ISSO SIGNIFICA QUE A MORTE PODE VIR BUSCAR A GENTE:
Na esteira do sucesso de Premonição (2000), pelo menos em termos financeiros, a New Line Cinema (de Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, de 2021) abriu bem os olhos. Ou melhor, não deu férias para a Morte. O voo 180 era deixado de lado, e dessa vez, um engavetamento seria a deixa para que um grupo de pessoas fossem salvas através de uma visão. Não, você não leu errado. Premonição 2 (2003), ou Final Destination 2 em inglês, é exatamente idêntico ao seu antecessor, porém mais errático. O problema é que mais do mesmo enjoa. Cuide bem do seu carro e cuidado com um caminhão com troncos de madeira na Via Dutra, na Castello Branco ou na Transamazônica. Nunca se sabe quando chega a sua hora em mais uma produção da Warner Bros. (de Harry Potter e o Cálice de Fogo, de 2005) disponível na Max.
UM GRUPO SE SALVA, E A MORTE TEM UM NOVO TRABALHO A FAZER:
Da mesma forma que o antecessor, Premonição 2 (2003) abre sabendo muito bem o que está fazendo e sem muito tempo a perder. Não por menos, seus aspectos técnicos ainda são bastante competentes, embora não tenham envelhecido tão bem. O acidente inicial, um engavetamento numa rodovia, é suficiente para que muitos motoristas passem a temer caminhões com troncos de madeira da mesma forma que Mario Kart, da Nintendo, fez com a casca de banana. O acidente é explosivo e mortal. Da mesma forma, os desígnios da Morte de cada um dos sobreviventes também mantém a mesma pegada. As mortes são audaciosas no sentido de abusar bastante do gore, mas também brincando com o público sobre o que levará ao fim do personagem. Pombos, por exemplo, aparecem para a protagonista, mas não é da forma que o público espera que o trabalho da antagonista será concluído.
Ocupado com outras produções, James Wong não dirige esse filme, ficando a cargo de David Ellis (de Premonição 4, de 2009 e Serpentes a Bordo, de 2006). Entretanto, não há muita diferença entre os diretores. Afinal, a estrutura de apresentar visões e o uso do áudio que parece antecipar uma tragédia ainda são evidentes. Há sem dúvida uma maior quantidade de cortes e cenas mais expositivas, tanto em questão narrativa como de desmembramento e de explosões. Porém, acreditando que a Morte continua tão sádica quanto Jigsaw, de Jogos Mortais X (2023), não é difícil imaginar a criatividade com todos aqueles que ousaram lhe enganar. Existe uma certa diversão que o espectador consegue obter em dois pontos: como será o destino dos personagens e como eles tentarão se livrar das armadilhas que podem ser encontradas até mesmo num simples para brisa de carro.
OS MESMOS ELEMENTOS, AGORA COM PERSONAGENS MENOS EMPÁTICOS:
Há alguns poréns em Premonição 2 (2003) que definitivamente o transformam em uma sequência pior que seu original. Não houve melhoria em nenhum dos defeitos da história original do Voo 180. Porém, acrescentaram-se mais problemas. A começar pela falta de inventividade. O que temos é exatamente a mesma história de antes, como se fosse um Reboot ou Sequência Legado, como Halloween, de 2018. O longa e seu roteiro até tentam inverter, dizendo que agora os planos da Morte vão em ordem inversa aos do acidente. Mas que, na verdade, é apenas uma tentativa de acrescentar algo de novo em algo tão velho como as lendas do Drácula nas montanhas da Romênia. Então, com exceção de uma única personagem, Clair Rivers (Ali Larter, de A Casa da Colina, de 1999), todos são personagens novos em situações já vistas anteriormente.
E relatando a nova protagonista, além de revelar que Alex Browding (Devon Sawa) morreu de uma tijolada fora da tela, Clair agora deve apoiar a jovem Kimberly (A.J Cook, da série Criminal Minds), que tem a revelação do acidente e acaba salvando um grupo de um terrível acidente. Infelizmente, seus amigos morrem, pois no último momento ela é salva pelo policial Thomas Burke (Michael Landes). Acontece que esses mesmos sobreviventes paulatinamente morrem em acidentes bizarros, como uma barra de ferro nos olhos. Infelizmente, a emoção é deixada para outro longa metragem, como o taiwanês Marcas da Maldição, de 2022. Afinal, nem mesmo a final girl quanto aos estereotipados personagens conseguem assumir alguma posição de destaque. O que temos é um plantel que serve apenas para as brincadeiras da Morte. Nem mesmo o retorno de Tony Todd, como o agente funerário William Bludworth acende alguma expectativa.
