Quando um game encontra um terreno fértil para colher os seus desejados frutos, é normal que uma continuação se torne o desejo de seu estúdio de desenvolvimento. Em 2013, o mundo entendeu e entrou a fundo no Monte Massive, na pele do jornalista Miles Upshur em Outlast (que você pode conferir uma Análise aqui no Guariento Portal). E, pelo sucesso e desespero que retornou ao gênero de sobrevivência, cinco anos depois o estúdio canadense Red Barrels lançou sua continuação, Outlast 2. No Nintendo Switch, o port demorou um tempo maior, chegando apenas em 2021. No entanto, a questão que fica é clara, embora o ambiente não seja; pode uma continuação ser melhor do que o original? Que sustos e aberrações estarão esperando os jogadores em Outlast 2? Pois se esconda muito bem escondido e aproveite essa Análise do Guariento Portal.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Primeiramente, e o melhor adjetivo que pode ser colocado em um game de survival horror é assustador. E sim, Outlast 2 é extremamente assustador, e agonizante, e apavorante, e amedrontador. Tais palavras se encaixam perfeitamente na jornada nenhum pouco agradável que o jogador fará dentro do uma reserva nativa no Estado Norte Americano do Arizona. Ali, levados novamente por uma reportagem, o casal Lynn – a repórter – e Blake Langermann – o câmera – sofrem um acidente de helicóptero e caberá ao jogador salvar a sua esposa. Aos poucos, a parca iluminação mostra que Temple Gate, a pequena comunidade dentro da reserva esconde muito mais coisas do que sua vã filosofia consegue imaginar. Assim, praticamente nenhum lugar dentro de Outlast 2 é acolhedor, criando uma sensação de perigo a todo o instante. Não há um momento de descanso para o jogador. Excelente para o Halloween.
Justamente para melhorar todos estes traços para o gênero survival, Outlast 2 abusa e muito bem de uma trilha sonora macabra. Em alguns momentos, os tons mais diminutos trazem o distante som de algo se mexendo ou observando do outro lado da porta. Em outro, sons de pássaros ou de uma criatura que está atrás de você. Um excelente trabalho do compositor Samuel Laflame. Junto da trilha sonora, há também a luminosidade e o contraste. Da mesma forma que seu antecessor, luz é algo quase inexistente, e o jogador terá como sua fiel escudeira, sua câmera de modo noturno. Essa será a única forma de ver os terrores que se escondem por entre as trevas. Claro que se preocupando com a duração de sua bateria. Como se o jogador já não tivesse algo a mais para se preocupar no game.
Um povo tranquilo no Arizona … Mas que perdeu a sanidade.
Lançado em 24/04/17, desenvolvido e publicado pela Red Barrels Studios para PS4, Xbox One e PC, além de ter recebido, posteriormente, uma versão para Nintendo Switch. Trata-se de um jogo de terror em primeira pessoa, com bastante violência, fugas desesperadas e cultos sinistros. […] Em síntese, Outlast 2 expandiu os conceitos do primeiro. Tem uma história mais complexa, mais documentos, controles novos, maior variedade de inimigos e um mapa maior. Porém, traz uma atmosfera menos opressora do que o anterior, mas que, ainda assim, consegue te deixar aflito em diversos momentos, seja pelas perseguições ou pela ambientação. É, sem dúvida, mais um jogo de terror excelente que a Red Barrels entrega. Para mim, é impossível você gostar do primeiro e não gostar do segundo!
Descrição na Análise de Outlast 2, escrito por Zakarias no Site Garota no Controle. (Nota 8 de 10).
Outlast 2 usa a Unreal Engine 3 para a sua produção, a mesma de seu antecessor. Porém, mesmo diante de outras engine da própria empresa, no Nintendo Switch a parte técnica não faz feio, sendo um game de alto calibre que não engasga e tem uma fluidez bastante agradável. A produção dos cenários e do terreno da Reserva ao qual se encontram os terrores de Outlast 2 não é vívida, mas é no bom sentido. São detalhes como sangue escorrido por entre portas e janelas, além de quadros e locais como a capela e as minas que nem mesmo o Bebê de Rosemary se atreveria a nascer naquela região. Ou quem sabe até gostaria de nascer, já que a história se encaminha para a vinda deste mundo – ou não – do Anticristo.
Na TV ou na palma da mão, Temple Gate é sinistro e macabro.
