Quando se fala em Egito Antigo é fácil dizer que as primeiras coisas que vem a mente são Múmias e Pirâmides. E isso não está errado. Já que os livros de história amam colocar fotos dessas construções e dos métodos de se retirar o cérebro pelo nariz que os antigos egípcios faziam. Porém, se você também acompanha o Guariento Portal, sabe que a gente fez uma Análise no Revisitando o Passado de A Múmia, filme de 1999. Além disso, também soltamos algumas Curiosidades. E, se você não estava dormindo em uma caverna desde 1999, sabe que o grande vilão da história é Ihmotep, interpretado por Arnold Vosloo. Outrora sumo sacerdote de Tebas, o rapaz foi condenado por se engraçar pela preferida do faraó Set I e dar uma facadas em seu chefe. Ele jamais descansaria. Porém, o Ihmotep de verdade jamais foi amaldiçoado para começo de conversa.
Chanceler do Faraó do Egito, Doutor, Primeiro na linhagem do Faraó do Alto Egito, Administrador do Grande Palácio, Nobre hereditário, Sumo Sacerdote de Heliópolis, Construtor, Carpinteiro-Chefe, Escultor-Chefe, e Feitor-Chefe de Vasos.
“Pequena” lista de títulos atribuída a Ihmotep.
Vamos fazer o seguinte, esqueçamos a história completa do filme A Múmia de 1999. Ihmotep até existiu, mas não foi quase nada daquilo que o longa mostra.
A primeira coisa que você terá de fazer é: esqueça completamente a historinha do filme. Ihmotep pode até ter sido sumo sacerdote, mas não era de Set I, nem de Tebas, e muito menos foi amaldiçoado. O rapaz era servo de Djoser, faraó da Terceiro Dinastia, enquanto Set I é da Décima Nona Dinastia. Dando cerca de 1.400 anos de margem de erro histórica, o que não é pouca coisa. Além disso, Tebas nem tinha nascido como cidade e a capital egípcia era Mênfis. Pelo menos, o filme A Múmia acerta ao dizer que ele era Sumo Sacerdote, porém não acerta nem a cidade, pois era Heliópolis. De fato, Ihmotep foi sacerdote do deus Rá enquanto estava vivo, e também foi mumificado, porém com honras de quase deus, ou um semideus se estivéssemos na mitologia grega, mostrando que ele não era pouca coisa não.
Esquecendo um pouco da vida amorosa e particular de Ihmotep, em que não se tem detalhes de quase nada, o egípcio se encontra preservado na história principalmente por seus dois empregos, embora tivesse mais: arquiteto e médico. Sim, Ihmotep é o primeiro homem datado historicamente com a alcunha de “arquiteto”, afinal, foi ele o responsável pela primeira pirâmide do Egito. Esqueça a Grande Pirâmide lisa e uma das Maravilhas do Mundo Antigo. A primeira entre seus pares é a Pirâmide de Djoser (a necrópole do Faraó ao qual Ihmotep era servo), e feita em degraus. Ela também é conhecida como Pirâmide de Saqqara, e lembra bem mais umas estruturas Sumérias como o Etemenanki e os Jardins Suspensos da Babilônia. Não sabe quais são essas também? Pois vai uma dica, jogue Civilization VI que você vai saber direitinho, e temos até uma Análise do game em sua versão Nintendo Switch.
Se a Roxelle já fica feliz por Julius ter dois empregos, imagina a esposa de Ihmotep. Já que o cara era arquiteto, médico, escriba, vizir… Bem, dinheiro não devia faltar em casa.
Além de arquiteto, Ihmotep era versátil. Pois também se especializou na medicina. É o que pelo menos se tem dos antigos escritos egípcios, uma vez que o arquiteto também era especializado na escrita. Enfim, um cara bem instruído e inteligente. Não por menos, rapidamente se tornou uma das peças mais importantes do reino de Djoser, sendo seu vizir, algo como “Primeiro Ministro”. Após sua morte, em algum momento que ninguém sabe ao certo, Ihmotep teve sua própria tumba e seu processo de mumificação, algo raríssimo pois ele não nasceu dentro da família faraônica. Sendo assim, o primeiro plebeu que, depois de ser vizir, ganhou honras tanto durante a vida quanto após sua morte. E não, ele não é igual ao José do Egito, ambas as histórias também estão a séculos de distância. Bem depois de Ihmotep morrer é que as Pirâmides começaram a ser construídas em seu formato conhecido.
Ainda nessa pegada histórica com pitadas de Pharaoh (um excelente jogo de gerenciamento de cidades do Egito Antigo), lembra que Ihmotep foi colocado como semideus? Pois então, isso demorou, e um bocado. Mesmo que ele tenha sido enterrado com honras. Porém, seu culto tem registros consistentes apenas mil anos depois de sua morte. Nesse caso, como uma de suas alcunhas era o “Filho de Ptah”, relacionava-se o agora mumificado ao deus dos adivinhe? Artesãos e arquitetos. No entanto, ele também foi vinculado e confundido com a personificação da Toth, o deus da escrita e da medicina. Os macedônios quase gregos, após conquistar a terra do Egito, assim como quase todo o Oriente Médio faziam sincretismo religioso com a figura de Ihmotep. Para eles, o arquiteto era uma versão de Asclépio, o semideus patrono da medicina. Era comum essa bagunça de juntar deuses de diferentes mitologias após invasões.
Verdade? Mentira? O sarcófago de Ihmotep não foi encontrado até hoje. Mesmo assim, seu nominho está em algumas estruturas egípcias, e nada delas diz que se encontrarem, ele trará as Dez Pragas do Egito (que aliás, está a milênios de distância de quando Ihmotep viveu).
No entanto, mesmo depois de tudo isso, ainda assim há quem acredite que Ihmotep jamais existiu. E que na verdade suas grandes façanhas e textos na verdade são um compilado de diversos outros autores que foram arrolados em um único nome. No entanto, Ihmotep de fato foi atestado em ao menos duas construções dentro do Egito Antigo. Na própria tumba de seu faraó, Djoser, com uma inscrição de seu nome e em um grafito na parede de uma pirâmide inacabada perto de Saqqara. Isso se deve ao fato de que até hoje, jamais encontraram a tumba do arquiteto, vizir, médico, escriba e tudo mais um pouco. Acham que estão perto da região onde seus grandes feitos estão enterrados. Mesmo assim, a galera pode ficar sossegada e continuar procurando, pois, ser revivido pelo Livro dos Mortos não parece ter sido o destino para alguém que foi tão importante.