As histórias de vida do casal Ed e Lorraine Warren vem despertando a curiosidade do cinema de terror. Primeiro com Invocação do Mal, a franquia original que acompanha o casal em suas investigações paranormais. Depois, com o sucesso desta, começou a surgir spin-off que aumentam o Universo da franquia. A primeira história paralela foi de Annabelle, a boneca endemoniada que ganhou seu filme solo em 2014. Para quem não sabe, a boneca de fato existe, embora seja de pano e se encontra guardada no museu de coisas sobrenaturais do casal. Annabelle 2: A Criação do Mal é na verdade um prequel que explica o início dos problemas envoltos na boneca, e aparentemente escutou as críticas do longa anterior. Resta saber se o conteúdo geral consegue se sobrepor ao seu antecessor.
Para começo de conversa, é importante destacar que Annabelle 2: A Criação do Mal consegue melhorar aquilo que seu antecessor até fez bem, que é o terror. Na história, somos apresentados a um casal que, devido a um acidente acaba perdendo sua filha, a pequena Annabelle. Seu pai aliás era um produtor de bonecas e havia feito uma especialmente para ela. No entanto, depois de um tempo, atividades sobrenaturais começam a acontecer com o casal, achando se tratar de sua filha morta. O tempo contudo indica que não é bem verdade. Ao mesmo tempo, um grupo de meninas órfãs acabam sendo despejadas do local onde funcionava o orfanato. É então que o pai de Annabelle informa que elas podem ficar em sua casa. As meninas logicamente não sabem, mas aos poucos passam a ser atormentadas pela manifestação demoníaca.
Um prequel que ajuda a entender o passado da boneca Annabelle:
Com o pequeno resumo da história, pode parecer clichê toda a produção do segundo longa. E de fato o é, porém sua produção agrada e eleva os elementos de terror. A casa, antiga tem elementos, pinturas e toda sua arte que acaba criando um cenário que embora seja uma moradia ao mesmo tempo mostra certa insegurança. Os quartos e os momentos em que eles aparecem também são igualmente perturbadores. Não há excesso de escuridão, mas o seu contraste consegue manter uma insegurança e intimida. Em especial as cenas onde a entidade aparece são muito bem produzidas. Annabelle ainda usa bastante de jump-scares, o que em A Criação do Mal isso acontece com menos frequência. As situações e toda a ambientação é que fazem a sensação de incômodo no telespectador. Ponto positivo para o produtor, David Sandberg. O mesmo que produziu o também competente Quando as Luzes se Apagam.
Com toda essa construção, Annabelle 2: A Criação do Mal é mais pesado que seu antecessor e também que seu sucessor. Não que exista momentos de sangue, mas as situações são mais perturbadoras do que as apresentadas anteriormente pois é possível sentir uma sensação de medo ainda maior. Até pelo fato de que a personagem principal do filme é uma deficiente física. E como normalmente ocorre em filmes de assombração, em um primeiro momento, ninguém acredita nela. Então, convenhamos que além de não poder “fugir” dos problemas que enfrenta, a menina é desacreditada o tempo todo, até mesmo pelo homem que a acolheu e suas amigas. Claro que aos poucos, percebe-se que a menina não estava fantasiando, e que algo realmente existe.
Atuações satisfatórias com uma envolvente direção:
Em termos de atuação, o longa ase apresenta mais promissor ainda, com atores escaladas que, embora pudessem ter um tempo de tela maior, ainda assim asseguram seus papéis. Talita Batheman interpreta Janice, a jovem deficiente física que durante todo o tempo é atormentada pelo fantasma de Annabelle. Que na verdade não é um fantasma, mas sim um demônio. A jovem consegue segurar com bastante proeza os momentos de tensão que o longa pede, sem beirar ao caricato. É possível sentir o medo que ela sente e a incapacidade que ela sente em não ser acreditava e nem poder escapar dos problemas. Junto dela, outra jovem rende as câmeras boas atuações, Linda, interpretada por Lulu Wilson é uma das meninas que também se torna atormentada pela criatura. Já o casal Mullins, vividos por Anthony LaPaglia e Miranda Otto são misteriosos.
