Quando se fala em jogos de gerenciamento, de maneira geral, o habitát nativo de tais títulos é o PC. Seja qual for a estrutura, a quantidade de memória ou a placa de vídeo. São como metades de uma laranja, dois amantes e dois irmãos. Porém, de tempos em tempos, esses games cismam de alcançar o sol tal como o lendário Ícaro da mitologia grega, chegando em outras plataformas que nunca sequer estavam cogitadas a aguentar. Se por um lado, Planet Zoo (2019), da inglesa Frontier Developments e Zeus: Master of Olympus (2000) da extinta e também britânica Impressions Games ficaram nas cercanias do PC, o mesmo não aconteceu com SimCity 2000. Já que em 2003 ele chegou ao Game Boy Advance (GBA). E é esta versão tão diferenciada que o Guariento Portal abrirá a máquina do tempo de Pokémon Scarlet e Violet (2023) em um Revisitando o Passado!
SimCity 2000 ainda é um simulador de economia divertido e desafiador, mas está longe de ser uma versão direta do design original e parece mais do que apenas um pouco forçado no minúsculo sistema e na tela. Apesar das limitações técnicas e da versão um tanto abreviada do Game Boy Advance, o jogo ainda mantém o desafio e a diversão em um pacote menor. Mas com todas as mudanças no design de SimCity 2000 e a jogabilidade lenta em geral, poderia ter sido melhor se os desenvolvedores simplesmente adotassem o design original e mais limpo do SimCity para conversão para o portátil. Mas, no geral, é um esforço sólido com muita jogabilidade… se você conseguir superar a lentidão geral da experiência.
Craig Harris, em sua Review (traduzida) de SimCity 2000 (GBA) no site norte americano IGN. Nota: 6.5/10.0.
SEJA O PREFEITO IDEAL, AGORA EM QUALQUER LUGAR:
Primeiramente, é importante dizer que criar um port de um game tão específico de PC e DOS é um desafio, ainda mais para um console portátil. SimCity 2000 já tinha sido lançado originalmente em 1994 para o DOS pela Maxis, e depois portado para consoles de mesa como o PlayStation, o Super Nintendo (SNES) e o Nintendo 64. Porém, em 2003, pelas mãos da Full Fat Studios, britânica de Warwick, um port chega para o Game Boy Advance já trazendo o óbvio, houve a necessidade de uma pasteurização no conteúdo. A princípio, toda a base encontrada nas versões originais do game está no portátil. O jogador, como prefeito, deve construir a cidade de seus sonhos cuidando dos recursos escassos e satisfazendo seu povo. Desastres naturais, e a péssima gestão como de algumas nações mundo afora espreitam, e podem facilmente decretar fim do jogo sem dó nem piedade.
Porém, dentre todos os adjetivos que esta versão de SimCity 2000 pode receber, não há palavra melhor do que simplista. A visão isométrica, algo similar ao visto na franquia Diablo, da Blizzard por exemplo, auxilia nos controles e na jogabilidade, tornando o game mais atrativo. E, no fim das contas, foi uma forma de contornar possíveis problemas de logística. O Game Boy Advance recebeu de maneira bem adaptada os controles do game. Com poucos minutos já é possível entender o que o jogador é obrigado a fazer para manter seu emprego de prefeito. Acontece que essa simplicidade não é vista na dificuldade de se gerenciar em si, que honestamente se mantém desafiadora. Não por menos, será comum o aparecimento de telas de “game over” simplesmente quando um desastre natural aparecer ou quando o dinheiro secar da fonte.
FAÇA A SUA ESCOLHA, E ISSO NÃO É “JOGOS MORTAIS“.
Como em qualquer game de gerenciamento, suas escolhas vão impactar diretamente na felicidade ou no ódio de seus inquilinos. Criar zonas residenciais ao lado de usinas de carvão, óleo ou até mesmo lixões não é prudente de nenhuma forma. Prisões serão necessárias e permitem ganhar renda extra no aluguel, mas isso custará o preço da felicidade de seus cidadãos. Afinal, ninguém curte viver em um lugar perto de um presídio de segurança máxima. De certa forma, essas possibilidades são dadas ao jogador no decorrer de sua corrida pelos anos, a começar pelo início do século XX, e depois novas tecnologias vão sendo desbloqueadas. Mesmo no Game Boy Advance, é gratificante ver suas construções ganhando evoluções em SimCity 2000. Sinal de que o jogador se encontra no caminho certo do sucesso, sem precisar do uso de pirâmides financeiras.
