R’hllor e o Grande Outro são figuras frequentes no mundo de Game of Thrones. Contudo, a dualidade do gelo e do fogo, do bem e do mal existe na vida real, no Zoroastrianismo. Suas histórias combinam com o conflito de Ahriman e Ahura Mazda.
Game of Thrones já acabou, com um final não muito convincente é verdade. Contudo, é inegável que o Universo construído nos livros por George Martin e pelos produtores na série é cheio de referências. Pelo menos, com algumas coisas do mundo real. No meio das centenas de personagens que aparecem e desaparecem a todo o momento pela saga, duas invocam um ar de misticismo. A primeira é Quaithe, encontrada por Daenerys em Qarth, e depois aparece de tempos em tempos em seus sonhos. A segunda, que já tem um papel de maior proeminência é Melisandre, a sacerdotisa vermelha do auto proclamado Rei Stannis Baratheon. Ambas vieram de uma região longínqua e seguem uma fé exótica em Westeros.
Para os seguidores desta religião, R’hllor, o Deus Vermelho é único. Ele é o responsável pela vida, pelo fogo e por tudo que existe. Contudo, existe sua contra parte em uma eterna dualidade. O chamado Grande Outro, que representa tudo que é oposto. O frio, a morte e a escuridão. Seu nome não pode ser pronunciado. Bem, por mais que o criador de todo esse mundo tenha deixado as claras essa ideia dualista, as características de R’hllor se coadunam com uma antiga religião do Oriente Médio, mais precisamente no Irã. Creditada como a primeira religião inteiramente monoteísta a ter existido, trata-se do Zoroastrianismo. O nome pode até parecer fantasioso, mas tal manifestação é datada do primeiro milênio antes da Era Cristã. Seu principal expoente era Zoroastro ou Zaratustra. Vindo do avéstico, tal expressão significa intenção maligna. É um dos principais asseclas do lado maligno da força, Ahriman.
Com preguiça de ler toda toda a matéria? Não devia. Eu sei que você gosta de Game of Thrones e mitologia, afinal está aqui não é mesmo? E outra, essa curiosidade é bem pequena. Contudo, se você quer saber um resumo sobre Ahura Mazda e Ahriman, as entidades que embasaram o conflito de R’hllor e o Grande Outro em Game of Thrones, confira:
Game of Thrones apresenta um Universo gigantesco, com bastante criatividade de seu criador, George Martin. Contudo,o autor dos livros que embasaram a série da HBO tirou suas origens do mundo real. Uma delas está na exótica religião do Deus Vermelho, chamado de R’hllor, seguida bem mais em Essos do que no continente que grande parte do conflito acontece, Westeros.
Levada as telas através de seus sacerdotes, o Deus Vermelho é uma entidade que controla o fogo. Tendo uma contenda com uma contraparte. Chamada de O Grande Outro. Enquanto um é um ser de luz, o outro é de trevas, enquanto um dá a vida, o outro dá a Morte. Essa similaridade aparece em uma religião antiga, o Zoroastrianismo, que apareceu primeiramente no atual Irã.
Para os adoradores dessa religião, o mundo é dividido entre a luz e a sombra, entre o bem e o mal. O Senhor do Fogo é chamado de Ahura Mazda, principal personagem desta cultura. Contudo, ele possui um irmão maléfico, responsável por destruir tudo e trazer as trevas ao mundo, Ahriman. Em algum momento, Ahura Mazda e Ahriman se enfrentaram para decidir quem pode governar o Universo.
Em Game of Thrones, com o desenrolar da história, fica evidente que o Grande Outro, a contraparte do Senhor da Luz se encontra atrás da Muralha. Os caminhantes brancos são o exército deste Outro, que busca apenas trazer o frio e a morte para os homens. Uma história bastante similar com a crença da religião zoroastrista.
