E NO FINAL, EU PREVEJO QUE APENAS UM SERÁ SUA DERRADEIRA RUÍNA:
Adaptar obras é difícil. Isso parece ser matéria de domínio geral. Mas adaptar as obras do Legendarium, o Universo criado pelo britânico J. Tolkien tem mais peso. Além de ser um universo impressionante em termos geográficos, culturais e linguísticos, contando com uma ótima adaptação no cinema pelas mãos de Peter Jackson, o mundo da Terra Média tem vida própria. E com mais gastos do que montar uma frota de Númenor, a Prime Vídeo continuou sua saga, que repercute os acontecimentos da Segunda Era. Nesta Segunda Temporada de Os Anéis de Poder, o tabuleiro das hordas de Sauron, o Senhor do Escuro já estão em movimento, e a força de vontade dos elfos será posta a prova. No fim, a história anda, mas ainda falta um diamante como o de Nenya para a saga conseguir criar o seu próprio caminho. Porém, aparenta seguir pelos penhascos de Valfenda com bons aprendizados.
A BELEZA DE TODA A TERRA MÉDIA CONTINUA INQUESTIONÁVEL:
Não há como começar algo relacionado aos Anéis de Poder e não insuflar sua força artística, sonora e de efeitos especiais. Amplificada ainda mais nessa Segunda Temporada. Toda a sonoplastia e as ambientações, sejam elas as mais distintas, são incrivelmente bem feitas e traçam o ideal de cada raça. Mordor por exemplo, é tão vil quanto se esperaria das terras de Sauron. Já Eregion, a cidade das forja dos anéis, emite toda a impressionante beleza da arquitetura élfica. Khazad-dûm, a morada dos anões também é outro ponto impressionante de destaque dentro da temporada. A beleza visual de Os Anéis de Poder é visível em seus primeiros momentos, e se mantém constante. Até mesmo as armaduras e os figurinos, que tinham seus questionamentos estão ainda mais polidas e bem produzidas, trazendo um dos mais belos visuais do Legendarium, algo digno para um universo como a Terra Média.
Junte isso com uma interessante coesão de roteiro e temos uma história que, as vezes se afasta, as vezes se encontra com sua fonte original. E isso não seria um problema em si. Afinal, é comum adaptações de livros alterarem pontos para o cinema e a televisão. As Crônicas de Gelo e Fogo, Harry Potter, Cavaleiros do Zodíaco. Todos tiveram alguma alteração em sua transposição. E com os Anéis de Poder não é diferente. Mesmo com tamanho arcabouço de acontecimentos e a cronologia da Segunda Era a disposição. A história consegue andar quase em clima novelesco, com núcleos que não necessariamente se encontram. Mas que em algum momento preparam o terreno para o ápice já conhecido que é a Última Aliança entre Elfos e Homens para a derrocada do Senhor do Escuro. Lógico que algumas histórias tem uma cadência pior do que outras.
SAURON É UM DOS PROTAGONISTAS. QUER VOCÊ QUEIRA, QUER NÃO QUEIRA:
Essa cadência contudo, é mantida por um núcleo de atuação que sem dúvida pode ser destacado entre a família dos anões, Sauron e Celebrimbor. Sim, não há dúvida de que se na Primeira Temporada é Galadriel (Morfydd Clark), de forma indiscutível a protagonista, aqui o Senhor do Escuro (Charlie Vickers) toma a frente de grande parte dos acontecimentos. Ou melhor, agora com outro nome, Annatar, o Senhor dos Presentes. Quanto mais o tempo passa, mais a força de Sauron em escurecer o coração de quem os cerca se reforça. E, indiretamente ligado, o encontro do Balrog de Moria e todos os questionamentos da linhagem real de Durin (Owain Arthur) mostram o cuidado também com questões familiares que sempre cercaram os personagens de Tolkien. Claro que Galadriel ainda é uma pedra fundamental para a Segunda Era, mas a divisão de tarefas fez bem a quase todos os envolvidos.
Porém, o texto mais bem produzido nesta Segunda Temporada é o que foca na decadência de Celebrimbor (Charles Edwards), o ferreiro élfico responsável por todos os Anéis de Poder. Tomado pelas palavras adocicadas de Sauron, tal como a Maçã Envenenada da Rainha Má, o artífice simplesmente tem uma gradativa queda moral. Sauron, no fim de tudo, só usou as fraquezas no coração de Celebrimbor para conseguir o que queria. Essa é a maestria do Senhor do Escuro. Não criar fantasias, mas saber exatamente a verdade mais obscura no coração de qualquer raça. Há também um estranho lado emocional de Sauron, que cria camadas ao personagem. Afinal, o próprio Tolkien já disseram em uma de suas milhares de cartas que, nem sempre, o Portador do Um Anel foi de todo mal. E Galadriel parece ter sido o pavio desse momento. Claro que essa interpretação fica a critério do freguês.
O CORAÇÃO PRECISA ESTAR PURO, SEM A INFLUÊNCIA DO FERVOR DE FÃ:
E aliás, essa interpretação pode ser um problema para os fãs mais fundamentalistas das obras do escritor britânico. Os Anéis de Poder não tem pudor nenhum de mudar acontecimentos no qual a cronologia do Legendarium é deixada de lado. E sim, a Ruína de Khazad-Dûm é um desses momentos. Assim como ações questionáveis dos personagens, incluindo o duo da Luz e das Sombras formada por Sauron e Galadriel, tal como Cresselia e Darkrai em Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl. Particularmente, isso não foi um problema de marca maior uma vez que se coaduna com tudo que foi apresentado na temporada anterior. Mas pode ser um problema para os fãs mais fervorosos da obra. Assim, vale destacar que Os Anéis do Poder toma liberdades que podem ser questionáveis se o caro leitor é um fã fervoroso. Por isso, vá com o coração mais puro possível para a Prime Vídeo.
