As vezes, games ao estilo de estratégia tem como definição fazer o jogador pensar. Isso é visto por exemplo em Civilization e Age of Empires, franquias consagradas desse ramo. Contudo, existem jogos que quanto são lançados buscam um outro rumo, e em 2018, pelas mãos da polaca 11 Bit Studios. O estúdio aliás já havia pesado a mão com um game duríssimo em termos de narrativa com This War is Mine, e usou muito bem o que aprendeu com Frostpunk, título que trás um mundo congelado para as telas do jogador. Nesse planeta datado do fim do século XIX, uma nevasca fez com que a Idade do Gelo retornasse, e os poucos sobreviventes devem simplesmente sobreviver. Sendo o jogador o líder daquela última cidade da Terra. Não é tão simples assim, e você vai entender agora nessa Análise do Guariento Portal.
Frostpunk é o primeiro jogo de sobrevivência em sociedade. Como o governante da última cidade na Terra, é seu dever administrar tanto seus cidadãos quanto sua infraestrutura. Que decisões você irá tomar para garantir a sobrevivência de sua sociedade? O que você fará quando for levado ao limite? Quem você se tornará no processo?
Definição de Frostpunk na Steam.
O mundo congelou bem pior do que O Dia Depois de Amanhã. E você, como Líder da última cidade da Terra deve fazer de tudo para que todos, ou parte de seu povo, sobreviva.
Primeiramente, e sem dúvida alguma, o ponto que mais chama a atenção em Frostpunk é a sua narrativa, muito mais densa e pesada do que poderíamos imaginar em um jogo de estratégia. Esqueça os momentos históricos ou de levar sua civilização a glória. Aqui, isso não existe. O objetivo é simples, apenas sobreviver. Como o mundo foi tomado por uma nevasca, existem geradores gigantes que transferem calor para as redondezas, e é nesse lugar que sua cidade deve tentar prosperar. Contudo, os recursos são completamente escassos, e a população também tem as suas demandas, como comidas, dormitórios e médicos para os doentes. É nesse contexto que você se torna o Líder desse resquício de humanidade. E assim, as coisas só começam a piorar em Frostpunk, pois é você quem dita as regras, mas também será o primeiro a sentir as consequências.
Claro que Frostpunk como game de estratégia mantém uma certa similaridade em termos de estrutura. Você tem construções que pegam recursos ao redor do gerador, constrói minas e outros elementos. Esse de fato é o ponto em comum. Contudo, é em suas decisões, muitas vezes duvidosas que o elemento mais marcante do game se faz presente. Em um ambiente duro e inóspito, decisões como colocar crianças para trabalhar, aumentar o turno de trabalho as vezes se faz necessário. O povo e os habitantes irão detestar e começará a insuflar um desgosto por seu Líder. O mesmo acontecerá se você não prover os recursos necessários e as pessoas começarem a morrer de frio. Mesmo no modo mais fácil, Frostpunk não faz questão alguma de ajudar o jogador nessas decisões morais, é você quem escolhe e nada mais.
Um Mad Max bastante profundo e invernal. Que contém uma trilha devastadora sem perder alguns pontos óbvios de jogos de estratégia, como a necessidade de recursos e o atendimento a vontade de seu povo.
Além da sobrevivência, com o passar do tempo e de uma certa normalidade, o jogador também deverá prestar a devida atenção na ordem de sua sociedade. E não espere benevolência de Frostpunk. O game da 11 bit Studios faz questão de mostrar que quanto mais tempo se passa, pior é a organização e mais ordens duvidosas o jogador deverá tomar, o que pode incluir até mesmo execução de membros de sua sociedade. Desta forma, e como iniciado nesta Análise, o game acaba tendo uma esfera muito mais densa do que outros games de mesma forma. O que na vida real seria realmente difícil sobreviver, no game foi transplantado de maneira muito bem feita. A cada dia que se passa, mais e mais decisões devem ser tomadas, com as temperaturas congelantes de quase -150 graus Celsius do lado de fora e a insatisfação do seu povo.
