UM MARCO NA CULTURA GAMER SUL-COREANA
Stellar Blade, anteriormente conhecido como Project EVE, é um jogo de ação e aventura que mescla elementos dos gêneros soulslike e hack’n’slash. Apesar de inspirar-se nesses gêneros, o jogo se destaca por uma proposta surpreendentemente única.
A protagonista feminina, que gerou polêmica na mídia ocidental por suas proporções corporais “avantajadas”, na verdade foi inspirada na modelo sul-coreana Shin Jae-eun. Isso adiciona autenticidade ao design, mesmo que exagerado. Além disso, franquias como NieR: Automata e Bayonetta também apresentam protagonistas “bad-ass” hipersexualizadas, mas não receberam críticas tão intensas, revelando uma certa incoerência nas reações.
A Shift-Up, conhecida por seus jogos mobile, estreou no mundo dos games AAA ao desenvolver Stellar Blade em colaboração com a PlayStation Studios. A publicação coube à Sony Interactive Entertainment, que lançou o jogo exclusivamente para o PlayStation 5 em 26 de abril de 2024.
Este é o segundo jogo de sucesso de um estúdio sul-coreano em pouco tempo, seguindo o êxito de Lies of P no ano passado. Ambos os jogos foram bem recebidos pela crítica e pelos jogadores, destacando o crescente impacto dos desenvolvedores sul-coreanos na indústria dos games AAA.
SAINDO DA COLÔNIA PARA UMA TERRA DEVASTADA
No início do jogo, assumimos o controle de Eve, uma androide do 7º Esquadrão Aéreo, nossa protagonista controversa. No tutorial, aprendemos as mecânicas básicas e percebemos que o combate é mais fluido do que em um soulslike, embora não contenha tantos elementos de um hack ‘n’ slash.
Não é necessário recuperar itens caso morramos para um inimigo, mas o jogo possui as famosas fogueiras, aqui chamadas de Acampamentos. A fim de realizar upgrades em Eve e seus acessórios, incluindo trajes e outros cosméticos (sim, os polêmicos trajes), podemos usar diferentes tipos de acampamento. Acredito que veremos mais jogos com essa característica específica num futuro próximo — não sendo um soulslike, mas ainda assim sendo um RPG de ação desafiador.
O combate do jogo é fluido e muito bem executado.
UM NAYTIBA INCOMODA MUITA GENTE
Eve se mostra durona, corajosa e um tanto inocente. Os inimigos aqui são seres com características alienígenas conhecidos como Naytibas. Ao longo do jogo, descobrimos que os Naytibas são divididos em três subdivisões: os comuns, que enfrentamos normalmente ao redor do mapa; os alfas, geralmente os últimos chefes de cada mapa; e o Ancião, o misterioso líder de toda a raça Naytiba. De tal forma que muitas coisas dão errado, o tutorial termina de uma forma que homenageia “Devil May Cry”.
O choque passa rapidamente, e descobrimos que somos resgatados pelo fiel escudeiro do jogo, o misterioso coletor Adam. Logo após essa introdução, o jogo nos apresenta sua primeira área totalmente explorável. “Stellar Blade” possui um mundo “semi-aberto”, que permite a exploração completa de áreas menores, diferente de jogos como “Elden Ring” ou “Assassin’s Creed Odyssey”. Assim sendo, esse jogo em específico se inspira em Demon’s Souls, mas amplia seus mundos para rivalizar com nomes como Final Fantasy XVI.
Estamos em Eidos 7, conhecida como a última cidade que os humanos povoaram antes de uma série de guerras e eventos catastróficos. Segundo Adam, essa cidade, que outrora estava cheia de sorrisos e tinha uma grande população, agora está devastada, com apenas algumas plantas crescendo entre os escombros.
O PARAÍSO EM UM RETRATO FUTURISTA
RECONSTRUINDO O MUNDO COM PESSOAS SUSPEITAS
Ao chegarmos em Xion, encontramos Orcal, um amigo de Adam e profeta enigmático, cercado por guarda-costas. Na mesma ocasião, descobrimos que a maior parte da população da cidade está hibernando em um sono profundo dentro de uma vasta câmara, localizada atrás da sala onde encontramos Orcal. Xion não tem energia suficiente para sustentar toda a população em atividade, então parte dela decidiu entrar em hibernação até que a situação melhore.
Com o incentivo de Adam, Orcal nos convida a colaborar na restauração de Xion. Nossa missão envolve coletar as hipercélulas espalhadas pelas áreas exploráveis do jogo e extrair núcleos dos Naytibas Alfas que encontramos. Esses núcleos são entregues a Orcal, que, como um oráculo, nos ajuda a encontrar o Ancião.
A partir desse ponto, a missão fica clara: coletar hipercélulas e núcleos de Naytibas, encontrar o Ancião, eliminá-lo e reconstruir Xion. Repleta de reviravoltas, a história do jogo é um dos seus pontos fortes, mesmo que a protagonista não corresponda completamente às expectativas. Dessa forma, é apenas no final que você realmente se conecta com ela. Grande parte da narrativa é transmitida pelo ambiente, personagens secundários e documentos, evocando fortemente a era do PS2.
OS CAÇA-LATAS: O INIMIGO AGORA É OUTRO
O jogo se divide em sete mapas: Eidos 7, Xion, Terras Áridas, Matriz 11, Grande Deserto, Pináculo 4 e um nível secreto conhecido como Eidos 9. Os mapas mais abertos, onde você passará a maior parte do tempo procurando colecionáveis, são as Terras Áridas e o Grande Deserto, com Xion também merecendo destaque, embora em menor escala.
