Enfim veio a sequência
The Evil Within não fez tanto sucesso quanto merecia, mas foi o bastante para angariar uma legião de fãs. O seu final enigmático (que inclusive cabe uma discussão) deixou os jogadores ansiosos para uma sequência! Mas, será que Sebastian e seus amigos viveriam um novo inferno? Será que, as feridas que o Beacon deixou, estariam cicatrizadas? E o meu amigo Leslie, por onde anda? Hora de conferir! Lançado em 13/10/17, sendo desenvolvido pela Tango Gameworks e distribuído pela Bethesda para PS4, Xbox One e PC. Tratando-se de um survivor horror, com tiro em terceira pessoa, em um mapa semiaberto e uma pitada de suspense.
A volta dos que não foram
Logo de início, vemos Sebastian de frente para sua casa em chamas. Ele se desespera e corre para salvar sua filha Lily. No primeiro jogo, ele sofria muito pela morte dela e de sua esposa Myra. Então, ao chegarmos ao quarto dela, tudo desanda e ele acorda em uma mesa de bar. Em seguida, Kidman chega ao bar e se senta com Sebastian. Porém, este não é um encontro apenas para jogar conversa fora. Ela tinha uma revelação bombástica: Lily estava viva! Após um surto (totalmente justificável), o detetive é nocauteado e levado à instalação de uma empresa chamada Mobius, onde eles explicam com calma a situação.
A história é: Lily foi sequestrada para se tornar o núcleo de uma máquina chamada STEM. E, por isso, forjaram o incêndio e a morte da pequena Lily. Mas, agora, ela estava perdida dentro desse mundo fictício, conhecido como Union, e a missão de Sebastian é resgatar sua filha. Então, ele entra neste mundo de Union e se prepara para reviver vários traumas em prol da vida de sua filha. É a sua segunda chance! E é assim, que o jogo começa.
Vivendo agachado
The Evil Within 2 manteve quase tudo que foi apresentado no primeiro. Em questão de combate, a ideia segue sendo a mesma, porém com melhorias. Ou seja, vou ressaltar somente aquilo que temos de novo. Primeiramente, o stealth está mais viável e mais prático, tendo até habilidades específicas para isso. No anterior, eu escolhia a furtividade apenas em casos muito específicos. Mas, agora, eu praticamente só andei agachado (haja joelho). Outro detalhe, é que agora podemos tomar cobertura nas paredes, muros, carros, etc. E isso facilita bastante na hora de fugir e pegar os inimigos despercebidos, algo que achei bem legal.
Do mesmo modo que o stealth foi modificado, nós temos tivemos mudanças nos atributos físicos de Sebastian. Agora ele corre por mais tempo e toma menos dano do que no anterior. Basicamente eles deram aquela facilitada na experiência, deixando tudo mais amigável. Mas, já adianto que o jogo segue não sendo um shooter. Ou seja, por mais que ele seja mais fácil, ainda é necessário tomar cuidado e se planejar, porque senão, você vai morrer! E um detalhe que achei curioso foi que eu, por algum motivo, esperava que os controles do segundo jogo seriam muito melhores, mas não foi o caso. Não só achei bastante parecido, como em vários momentos senti saudades do primeiro. Entretanto, talvez a saudade tenha ocorrido por outros aspectos e eu acabei misturando as coisas, vamos ver.
O mestre dos assassinos?
Em seguida, vamos à uma das maiores mudanças de The Evil Within 2: os upgrades. Como você deve se lembrar, no primeiro, a gente contava com vários upgrades feitos com o Green Gel, que iam desde aumentar a vida de Sebastian, até fortalecer as armas. Pois é, aqui as coisas mudaram um pouco. O Green Gel ainda existe, porém sua única função é fortalecer o nosso detetive. Agora, sentamos em uma cadeira parecida com a anterior, e, na hora do upgrade, nós temos cinco árvores de habilidades, cada uma focada em algo. São elas: Saúde, Atletismo, Furtivo, Combate e Recuperação.
Ou seja, você pode ir focando no que achar melhor. Eu, por exemplo, foquei bastante na furtividade, me sentindo o próprio Ezio. Por isso, a única árvore que completei foi a furtiva, mas isso fica a seu critério. Além do Green Gel, agora nós temos o Red Gel que serve para destravar novas habilidades e poderes. Cada destrava custa um Red Gel, então é preciso usá-lo com sabedoria.
Você deve estar se perguntando, como fortalecemos as armas já que o não se usa mais o Gel. Pois é, agora nós temos as Weapon Parts, que são peças encontradas durante a jornada. Elas servem para fortalecer as armas em todos os aspectos já conhecidos. Mas, esses upgrades também possuem travas, e para isso usamos o High Grade Parts, que são exatamente como o Red Gel, só que para as armas.
