Existem franquias no mundo do horror que deixam marcas. O Exorcista, de 1973, criou todos os arquétipos de um filme de possessão demoníaca. O mesmo ocorre com Evil Dead. No Brasil, o filme ganhou os nomes de A Morte do Demônio ou Uma Noite Alucinante. Responsável pela origem do diretor americano Sam Raimi (de Arraste-me Para o Inferno e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura), a franquia é a epítome de terror sobrenatural com uma dose elevada de gore e piadas e falas sádicas que beiram ao ridículo, um trash de primeira linha. E é seguindo isso que A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) ou Evil Dead Rise no inglês, ganha as telas do cinema, colocando as raízes do Naturon Demonto dentro de uma grande cidade. A questão que fica é… Vale a pena? É o que veremos com um Dramin nesta Crítica do Guariento Portal.
Antes de mais nada, vale uma dica nesta Crítica do Guariento Portal. Não quer sair de casa para comprar ingressos para ver A Morte do Demônio: A Ascensão ou qualquer tipo de filme? Pois então, seus problemas acabaram. A Ingressos.com é uma loja virtual para que você, Jedi ou Sith, amante de terror ou apaixonada por um romance possa comprar seus ingressos sem sair de casa. Basta se cadastrar, comprar e comparecer ao cinema de sua preferência e se divertir. Claro que na Ingressos.com, é possível comprar também aquele refrigerante bem gelado. Ou então, aquela pipoca na manteiga para apreciar a sessão. Seja ela qual for! Então já sabe, na Ingressos.com, você não enfrenta filas e já marca com antecedência de forma fácil e rápida sua chegada ao cinema. Dada a dica, vamos agora viajar para Los Angeles com A Morte do Demônio: A Ascensão (2023).
Conhece a franquia Evil Dead? Temos a cartilha completa nesse filme.
Pois bem, não há como começar qualquer Crítica de A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) e não falar de sua principal característica; seguir à risca a cartilha estabelecida por Sam Raimi desde 1981 neste gênero. Atuando desta vez como Produtor Executivo, Raimi deixou o longa nas mãos do irlandês Lee Cronin, e sem dúvida, tinha todos os motivos do mundo para isso. Em A Morte do Demônio: A Ascensão (2023), temos doses cavalares de gore elevado à décima potência. Evil Dead é isso, o grotesco com um toque sádico sobrenatural. Então, espere pela boca suja do demônio invocado, assim como momentos que – para alguns mais fracos – podem enjoar pelo apresentado. Embora esse enjoo seja menor do que o remake ou reboot de 2013, produzido pelo uruguaio Fede Alvarez. Aliás, A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) tem bem mais semelhanças com o reboot do que com a franquia original.
Mesmo com momentos comedidos e com frases de efeito, A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) é um terror quase puro. Tanto a dinâmica das câmeras quanto a ambientação deixam explícitos que aqui o negócio é querer incomodar o espectador. Lee Cronin faz ao mesmo tempo uma homenagem com o bom uso de câmeras em primeira pessoa, assim como inova, trazendo ângulos estranhos e uma grande angular em determinado momento da narrativa que leva quem assiste diretamente para aquele apartamento macabro. Aliás, o apartamento não é simplesmente um ambiente, mas é uma demonstração de que é possível fazer um terror de cabana, sem uma cabana, atualizando assim a roda inclusive da franquia Evil Dead. Esqueça um lugar no meio do mato que nenhum ser humano com o mínimo de noção passaria o fim de semana. Aqui, um edifício decrépito de Los Angeles é o início da noite alucinante.
Saímos da cabana na floresta para um centro urbano apavorante.
O apartamento da família de Ellie (Alyssa Sutherland) merece comentários adicionais. O que você esperaria de seu lar? Algo acolhedor, correto? Pois bem, o lar onde Ellie e seus três filhos vivem não é nenhum pouco acolhedor. Bagunçado, cheio de tralhas e com os dias contados. Nem mesmo nos momentos em que a família se reúne, parece existir um clima de segurança. A cabana foi definitivamente deixada para trás. Além disso, todo e qualquer objeto apresentado ou toda a ideia que é dita não está por acaso em A Morte do Demônio: A Ascensão (2023). Eles vão se encaixar em algum momento, obedecendo ao mandamento da Arma de Tchekhov. Isso cria uma expectativa de que até objetos mais casuais, como uma taça de vinho ou um ralador de queijo podem se tornar armas de tortura. E acreditem, fazem o espectador virar a cabeça para o lado.

