Se você alguma vez já parou para acompanhar o Guariento Portal, sabe que curtimos falar, e muito sobre games, mas também sobre mitologia em geral. E quando é possível, unimos essas duas congregações. Não por menos, já falamos da Mitologia Nórdica em Pokémon, da Mitologia Grega em Games e até de algumas deidades hindus. E, indo novamente para essa área do Subcontinente Indiano, temos um carismático game produzido pela indiana Nodding Heads Games, chamado Raji: An Ancient Epic. Nós já fizemos uma análise da versão de Nintendo Switch, que você pode conferir aqui no site. Agora, vamos falar um pouco sobre os três grandes rivais, os chefes do game. Declarando guerra contra a humanidade, Mahabalasura tem ao seu lado Chieftain (é esse o nome mesmo) e Rangda. Então, sente-se e conheça um pouco mais sobre esse grupo mitológico.
Num passado distante, um demônio cumpriu penitência. Por mostrar tal devoção, Brahman o contemplou com a imortalidade e a mais poderosa das armas. Após recebê-la, ele reuniu os demônios para guerrear. Bhoomi Devi suplicou que ele parasse, mas ele a matou impiedosamente. Isso provocou a ira de Shiva, que bateu o pé, dividindo os continentes e afugentando os demônios para sempre…
Durga explicando sobre a história de Mahabalasura em Raji: An Ancient Epic.
E o primeiro Chefe é chamado de … Chefe! Não, não estamos mentindo. Mas sua aparência remete a criaturas do folclore da Ilha de Bali, uma das milhares da Indonésia.
Para começo de conversa, vamos para o primeiro oponente da jovem Raji no game da Nodding Heads. Apelidado de Chieftain (algo como Chefe, se traduzirmos para o português), a criatura não necessariamente é hindu. Embora desde o início nós tenhamos colocado aqui como parte dessa mitologia. Na verdade, Chieftain se parece muito mais com criaturas da mitologia balinesa, oriunda da Ilha de Bali, uma das milhares da Indonésia, na Ásia. Há uma certa confluência entre a mitologia hindu e a balinesa em alguns elementos, embora em Chieftain, seu rosto e aspecto sejam divergentes. Aqui, ele só é um demônio maior que como outros de seu clã sequestram crianças e as oferecem como sacrifício, seja para uma entidade superior, como Mahabalasura ou então para simplesmente se divertir. Na história do game, temos o sequestro do irmão de Raji, Golu, e a aventura da jovem em busca do irmão.
Com certa ajuda de Durga e Vishnu, deidades hinduístas, Raji finalmente chega no Forte de Jaidhar, onde consegue observar seu irmão cativo. No entanto, Chieftain se coloca na frente, invocando poderes das trevas e abrindo um portal para transportar Golu para um outro reino. Assim, cabe a Raji então destruir Chieftain para prosseguir. Em aparência, a criatura usa uma máscara por detrás da cabeça que é típica das regiões da Ilha de Bali. Por isso seu vínculo com esta localidade. E além disso, usa bem mais roupas do que outras entidades demoníacas e as de menor porte. Em Raji: An Ancient Epic, ele é o primeiro grande desafio a ser derrotado. A dica que o Guariento Portal dá é: cuidado com suas correntes escuras e com a sua invocação de mandala negra. Ele será derrotado para então dar lugar a ninguém menos do que a Rainha dos Demônios.