O catador de coisas
Todavia, as novidades não param por ai. Agora, podemos criar munição e itens de cura. Para isso, coletamos vários itens de craft. Temos os gunpownders para munição das armas de fogo, canos para os arpões, fusíveis, pregos e até ervas para as seringas e o kit médico (que retornam do primeiro). E, nesse ponto, nós temos mais um facilitador, sendo muito difícil você ficar sem munição. Claro que, os chefões ainda exigem um pouco, mas mesmo eles possuem um macete para economizar munição, como queimá-los com gasolina, por exemplo. Então, sempre que ficar sem bala, é só voltar a qualquer sala segura e fabricar mais.
Assim, a ideia é que você explore a área aberta (que mais tarde eu falo), e seja recompensado com vários recursos, inclusive podemos encontra bolsas de munição para cada uma das armas. Mas, a sensação de sobrevivência fica muito prejudicada, de verdade. Eu não me senti apreensivo em nenhum momento da campanha, diferente do primeiro que eu só queria atirar na cabeça para economizar o máximo de balas possível! Porém, é claro que isso não deixa o jogo ruim, só difere um pouco da proposta apresentada no anterior.
A volta da Laura
Agora, sobre o arsenal do Sebastian, eu posso dizer que é bem parecido. Ainda temos as pistolas, shotguns, sniper, Agony crossbow, garrafas arremessáveis e os inimigos ainda deixam os machados que dão hit kill. Apesar de termos como novidade o Rifle de assalto e o Lança-Chamas, perdemos os fósforos, o que eu senti falta. Claro que foi mais uma questão nostálgica do que tudo, mas não posso negar que adorava por fogo na galerinha do mal. Outro elemento excluído foram as armadilhas. Talvez o fato do mapa ser mais aberto fez com que eles optassem por tirar as armadilhas. Para não mencionar o fato de que os virotes da besta são fabricados com outros itens.
Mas, eu gostava da tensão em andar olhando para o chão com medo de esbarrar num fio e o Sebastian simplesmente explodir. Talvez eu goste de sofrer… Para finalizar, quero comentar sobre os inimigos de The Evil Within 2. Sinceramente? Eles se assemelham aos anteriores, mas com uma estética menos grotesca e ameaçadora. Ainda existem alguns chefões bem legais, mas logo no capítulo 2 nós já encontramos um inimigo que é quase uma releitura da Laura. Admito que gostava mais dos anteriores (inclusive existe um fanservice durante a campanha), e o design inicial dos dois chefões finais (do 1 e do 2) são incrivelmente parecidos!
Tanto que, quando esse chefão do dois apareceu, a minha primeira reação foi: ‘’Uai, então esse chefão não morreu no um?!’’ Realmente achei que ele tivesse voltado.
O passeio no parque
Logo depois, vamos ao tão falado mapa aberto de The Evil Within 2. Antes de tudo, gostaria de ressaltar que esse jogo sofreu do “mal do mundo aberto’”. Aquela época onde as empresas cismaram que todo jogo tinha que ser mundo aberto, ou ter uma área grande e explorável, mesmo que isso não tivesse nada a ver com o jogo em si. NieR Automata, por exemplo, sofreu com isso, onde eles quiseram enfiar áreas abertas cheias de nada, para dar a sensação de um mundo enorme. Mas tudo acaba ficando repetitivo devido ao modo como a narrativa é feita.
E, não por coincidência, The Evil Within 2 saiu no mesmo ano e sofreu do mesmo problema. Não me entendam mal, é legal ter uma área aberta para passear, entrar em lojas, hotéis, etc. Mas, não casa muito bem com um jogo de terror. Lembra quando eu disse que a atmosfera do primeiro jogo era opressora? Pois é, o seu mapa linear corrobora com isso, juntamente com a ambientação sinistra e sufocante. Além das faixas pretas na parte inferior e superior da tela. Agora na sequência, eles removeram as faixas (é possível usá-las após zerar), e com as áreas abertas você sente tudo, menos opressão.
É realmente como se a gente estivesse em um grande parque, com alguns inimigos. É possível, literalmente, sair correndo quando a coisa aperta, voltar para a sala segura e retornar com os inimigos todos distraídos! Em nenhum momento eu me senti encurralado, aflito, cercado, desesperado. E isso é culpa um pouco da estética menos macabra, mas principalmente do level design. Ou seja, o um é apavorante, o dois é uma história de redenção com alguns elementos de suspense.