A Morte do Demônio: A Ascensão é certeiro em não fugir da proposta da franquia e, ao mesmo tempo, ter uma identidade própria. Diferente de seus antecessores, o novo filme arrisca trazer uma ambientação diferente para a trama. Ao invés de uma cabana isolada na floresta, o longa se passa quase completamente dentro do apartamento da família, composta por personagens totalmente novos, se diferenciando de outras franquias que usam personagens marcantes de seus primeiros filmes para apelar para a nostalgia.
Crítica de Conrado Teixeira Risemberg (9/10) ao site Critical Room sobre A Morte do Demônio: A Ascensão (2023).
Há uma tentativa de trazer veracidade aos personagens.
Esse bom uso dos artefatos também se faz presente com a sonoplastia do longa. A Morte do Demônio: A Ascensão (2023), por ser escuro e fazer valer a questão de macabro, abusa dos altos falantes e do ambiente local para criar a impressão de que tem algo espionando. Algo a espreita pronto para atacar. E, na maioria das vezes, terá mesmo. Passos enlameados, contorcionismos, músicas e até mesmo um padre dizendo a burrada que fez por ter lido o livro são marcantes e passam de uma orelha para outra. Essa junção da qualidade técnica entre o que é visto e o que é ouvido cria de fato um local que consegue tirar da zona de conforto qualquer espectador. Até mesmo o uso de reflexos e da água também marcam presença, e de forma inteligente para que os sobreviventes possam tentar, pelo menos, se manter vivos nesta noite infernal.
Continuando a Crítica de A Morte do Demônio: A Ascensão (2023), é interessante também destacar que o longa tenta – e o faz com certo sucesso – apresentar uma família com suas disfunções. Afinal, ninguém tem uma família perfeita de comercial de margarina. A irmã de Ellie, Beth (Lilly Sullivan) é o membro que tem pouquíssimo vínculo, e coloca o trabalho acima de tudo. A própria Ellie, a estrela sem sombra de dúvida do filme, tem seus conflitos internos e normais – a separação do marido, o despejo de sua família e a questão de como cuidar de seus três filhos – sendo usados com efetividade quando de sua possessão. Aliás, merecem todas as salvas de palmas com o Naturon Demonto fechado é claro a atuação de Alyssa Sutherland. De mãe carinhosa a relapsa, passando por uma criatura possuída sarcástica e sem nenhum pudor, a fisicalidade apresentada é absurda.
Maquiagem, fisicalidade e um banho de sangue marcam a franquia.
Claro que toda essa fisicalidade não seria nada se os efeitos práticos não fossem de qualidade. E A Morte do Demônio: A Ascensão (2023), o faz da mesma maneira que o reboot de 2013 fez. Assim, esqueça de certa forma a canastrice do primeiro filme de 1981, feito com o valor de uma pinga e um pastel de feira. Aqui, o orçamento “modesto” de 15 milhões de dólares foi aproveitado com uma maquiagem que incorpora feições diabólicas aos possuídos. Assim como é claro, o absurdo uso de sangue, para todo o lado. E, sem deixar de faltar, as mutilações, facadas, tesouradas e tudo mais. É aqui, nesse sanguinário quesito, que o longa brilha. A violência é escrachada, extrema, mas essa é a alma do negócio apresentado em Evil Dead. E essa quinta aparição da franquia mantém tudo isso, colocando seu nome dentro desse universo.

Quanto a mitologia impregnada em Evil Dead, A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) não inventa até certo ponto. Para quem não conhece a franquia, todas as entidades são invocadas após a leitura de um livro, seja o Naturon Demonto ou o Necronomicon. Muda-se o nome dependendo da versão vista. Entretanto, mesmo que sua abertura seja um dos momentos mais ilógicos do filme, ainda assim a leitura é inteligente, se utilizando de um dos hobbies de certo personagem para que as palavras malignas sejam proferidas. Esse momento marca completamente a mudança de arco do filme. É a partir daqui que a tela fica abarrotada de momentos sórdidos, macabros e com certo tom sádico provocado pela entidade. Não espere por um final definitivamente feliz, nem pela salvação dos personagens. A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) deixa bem evidente que qualquer um pode morrer e se ferir.
