FAZ DAS MINHAS VESTES DE RAINHA, VESTES DE MENDIGA:
Muita coisa mudou desde 1937. O cinema se tornou mais tecnológico e cheio de efeitos especiais. Incluindo nesse caso animações famosas, como Elementos (2023), da Pixar. Acontece que a Era de Ouro das animações, tal qual as Eras dos Quadrinhos da Marvel marcaram um momento cultural. Não por menos, existem películas que, enquanto as gerações passam, não são esquecidas. É o caso de Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937. Baseado em uma tradição oral germânica compilada pelos Irmãos Grimm, a história de uma Rainha Má destinada a destruir a sua rival foi a primeira de uma série de animações. E embora, o que hoje se considera como Contos de Fadas tenha o estereótipo de ser vinculado ao público infantil, sua existência é bem mais arrepiante como a transformação da própria Rainha Má em uma velha bruxa vestida com o manto da noite e disponível no Disney+.
O INÍCIO DE TUDO, O ESTEREÓTIPO DE BELEZA E RUINDADE:
E são com essas histórias que até mesmo as animações da Disney acabam, de certa forma, dialogando. Os trejeitos de Malévola, por exemplo, em A Bela Adormecida (1959) são de uma Feiticeira, ou de uma Fada Negra nos contos originais. Sua introdução na história é de imenso impacto, justo no aniversário da princesa. A madrasta de Cinderella (1950) tem um gato com o nome de Lúcifer, algo bastante evidente para sua vinculação ao mal. Porém, é na Rainha Má de Branca de Neve que temos a introdução do arquétipo de Bruxa Má nas animações. Ao ponto de impactar sucessores, como O Mágico de Oz (1939) e sua Bruxa Má do Oeste. Sim, elas não são irmãs como em Once Upon a Time (2011-2018), nem se chamam Regina e Zelena. Porém, os trejeitos da personagem da Disney levaram a um estudo de caso em Oz.
Tanto na animação quanto no Conto dos Irmãos Grimm, chamado de Schneewittchen em Alemão, a Rainha Má é bela, elegante, mas perigosa. Ou pelo menos é narcisista ao ponto de todo dia se olhar através de seu espelho mágico e perguntar se haveria alguém mais bela. Seus trejeitos denotam a realeza que está inserida, e que já detém tudo que é possível naquela sociedade, especialmente medieval com castelos e a monarquia reinante. Sua ligação com a magia e a feitiçaria é escancarada desde o início, com o espelho envolto dos signos do Zodíaco, um dos principais elementos da astrologia e de Cavaleiros do Zodíaco. Porém, essa ligação é evidente quando de sua transformação. Após ser enganada pelo Caçador, a Rainha Má desce até as masmorras do castelo para criar uma poção para enganar Branca de Neve, escondida na Casa dos Anões.
A INFLUÊNCIA DOS CONTOS SE ENCONTRAM NESSES MOMENTOS:
É então que tanto a animação quanto o conto se unem uma vez mais. Afinal, os ditos Contos de Fadas, como tradição oral, não eram histórias para o público infantil. Temas como assassinato, magia das trevas, canibalismo e infanticídio eram comuns. Muito por uma época especialmente conturbada de extremo misticismo e que as crianças não sobreviviam tanto tempo. Então, esse caráter sombrio se faz presente. Por meio de uma trilha sonora estridente e um manual de feitiçaria, a Rainha Má, com toda a sua beleza se transforma, branqueando seus cabelos com o grito de horror. Ao invés de bela, a Rainha se torna uma velha horrorosa que provavelmente assustou muitas crianças. Na verdade, é possível dizer que aquela transformação na verdade trouxe o interior da Rainha Má para fora. Essa mesma anedota é compartilhada com a criação da maçã envenenada.
Depois de se transformar em uma velha sombria, a Rainha Má põe uma poção em uma maçã que por fora é tão vermelha quanto os lábios de Branca de Neve. Porém, seu interior contém uma maldição que, ao provar a fina casca, a princesa sufocará e paralisará para todo o sempre. Embora diferente das Fábulas de Esopo, destinadas a ter uma moral ao fim da história, os Contos de Fada não os tem. Mas isso não quer dizer que não apresentam algumas interações ou morais dentro de seus arcos. Assim, a questão da beleza exterior também é usada como subterfúgio em outros contos, como a bela casa de doces da Bruxa Cega de João e Maria, outra lenda germânica, e de maneira invertida no já citado conto de Cinderella. Além do mais, suas meia-irmãs tiveram destinos ainda mais sombrios nessa tradição oral.
O ARQUÉTIPO DE VILÃ, BRUXA E RAINHA MÁ É DAQUI, DE BRANCA DE NEVE:
Aliás, importante destacar que o escape aos padrões morais dos vilões, como a Rainha Má acabam por transformar em condutores narrativos. Sejam elam as animações da Disney, ou então nos Contos dos Irmãos Grimm. Essa necessidade de que os vilões tenham o seu momento está no âmago do estúdio estadunidense. E isso desde sua Era de Ouro. Durante o período do Renascimento por exemplo, Scar, de O Rei Leão (1994) chega a misturar Hamlet com a estética nazista. Já o Juiz Frollo, de O Corcunda de Notre Dame (1996), ao som de Hellfire detém a mais sombria e assustadora música vilanesca da Casa do Mickey Mouse. A Rainha Má pode não ter essa sonoplastia, mas é detentora de alguns dos momentos mais assustadores nessas animações. Esses são resquícios das versões tradicionais destas histórias, mas que foram pasteurizados para o público.
Porém, são exatamente esses momentos que mais aproximam as animações da Disney dos Contos de Fadas que lhes deram origem. Momentos esses assustadores e arrepiantes que guardam a influência do momento de sua construção, sendo facilmente transformados em creepypastas. Não por menos, Branca de Neve e os Sete Anões é tão reverenciado por ser o pontapé inicial da Era de Ouro das Animações da Disney, assim como por sua estrutura. A Rainha Má não é apenas uma antagonista, mas é a representação de todo o arcabouço de vilão e o motivo do termo madrasta ser tão rejeitado. Foi através de Grunhilde, e não Regina, o verdadeiro nome da Rainha Má, que temos essa ligação com o lado mais sombrio dos Contos de Fadas. E sua transformação, como o vendaval que aviva o seu ódio, demarca o momento mais encantandor dessa obra histórica.
NÃO É UMA MAÇÃ ENVENENADA, MAS SIM OFERTAS ESPETACULARES:
Mesmo se transformando, a Rainha Má acabou perdendo. Seja caindo de um penhasco, como na animação da Disney, ou então morrendo depois de tanto dançar com sapatos em brasas como no conto original. Acontece que a personagem, assim como muitos outros é parte do complexo de Walt Disney, que vai da Marvel até Star Wars. Dentro desse mundo, crossovers acontecem. E Kingdom Hearts se torna uma espetacular série entre o mundo Disney e o estilo RPG de ninguém menos que a Square Enix. Assim, caso queira entender mais, o jogador pode começar com Kingdom Hearts Starter Pack: HD 1.5 + 2.5 Remix, disponível para os consoles de Sony e Microsoft. Agora, caso Mickey seja sua vontade, Disney Epic Mickey: Rebrushed o está esperando na Terra Desolada via Steam, PlayStation 5, Xbox Series S/X e também no Nintendo Switch. Basta comprar seus créditos via Nuuvem, diretamente aqui do Guariento Portal.