Antes de prosseguir, uma pergunta. Qual era a principal característica de Outlast? Sem dúvida era a incapacidade do jogador de poder bater ou se defender de criaturas, algo que Resident Evil permite, mas outros como Amnesia também não permitia. Claro que Outlast 2 manteria esse estilo. Sendo assim, esqueçam que você é um super herói, e o que você terá de fazer é se esconder enquanto procura a sua esposa por entre lugares com restos de animais, e de pessoas também. Ou seja, uma fórmula soberba para não deixar ninguém dormir a noite. Um local escuro, e ainda maior que seu antecessor, com coisas estranhas, perigosas e sinistras e a impossibilidade de você pegar uma foice e enfiar em alguém. Isso é Outlast 2. E dentro destas características, ele melhora o que já foi bom no seu antecessor.
Essa jogabilidade de se esconder e continuar se escondendo é bem ágil. Os controles respondem de maneira adequada e rápida dentro do Nintendo Switch em primeira pessoa. Provavelmente, a sensação de pânica trazida em Outlast 2 pode ser vista de duas formas. No modo console, em uma TV grande o suficiente e de luzes apagadas, ou no modo portátil, mas com o uso de fones de ouvido. Nessa opção, é possível ainda mais imergir na atmosfera opressiva de Outlast 2 como dito, pelo excelente trabalho de som da equipe da Red Barrels. Há também a existência de vários modos de jogo, entre o fácil e o difícil que repercutem especialmente na quantidade de bateria que o jogador encontra no cenário. Porém, nem mesmo nos mais módicos estilos, a sensação em algum momento é de alívio.
Religião e ciência se misturam numa sangrenta salada mista.
Agora, temos alguns pontos que podem não cativar tanto assim os jogadores para optarem por uma jogatina em Outlast 2. Sem dúvida o mais problemático dentre eles é a história. Buscando dar uma melhorada em relação ao seu primeiro game, o pessoal da Red Barrels escolheu unir pesquisas do projeto MKUltra com religião, trazendo três facções extremistas que acreditam em cada coisa. E nenhuma delas é uma boa para o personagem e sua esposa. O primeiro, os hereges, acreditam que o Anticristo deve nascer sim, e estão preparando o local, a Reserva Natural, assim como a mamãe, no caso ninguém menos do que Lynn Langermann. A segunda, o Testamento do Novo Ezequiel quer coibir esse nascimento, mesmo que para isso seja necessário matar todas as crianças que nasçam, e suas mães.
O terceiro grupo, os Scalled, é ainda mais tenebroso. Se achando amaldiçoados por doenças, esses seres humanos se encontram escondidos dentro de uma floresta perto do vilarejo. Porém, acreditam que seu salvador deve retornar tal como Jesus Cristo, e que para se livrarem de seu sofrimento, devem comer de sua carne – na literalidade – para então voltarem ao seu lado humano. Com todos esses povos bastante acolhedores, temos uma história que se mescla com conceitos científicos e religiosos que é maior que sua antecessora. Mas isso não significa que seja melhor. Outlast 2 poderia ter uma narrativa melhor se não buscasse elevar tamanha sua mitologia sendo que a história não se mantém com o mesmo naipe. No fim, temos brechas para um terceiro game, mas no momento em que se insere novos elementos, eles devem ser efetivamente bem trabalhados.
O Nintendo Switch recebeu um port digno de ótimos controles.
Desamparo e agonia são as palavras-chave. E funcionaram perfeitamente nos ambientes mais restritos durante o original, como você se esconde entre armários próximos para evitar complicações, sentindo-se aterrorizado e acanhado. Outlast 2 tem um plano muito diferente para você. Ou seja, correr. Enquanto os ambientes abertos têm barris dispersos para saltar para dentro, ou sobre eles, você precisará de stealth para sobreviver a algumas seções, é mais provável que você tenha uma chance (remota) de viver se você simplesmente começar a correr. A morte não é apenas um tema-chave nesses ambientes lindamente sombrios espalhados com corpos. É apenas o que você faz. Você vai morrer. Muito. Acostume-se à tela de carregamento. É o seu novo melhor amigo.
Descrição na Análise de Outlast 2, escrito por Luan Oliveira no Site Torre de Vigilância. (Nota 7 de 10).