Siga as transmissões
Agora, depois desse desabafo, vamos ao que te interessa né? O que podemos achar nessa área aberta. Então, além dos itens já mencionados que ficam espalhados, nós ainda temos algumas poucas missões secundárias. Vemos também as chaves de armário, que retornam do jogo anterior, junto com os documentos. Porém, de novidade relevante, nós encontramos transmissões de rádio, que podemos seguir e, ao encontrarmos a área, temos aquele vislumbre em forma de eco, onde podemos ver cidadãos de Union conversando, vivendo sua vida, ou até correndo perigo. Quem jogou The Division sabe bem como funciona.
Também encontramos um colecionável muito interessante, na forma de fotografias. Ao encontrarmos uma, podemos voltar ao escritório do Sebastian (é a área segura que acessamos através do espelho clássico do anterior) e visualizá-las. Então, conversamos com a Kidman e no fim ganhamos setecentos Green Gel. Além disso, algumas armas precisam de peças para serem reparadas, como a sniper por exemplo, e essa peça fica espalhada pelo mapa.
Não tem nada demais na área aberta, para ser sincero. Eu explorei porque eu gosto de andar pelo mapa vendo o que encontro. Entretanto, a verdade é que você não vai ver nada que nunca tenha visto. Lembrando que ele é semiaberto, ou seja, áreas abertas que não se interligam. Vale ressaltar também, que o jogo segue linear em grande parte.
A suspensão de descrença
Ao passo que falamos do mapa, chegou o momento de contar sobre a trama de The Evil Within 2 que me despertou sentimentos mistos. Como eu disse, Sebastian está na missão de resgatar sua filha, presa numa máquina chamada STEM, e que foi criada pela Mobius, a empresa onde a Kidman trabalha. Porém, vários agentes também foram enviados para o STEM na tentativa de reparar o erro, mas tudo deu errado, pois, um homem misterioso começou a matar todos eles de forma extravagante. Todas as suas vítimas eram fotografadas e ‘’congeladas’’ no momento de suas mortes como se fossem uma obra de arte. E, para piorar, esse homem também está atrás da Lily. Ou seja, Sebastian precisa agir urgentemente!
Então, vamos por partes. A história completa de Mobius e a explicação do que é o STEM, são um spoiler absurdo do primeiro e suas dlcs. Portanto, só posso dizer que, eles expandiram o que foi apresentado antes, se aprofundando um pouco mais na empresa e nas suas intenções. E isso é bom.
Entretanto, admito que precisei usar grande parte da minha suspensão de descrença quando disseram que a Lily estava viva. Eu particularmente não gosto dessas mudanças meio bruscas em fatos consolidados em um enredo. Passei o primeiro todo triste pelo Sebastian, vi ele sofrendo por isso, li os diários dele onde passava a dor que ele sentiu com a perda da Lily. Logo no início do segundo, revivemos o fatídico dia que ele achou ter falhado com a própria filha, para, simplesmente do nada, a garota estar viva porque sim?!
‘’Forjar um enterro é muito fácil’’, disse a Kidman, mas sinceramente, eu precisei me forçar a engolir esse papo. Outro detalhe, é que o um termina com um final enigmático, e esse final foi simplesmente ignorado aqui. Não tem nada dele, infelizmente. Pois, me gerou uma pulga atrás da orelha que se manteve…
A redenção do detetive
Mas, passadas as críticas, devo admitir que gostei demais de ver a jornada de redenção do Sebastian. De ver mais sobre a sua esposa Myra, e até de alguns personagens secundários, já que, como temos um mapa aberto, precisava ter mais pessoas. Tanto a Hoffman quanto a Torres tiveram participações memoráveis!
A história é menos aterrorizante que o primeiro, e bem menos enigmática. Até tem uma revelação, mas é menos bombástica do que a anterior. Porém, o fato dela focar muito mais no amor, me agradou, de fato. Não era o que eu esperava, mas foi uma jornada bem interessante. Vale ressaltar também, que agora a leitura é menos necessária do que antes. Mas eu senti que a história se arrastou um pouco, tendo capítulos minúsculos aonde eu mal notei a transição entre eles, servindo apenas para inflar os números.
Agora, temos 17 capítulos ao invés dos 15 anteriores, mas que poderia facilmente ter acabado ali no 14. O segundo, por exemplo, é um simulador de caminhada. Ficamos o capítulo todo andando para frente, sem nem atirar. Um começo totalmente diferente do que vemos no primeiro jogo, onde é possível que muitas pessoas já abandonassem. Belo cartão de visitas, inclusive.