Muitos pontos desta religião guardam similaridades com os principais pensamentos teológicos da modernidade. O Zoroastrianismo prega a existência de uma Paraíso após a morte, o momento do Juízo Final e a vinda de um Messias. Tudo isso também é visto no Cristianismo, no Judaísmo e no Islamismo. Porém, a ênfase desta religião está na ideia de que o mundo é dual; ou seja, existem sempre forças antagônicas entre si que geram uma espécie de equilíbrio, ou que na pior das hipóteses, sempre se confrontam. Tal como ocorre entre o Grande Outro e R’hllor nas terras de Westeros e de Essos.
Fazendo uma analogia, R’hllor seria a personificação de Ahura Mazda, o deus do bem. Era considerado como a entidade da sabedoria, da abundância e da fertilidade. Tal como o Deus abraâmico (assim sendo Alá, Yahweh e Jeová), Ahura é onisciente, onipotente e onipresente. Ou seja, ele sabe de tudo, é todo poderoso e está em todos os lugares ao mesmo tempo. É o criador da vida.
Também acreditava-se que seus seguidores teriam o dom de profetizar eventos desde que Ahura Mazda assim desejasse. Da mesma forma que Melisandre fez na série inúmeras vezes, embora de maneiras errôneas. Outra ligação é com o fogo, o calor e o sol, uma vez que Ahura Mazda é pai de Atar, o deus do fogo do céu (que no hinduísmo seria Agni), e de Mitra, senhor do sol. Para os seguidores do zoroastrianismo, estes seres eram chamados de Ahuras, palavra próxima ao nórdico Aesir, representando a parte benigna desta dualidade.
Do outro lado, a personificação maligna ficaria a cargo dos Devas, sob o domínio de Ahriman. Senhor das trevas, da morte, da escuridão e de todo o mal que você possa imaginar. Da mesma forma que o Grande Outro é. Ahriman era o responsável por levar a devassidão e a corrupção todos os seres humanos. Pode parecer similar a Lúcifer, o anjo caído dos textos bíblicos, porém Ahriman era na verdade irmão gêmeo de Ahura Mazda. Sendo assim, uma representação perfeita da dualidade na mesma escala, uma vez que o Anjo Caído foi uma criação divina, e não um parente como no caso do Zoroastrianismo. A luta então entre essas duas forças antagônicas seria eterna. Um verbete da Enciclopédia Brittanica sobre estes eventos deixa claro que o fim seria a derrota de Ahriman.
“Para ajudá-lo a combater a luz (…) Ahriman criou uma horda de demônios que encarnam a inveja e características similares. Apesar do caos e do sofrimento que afligem o mundo em virtude de seus massacres, fiéis esperam que Arimã seja derrotado no fim dos tempos por Ahura Mazda. Confinados a seu próprio domínio, seus demônios vão devorar uns aos outros, e sua própria existência será apagada.”
Lembra que Ahura Mazda é pai de Atar, o senhor do fogo do céu? Então. Sabe qual é uma das principais representações do Zoroastrianismo? Uma tocha ardente, igualmente chamada de Atar. Os sacerdotes tinham que visitar a tocha ardente pelo menos cinco vezes ao dia em orações. Mesmo que de maneira errônea, os sacerdotes dessa religião foram vulgarmente chamados de “Adoradores do Fogo”. Mesmo que tal elemento fosse apenas um canal de comunicação entre eles e sua deidade. O fogo dos principais templos jamais eram apagados, uma vez que a perda do brilho podia indicar a vitória de Ahriman frente as forças do bem. Pois bem, depois de tudo isso, acho que fica claro de onde Martin pegou a fonte, pelo menos no que diz aos Senhor da Luz. Afinal, a noite é realmente escura e cheia de terrores.
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Morador de Japeri – RJ (Baixada Fluminense para os mais íntimos). Bacharel em Ciências Econômicas pela UFRRJ e Pós Graduando em Defesa Nacional pelo IMES. Outrora Agente Administrativo, agora Auditor Federal. Campeão da Região de Johto e Herói de Hyrule. Fundador do Guariento Portal, site destinado a curiosidades e críticas de filmes e jogos em geral.