É evidente que o maior problema de Os Anéis de Poder é tentar emular uma grandiosidade que está presente. Mas que não consegue sair tanto do papel. Embora mais cadenciada que a antecessora, a Segunda Temporada tem alguns problemas de ritmo em seu início, mas tudo parece desmoronar com o seu ápice. A queda de Eregion. Momento este no qual não havia necessidade de sair para além dos livros, pelo simples fato de que a Batalha de Eregion é o principal momento para os Elfos na Segunda Era. Reduzir tal luta para um confronto de cavalaria onde alguns ângulos lembravam o Abismo de Helm em As Duas Torres (2002) parece não ter sido uma escolha acertada da direção, que não consegue criar emoção. Sauron e seu exército de Orc’s são brutais com a cidade, pois não é somente sua tomada que é importante. É ferir completamente o sentimento dos elfos.
SAURON FINALMENTE CONSEGUIR FORJAR ALGUNS ANÉIS, MAS NÃO O UM:
Porém, não é somente nesta Batalha que temos esse problema de fluxo. Nem o grande ápice, que é o confronto de Luz e Sombras marca a magia. De forma alguma está sendo questionada a atuação, que aliás é um dos pontos altos e interessantes da série para estes personagens. Porém, a chegada até este momento não tem ápice. Não tem nenhuma entrega, embora deixe aberto para a Terceira Temporada. Esse problema, com algumas diferenças, se encontra também no Arco de Númenor, o mais entediante de todos. Filmes de monstros, como Godzilla (2014) e Godzilla 2 (2019) tiveram esses problemas quando ao invés dos Kaijus focaram em famílias mortais. E Anéis de Poder carece desse mesmo problema quando a Ilha de Númenor ganha a cena. Vale destacar que aqui se poderia ter intrigas sociais e disputas pelo poder como Game of Thrones sabia fazer. Mas não é o que acontece.
No fim e na Queda de Eregion, a Segunda Temporada de Anéis de Poder tem mais acertos que erros. Fruto de uma melhora em termos de narrativa e atuação. O que inova trazendo mais personagens para o protagonismo, em especial Sauron. Esteticamente, a Terra Média nunca esteve tão linda, nem mesmo em O Hobbit (2012), assim como sua trilha sonora. E, quando na balança, a maior parte das alterações transformou a série em uma novela, de ótima qualidade. Porém, é claro que problemas de ritmo ainda persistem. O texto por trás de Annatar e Celebrimbor não levam a uma magnífica batalha. E não menos importante, algumas alterações podem soar questionáveis. Mesmo assim, parece que a Prime Vídeo, depois de críticas mais poderosas que a Montanha da Perdição, conseguiu fazer uma Temporada que não inova, mas é eficiente e, de certa forma, impactante de assistir de Anéis de Poder.
A TERRA MÉDIA O ESPERA, NA PRIME VÍDEO:
O Legendarium é um mundo que, se existisse apenas nos livros já seria grande o suficiente para marcar gerações. E não por menos o é, mas agora também marcando presença no mundo televisivo uma vez mais com Os Anéis de Poder. Que pode ser conferido de maneira exclusiva na Prime Vídeo. Com ele, é possível ver pérolas do terror como Jogos Mortais X (2023), o retorno de Jigsaw aos jogos infames. O que não falta é opção. E claro, se não foi o suficiente para o querido leitor as doses cavalares de Terra Média de Anéis de Poder, pode se aventurar pelos velhos caminhos. Afinal, a Prime Vídeo tem em seu catálogo a trilogia completa feita por Peter Jackson. Veja o início da Sociedade do Anel, a construção das Duas Torres e o Retorno do Rei. Tudo isso, é claro, após essa Crítica aqui no Guariento Portal.
Números
Anéis de Poder - 2º Temporada (2024)
Em busca de "salvar", a seu modo, a Terra Média, Sauron continua com o seu plano de dominar todas as raças. E assim todos no enorme tabuleiro de forças se movimentam. Momentos marcantes da Segunda Era, e alguns outros, esperam nessa Temporada de Anéis de Poder, que melhora em alguns aspectos de seu ano antecessor.
PRÓS
- A Terra Média não só continua como ainda é inexplicavelmente bela. Os efeitos especiais são absurdos em termos de cenários.
- Há uma melhora na narrativa, com mais personagens angariando o protagonismo e alguns realmente muito impressionantes.
- Trilha sonora se coaduna com a estrutura em si, assim como a atuação, que acaba se destacando com alguns personagens, especialmente os anões.
- Alterações em relação ao texto original que criaram camadas ao antagonista e situações que ficaram positivas, mesmo no momento errado.
- A estrutura da série começa com passos lentos, mas de forma compreensiva, para depois guiar o espectador para uma história realmente coesa.
CONTRAS
- Direção de toda a série não soube como criar afeto e emoção especialmente nos momentos de batalha. É tudo extremamente robótico.
- Algumas alterações podem incomodar a depender da interpretação do espectador. Pede-se prudência e um coração aberto para a obra.