O problema dos clichês. Aqui, funciona quase todas as vezes.
Assim, essa imprevisibilidade pode fazer com que, em certos momentos, o espectador seja pego desprevenido. Especialmente quando o uso de bons jumpscares. Porém, A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) não é somente de bons – e nojentos – momentos. Essa Crítica, sem dúvida alguma entende que o filme é inventivo ao trazer com total sentido a mitologia do Livro dos Mortos para um grande centro urbano, e o bom uso de clichês desse gênero trash. O problema é que existe uma não lógica dos personagens para que a trama consiga fluir. O encontro do livro propriamente dito é uma das cenas mais estúpidas quando se pensa em uma realidade dentro da franquia, assim como a própria possessão de Ellie. Minutos atrás, após um terremoto, é ela a mencionar uma situação que não deveria ter sido feita, e ela mesma quebra essa sua fala, mostrando assim certa desconexão.
Isso incomoda pois quebra a suspensão de descrença até mesmo dentro de um filme que fala de possessão demoníaca e tem um elevador tomado por sangue. Pois lógica deve existir em qualquer lugar, desde que os argumentos anteriores sejam apresentados corretamente. Um segundo ponto que engata nessa questão de narrativa é que o texto, também de Lee Cronin tem seus pontos positivos, mas também seus bodes expiatórios. Nem todas as atuações conseguem manter este padrão. Tirando a competente e queridinha Kassie (Nell Fischer), Danny (Morgan Davis) é o personagem responsável pela leitura do Naturon Demonto, então não espere por muita inteligência. Enquanto isso, temos Bridget (Gabrielle Echols), uma personagem blasé, com o título barato de “progressista”. Esse é um problema que acaba se tornando maior quando analisado as entrelinhas nesta Crítica de A Morte do Demônio: A Ascensão (2023).
O banho de sangue é tamanho que até parte do roteiro é afogado.
A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) possui momentos que deseja passar algo mais aprofundado, como a decadência da família, seja financeira e amorosa e até mesmo os problemas oriundos de uma maternidade não planejada. Porém, ele é deixado completamente em segundo plano quando o show de horrores – literal – se apresenta no segundo ato. Se a intenção era dar camadas mais profundas aos personagens ou então mexer em vespeiros, em especial na sociedade dos personagens – como a norte-americana – o longa deveria ter espremido bem mais essa espinha. Na verdade, isso serve apenas como um apêndice, que é inundado pela carga gráfica extrema. Em especial no terceiro ato, que, fazendo jus a franquia, é um derradeiro banho de sangue como nenhum outro filme é capaz de fazer. De outra forma, o roteiro até pode ser rápido, tem cerca de uma hora e meia de duração, mas existem buracos aqui.

A Morte do Demônio: A Ascensão entrega um bom retorno para a franquia, mas também presta homenagem para diversos filmes de terror ao longo dos anos, inclusive para a própria franquia Evil Dead. O espectador mais treinado nas produções do gênero, verá que o diretor coloca em algumas cenas, passagens basicamente iguais a de produções consagradas como O Iluminado, por exemplo. Nada que afete o desenrolar da história, ou da trama, afinal, o que importa aqui é vermos como essa família vai lidar com essa ameaça que estava enterrada há muitos anos e que foi descoberta pelo jovem Danny (Morgan Davies) quando um terremoto atinge o prédio onde eles vivem.
Crítica de Conrado Miguel Morales (3/5) ao site Arroba Nerd sobre A Morte do Demônio: A Ascensão (2023).
Sendo de nicho, a Morte do Demônio: A Ascenção cumpre o que promete.
