NEM INDIANA JONES TEVE TANTO PROBLEMA NUMA NOITE NO MUSEU
O ramo da simulação e gerenciamento no mundo dos jogos tem como sua principal plataforma os computadores, especialmente na Steam. Por mais que consoles como o PlayStation 5, o Nintendo Switch e até mesmo portáteis mais antigos, como o Game Boy Advance, tiveram versões de clássicas franquias como SimCity e Roller Coaster Tycoon. Nesse plantel, a Terra da Rainha é recente. Iniciando seus trabalhos com Two Point Hospital (2018) e depois com Two Point Campus (2022), a Two Point Studios retorna para a loja da Steam com Two Point Museum em 2025. Esqueça uma universidade ao estilo de Harry Potter e seus Dementadores ou um hospital que faz Grey’s Anatomy parecer uma clínica de família. Agora, a responsabilidade é ser o curador de um museu. A ideia soa promissora, e felizmente, o jogo cumpre bem seu papel, embora com alguns tropeços ao longo de ossos e artefatos históricos.

CONTROLE UM MUSEU EM TODOS OS SEUS ASPECTOS E SUAS EXPOSIÇÕES:
Primeiramente, Two Point Museum é familiar até demais para os admiradores da franquia. Ou para aqueles que já tiveram contato com um de seus antecessores. É dever do jogador construir alas, contratar especialistas e lidar com exibições cada vez mais bizarras. Afinal, não existe uma noite ou dia sequer em um museu onde a parte administrativa não tenha suas obrigações. E acredite, essas atividades são simples de executar. O gerenciamento de fato se aprofunda com o passar do tempo, assim como as suas missões. Two Point Museum brilha ao introduzir mecânicas de restauração de artefatos e organização de exposições temporárias, que adicionam camadas táticas interessantes. Tudo gira em torno da progressão baseada em desafios e estrelas de avaliação. Algo que encontra uma contraparte em suas formações anteriores, assim como a irreverência de seus personagens e sua narrativa.
Sobre esse aspecto, Two Point Museum é sem dúvida leve, com uma sucessão de personagens caricatos que guiam o jogador por diferentes museus ao redor do mundo. Mesmo com um gerenciamento desafiador, temos uma espécie de tom cômico não só conhecido pelo estúdio inglês, como também está desde os primórdios em Roller Coaster Tycoon (1999). Há um charme peculiar na forma como a Two Point Studios conta histórias. Nada é levado a sério, mas ainda assim, o estúdio consegue construir uma história de bastidores sobre a competição entre instituições culturais. O enredo funciona mais como um pano de fundo cômico, diferente do drama que é cuidar de cidadãos irritados por falta de recursos. Entretanto, é notável que o jogo poderia ousar mais, adicionando elementos históricos mais ricos do que os da Pré-História ou os da Pseudo Revolução Francesa. Talvez até com eventos inesperados que alterem o rumo da administração.

LONGO COMO A HISTÓRIA, O JOGO COMEÇA A TROPEÇAR NA PARTE TÉCNICA:
Aliás, tal como a história que vai do Tratado de Kadesh até o uso de inteligência Artificial, Two Point Museum segue a tradição do estúdio de ter campanhas longas. De outra forma, os objetivos são variados, mesmo com a eterna busca por três estrelas em cada mapa. A adição de um modo livre robusto é um acerto direto, diferente do que ocorreu em Two Point Hospital, permitindo experimentações criativas sem a pressão de metas robustas. Ainda assim, a ausência de modos cooperativos ou competitivos online limita um pouco seu apelo a longo prazo, e pode ser considerado para alguns jogadores como um jogo repetitivo. Com isso, o fator replay até se mantém sólido, mas não é possível dizer que é espetacular da mesma forma que a ressurreição de uma espécie extinta, no melhor estilo Jurassic Park ou Jurassic World: Evolution (2018).
Agora, em termos mais técnicos, o áudio e a trilha sonora seguem a estética da série, quando funcionam. Elas são minimalistas, relaxantes e pontuadas por locuções satíricas no idioma próprio. A rádio interna do museu substitui as clássicas emissoras hospitalares ou universitárias, com comentários hilários sobre arte e cultura pop. É um toque de identidade que os fãs esperam e recebem com prazer. No entanto, algumas faixas se tornam repetitivas e poderiam ser mais diversificadas, especialmente após várias horas de jogo. A grande questão no jogo foi que, durante o período de testes, Two Point Museum só se tornou funcional com a ausência absoluta de sua trilha sonora. Simplesmente, o jogo pela Steam fechava sem aviso quando a trilha sonora era ativada. Essa situação foi resolvida posteriormente, mas de forma inegável impactou. Não só nesta vertente quanto em outra, o desempenho visual.