Na verdade, a Senhora Mullins só ganha tela após boa parte dos acontecimentos, deixando todo o legado da atuação para o marido, Samuel. Com poucos olhares mas com muitas expressões, é óbvio que aquele homem guarda um segredo. Bem, se toda a estrutura técnica de Annabelle 2: A Criação do Mal consegue resgatar um terror ainda mais essencial, o mesmo não pode ser dito de seu roteiro. Infelizmente, ele passa a cair ainda mais em situações surreais que precisam ser realizadas para que a história consiga fluir. O que infelizmente acaba que, em determinados momentos retirando a suspensão de descrença do espectador. Esta situação só é aliviada pela condição deficiente da personagem principal, que aliás é um excelente arcabouço para torná-la ainda mais indefesa.
O roteiro é bem aquém de todos os outros aspectos de Annabele 2: A Criação do Mal.
Contudo, até mesmo determinados pontos da narrativa criam uma espécie de burrice coletiva que não havia necessidade alguma. Samuel informa que não pode abrir uma porta. O que acontece? A jovem Janice vai até a porta para bisbilhotar. Barulhos e ranhuras na casa podem ser ouvidas, as pessoas perguntam se tem alguém presente. Velhos clichês que demonstram que o roteiro poderia sim ser bem mais trabalhado. Mesmo com esta decepção no roteiro, Annabelle 2: A Criação do Mal consegue fechar o seu ciclo de maneira coesa. E incrivelmente, seu gancho é satisfatório para o primeiro longa, lançado em 2014. Até pelo fato de que esse filme é uma prequel, ou seja, seus acontecimentos são anteriores.
Mesmo assim, ele não explica tudo, embora dê uma ótima pincelada de como surgiu o demônio que atormenta junto a boneca Annabelle. Porém, ao mesmo tempo que cria esse gancho, ele acaba entrando em certa contradição quando colocado em similaridade ao seu antecessor, já que a interpretação pode ser ambígua. A jovem foi possuída ou não? E se foi, qual o motivo de sua morte no primeiro longa ter colocado o demônio na boneca se ele já estava vinculado a ela? Bem, são apenas perguntas simples que não estragam a experiência. Mas, como um Universo interligado podem fazer com que os fãs mais atentos se perguntem e se questionem. Uma espécie de continuidade e de que as histórias se interliguem é fundamental ainda mais em universo tão vasto quanto os casos dos Warren.
Sem dúvida, é o mais aterrorizante e o melhor da franquia da boneca demoníaca:
No fim das contas, Annabelle 2: A Criação do Mal se sai superior ao seu antecessor na maior parte do tempo. Sua produção, filmagem e trilha sonora tem uma produção bem mais adequada para o gênero. O uso de sombras e de enquadramentos que colocam as criaturas quase que fora de tela ajudam com a sensação de timidez e medo. Algo que James Wan consegue fazer muito bem nos filmes de Invocação do Mal. As atuações também não deixam a desejar de forma alguma e não são clichês, sendo a jovem Janice a cabeça de chave que leva o longa para onde deve ir. Até mesmo nos momentos em que a criatura aparece, as cenas são bem produzidas, mesmo que o longa busque usar mais a situação de indicar o perigo, do que mostrá-lo a todo momento.
Infelizmente, o roteiro é sem dúvida a pior parte do longa. O que acaba descredibilizando o trabalho de produção de Annabelle 2: A Criação do Mal. É possível entender que para a história andar, é necessário algumas atitudes dos personagens. Contudo, isso não quer dizer que os mesmos devam virar pessoas sem o mínimo de inteligência. Situações surreais podem ocorrer, e novamente a maior parte delas é salva pela impossibilidade da personagem principal. Porém, alguns outros momentos em que ela ou as outras meninas do orfanato participam poderia muito bem ser retiradas ou melhor trabalhadas. O clichê de perguntar se tem alguém já é tão batido e defasado que sem dúvida alguma, uma pessoa naquela situação nunca iria perguntar isso. Sendo assim, pesando os prós e contras, Annabelle 2: A Criação do Mal é mais assustador que seu antecessor, isso sem dúvida é fato.
Números
Annabelle 2: A Criação do Mal
Tecnicamente superior em produção e atuação, Annabelle 2: A Criação do Mal ainda esbarra em um roteiro com alguns furos importantes.
PRÓS
- Direção bem trabalhada no gênero terror, desde os cenário até a trilha.
- Atuação contundente dos principais personagens.
- Maior uso dos momentos de suspense do que de Jump-Scares.
CONTRAS
- Roteiro com momentos de burrice aquém da inteligência humana.
- Final consistente, mas que esbarra em informações do primeiro longa.