Desta forma, diante tudo que destacamos aqui no Guariento Portal, Outlast 2 é um aprimoramento de tudo que aconteceu em seu antecessor. É claro com alguns vínculos com a história protagonizada no Monte Massive. Aqui, tudo é maior, o que se acerta em alguns pontos, e peca em outros. No geral, a parte gráfica, estética e acústica se saem maravilhosamente bem, trazendo um ambiente aterrador para Temple Gate. Buscar a sua esposa por entre as pastagens cheias de restos de gado, e com criaturas te olhando com toda certeza fará o jogador pensar duas vezes se realmente é necessário salvar a sua esposa. Mesmo no modo mais fácil e com controles coesos no Nintendo Switch, Outlast 2 é uma experiência para aqueles de coração forte e que sabem o que estão esperando.
O Arizona agora guarda o verdadeiro mal do Monte Massive.
Outlast 2 só peca quanto a questão de sua narrativa, que se apresenta como maior, mas que de tempos em tempos perde a sua função. Por mais que todo o ambiente seja uma espécie de pesadelo vivo, algumas explicações, ou a falta delas, fazem com que o jogador se encontre perdido além da conta. Chegando inclusive a pensar se realmente vale a pena continuar na narrativa. Não é algo que funciona tão bem quanto os cenários e a trilha propriamente dita. Isso infelizmente é um pecado, por mais que se perceba a tentativa de criar substância para essa história que mescla pesquisas proibidas e religiosidade. No entanto, outras formas poderiam ser suscitadas para deixar a performance da narrativa ainda mais coesa, trazendo uma longevidade de 10 horas aproximada melhor com uma história também melhor.
A grande pergunta que fica é claro é a seguinte. Outlast 2 vale a pena? É divertido? O Guariento Portal consegue responder. Outlast 2 é divertido dentro de sua proposta, de não ser divertido, mas sim apavorante. Sem dúvida, um dos games mais tensos que podem ser jogados dentro do Nintendo Switch. A maior parte dos conceitos técnicos e da atmosfera opressiva foi melhorada, com uma dinâmica melhor de exploração, alguns modos de jogos que trazem ainda mais jogadores e controles dinâmicos. Explorar a localidade do Arizona mostra o trabalho dos efeitos da equipe da Red Barrels, assim como momentos chaves, como as explicações de cada uma das facções ensandecidas dentro do lugar. São momentos em que o jogador pode ficar um tempo sem dormir realmente pela estrutura pesada criada para o game.
No geral, game da Red Barrels é para os de coração forte.
Deixando um pouco a história apresentada em Outlast 2, o game sem dúvida deve ser jogado. Porém, mesmo diante de suas qualidades, destacamos que é um game que pode não agradar a uma gama maior de jogadores. Explicando melhor, devido justamente ser um game de survival horror onde efetivamente o horror se faz presente em todos os momentos da narrativa, sem nenhum momento para tranquilidade. E com a premissa de que o jogador não pode sequer se defender, além de se agregar questões religiosas, o game pode se tornar sensível para uma parte do público. Se você está lendo tudo isso e tem interesse, o Guariento Portal destaca que esta é uma das melhores adaptações. Só não se esqueça de levar uma bateria e também rezar o terço antes de visitar Temple Gate no Switch, no PlayStation 4, na Família Xbox (One e Series S/X) ou no PC.
Números
Outlast 2 (Nintendo Switch)
O Monte Massive ficou no passado. Agora, em algum lugar do Arizona, uma antiga vila esconde muito mais do que a escuridão. Outlast 2 trás a mesma intensidade de seu antecessor em um novo patamar. Sobreviva se puder enquanto busca pelas respostas da insanidade daquele lugar em um mundo onde religião e ciência se encontram e você e sua esposa se encontram bem no meio desse macabro, e sangrento colapso em um dos mais fortes games de terror para o Nintendo Switch.
PRÓS
- Atmosfera opressora e aterradora, ainda mais intensa que o seu antecessor pode produzir.
- Níveis de jogos distintos para pessoas distintas, aumentando assim a distribuição dos possíveis jogadores.
- Trilha sonora extremamente competente, justamente com a produção do cenário e sua luminosidade.
- Os controles funcionam em ambas as modalidades, embora o mais medonho seja o uso de fones no modo portátil.
- Um survival horror de excelência, para quem gosta do gênero e tem nervos de aço.
CONTRAS
- A história tenta (e é) maior. Porém, poderia ser melhor produzida para trazer a vontade de continuar a jogatina.
- A longevidade acaba sendo quebrada justamente por momentos em que a história não dá razão de continuidade para o jogador.