O MAL DE ALZHEIMER ESTÁ DE VOLTA, E DESSA VEZ AINDA MAIS POTENTE:
De outra maneira, os personagens são ainda mais rasos que os do longa anterior. Em poucas palavras, Premonição 2 (2003) consegue marcar seus coadjuvantes como se estivesse em um storyboard. Temos a mãe preocupada, a jovem que acabou de subir na carreira, o drogado, o sortudo mulherengo, e assim vai. Porém, além de ser um péssimo plano, o Mal de Alzheimer também parece ter afetado a jovem Kimberly, assim como fez com Alex e com a própria Morte. Mas na verdade se trata de problemas no roteiro de J. Mackey Gruber e de Jeffrey Reddick, que também roteirizou o primeiro longa. O esquecimento que a Morte tem de sua própria lista, ou de suas próprias armadilhas, é simplesmente absurdo. Esse argumento inclusive é usado no terceiro ato por pelo menos duas vezes, sendo a representação do final de Premonição 2 (2003).
No fim das contas, Premonição 2 (2003) tem elementos que carregam uma espécie de diversão e consolidam a franquia. A cena introdutória do acidente, uma das melhores do tipo na história do cinema e seus 90 minutos de duração conseguem construir uma atmosfera de suspense, mesmo que já seja conhecida. As mortes também estão bem mais elaboradas e a direção consegue se manter a mesma, embora sob a tutela de outras mãos. É visível se tratar de uma sequência pelos mesmos trejeitos e uso da trilha sonora ou das visões que antecipam tragédias. Acontece que essa continuação está muito aquém pois carrega não somente os mesmos erros de outrora, como também cria novos problemas e percalços. A começar pelos personagens, que são ainda mais problemáticos e unidimensionais, simplesmente sendo servidos de salada para os planos da Morte, mesmo com o esforço da protagonista.
PREMONIÇÃO 2 (2003) É UMA EXPLOSÃO DE MORTES COM UM ROTEIRO RUIM:
Porém, não se pode colocar na cruz do calvário os atores se o roteiro é o principal problema que, como a raiz da Yggdrasil da Mitologia Nórdica, acaba contaminando todo o filme. Sua estrutura não é nada inventiva, e o que tenta acrescentar cria mais problemas. A ideia de que as ações e as mortes do primeiro longa impactaram a vida dos sobreviventes é interessante, mas simplesmente jogada em um diálogo expositivo. Da mesma forma, o artifício de usar em demasia visões para que a história possa prosseguir elimina a suspensão de descrença ao definir que praticamente tudo pode acontecer. Porém, nada é pior do que os problemas de esquecimento. Não por menos, Premonição 2 (2003) pode até parecer maior, mais explosivo e até mais violento. Infelizmente, ele esqueceu de arrumar os freios do carro e conseguiu se engavetar dentro de seu próprio acidente, seu roteiro.
Números
Premonição 2 (2003)
Uma jovem repentinamente passa a ter a visão de um terrível acidente automobilístico. Ela consegue algumas pessoas, mas não seus amigos. O problema é que novamente, a morte, que não gosta de ser enganada, tenta voltar com tudo para buscar os sobreviventes. Esse é o plot de Premonição 2 (2003), obviamente, o mesmo que seu antecessor.
PRÓS
- A cena do acidente na rodovia é sem dúvida uma das melhores do mundo do cinema, com bom uso de efeitos práticos e especiais.
- Mais gráfico, o abuso de desmembramento nas mortes cria um tom ainda mais sádico na Morte, impactado pela mixagem de som.
- Mesmo de maneira rasa, há cadência na estrutura narrativa, que não empaca em alguns pontos e se mantém de certa forma fluido.
CONTRAS
- Os personagens são extremamente rasos, incluindo até mesmo a protagonista, que até tenta ser alguem melhor no roteiro.
- A estrutura é idêntica ao antecessor. Nem mesmo as tentativas de acréscimos conseguem criar uma sensação de novidade.
- Premonição 2 tenta ser maior e melhor, mas falha miseravelmente ao não conseguir arrumar os erros do antecessor.
- O roteiro é ainda mais complicado, apresentando erros bem evidentes e o uso da amnésia para que a história consiga andar.
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Preciso revisitar os cinco filmes, mas é inegável que o 2º é o que tem o melhor e mais impactante acidente de toda a franquia.
Preciso revisitar os 5 filmes, mas é inegável que o 2 é o que tem o acidente mais impactante de todos os filmes da franquia.
Sem dúvida o acidente do 2 foi o melhor já feito (e inclusive tem uma galera falando que é o melhor acidente automobilístico no cinema). Com exceção da carga explosiva, esse ponto é ótimo. Pena que todo o roteiro é bem ruim. Mas te garanto que o 3 melhora, pra depois desandar completamente no 4 (que será o mais difícil de fazer alguma Crítica).