era um momento de florescimento dos direitos civis nos Estados Unidos, com os discursos acalorados de Malcolm X e Martin Luther King. É assim sendo, uma película bastante audaciosa quanto à filmagem, em primeiro pessoa, algo normalmente visto no entretenimento eletrônico. Dramático em essência, Nickel Boys também conta com a indicação para Roteiro Adaptado. No Brasil, o filme não tem informações de distribuição até o momento.
#9 – A SUBSTÂNCIA (THE SUBSTANCE), DE CORALIE FARGEAT:
Sendo o exemplar do gênero terror na categoria principal do Óscar, A Substância é peculiar. O longa mistura o horror corporal com um texto satírico que explora a própria Hollywood. Com a atuação de Demi Moore como uma cinquentona esquecida pelo cinema, ela entra em contato com A Substância, que a transforma em uma nova mulher. Além de ser a primeira indicação para a direção da francesa Coralie Fargeat, A Substância faz história, pois desde Corra (Get Out, 2017) o gênero estava fora da categoria. Não por menos, o filme também concorre à categoria de Melhor Atriz com Demi Moore. Dessa forma, igualando-se com O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991), mas também obtendo indicações em Maquiagem, Roteiro Original e Direção. Assim como Duna: Parte 2, A Substância está disponível no streaming, o Prime Vídeo, com distribuição no Brasil pela Mubi e pela Imagem Filmes.
#10 – WICKED, DE JON M. CHU:
Na Cidade das Esmeraldas, Wicked é o musical da Broadway transladado para o cinema. Baseado na criação do norte-americano Stephen Schwartz, Wicked relata as aventuras entre Glinda, a Bruxa Boa do Sul e Elphaba, a Bruxa Má do Oeste antes mesmo desses personagens terem tais alcunhas. Por nascer verde, Elphaba sofre desde a infância com os preconceitos dos habitantes de Oz, mas encontra em Glinda uma amiga. A atuação de Cynthia Erivo, que carrega o filme em sua vassoura a rendeu também a indicação de Melhor Atriz. Ao todo, Wicked batalhará em dez categorias, como o de Melhor Atriz Coadjuvante para Ariana Grande. Assim como em outras áreas mais técnicas como Figurino, Edição, Maquiagem, Design de Produção. Mas também em Trilha Sonora Original, Som e Efeitos Especiais. Tal como O Brutalista, o título é mais um dentro do catálogo da Universal Pictures, responsável por sua distribuição em terras brasileiras.
QUEM LEVA A ESTATUETA DE MELHOR FILME? FAÇAM SUAS APOSTAS:
Em geral, a lista dos indicados a categoria principal do Óscar possuem uma espécie de trilha para serem laureados. Afinal, dos dez indicados, metade destes filmes pertencem ao gênero drama. Contudo, algumas expectativas acabam se desmanchando no ar, como é o caso dos precedentes que já indicavam a nomeação de Emilia Pérez, O Brutalista e Conclave. Quanto ao Brasil, além de ser a primeira vez na titulação do principal momento da Academia de Cinema dos Estados Unidos, Ainda Estou Aqui marca um ponto de inflexão do cinema nacional. Mesmo com todas as tentativas de boicote por parte de segmentos mais conservadores da sociedade brasileira. A premiação do Óscar, prevista para 3 de Março de 2025 reserva grandes emoções aos espectadores. Até pelo fato de que, da Ditadura Militar até a vida de Bob Dylan, todos estão na corrida pelo grande prêmio da noite.
Galera, só passando pra avisar que retornamos para o X (afinal, mesmo sendo uma rede problemática, ainda é uma rede social importante), assim como estamos no Bluesky. Então, pode nos seguir que já agradecemos desde já. Além deles, voltamos com a nossa programação normal no X e também começamos a colocar as nossas coisas no Threads. Então, agradecemos se quiserem dar aquela olhada e seguir tudo isso e mais um pouco.
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Claro que se me perguntar, estou torcendo por Ainda Estou Aqui. Porém, acho que quem realmente leva o prêmio fica entre Brutalista e Conclave. São os tipos claros de filme da Academia. Anora é interessante, mas não é tão ágil em pelo menos a metade dele. Só do meio para o final é que realmente fica interessante.