Quando um filme faz dinheiro, uma continuação é óbvia tal como a Bíblia começa com Gênesis e termina em Apocalipse. Nesse caso, A Freira (The Nun), filme de terror lançado em 2018 pode levar o troféu de rentabilidade. Orçado em 22 milhões de dólares, o filme que trouxe o demônio Valak ao conhecimento pagão angariou nada menos do que 365 milhões. O suficiente para que o pessoal da Warner Bros. decidisse produzir uma continuação de tudo que aconteceu na Abadia de Santa Carta, nas terras da Romênia. Assim, seu retorno veio com A Freira 2 (The Nun 2), fazendo um tour pela Europa, dando uma paradinha na França. Trazendo novamente a Irmã Irene de Taissa Farmiga e companhia, temos a mistura de entidade, relíquia católica, exorcismos e novas aparições. Será que esse caldo entorna ou o feitiço realmente tem sentido? É o que veremos nessa Crítica do Guariento Portal.
A Freira 2 se destaca por suas cenas de ação, adicionando uma camada de intensidade à narrativa. No entanto, essa abordagem pode ser vista com ambiguidade, já que em alguns momentos, o filme parece mais uma aventura de ação do que um filme de terror. Essa mudança de tom em relação ao primeiro filme pode desapontar espectadores que esperavam uma experiência predominantemente aterrorizante. Embora evolua em relação ao primeiro filme, ainda carece de originalidade e surpresas. … No entanto, é importante notar que o filme consegue criar uma atmosfera mais dinâmica e oferece cenas de ação intrigantes que podem atrair um público em busca de uma experiência diversificada dentro do gênero.
Crítica de Esdras Ribeiro no Sítio Almanaque Geek sobre A Freira 2 – Nota: 3/5.
A Freira 2 é um Indiana Jones com exorcismo e freiras.
Primeiramente, é fundamental neste Crítica ritualística que se tornou analisar A Freira 2 é destacar o aspecto que mais salta aos olhos. O filme, embora categorizado como terror e com muitas cenas que abusam de jumpscares e outras que realmente criam atmosfera acaba partilhando muito mais o universo de aventura e ação. E não por menos, foi carinhosamente apelidado de Indiana Jones do Invocaverso. Os motivos são óbvios. Basicamente, temos uma batalha contra o tempo em que uma freira endemoniada busca um artefato místico da Igreja Católica para trazer seus poderes de volta a ativa. E do outro lado uma Freira que pensou ter derrotado essa criatura, que além de deter o demônio Valak, terá de salvar seu amigo dos tempos áureos da Romênia. Sim, você não está vendo o argumento de O Templo da Perdição (Temple of the Doom), mas sim de A Freira 2.

Esse apenso no mundo de aventura do qual até mesmo Uncharted e Tomb Raider também tiraram faz de A Freira 2 um filme bem diferente de seu antecessor. E com bem mais pontos positivos. Tanto em questões técnicas, é o caso da fotografia e direção, como a atuação dos personagens e até mesmo, de forma bem pasma, no roteiro. Aspecto esse que na maior parte das vezes é tão furado quanto um queijo parmesão produzido na Itália, e esse tem uma parte nesse aspecto. Claro que não estamos a frente de um filme singular do terror tal qual O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby) ou O Exorcista (The Exorcist). A Freira 2 consegue trazer momentos que realmente a câmera e a escuridão são bem utilizadas, especialmente no terceiro ato, que vira um pandemônio com direito a um bode amigo do Black Phillip de A Bruxa (The Witch) de 2015.
Michael Chaves não foi ruim, sendo ajudado pelo grupo de atores.
A escuridão, ou melhor, a falta de luz está ali por um motivo. Óbvio que é para esconder. Mas nota-se que muito do que o diretor Michael Chaves aprendeu em suas andanças pelo Invocaverso, como em A Maldição de Chorona (The Curse of La Llorona) ele estudou melhor para fazer A Freira 2. Muito é claro emulando o criador de todo esse Universo, James Wan. Há uma tentativa de criar sustos, muito pela trilha sonora ou a falta dela, assim como pelas imagens que pulam na tela. Isso é clichê? Com toda certeza, mas é um avanço uma vez que a régua estava bem baixa quando se faz um comparativo com o filme anterior. A fotografia e a alteração das cores em determinados pontos fazem o devido trabalho de trazer a atenção do espectador para um lugar que não deveria ir. É então que o susto acontece.

