A Múmia, filme de 1999 pode até parecer para os dias atuais um filme de baixo orçamento. Porém, se engana quem pensa isso. O longa metragem estrelado por Brendan Fraser e Rachel Weisz conta a história de um sacerdote do Egito Antigo que é ressuscitado com a ajuda do Livro dos Mortos. Correria vai, correria vem, cabe a arqueóloga Evelyn deter a criatura antes que todas as pragas do Egito recaiam sobre a Terra. Logo, já dá pra perceber que o filme é bem ao estilo aventureiro, mesmo com a mitologia da Múmia, criatura essa vista normalmente em romances de terror, como é o caso de Drácula e de Frankenstein, outras criaturas icônicas do gênero. Porém, A Múmia também guarda um sarcófago de curiosidades. Na verdade, ele sequer foi pensado como uma aventura nos seus primeiros momentos, mas sim algo bem mais sombrio e macabro pela Universal.
Existe uma antiga lenda de um lugar chamado A Cidade dos Mortos. Eles foram descobrir os seus segredos. Buscavam revelar o seu tesouro. Mas o que fizeram foi libertar uma força como nenhuma outra que o mundo já viu.
Chamada traduzida do Trailer de A Múmia, de 1999.
E se A Múmia tivesse uma pegada mais Hellraiser, Madrugada dos Mortos ou A Hora do Pesadelo? Acredite, todos os seus diretores tiveram conversas com a galera da Universal sobre o roteiro.
Isso por que o primeiro diretor escalado para conversar com a galera da Universal foi Clive Barker. Sim, ele é tanto o escritor quando o diretor de Hellraiser: Renascido do Inferno (que o Guariento Portal tem uma Análise em seu Especial Revisitando o Passado). Segundo Barker, sua visão do filme era bem mais sensual, sombria e ocultista do que a vista em A Múmia, se aproximando de um filme de terror de baixo orçamento. E sequer se passaria no Egito. Para Baker, a história se iniciaria com um curador ou alguém de renome dentro de um Museu de Arte Contemporânea que, detentor de escritos ocultos, acabaria ressuscitando a criatura com tons bem mais sombrios. Claro que essa visão de A Múmia não rolou. Assim, o próximo diretor a ser convidado, ainda em 1992 foi ninguém menos do que George A. Romero.
Não conhece esse nome? Pois saiba que ele é ninguém menos do que o Lorde dos Filmes de Zumbi e criador de A Noite dos Mortos Vivos de 1968. No entanto, sua versão também era sombria, uma vez por ter a mesma pegada do clássico de 1968 e também foi rejeitada pela Universal. Estranhamente, diretores do gênero continuaram a ser chamados, mostrando que a Universal ainda assim tinha a ideia de uma pegada bem diferente do que é A Múmia. Wes Craven, de Pânico e A Horado Pesadelo também foi convidado, porém recusou. Até que finalmente chegou o americano Stephen Sommers (que se manteria nesse mundo de criaturas com Van Helsing: O Caçador de Monstros). A proposta de Sommers era diferente, mais aventureira, tendo como base histórias de Capa e Feitiçaria como Jasão e os Argonautas. Assim, a Universal aprovou essa ideia, e Sommers foi contratado para fazer A Múmia.
Esqueça o Egito, nada do que era pra ser no Egito foi filmado no Egito. E tinham muitos mais problemas do que a areia do Saara.
Indo para as gravações. Acreditem, o filme não foi filmado no Egito. Naquele momento, o Egito estava com problemas políticos e a equipe então preferiu encontrar outros lugares, e fazer pontos conhecidos, como As Pirâmides de Gizé por computação gráfica. Foi então que escolheram Marrakesh, uma cidade no Marrocos. Aliás, a equipe foi ajudada pelo exército marroquino uma vez que foram obrigados a fazer uma espécie de seguro sequestro para as gravações. Porém, o diretor não contou para o grupo de atores. Eles somente souberam que estavam em risco de serem sequestrados depois de filmarem o longa completamente. Porém, além de Marrakesh, o Deserto do Saara também era um ótimo local para filmagens de A Múmia. Na verdade, ótimo não era um bom termo. Tempestades de areia rolavam quase todo dia e membros da equipe tinham de ser resgatados de helicóptero depois de serem mordidos por alguma criatura peçonhenta.