Uma boa estética faz a diferença
Por fim, vamos ao lado técnico. E aqui, temos um detalhe interessante. Se formos analisar de forma literal, The Evil Within 2 é mais bonito que o primeiro. Porém, a estética do um é muito mais legal e bem feita que a do dois. Para mim é incomparável! Como eu disse, a atmosfera aqui é outra. Não tem nada tão grotesco, não tem cenários tão detalhados e construídos para você se sentir em um pesadelo. É tudo mais branco, mais claro e até mais ‘’limpo’’ eu diria. Não foi à toa que no primeiro nós podíamos nos esconder em armários e embaixo das camas, como em Outlast, mas isso foi removido, pois esses momentos não se aplicam aqui. Inclusive, no primeiro até na sala segura nós ficavamos apreensivos, coisa que não acontece mais. A Tatiana volta, mas de uma forma bem branda, em um cenário sem vida. Realmente uma pena.
Ao passo que falei dos esconderijos, sinto que é um gancho perfeito para comentar do level design. Nesse caso, eu achei bem fraco na verdade. As áreas abertas não tem nada que realmente justifique sua existência. Afinal, só vemos várias portas fechadas servindo de enfeite, isso eu digo nos cenários lineares também. Sabe quando você está jogando Resident Evil e encontra uma porta fechada? Pois é, essa porta, provavelmente, pode ser aberta se você encontrar a chave. Agora aqui, a grande maioria é puro enfeite. É tudo de uma simplicidade. Parece que sacrificaram um bom design para abrir mais o mapa, e não acho que a troca valeu a pena. Já sobre a trilha sonora, na sala segura especial do Sebastian (seu escritório) toca a música clássica do anterior, o que é bem legal. No mais, segue o mesmo padrão com uma trilha bem discreta para acentuar a atmosfera.
Uma outra perspectiva
Para finalizar, ainda temos um estande de tiros, onde podemos treinar em troca de prêmios. Lembrou-me muito do que tinha no Resident Evil 4. Inclusive, o primeiro inimigo que encontramos em The Evil Within 2 segue uma cartilha bem parecida com o primeiro inimigo de RE4: uma casa, no meio do nada, com um inimigo de costas ocupado em seus afazeres e que nos ataca sem mais nem menos.
Fora isso, ainda podemos zerar no New Game +, assim como antes, e também temos a volta do modo AKUMU. E, como já mencionei, podemos zerar com as faixas pretas. Para finalizar, um detalhe bem interessante, é o modo de câmera em primeira pessoa. Não tem muito o que explicar. Você pode mudar a câmera a qualquer momento desde o início, e é bem legal para ter uma nova experiência e para aqueles (assim como eu) que gostam de jogos em primeira pessoa, se torna uma adição muito bem vinda! Sem dúvida vale seu teste.
Conclusão
Em síntese, The Evil Within 2 reduziu a dificuldade em todos os aspectos possíveis, o que não é um problema. O que me machucou mesmo foi o terror infinitamente menos acentuado do que seu antecessor, que, inclusive, foi elogiado nesse aspecto. Além da estética mais branda, o seu mapa aberto deixa a experiência muito mais tranquila para aqueles de coração fraco.
Mas, vale ressaltar que a melhora nos upgrades foi muito bem vinda, pois poder focar somente nas habilidades ajuda bastante, até porque, conseguimos fortalecer as armas com mais calma. Pena que os recursos são muito abundantes, deixando um pouco de lado a questão do survivor que também era muito presente no primeiro.
Sua história tem uma vertente diferente do primogênito, mas é muito bem contada e te cativa em vários momentos. Trás bons vilões, bons aliados, e um desenvolvimento muito legal para o nosso querido Sebastian e até vemos um pouco mais da Kidman. Por mais que eu prefira o primeiro em quase todos os aspectos, o dois com certeza vai te trazer uma experiência bem divertida e mais acessível.
Números
The Evil Within 2
The Evil Within 2 trouxe bons gráficos, uma boa trilha sonora e um stealth aprimorado. Além disso, os upgrades estão melhores do que o primeiro. Porém, o level design pior e a falta de uma boa atmosfera, acabam fazendo desse uma regressão com relação ao anterior.
PRÓS
- O stealth melhorou muito
- A história é interessante
- Bons personagens
- O aprimoramento dos upgrades foi muito bem vindo
- As referências ao anterior são ótimas
CONTRAS
- Faltou a atmosfera opressora presente no primeiro
- Elementos de survivor horror mais brandos
- Capítulos que só servem para inflar a história
- Área aberta não fez bem para a experiência