VISUAL IRREVERENTE E COM A MESMA CARICATURA DE SEUS ANTECESSORES:
Nessa questão visual, inclusive, Two Point Museum pode até manter o estilo cartunesco já consolidado pela franquia. Os criadores intencionalmente exageram os modelos de personagens, e os objetos das exposições têm um toque de absurdo que diverte. A arte é limpa, colorida. Porém, ela não estava otimizada. Mesmo sendo destacado como um jogo leve para os mais diversos computadores, Two Point Museum foi responsável por paradas súbitas no sistema operacional ou de seu congelamento completo. Isso mesmo com computadores com placas de vídeo dedicadas para tal feito. Comparado a jogos como Planet Zoo (2019), que detém inúmeras expansões e é um título que necessita de requisitos técnicos, assim como outros simuladores ainda mais pesados, Two Point Museum até tem seu estilo próprio. Porém, o seu desempenho, mesmo que melhorado após um tempo, não faz jus ao título de ser um jogo à disposição.
Além de todos esses aspectos, no quesito inovação, temos uma faca de dois gumes mais afiada do que a de um samurai. Two Point Museum apresenta boas ideias, como a escavação de artefatos e a criação de eventos culturais. Porém, seu principal obstáculo é operar em uma zona de conforto que revela identidade, mas nada além de alguns passos fora de casa. A Two Point Studios sabe claramente o que faz. Não por menos, é uma das mais promissoras neste ramo de simulação, mas arrisca pouco. Quando se pensa no potencial de um museu, nota-se que o título poderia explorar mecânicas mais ousadas. Ainda assim, ele traz frescor ao subgênero. Afinal, encontrar o gerenciamento de um museu não é algo comum, ao invés de parques de diversões, cidades como em SimCity (2013) e até mesmo planetas fora do Sistema Solar.

MESMO COM PROBLEMAS TÉCNICOS, TWO POINT MUSEUM É LEGAL:
No fim das contas, e após análises minuciosas da Dinastia Quing e de ossos de Mastodonte, Two Point Museum é um jogo que diverte, desafia e continua o legado bem-humorado da Two Point Studios com competência. Mas acaba pecando na questão do desempenho da plataforma analisada, onde problemas com a trilha sonora e fechamentos indesejáveis ocorreram com frequência. Claro que, com a melhora dessas questões, como ocorreu ainda com a análise em andamento, esses defeitos podem ser obscurecidos do jogo. De outra forma, o jogo é indicado tanto para os fãs da franquia quanto para os jogadores que já conhecem o estilo de gerenciamento. Ele pode não inventar a roda, que está um pouco capenga e desgastada, mas oferece um passeio divertido e estratégico pelos corredores do mundo museológico virtual. Uma visita que vale o ingresso, depois de algum choro de uma promoção.
*Gostariamos de agradecer a TheoGames por ter cedido a chave para a análise de Two Point Museum, em sua versão para Steam.
Números
Two Point Museum (Steam)
O humor britânico é conhecido no mundo como diferente. Mas ele está de volta com Two Point Museum, mais uma das obras da Two Point Studios que abraça o mundo do gerenciamento e simulação. Seguindo seus antecessores, temos aqui um jogo de simulação seguro e com certa criatividade, quando funcional é claro.
PRÓS
- Jogabilidade longa e que introduz, em bons passos, os desafios do gerenciamento de algo inédito, como é o caso de um museu.
- Com o humor britânico conhecido e um sarcasmo marcado pela franquia, o jogo tem uma narrativa leve e irreverente.
- Mesmo que para alguns pareça repetitivo, a volta ao mundo em coordenar museus variados reúne desafios que instigam.
- No rugir de antigos tigres, Two Point Museum tem uma diversão intrínseca, tanto de humor quanto de jogabilidade.
CONTRAS
- Trilha sonora quase não pode ser analisada pelos erros e falta de otimização da versão Steam.
- A arte pode até ser colorida e elegante, mas ela acaba sendo ofuscada pelo problema de performance que o jogo passou. Mesmo que depois tenha se tornado mais fluido.
- Mesmo trazendo a novidade de um museu, a estrutura de Two Point Museum é caseira. De outra forma, é quase idêntica a de seus antecessores.