Após dois pequenos filmes com cerca de 40 minutos de duração, coube a Cavaleiros do Zodíaco ter um derradeiro primeiro filme. E ele aconteceu em 1988, com Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena, que a época inclusive passou em cinemas nacionais e ao redor do mundo. Depois de Éris, a deusa da Discórdia em O Santo Guerreiro e Durval, o Representante de Odin na mitologia nórdica em a Grande Batalha dos Deuses, agora o problema vinha das mãos de Abel. Colocado como o primeiro deus do Sol, sua ambição foi tão grande que ele mesmo foi destronado por Zeus, e também por Apolo. Entretanto, agora ele reencarna com o intuito de destruir a Terra. Com um tempo maior, era possível concluir que os problemas com a história seria resolvidos. Resta saber se de fato o resultado é o esperado.
Primeiramente, Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena tem um primeiro ato que surpreende tanto em conceito nostálgico quanto que por sua história. Ocorrendo após o arco da Batalha das Doze Casas, Abel ressuscita os Cavaleiros de Ouro mortos no confronto com Seiya e companhia. Além disso, também trás ao mundo três antigos Cavaleiros que o protegia nos tempos mitológicos. Assim, conhecemos o nível de dificuldade dos adversários do mesmo tempo que vemos antigos rostos de volta, em especial para aqueles que acompanham a animação. Além disso, Atena não é apenas a deusa sequestrada, ela tem uma certa imponência junto de seu irmão. A ideia de abandonar os Cavaleiros de Bronze e usar a proteção de Abel é um choque para Seiya e seus amigos.

O início de A Lenda dos Defensores de Atena tem impacto, mas não se sustenta:
Pena que esse primeiro ato, interessante, descambe para uma completa e absurda linha de clichês que foram vistos com uma qualidade melhor em momentos anteriores. Mas, antes disso, é necessário falar de Abel e de séquito de rivais. De fato, o deus do Sol é o mais forte até então apresentado, e não há tamanha necessidade de informações para indicar seus motivos, assim como o seu poder. Há uma certa tendência em deixá-lo no mesmo olhar que Éris, quando aparece no primeiro longa. Todavia, se por um lado o longa apresenta algumas ideias interessantes, e que inclusive mais a frente seriam utilizadas na série, Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena destoa em praticamente tudo que todos os seus antecessores fizeram.
Então, a começar pelos problemas temos a própria qualidade da animação, em especial nos momentos de batalha. Quem acompanha a série de Cavaleiros do Zodíaco, sabe o quão fundamental é o momento do conflito entre os Guerreiros de Bronze e quem quer que seja. Contudo, as animações de batalha não são bem produzidas. As animações dos golpes são estranhas e confusas, intercaladas por momentos de fala desconexos com a realidade. Até mesmo a trilha sonora destoa nestes pontos. As batalhas inclusive são uma releitura com um menor grau de qualidade das vistas na Batalha das Doze Casas. No mais, o próprio roteiro montado para o longa protagonizado por Abel leva ao esquecimento aquilo que ele mesmo ressuscitou e criou como fator nostálgico. Tirando Saga de Gêmeos, nenhum outro Cavaleiro de Ouro tem grande impacto em Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena.

O roteiro se sabota ao cair na mesmice de sempre. Mesmo tendo indicado o contrário:
Quanto aos guerreiros que de fato protegem Abel, eles tem as melhores lutas, o que não quer dizer uma qualidade excelente. Novamente, as animações de Seiya e de companhia recebendo os golpes são desproporcionais ao momento do golpe. Mesmo assim, desconsiderando esse problema, elas proporcionam a maior diversão, se vistas de maneira individual. Quando, todavia, acrescenta-se o andamento da história, infelizmente uma tristeza começa a escorrer. Afinal, o espectador entende que Saori apenas quis proteger Seiya e todos os Guerreiros de Bronze, e que ela mesma queria dar fim a vida de Abel pois sabia de sua intenção destrutiva para com a Terra. Obviamente que a deusa não consegue e é “morta” por Abel, tendo que ser resgatada antes que caísse no Submundo por Seiya, que mais uma vez veste a Armadura de Ouro de Sagitário.
Verifica-se então que Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena até tentou criar uma nova expectativa, mas caiu no mesmo clichê da necessidade de salvar Atena das forças do mal. Então, uma vez consolidado esse plot, não há nenhum momento de escapatória, o que não seria um fator negativo, uma vez que Cavaleiros do Zodíaco já tem uma presunção de não fugir desta temática. Contudo, o próprio roteiro se sabota no momento em que cria essa expectativa de novidade, e na verdade busca o mesmo desenvolvimento. O terceiro ato especialmente, por mais que inove com mais Armaduras de Ouro, basicamente mantém a mesma narrativa de que Seiya é o responsável por salvar a deusa Atena com a flecha de Sagitário. Infelizmente, desta vez não é possível falar que houve falta de tempo.

Poderia ter sido melhor, muito melhor mesmo:
Por isso, é interessante destacar que Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena foi bem pensada, mas terrivelmente produzido. Primeiramente, muitos argumentos utilizados, como o retorno dos Cavaleiros de Ouro, uma apresentação de um vilão intimidador são pontos favoráveis. Ao mesmo tempo que inova, consegue trazer caras familiares. Os outros guerreiros de Abel, embora não interessantes são colocados na cota de dificuldades. Além disso, a própria força que Atena tem seu primeiro ato poderia indicar uma certa variação na passividade da deusa. Pena que tudo isso é colocado em xeque após o primeiro ato, quando a história desanda e temos novamente a missão de resgatar Atena. Infelizmente, agora com animações piores e lutas menos memoráveis, sendo uma repetição de tudo que já foi visto anteriormente.
Assim, no fim das contas, o grande pecado sem dúvida alguma é o roteiro do longa. Tanto por não conseguir criar momentos de batalhas memoráveis como nos longas anteriores, mesmo tendo mais tempo de tela para isso. Os diálogos, que de fato são batidos em toda a franquia Cavaleiros do Zodíaco são ainda piores. E entram em momentos que não fazem sentido na narrativa. Além é claro do já citado fator de que as animações não apresentam o mesmo capricho que já foi isto anteriormente. Diante disso tudo, é possível dizer que Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena é um filme ruim. Uma pena, pois o primeiro longa de fato da franquia apresentou uma qualidade inferior de todas as outras obras, mesmo tendo um vilão de destaque. No fim das contas, tudo que está ali é Cavaleiros do Zodíaco, mas com um roteiro completamente mal trabalhado.
Números
Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena
Morno, Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda dos Defensores de Atena é mal executado em praticamente tudo que se propõe, com exceção de Abel.
PRÓS
- Abel é apresentado como um ótimo vilão.
- Os Cavaleiros de Ouro retornam, criando uma certa expectativa.
- Primeiro ato diferente de tudo que a série já tinha visto.
CONTRAS
- Roteiro auto sabotador que leva para o mais alto dos clichês.
- Mesmo com tempo de tela maior, as lutas não são bem programadas.
- Animações aquém dos filmes anteriores.