De certa forma, o espectador pode se perguntar, A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) vale a pena? É divertido? Como sempre, tal resposta é capciosa. Como dito no decorrer dessa Crítica, o longa bebe formidavelmente da fonte de Sam Raimi, apresentando de maneira raiz tudo que deve ter – momentos macabros de possessão, bom uso de efeitos práticos e muita violência, mergulhada em momentos curtos de humor. Então, sabendo exatamente desses pontos e o motivo do longa ter sido classificado para maiores de 18 anos no Brasil podem ser detalhes que demonstram que o filme não é para qualquer espectador. Há um abuso do gore até às últimas consequências. De todas as formas inventivas e imaginadas, e trazer tal sequência para um ambiente urbano com uma família “de verdade” são marcas que antes não tinham sido vistas em Evil Dead.
Assim, junte isso com efeitos práticos de primeira linha e a excelente atuação da mãe possuída e temos um filme que sim, pode ser nojento para alguns, macabro para grande parte e para outros pode-se passar como um mero passeio no parquinho, mas com uma agonia bem no fundo. Mesmo intenso, A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) tem seus problemas, notadamente no roteiro. Até pelo fato de que burrice deve ter um limite mesmo nos filmes de terror. Os personagens são interessantes, mas nem todos os membros da família conseguem captar a essência. O subtexto é completamente perdido e deformado depois que o filme mergulha no banho de sadismo que representa, com uma final girl encharcada de sangue com o símbolo máximo da franquia – uma motosserra. Referências de fato é o que não falta, até de outros longas, como O Iluminado (1980) e A Hora do Pesadelo (1984).
Com uma serra elétrica, o longa é símbolo do terror gore.
No estalar de todos os ovos – desta vez sem casca – A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) é o típico filme que tem nicho. Ou seja, não é de bom tom achar que se trata de uma obra da sétima arte se você já não possui, antecipadamente, um entendimento sobre a franquia. Claro que não é necessário ver os filmes anteriores, mas apenas saber o que Evil Dead representa. A cartilha, as homenagens no uso de câmeras, o bom uso da parte sonora, da parte plástica e uma direção de qualidade trazem uma ambientação que efetivamente é claustrofóbica. Mesmo que a saída esteja ao seu alcance, ela não é alcançada. O mal aqui é sujo, debochado e sem pudor de apavorar ou esmagar qualquer tipo de emoção carinhosa apresentada em tela. Ele até brinca com os sentimentos que os filhos têm para com sua mãe. E vice-versa.

Porém, não é perfeito em todo o caso, e isso o próprio longa sabe, e essa Crítica pontua. Assim, esses seus defeitos, tirando a questão da burrice apresentada por certos personagens, podem ser contornados pela ferocidade que os atos progridem após a possessão. A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) pode não ser um filme burro, usando inteligentemente alguns clichês do terror. Porém, inegavelmente, em alguns momentos temos o questionamento mais óbvio que alguém poderia fazer. Por que raios você fez isso? Isso retira a influência do longa na mente humana, captando o espectador da tela por alguns segundos. Mesmo assim, produzido pela New Line Cinema e a Renaissance Pictures, A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) consegue trazer mais uma vez a franquia com qualidade para o seu público, com um final em aberto. Assim, definitivamente, nenhum filme da franquia Evil Dead até agora é ruim.
Números
A Morte do Demônio: A Ascensão (2023)
Seguindo rigorosamente a cartilha do trash com gore e um humor bastante sádico, A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) é o quinto capítulo da franquia iniciada por Sam Raimi, agora em um ambiente claustrofóbico, porém igualmente assustador e sanguinário, na cidade de Los Angeles.
PRÓS
- A cartilha stricto sensu de Evil Dead. Sangue, terror corporal e sarcástico está presente de toda forma inventiva.
- Toda a ambientação é claustrofóbica, e a família apresentada tem suas disfunções como qualquer outra.
- Os efeitos técnicos, de sonoplastia e de maquiagem prática são absurdamente bem feitos.
- Direção consegue trazer homenagens e inovações com um ótimo uso de câmeras a depender das situações.
- Atuação exuberante de Alyssa Sutherland que merece todas as palmas do planeta.
CONTRAS
- Momentos de extrema burrice para que a narrativa ande fazem o espectador sair da sua zona de imersão.
- Tentativa de colocar subtexto em alguns personagens e na história, mas sem sucesso algum.
Virou garoto propaganda da Ingressos.com não é? Da próxima vez me chama para ir no cinema junto contigo está bem. Ficou me devendo.
Pode deixar que, se der eu chamo está bem, se der!