Porém, Valak poderia querer dominar o mundo e ninguém estaria nessa expectativa se os personagens fossem que nem portas. Pelo menos não é o que acontece aqui. A Irmã Irene de Taissa Farmiga está mais madura. Até pelo fato de já ter lutado contra o mesmo demônio. Mesmo sem entender onde essa aventura pode chegar, ela sabe que tem que lidar com sua arqui-inimiga novamente. Ela se torna, com as devidas vênias, uma boa final girl no terceiro ato de A Freira 2. Já Maurice Theriand, personagem de Jonas Blocket, que fora possuído ao final de 2018 também cria uma certa empatia. Ele também está mais velho e menos brincalhão, mas ainda assim guarda em sua alma – de maneira literal – os acontecimentos na Abadia de Santa Carta. Eles são os responsáveis, cada um em seu núcleo, pelo andar da carruagem de A Freira 2.
Início lento e final definitivamente corrido com muita coisa na tela.
O coro de personagens secundários aparecem como uma equipe de apoio. Temos uma nova freira, a Irmã Debra de Storm Reid que lembra muito a Irmã Irene da Romênia, que não sabia se devia fazer seus votos ainda. Dentro da escola onde Maurice passou a viver, temos a Professora Kate (Anna Popplewell) e sua filha, Sophie (Katelyn Rose Downey) que servem para aquecer o coração dos espectadores por ser o interesse amoroso de Maurice. Embora todo mundo saiba que ele preferia ter ficado com a Irene desde o fim do primeiro longa. Todo esse grupo se une ao final para derrotar Valak, num terceiro ato que perde a suspeição de descrença em um exorcismo tradicional. Porém, ganha em dinamismo. O terceiro ato é clichê, mas consegue criar uma sensação de correria e desespero que o filme construiu, sendo Valak uma entidade muito além de Llorona e beirando a Pazuzu.

Estranhamente, a parte boa do roteiro é justamente essa ligeireza de seu terceiro ato, ao mesmo que é mais parado logo no início de A Freira 2. Logo nos primeiros momentos do filme, somos apresentados ao real motivo de que Irmã Irene deve caçar Valak. Ela está matando padres e sacerdotes que tenham alguma ligação com os olhos de Santa Luzia. No entanto, o filme praticamente para nesse ponto justamente enriquecendo mais seus personagens, mesmo que isso leve alguns a acreditarem em uma lentidão maior que seu antecessor. Essa montanha russa faz sentido na construção dessa narrativa uma vez que novos personagens são apresentados. Algumas situações não funcionam, como o bullyng promovido com a jovem Sophie. Embora seja um preparativo para a criatura que mais assustou aquela escola, não a Freira, mas o bode. E sim, era Valak, mas dessa vez, na forma de um caprino.
Aqui temos os problemas. E sim, o roteiro é um deles.
Claro que tudo não é felicidade nesse mosteiro, e é possível sim pegar um cabernet sauvignon para apreciar esse queijo parmesão que é o roteiro. Aliás, essa sem dúvida é também a parte mais negativa, uma cruz invertida dentro de A Freira 2. Óbvio que não é necessário esperar inventividade de algo que aparenta simplicidade. Porém, temos a velha história daquilo que tenta sempre ser maior do que seu início. E nesse caso, temos mais sustos por metro quadrado, mas coisas piscando na tela, mais momentos de aparente desespero. Sendo que no fim das contas, a sensação de perigo é praticamente mitigada pela quantidade de jumpscares que aparecem. Novamente, alguns funcionam com maestria, com direito a berro de Os Pássaros (The Birds) de Alfred Hitchcock, ou o poema O Corvo de Edgar Allan Poe melhor dizendo. Mas diminuir a quantidade e aumentar a qualidade desses sustos seria melhor.

Mesmo com esse dinamismo, A Freira 2 abusa demais dos mesmos artifícios que fizeram o Invocaverso ser o que é hoje, um Universo de Terror. Só que de uma forma batida que mostra seu cansaço. Visões para todo o canto, uma junção de sangue com Santa Luzia e Lorraine Warren (Vera Farmiga) para mostrar o motivo dos superpoderes ao nível X-Men de Irmã Irene. As respostas que levam ao exorcismo de Valak acabam fazendo da protagonista algo não humana, algo diferente do visto em O Exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose). Desta forma, sai a tradicionalidade, e entra uma espécie de show off que pode tirar alguns de toda a narrativa do longa. Porém, se a Irmã Irene não foi subutilizada, esse papel coube a quem detém o nome do filme. Sim, a Freira mesmo perdeu seu posto de criatura realmente assustadora.
A trilha sonora não é de impacto, e se usa mal a própria Freira.
Outro aspecto complicado nesta Crítica é que, diferente do primeiro filme que apostava tudo em uma atmosfera de terror dentro de uma abadia. Aqui, o ambiente não é tão assustador. Muito pelo fato da brincadeira de anexar uma aventura sobrenatural dentro do Invocaverso. Assim, até mesmo o papel da Freira, celebrado por Bonnie Aarons, fica em segundo plano por não ser usada da devida forma. A centralização do mal de Valak, e sua ideia profana de se vestir como uma Freira é muito melhor utilizada no primeiro longa. Que aliás, se juntasse as melhorias na direção e nos personagens seriam um filme melhor que A Freira 2. Acontece que, de tanto aparecer, Valak perde seu protagonismo com outras criaturas que sabemos que são seus representantes. Porém, o suspense é melhor utilizado. E que, sabendo como é o Invocaverso, mais um spin-off é possível tal como o de Anabelle.