E falando em animais, a Universal deu cerca de oitenta milhões de dólares para a gravação de A Múmia. Assim, um orçamento bastante honesto. Desses, vinte milhões foram deslocados para a produção dos efeitos especiais. Sendo que o estúdio responsável era a Industrial Light e Magic. Sim, a do tio George Lucas, e que hoje é propriedade da Disney. (Assim como metade das coisas existentes pelo visto). Essa grana foi usada em cenas como a das Pirâmides e a recomposição de Imhotep, assim como as tempestades de areias, pelo menos as corretas. Isso fez com que algumas cenas utilizassem realmente animais de verdade. Não, os escaravelhos comedores de carne humana eram computação, porém os gafanhotos que aparecem após a abertura do Livro dos Mortos são reais. Assim como alguns ratinhos que apareceram para o desespero de Rachel Weisz, que contracenou com eles.
Mesmo com todos os percalços, A Múmia faturou grana o suficiente para a Universal ficar feliz da vida. Assim, é claro, encomendou uma sequência, como sempre acontece em Hollywood. Pena que as sequências foram perdendo a alma de seu original.
Se animais de verdade não era o problema, a morte de atores deveria ser. Pelo menos quase que Brendan Fraser partiu dessa para melhor filmando A Múmia. E quem falou isso foi sua colega de trabalho, Rachel Weisz. Em uma cena em que o personagem de Fraser ia ser executado por enforcamento, de fato algo aconteceu e a corda realmente enforcou o ator. Ele teve de ser reanimado após as gravações mas passou bem o restante do desafio. Já John Hannah, que fez o irmão pilantra de Evelyn acabou torcendo o pulso no meio das gravações. Algo que não se compara ao que Fraser passou. Mas é por isso que em A Múmia, se você reparar, pode ver que o personagem de Hannah usa uma tala ou algo do tipo nas cenas finais do longa. Aquilo também era de verdade.
No entanto, dentre mortos (que não foi nenhum) e feridos (esses sim foram vários) salvaram-se todos. E A Múmia estrou nos cinemas mundiais em 1999. Porém, nem mesmo a Universal detinha tamanha expectativa para o longa. Lembra que o orçamento de A Múmia foi de 80 milhões de dólares? Então, na primeira semana nos Estados Unidos o filme faturou cerca de 42 milhões. E as cifras só aumentaram no exterior. Do total, o filme garantiu cerca de 415 milhões de dólares. Traduzindo, a Universal ficou bem feliz com os cofres cheios, de tal forma que nem esperaram o fim dos números. No dia seguinte após a recepção financeira do filme, o estúdio ligou para Sommers destacando que era necessário faturar mais. Ou seja, transformar A Múmia em uma franquia. Fato que foi feito posteriormente com O Retorno da Múmia (2001) e A Múmia: Tumba do Imperador Dragão (2008).
Isso não é uma Análise, e sim um painel de Curiosidades. Mesmo assim é inegável dizer que o longa é divertido. Bem mais do que aquela coisa bem diferente com Tom Cruise criada em 2017. Aquilo lá deixa de fora da mitologia da Múmia, por favor.
Embora tenha faturado uma quantidade bem generosa de grana para a Universal, fato é que A Múmia não foi vista com bons olhos para a Crítica. Mesmo com alguns elogiando os efeitos e a atuação dos atores, ainda assim a história não era vista como um ponto positivo. Porém, A Múmia entra naqueles famosos filmes blockbusters chicletes da década de 90 do século passado com um intuito, divertir. E nisso de fato A Múmia, como filme, consegue fazer com bastante primazia. Desta forma, esse não é o tipo de filme que um chato analista, como este que vos fala recomendaria por roteiro e tudo mais. Porém, existe algo em A Múmia que gruda, e o faz um dos melhores filmes da personagem. Assim, algo bem melhor do que atuais incursões, como o filme de 2017, que não possui a mesma graça da filmagem de 1999.
* Quer saber mais sobre filmes e séries em geral? Até pelo fato de que se você chegou aqui é que se interessou sobre o assunto. Então, vai uma dica do Guariento Portal. Acesse o site brother desse canal, o Urso.tv. Além de uma vasta biblioteca de filmes, atores e atrizes, séries e diretores (e deixo bem destacado a palavra vasta), o site também contém lista de filmes para se ver nos diversos streamings da vida. Tal como a Netflix e a Amazon Prime Video. E aliás, A Múmia está disponível na Netflix, caso você não saiba. Assim, está esperando o que? Antes de entrar para ver o filme, dá uma passada no portal e vê mais algumas curiosidades sobre e esse e outros milhares de filmes.