Indo agora para quesitos mais técnicos, o detalhamento gráfico e a trilha sonora, esta última em especial se destacam em Frostpunk. Tudo pelo fato de que antes mesmo do começo do game, em seus menus, a sensação de desolação já se torna evidente com acordes tristes e depressivos. O que de fato deve ocorrer mesmo pela situação do povo e ao congelamento completo. E isso se mantém com uma atmosfera gélido e completamente desoladora, sem futuro que o game faz questão de esfregar na cara do jogador. Em termos gráficos, Frostpunk é belo para o que tem que mostrar, as nevascas acontecem e com vontade. Já as construções tem um que de Steampunk, mas não espere por coisas belas como palácios e casas minimamente decentes. São barracos de lona e hospitais de guerra que servirão. Tudo isso se une em uma atmosfera caótica buscando uma certa ordem.
Quanto mais o tempo passar, mais difícil de coordenar uma sociedade a beira do colapso o jogador deve enfrentar. Ao mesmo tempo, cada ação tomada terá uma consequência, seja daqui a um ou a trinta dias depois. Então, cuidado com a Estratégia.
Como todo bom game de estratégia, o passar do tempo e a longevidade devem ser um ponto de destaque. E como já se pode ter percebido nessa Análise de Frostpunk, as situações ficam ainda mais difíceis com o decorrer do tempo. Dificilmente o jogador consegue ter acesso a todo o conteúdo graúdo do game nas primeiras horas do título. É bom destacar também, que a cada dia que se passa, novos desafios aparecem, o que diminui completamente a monotonia que poderia estar presente no game. Sem dúvida alguma, o jogador poderá ficar horas e mais horas dentro do mundo gelado do game da 11 bit Studios e não sentir uma sensação de desconforto, além é claro das sensações que o game já faz questão de mostrar ao jogador. No fundo, não é e nem será uma jogatina perdida.
Essa jogatina não será nenhum pouco perdida se ainda se pensar que Frostpunk, como um jogo de estratégia também faz questão de elevar a dificuldade com a sua árvore de tecnologias. Algo que convenhamos já é comum em jogos do gênero e já vistos em Civilization por exemplo. No entanto, da mesma forma que todas as questões que envolvam a moralidade e a ética dos cidadãos e da sociedade, aqui a tecnologia é igualmente importante. Afinal, uma vez que sendo o Líder o jogador deve se atentar para o que exatamente a cidade deve prosperar. Ir para um caminho errado no mapa de tecnologias pode fazer com que a consequência seja grave. Você simplesmente perder a cidade e todos no mapa congelarem. Por isso, Frostpunk sem dúvida é um game que deve ser pensado em cada segundo do tempo, e que levará o jogador e rejogar por vários momentos.
Frostpunk faz questão de ser denso e complicado, mas não havia necessidade de ser extremamente complicado na questão de organização dos recursos como o é.
Entretanto, mesmo que Frostpunk seja primoroso em quase tudo que apresenta, inclusive com essa sensação de pânico a cada decisão tomada, o game tem um ou outro percalço. E é claro que em uma Análise isso deve ser falado. Basicamente, um diminuto problema que pode ser visualizado não é performance gráfica, e nem mesmo em sua longevidade, mas a jogabilidade. É possível entender que o game quis se fazer de difícil, mas em um jogo de estratégia pelo menos as telas devem fazer jus ao papel de informar ao jogador o que está acontecendo. O jogador não tem as informações de funcionamento de suas minas, de seus estoques e de suas construções, tendo que tomar cuidado e ver a todo momento como anda cada construção. No início da sua cidade, é claro que isso é tranquilo, mas no decorrer do game, isso se torna cada vez mais dificultoso.
Denso e cheio de caminhos a seguir, com consequências diretas, Frospunk é um game divertido e cativante. Com uma ótima performance no PC e uma trilha sonora depressiva, o game é imersivo em praticamente tudo que mostra.