Há também uma pequena pérola escurecida pela presença demoníaca. É a trilha sonora, que embora seja coerente, ainda assim é inferior ao primeiro longa. A trilha original de Abel Korzeniowski em um corredor de cruzes que levam ao local onde a presença de Deus termina marca a personagem de A Freira 2. Porém, a trilha não está presente, e nenhuma outra destaca a fisionomia tenebrosa de Valak ou de quando Maurice é possuído completamente, com uma ótima maquiagem. Dessa forma, temos um filme que consegue exprimir uma maturidade na direção do horror – tendo como ídolo James Wan – e com pontos positivos que superam o anterior. Mas acaba que por decair ao lado do anjo do abismo no uso exacerbado de clichês e no uso incorreto de sua principal criatura. Afinal, o nome do filme é A Freira 2 e não Irmã Irene e nem mesmo O Bode.
A Freira 2 é aventureiro, mas com os mesmos clichês de sempre.
Em suma, vem a pergunta de qualquer espectador nesta Crítica, o filme A Freira 2 é divertido? De certa forma, sim. Claro que muito da propaganda da Warner Bros. destaca o filme como um dos mais violentos do Invocaverso. E de fato o é. Mas essa não é a cereja do bolo. Melhor que o seu antecessor de 2018 é sem dúvida, e ganha os devidos parabéns por tentar mesclar algo diferente, em tom mais aventuresco tal como Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark). Além disso, o roteiro é rápido em criar o conflito e gastar o seu tempo total de 110 minutos em aprofundar seus personagens nos dois primeiros atos, enquanto o terceiro se torna um pandemônio que nem Seiya em Os Guerreiros do Armagedon daria conta. A direção de Michael Chaves também está mais madura, aprendendo com seus erros passados.

Porém, mesmo com o uso agradável de sombras, escuridão e efeitos especiais, o roteiro de A Freira 2 ainda é seu problema. Como o é nessa franquia spin-off completa do Invocaverso. Ter amadurecido não quer dizer que se tornou algo espetacular, e Michael Chaves ainda tem telegrafado em sua mente o uso abusivo de todos os jumpscares possíveis e imaginados. Alguns funcionam, mas outros acabam levando a perda de uma expectativa completa. Pois você sabe exatamente o que vai acontecer. A trilha sonora não é tão interessante e uso abusivo da fisicalidade de Valak acaba jogando o demônio para escanteio, fazendo sua presença ser ameaçadora apenas no terceiro ato do filme. Assim, na queimação de relíquias religiosas, A Freira 2 consegue divertir, mas não espere por algo assustador. Tem seus defeitos mas consegue ser uma ótima aventura endemoniada nesse mundo que, pelo visto ainda vai render muito dinheiro.
Números
A Freira 2 (2023).
Ela está de volta! Valak e Irmã Irene mais uma vez entrarão em uma briga de gato e rato por uma relíquia católica, com participação especial de um intrépido bode e um exorcismo com vendaval. Isso é A Freira 2 (2023).
PRÓS
- Há um certo dinamismo em mesclar terror e aventura, que lembra muito Indiana Jones, com direito a relíquia sagrada.
- Os personagens estão mais maduros, e a direção consegue trazer a simpatia com boas atuações, em especial de Blocket e Farmiga.
- O terceiro ato é eficiente e um derradeiro pandemônio, trazendo um clímax bem cinemático.
- Quando os sustos dão certo, eles realmente funcionam, em especial a aparição do primo do Black Phillip.
CONTRAS
- O roteiro é ainda o maior problema, usando de visões, alucinações e até mesmo poderes especiais para a narrativa progredir.
- A trilha sonora não é um grande destaque, em relação ao longa anterior, mesmo que a direção esteja mais madura.
- Valak é ao mesmo tempo tão utilizada - de forma errada - e subutilizada, que se perde em seu próprio filme.
La Monja 2 es mejor que la primera. Sin embargo, pasé más sustos en la Abadía de Rumania que en Francia. Y coincido en que tiene un tono de aventura que ningún otro tiene.
Hola Pablo, me alegra que hayas comentado aqui en Guariento Portal. Sí, la Abadía de Santa Carta en Rumania es mucho más aterradora. Pero creo que The Nun 2 termina perdiendo parte de su terror para crear esta situación de aventura. Esto hace que la película tenga menos sustos, pero más dinámica.
https://guarientoportal.com/curiosidades/a-freira-castelo-corvino-romenia/
Pensé que la película era terrible. Peor que el primero. Sin sustos, Valak es un personaje menor. Irene es estúpida. Creo que estará a la par de Llorona, que es un bombazo.
Patricia, gracias por comentar aquí en el Guariento Portal. Así que, de hecho, la película tiene menos sustos, pero no me pareció peor que la primera. Creo que entonces te debería gustar El Exorcista, por ejemplo, la posesión clásica. Pero entiendo a quién realmente no le gustó La Monja 2.
https://guarientoportal.com/artigo/o-legado-de-o-exorcista-1973/