Agora, infelizmente, essa simplicidade acaba custando um preço caro a se pagar. Alguns elementos estão cortados nesse port de Game Boy Advance em relação ao seu original. É o caso da construção de estações de metrô e o nivelamento do terreno. Por padrão, todos os cenários a disposição já se encontram com terrenos extremamente planos, como se a Terra fosse plana e sem nenhum morro ou montanha. Isso obviamente impacta não somente no conteúdo quanto na diversão do título, ainda mais ao saber que um port teve de ser fatiado para adentrar em uma nova plataforma. Não é algo absurdo, mas realmente causa a sensação de falta de certos conteúdos dentro de SimCity 2000. Da mesma forma, não há modos de jogo além da escolha única de cenário e partir diretamente para o mãos a obra, buscando criar a cidade de seus sonhos.
NÃO É ARROZ, MAS ESSE GAME ESTÁ PASTEURIZADO:
Por mais que o trabalho do pessoal da Full Fat Studios tenha sido heroico, ainda assim é impossível não sentir certa diferença inclusive nos quesitos técnicos e gráficos. SimCity 2000 foi pasteurizado em sua versão de Game Boy Advance também nesses quesitos. Todos os cenários e as construções são bastante pixelidas, e essa pelo menos não parecia ser a ideia original. Essa pixelização apresenta uma queda de qualidade. Claro, é impossível querer um Dolby Atmos nessa época. Porém, em comparações com outras obras que já passaram pela carruagem do Game Boy Advance, como The Legend of Zelda: A Link to the Past (2002) da Nintendo e Ace Combat: Advance (2005) da Bandai Namco, estas mantiveram a qualidade de suas franquias em matéria de sonoplastia. Algo que SimCity 2000 não conseguiu no GBA, pois nem mesmo tem música.
No fim das contas, e com alguns problemas logísticos, SimCity 2000 é um port honesto para o Game Boy Advance. Isso baseando-se em sua versão original. E isso embora não seja o bastante, é uma forma de obter o título dentro do portátil. Mostrando que é possível ter lançamentos do PC na palma de sua mão. O núcleo da jogabilidade da franquia da Maxis e da Electronic Arts está presente nesta versão. Temos de fato um game da franquia SimCity em um portátil. O desafio é fidedigno e agradável nos seus controles e até certo ponto em sua longevidade, uma vez que gerenciar uma cidade é algo que demandará tempo, e pilhas também. Infelizmente, essa versão, como dito, é uma pasteurização do game original, e peca em praticamente quase todo o resto que se propõe.
SIMCITY 2000 NO GBA É SIMPLES, MUITO SIMPLES:
Com o corte de algumas possibilidades, o jogador acaba sendo tolhido de tudo que pode ser visto na versão para PC. A parte técnica, como a sonoplastia e o detalhamento gráfico também estão bem abaixo do que o GBA consegue fazer, e é por isso mesmo que SimCity 2000 não tem outro nome, senão ser chamado de uma versão simplista do original. É possível se divertir com o game? Com toda certeza sim. Porém, é importante destacar que essa diversão já pressupõe que o jogador esteja acostumado com o estilo de jogos de gerenciamento. Sem isso, o jogador poderá se sentir desconexo de toda a proposta do título. No fim das contas, o port de SimCity 2000 é uma versão mais enxuta, que mantém os mesmos desafios. Acontece que, se acaso tiver a possibilidade de jogar a versão para PC, não resta dúvida, escolha essa.
Números
SimCity 2000 (GBA)
Lançado em 2003 para o Game Boy Advance, SimCity 2000 é uma versão simplista para os jogadores que curtem um gerenciamento de cidades, clássico da franquia. Não é inventivo, nem mesmo criativo. Apenas uma versão simplificada do que se vê no PC.
PRÓS
- Manutenção da dificuldade e dos mesmos desafios da versão original e das de console de mesa.
- Jogabilidade é bem construída para o Game Boy Advance, respondendo bem quandso devido.
- Longevidade padrão de títulos de gerenciamento, levando o jogador a tentativas e erros seguidos.
CONTRAS
- Parte técnica comprometida. Gráficos pixelizados completamente estourados e trilha sonora inexistente.
- Falta de recursos da versão original, como é o caso de aplainar terrenos e construção de linhas de metrô.
- Versão extremamente simplificada, onde o básico se encontra, mas fica a sensação de que falta algo.
- Divertido apenas para os mais descompromissados e que preferem a versão portátil, com algumas falhas.