Desta forma, é possível dizer que Frostpunk é um game excepcional oriundo das mentes da 11 bit Studios. Pesado não em termos de performance, mas em história, com uma narrativa que parece simples até, o game muda a rota dos títulos de estratégia. Esqueça a glória eterna ou a conquista de civilizações bárbaras, aqui o negócio é simplesmente sobreviver e cuidar do resto dos humanos que não morreram. Aos poucos, as condições completamente precárias vão criando forma, ao ponto de que o jogador chega ao ponto de ver seus habitantes simplesmente como números. A trilha sonora, os componentes gráficos e longevidade bem grande do título fazem do game uma experiência muito marcante. Sem dúvida, não tem como jogar o título e se fazer pensar depois de um tempo em toda aquela situação, da mesma forma que This War is Mine também faz.
Como único elemento complicador dentro de Frostpunk visto nessa Análise é que nesse interim de dificuldade, o game chega a abusar de fato. Pelo menos na questão de visualização dos recursos. Como dito, mesmo nos modos mais fáceis de dificuldade, o game não faz questão alguma de pegar na mão do jogador para fazê-lo entender. Algumas mensagens até são ditas, mas todo o complexo de observação de recursos, as construções necessárias e como elas estão o jogador deve presencialmente ver cada um deles. Em uma cidade iniciante, isso é tranquilo, mas aos poucos isso trás uma dificuldade que não havia necessidade alguma. Claro que esse pequeno problema na versão PC não trás terríveis problemas ao game. Pelo contrário, não mancha a aventura congelante que não lembra em nada Frozen e a Princesa Elsa de Arendell.
Frostpunk é recomendado para quem? Mesmo sendo de um “nicho” estratégico, o game da 11 bits Studios tem a recomendação generalizada. Basta que o jogador goste de um bom desafio pós-apocalíptico e uma história um tanto profunda.
E então vamos a pergunta final desta Análise. Frostpunk é divertido? E é recomendado para quem? A primeira questão é fácil. Como game maduro e cheio de perguntas e caminhos a seguir, Frostpunk é uma diversão constante, mas o tipo de divertimento que pode deixar o jogador marcado. Não como Ori and the Blind Forest que causa lágrimas no jogador, mas algo mais profundo de como a sociedade pode emergir ao caos em situações apocalípticas. Mesmo oriundo de um estúdio independente, Frostpunk tem a qualidade necessário para ser visto não somente pelos jogadores que curtem o gênero estratégia. Mas por qualquer outro que goste de um bom game. Com um PC mediano até, é possível jogar o título sem muitos problemas. Assim, é bom se agasalhar pois o tempo se fecha a todo o momento, seja pelo frio ou pelas terríveis decisões e consequências que você terá nesse título.
* Frostpunk foi lançado originalmente em 2018 para o PC, por meio da Steam. Sua Análise no Guariento Portal foi possível graças a compra em termos promocionais na loja da Valve. A versão que foi utilizada foi a básica, sem as DLC’s disponíveis. Vale destacar que os consoles PlayStation 4 e Xbox One ganharam uma versão em 2019, contendo também as referidas DLC’s. Mais recentemente, o 11 bit Studios divulgou que está trabalhando em Frostpunk 2, sucessor do game que fizemos Análise, que deve ser lançado mais a frente. Aliás, quer outras Análise de Games aqui no Guariento Portal? É só deixar nos comentários! Essa na verdade temos que dar os créditos pois soubemos dele através do Jogando Casualmente. Nossa última Análise, além de Frostpunk que temos é Immortals: Fenyx Rising, multiplataforma da Ubisoft que você também pode conferir.
Números
Frostpunk (PC)
O mundo acabou em gelo. Você, como o Líder do último resquício da humanidade deve prover recursos, cuidar de seu povo e buscar a Ordem perante o caos invernal. A questão é, será que você consegue cuidar disso tudo em Frostpunk, da 11 bit Studios?
PRÓS
- História densa e moralmente duvidosa nas ações do jogador.
- Trilha sonora sombria e depressiva que combina perfeitamente com o ambiente apocalíptico.
- Ótima performance e gráficos bem produzidos até mesmo para um PC modesto.
- Longevidade onde a situação se torna cada vez mais crítica, e não repetitiva.
- Ótima combinação de sobrevivência, estratégia e até mesmo exploração.
- Divertido e completamente imersivo. Difícil encontrar um jogador que não se pergunte o que está acontecendo.
CONTRAS
- A jogabilidade na questão da dinâmica dos recursos chega a ser mais complicado do que o necessário.