Rangda realmente é uma entidade que existe dentro da mesma Ilha de Bali. Reconhecida como a Rainha dos Demônios e devoradora de crianças, Rangda se mostra também como uma protetora em algumas áreas. Só não protege ninguém no jogo, onde é a segunda Chefe a ser derrotada.
Dentro do arco do game, a Rainha dos Demônios é literalmente a única a ter um homólogo de mesmo nome no mundo real. Inteiramente baseada também na cultura balinesa, Rangda também faz parte do exército de Mahabalasura em sua guerra contra a humanidade. No mundo real, Rangda é a líder de um grupo de bruxas, as Leyaks, que lutam pelo lado maligno contra Barong, o senhor do bem. De aparência tenebrosa e horrível de se ver, seu nome pode ser traduzido como “Viúva” para o português. Da mesma forma que o antecessor, tem uma predileção por crianças e seu hábito de literalmente devorar seus corpos. Além disso, é uma mulher de idade bastante avançada e que anda praticamente nua, com cabelos longos e despenteados, garras e seios a mostra. Há uma certa semelhança entre a iconografia de Rangda com uma importante deidade hindu, Kali.
É o exemplo das cores que representam ambas, o branco, o vermelho e o preto. Isso pelo fato de que em algumas áreas de Bali, mas não em todas, Rangda tem uma outra faceta, como a de uma deusa protetora e mãe. De forma análoga com Kali, que tem esse mesmo papel em áreas da Índia, mas é considerada como a deusa da transformação e destruição dentro do panteão hinduísta. A guerra entre Barong e Rangda é uma das mais importantes histórias da cultura balinesa, sendo representada em uma dança folclórica local. Dentro de Raji: An Ancient Epic, Rangda é um chefe complicado de se lidar. Aqui, não tem muito o que fazer no game, é entender como ela ataca e como funciona para aos poucos ir desmoronando seu corpo envolta de nuvens para chegar ao grande chefe final, ninguém menos do que o malfadado Mahalabasura.

O Chefe Final, o detentor de um coração negro e um homem a matar um deus, Mahabalasura. Outrora humano, sua mente e seu coração foram corrompidos pelo poder, e agora ele declara guerra a humanidade e aos deuses buscando sua completa aniquilação.
Como dito anteriormente, somente Rangda tem um precedente de fato dentro da mitologia balinesa ou hindu. Assim, é possível dizer que o grande antagonista e chefe de Raji: An Ancient Epic é exclusivo do game. Antes dos eventos que ocorrem na história o personagem era um mago ou feiticeiro, um dos mais poderosos praticantes de magia da Índia. Ele tentou liderar o seu povo, mas somente ganhou desprezo. Tudo por causa de seu coração negro. Então, para ganhar mais poder, ele fez penitência para os deuses. E os deuses os escutaram, pois suas orações agradaram a Brahman, que lhe deu o dom da imortalidade e uma poderosa trishula, uma arma parecida com um tridente ocidental. No entanto, usando esses dons, o coração de Mahabalasura ficou ainda mais escuro pelo excesso de poder que conquistou, e dentro de si, buscava na verdade a guerra e o controle.
Em seu primeiro passo, ele reuniu seu novo povo, os demônios e começou a espalhar o caos e toda forma de destruição pela Terra. Bhumi,, a deusa da Terra, foi a primeira a tentar parar o feiticeiro. Porém, foi morta pelo trishula que Mahabalasura carregava. Isso fez com que a fúria de Shiva, o destruidor, caísse sobre ele e seus subalternos. E assim Shiva pisa em todos eles, os levando para um cativeiro. Insatisfeito, Mahabalasura jurou vingança contra todos os deuses e sobre a humanidade que estava protegida por eles, dizendo que retornaria. É então, que por mais que curiosidade, Mahabalasura soube da existência do pequeno Golu, o irmão da jovem Raji que vivia com ela em um circo. Ele é a chave para a destruição, fazendo-o escapar de seu cativeiro e iniciar toda a história de Raji: An Ancient Epic dentro de todo o contexto balinês hinduísta.

Chieftain, Rangda e Mahabalsura formam uma trindade nada sacra dentro de Raji: An Ancient Epic, para ser completamente derrotada pelo jogador. Que pode fazer isso nas mais diversas plataformas, basta ele querer.
Como pode-se perceber, não necessariamente é preciso copiar nomes e lendas para que games possam ser levemente ou drasticamente baseados em uma mitologia. Tendo Rangda como precedente dentro da mitologia balinesa, os outros dois, Mahabalasura e Chieftain ainda assim tem sua identidade própria. Isso é visível. Mas, tem sua influência com os impactos que causam dentro de um Universo que conta com os poderes de Durga e Shiva, entidades conhecidas da religião hinduísta. E é claro, sendo um dos primeiros games de um estúdio indiano, é interessante notar essa fusão ainda mais em um mercado ocidental, onde mitologias europeias são bens mais conhecidas do que as orientais. Não sabemos se Raji: An Ancient Epic terá uma continuação, mas o que sabemos é que o game está disponível para todas as plataformas (Switch, PlayStation 4, Xbox One e Series S/X e PC). Então, que tal jogarmos?