Super Mario pode saltar por entre os Toads do Reino dos Cogumelos. Alguém pode gostar de uma pizza regada no champignon, um cogumelo típico parisiense. Talvez use e conheça os alucinógenos de uma Amanita muscaria. Mas sem sombra de dúvida, ninguém quer pensar ou imaginar ter contato com qualquer fungo da família Cordyceps. Afinal, é ele o responsável pelo Apocalipse que levou praticamente a humanidade à beira da extinção em The Last of Us, game produzido pela Naughty Dog e publicado exclusivamente pela Sony para suas plataformas, e que ganhou uma série de TV pela HBO. A mesma empresa de Game of Thrones e House of the Dragon. No entanto, essa terrível peste existe no mundo real. Porém, graças a Deus, Alah, Yaveh, Kali ou outra entidade, só infecta insetos. Curioso? Então pegue sua máscara de gás ao som de Sabaton e venha nesta Curiosidade do Guariento Portal.
Atenção: Mesmo falando de maneira bem didática, é possível que alguns spoilers dos games e da série da HBO sejam relatados aqui no Guariento Portal. Assim, se você não viu nada ou não jogou The Last of Us, primeiro: você está vivendo errado. Depois desta Curiosidade, você pode jogar e apreciar a narrativa da Naughty Dog. Além disso, não saia destruindo fungos por onde passar. Eles são importantes para a ecologia dos habitats que se encontram. Claro que algumas mutações podem ocorrer. A vida é mutável e um aquecimento global – que alguns fecham os olhos – pode ser a chave para o crescimento de uma nova cepa. E esta sim, pode se virar contra os humanos. A título de Curiosidade, esses fungos já existem, como a Candida auris e o chamado “fungo negro”, mas eles serão falados em outro episódio mais sério – ou não. Dito isso, vamos prosseguir para Boston.
O que acontece no jogo, acontece na vida real com pobres insetos.
Para começo desta Curiosidade, e vestindo nosso jaleco para falar em conceitos biológicos, o nome Cordyceps na verdade é usado para uma extensa família de fungos que existe no mundo real. Dentro desta linda família temos aproximadamente 600 espécies, sendo que a maior parte delas estão em florestas e locais úmidos do Sudeste e do Leste da Ásia. É o caso do Japão, China, Nepal, Tailândia e Indonésia, cuja capital é Jacarta e tem certa importância na série de TV. Porém, existem espécimes latino americanos e brasileiros. A grande questão que faz deste tipo de fungo tão ameaçador para seus jantares vivos é que eles são parasitas. Ou seja, precisam manter um hospedeiro vivo para se nutrir, como um carrapato. Mas sendo algo ainda pior do que causar a Doença de Lyme. Aranhas e especialmente formigas são suas principais presas, e seu modo de proliferação.
Explicando melhor. Um diminuto esporo, viajando pelo ar, chega até o exoesqueleto de uma inocente formiga, que apenas procurava alimentos para o terrível inverno que se aproximava. No melhor estilo desenho do Pica-Pau. Dependendo da umidade e da temperatura local, aquele esporo germina, e seu primeiro lugar de contato é com o sistema nervoso do animal. Ali, com enzimas próprias, o Cordyceps começa a dominar os movimentos e as reações da coitada da formiga. Que aos poucos, começa a ser controlada, como uma marionete de Gritos Mortais. O fungo, não satisfeito, começa a trocar o exoesqueleto do animal pelas suas próprias células, crescendo e se nutrindo do animal de dentro para fora. O pior é que o Cordyceps, esse fungo, jamais atinge os órgãos vitais do animal, pois ele precisa que seu hospedeiro esteja vivo para o futuro florescimento. O animal assim, vai perdendo sua “vontade”.
O aquecimento global pode ser uma das causas para uma mutação.
No fim, aquele que foi infectado pelo Cordyceps se torna apenas uma casca cujo destino é esperar o florescimento do fungo para que novos esporos sejam lançados no ar, contaminando assim novos animais. Foi pensando justamente nessa ousadia que os fungos desta família tem no mundo real que Neil Druckmann, o criador de The Last of Us, se baseou neste ser vivo para fazer deste um pesadelo máximo. No game da Sony, devido ao aquecimento global, uma cepa do fungo Cordyceps sofreu uma mutação em que agora seus hospedeiros são os seres humanos. O mesmo que acontecia com formigas e aranhas começou a se tornar comum com todos aqueles que tivessem contato com o fungo. Seja uma Curiosidade ou não, seus destinos eram idênticos aos insetos. Eram transformados em receptáculos com o instinto de multiplicação, do fungo é claro.

Sua forma de contágio é um pouco diferente entre o game e a série da HBO. E foi um motivo para que meio mundo torcesse o nariz pelas diferenças – afinal, é uma adaptação – entre as mídias. Na história do game, é possível se infectar com o fungo através do ataque dos infectados, assim como aspirar os esporos. O primeiro caso é o melhor estilo de ameaça zumbi. Só que ao invés de um vírus como o de Resident Evil ou de Madrugada dos Mortos, temos um fungo fazendo as vezes. O segundo caso não existe na adaptação para a televisão. Porém, acontece nos games quando o jogador entra em locais fechados, como prédios prontos para desabar e esgotos. Todos estes locais são prolíficos para que os esporos sejam aspirados. Não por menos, é obrigatório o uso de máscaras, quer você queira ou não.
Infectado, um ser humano passa a agir como um zumbi, controlado.
A desintegração do ser humano infectado é uma curiosidade bizarra. E bate com o que acontece com os insetos quando em contato com o Cordyceps. Em The Last of Us, mesmo que a procedência do surto não seja categoricamente confirmada – mas apenas sugerida através de alimentos contaminados vindos do México, da América Central e do Sul – temos que os esporos entraram em contato com a vida humana. Aos poucos, as pessoas simplesmente surtaram, muito mais que com o Aka Manah de Bird Box, sendo dominadas pelo parasita que tinha apenas uma vontade, se multiplicar. Aos poucos, toda a inteligência e tudo aquilo que significa ser humano era deixado para trás. Com a infecção, os primeiros efeitos eram o ataque das células do Cordyceps aos olhos, tornando os infectados cegos e guiados apenas pelos sons de suas presas. Basta uma mordida ou ataque para ver seu destino em questão de minutos.
E quanto mais o fungo se aloja e controla o ser humano, mas ele vai perdendo sua humanidade. Se transformando em verdadeiras aberrações, como os clickers, que os jogadores têm provações durante a jogatina de The Last of Us. Porém, vamos manter a calma e sem pânico. Toda a família Cordyceps não afeta o ser humano. Não que isso mude com o decorrer das décadas, com o aumento populacional que desagrada até o Thanos e as mudanças climáticas. Todos estes fatores servem da mesma forma que para um vírus ou uma bactéria de Plague Inc.: desenvolver mutações. Alguma mutação, em algum lugar desse planeta pode fazer com que um fungo que não consegue entrar no sistema imunológico ganhe tal poder. E assim, levar a uma pandemia, como a da COVID-19. Porém, é uma Curiosidade de cada vez, e essa, bastante enraizada, com hifas e micélios, termina aqui.
Atualização
- Este texto foi alterado. No terceiro parágrafo, era informado que as aranhas eram insetos, o que é uma imprecisão biológica. Insetos são animais de seis patas enquanto aranhas são consideradas aracnídeos, com oito patas. Agradecemos ao leitor Lukareka que nos informou dessa falha pelo Twitter.