Falando em colecionáveis, um elemento surpreendentemente interessante do jogo são as latas. Sim, latas de diversas bebidas, desde cafés e refrigerantes até chás e energéticos. Cada lata apresenta detalhes e curiosidades únicas, como a bebida à base de guaraná mostrada na foto abaixo, que explica suas origens e o motivo pelo qual os humanos a consumiam no passado.
Além das latas, você coleta memórias que preenchem a barra de conhecimento da Lily. E, como esperado, também há itens que modificam sua personagem, como módulos, exospinhas, upgrades para sua lâmina e trajes que são apenas cosméticos. Dependendo de certos colecionáveis e das escolhas feitas durante o jogo, é possível obter um final secreto, além de dois finais já definidos que são determinados por uma escolha feita momentos antes da última luta do jogo.
TÁ NERVOSO? VAI PESCAR! (Ops, espera um pouco… VAI JOGAR!)
Além disso, o jogo apresenta diversas mecânicas adicionais muito interessantes. O drone que te acompanha (não se preocupe, é o Adam, não o 9S) pode se transformar em uma arma de fogo e possui um modo de escaneamento para reconhecimento do ambiente. Em dois níveis especiais, Abismo Levoire e Altess Levoire, você joga exclusivamente com o drone em modo arma, sem espada.
Outra mecânica interessante é a pesca, que pode ser facilmente ignorada. Na minha primeira run, nem sequer sabia da existência dessa função. Foi só na segunda vez, quando explorei o jogo com mais calma, que descobri um novo mundo. Existem espécies de peixes que só podem ser encontradas em locais específicos, representando diversas regiões da Terra em diferentes áreas. Esse aspecto do jogo oferece uma recompensa gratificante para os jogadores que se dedicam à exploração completa.
MINHAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O JOGO
Stellar Blade é, no geral, um jogo excelente. Todos os cenários são únicos, cada um muito desértico à sua maneira, o que é raro atualmente. Seu único ponto negativo é a falta de originalidade na história, que se assemelha muito aos dois jogos mais recentes da franquia NieR. Apesar disso, há momentos em que ainda me prende bastante.
O design dos inimigos é bom e bastante diversificado. Claro, não chega ao nível de detalhamento de Bloodborne, mas ainda é muito bom. O desempenho é impecável; joguei no modo balanceado e devo admitir que é incrivelmente bem polido. Os controles são muito responsivos, e a estética das habilidades é extremamente satisfatória.
Em síntese, a hipersexualização me incomodou? Não. No entanto, é um fato que o espaço de fala não me pertence, e cada um vai interpretar de maneira diferente. Muitas personagens se baseiam em características semelhantes, como 2B, Cereza (Bayonetta), e até mesmo Tifa de Final Fantasy VII. Para quem está envolvido no mundo dos animes, é sabido que o fanservice é abundante e, embora possa incomodar alguns, é um aspecto que vende muito bem a obra.
CONCLUSÃO
Antes de tudo, entrei neste jogo com expectativas completamente diferentes. Imaginei um produto totalmente distinto. A Shift-Up e a PlayStation fizeram um trabalho excelente. Sob o mesmo ponto de vista a narrativa pode não ser a mais original, mas ainda assim é detalhada, com algumas pontas soltas que só se entendem no final. Visualmente incrível, e o combate lembra bastante os jogos da PlatinumGames.
Em contrapartida ao que foi comentado, este jogo é um híbrido entre soulslikes e jogos de ação, focando principalmente em ser um RPG de ação desafiador. Achei sim mais difícil do que os RPGs comuns, mas bem mais fácil do que A Ascensão do Ronin, último lançamento da Team Ninja também para PlayStation. A trilha sonora é boa, mas enjoa um pouco nos momentos de exploração.
Com toda a certeza, me sinto obrigado a convidar todos a darem uma chance a esse jogo. Ele não é o GOTY de 2024, mas é definitivamente um excelente jogo, o que é ótimo. Vale muito a pena experimentar algo de uma cultura tão única. Fico no aguardo da sequência que o estúdio recentemente confirmou que está planejando. Obrigado a todos por me acompanharem nessa jornada! Abaixo, como de costume, deixo a prova de que extrai o máximo de Stellar Blade.
Números
Stellar Blade (PlayStation 5)
Stellar Blade, lançado em abril de 2024 exclusivamente para PlayStation 5, é um RPG de ação que mescla elementos de soulslike e hack'n'slash. Controlando Eve, uma androide do 7º Esquadrão Aéreo, os jogadores exploram um mundo semi-aberto devastado por guerra, enfrentando inimigos alienígenas conhecidos como Naytibas. Com uma narrativa profunda e reviravoltas intrigantes, o jogo destaca-se pelo combate fluido, mecânicas de upgrade detalhadas e um ambiente rico em detalhes.
PRÓS
- Combate Incrível
- Nível de Detalhes
- Boa Variedade de Inimigos
- Exploração Satisfatória
- Estética Única
- Grande Quantidade de Itens Cosméticos
- Gráficos Belíssimos
- Excelente Direção de Arte
CONTRAS
- O Carisma da Protagonista
- História Clichê e um Pouco Confusa
- Trilha Sonora um Pouco Enjoativa