Antes que a Marvel criasse seu Universo Cinematográfico. Até mesmo antes da existência de um universo de Invocações, Kaijus e Monstros, houve um suspiro de quase vida. Tendo como premissa o sucesso inacreditável de A Múmia (1999), que trazia a criatura egípcia depois de longos anos enterrada em seu sarcófago, a Universal decidiu criar uma salada de frutas de histórias. Nascia Van Helsing: O Caçador de Monstros, de 2004. Com um elenco de estrelas de Hollywood, o longa se concentrava na já conhecida batalha do Conde Drácula, o vampiro da Transilvânia contra Van Helsing. Cheio de defeitos, Van Helsing é o tipo de filme paradoxal, pois é uma diversão pipoca. E é por isso mesmo que o Guariento Portal prepara sua bagagem pelos Cárpatos, atravessando abadias sombrias e castelos inspiradores para a Konami em mais um Revisitando o Passado e disponível na Amazon Prime Vídeo.
“Van Helsing falha em muitas coisas, mas não nas cenas de ação. Stephen Sommers acerta em cheio nelas, principalmente na cena onde Van Helsing enfrenta as esposas do Drácula pela primeira vez. Porém o CGI usado é deveras falho, chegando a parecer e que estamos vendo uma gameplay de um jogo em vez de uma obra cinematográfica. Muito desse CGI usado podia ter sido trocado por efeitos práticos, que, além de darem uma aparência mais real aos monstros e às batalhas. É uma pena que não tenham usado. Van Helsing é um filme com um grande potencial, e com uma ideia fantástica – que é a de unir os mais famosos monstros já feitos -, porém, ele falha mais que acerta. Pelo menos, não deixa de divertir o público com suas cenas de ação envolvendo os icônicos monstros, mas também não oferece nada além disso.”
Ayrton Magalhães, em sua Crítica de Van Helsing: O Caçador de Monstros, no sítio Nos Bastidores.
UMA ESTRANHA MISCELÂNEA GÓTICA QUE NA VERDADE É AÇÃO:
Primeiramente, por mais que as histórias que embasaram Van Helsing: O Caçador de Monstros sejam do estilo gótico trevoso, ainda assim o filme em questão é genuinamente de ação. É como se o Indiana Jones, ao invés de buscar as Pedras de Shankara na verdade fosse caçar o Drácula. Assim, não espere um forte tom de terror em sua narrativa, mesmo usando personagens de Stoker (de Drácula), de Shelley (de Frankenstein, ou o Prometeu Moderno) e de Stevenson (de O Médico e o Monstro). No entanto, isso não é um ponto negativo. Na verdade, esse conceito de ação na verdade transforma Van Helsing em um filme rápido e dinâmico. Com um primeiro ato que já demarca o protagonista e seus feitos, o espectador parte definitivamente para os distantes terras do Leste, apavorada por todo tipo de maldição.
Assim, após uma missão mais ou menos bem sucedida em uma Paris sem a Torre Eiffel, Van Helsing (Hugh Jackman), protegido pelo Vaticano é enviado para algum lugar da Transilvânia. Onde o sol fica mais escondido do que em Forks, nos Estados Unidos. Seu intuito é destruir o Conde Drácula, ninguém menos que O Vampiro Original, antes que a família Valerious seja dizimada. Como última descendente direta da família, temos Anna, a Princesa dos Ciganos (Kate Beckinsale), que está mais bela do que nunca. É necessário destruir Drácula e impedir que Anna morra. Algo simples, mas nada fácil, pois Drácula conta com três esposas que não vão poupar esforços, assim como um lobisomem como mascote para obter esta conquista. Tudo isso ocorre cenários definitivamente muito bem construídos. Desde a pequena vila ao redor do Castelo de Frankenstein, até o próprio covil vampírico, o cenário é grandioso e bem construído.
A PARTE TÉCNICA DE VAN HELSING TEM O SEU VALOR E DESTAQUE:
Um deleite visual em termos de cenários. O mesmo, para o padrão de 2004 são os efeitos especiais. Até hoje, o Lobisomem negro da sequência final é um das mais belas representações de um licantropo dentro de uma mídia visual. A trilha sonora também é competente. Dando uma marcha de Carnaval para os acontecimentos e engrandecendo bailes e comemorações. Então, é possível dizer que tecnicamente, Van Helsing: O Caçador de Monstros acerca em seus cenários, efeitos e cinegrafia de modo geral. Pena que toda essa palha que poderia ser queimada não foi o suficiente. Existem erros colossais no filme, e especialmente naquilo que é essencial em uma história, sua narrativa. Mesmo com cenas inacreditáveis de ação, elas acabam perdendo parte de seu esplendor quando ressaltado pelo roteiro, e pelas mesmices da direção de Stephen Sommers, o mesmo diretor do já citado A Múmia (1999).
Simplesmente, o roteiro de Van Helsing: O Caçador de Monstros é um emaranhado de pequenos curtas onde o que vale é a ação e a correria dos personagens. O carvão de unir Drácula, Lobisomem e Frankenstein em uma mesma narrativa não conseguiu ligar esse pavil, sendo uma história praticamente inexistente. O casal protagonista vivido por Jackman e Beckinsale, em verdade, é uma versão mais sombria dos O’Connor de A Múmia e sua continuação. Claro que com menos humor nestes personagens, mas colocado na sombra do frade Karl, o ajudante de Van Helsing. Até esse toque de humor é desmedido, sendo que o filme não sabe para qual lado caminhar. Bate-se palmas para os atores envolvidos, mas o que temos de seus personagens é a pura essência do clichê de um jogo de RPG tradicional como Diablo, com um ato final já esperado desde o meio do longa.
PORÉM, O ROTEIRO É MAIS FURADO DO QUE NAVIO DE PIRATA:
Há uma tentativa de vincular camadas nos personagens, como o passado de Van Helsing ou o sentimento pelo mar e pela família de Anna. Agora, tanto o antagonista Drácula (Richard Roxbourgh), quanto a releitura do Monstro de Frankenstein incomodam. O primeiro parece um ator saído de uma peça da Broadway ou de uma novela indiana. Sao tantos trejeitos e desesperos em cenas simples que transformam Drácula em algo pastelão. Já Frankenstein não é malvado, apenas quer viver. Pela que isso é surrado no roteiro vários vezes no decorrer do filme. Os personagens não guiam a história, como normalmente deve ser. Mas sim são guiados. E isso acaba recaindo na direção de Sommers. Mesmo que não seja um longa que estrague a carreira de alguém, Sommers parece se preocupar exclusivamente com os elementos e a grandeza de cenas de ação e da computação gráfica.
Assim, é claro que existem materiais bem mais consistentes sobre Drácula a disposição do leitor, do jogador e do espectador. Castlevania, na Netflix e a mesma série homônima de games da Konami por exemplo são maios coesos em narrativa. No entanto, ao fechar esse Revisitando o Passado sobre Van Helsing: O Caçador de Monstros, é normal se perguntar se o filme é realmente divertido. E a resposta pode ser paradoxal. Ele é. Van Helsing consegue ser um filme estilo “pipoca” onde os ícones do terror apenas se encontram. Por isso mesmo, é necessário desvincular completamente as histórias já conhecidas de cada criatura. Sabendo disso, é possível se divertir em uma Transilvânia sombria onde a parte técnica é o maior agrado. Desde o figurino dos personagens, até mesmo a ambientação dos cenários e sua trilha sonora. Tudo parece convergir para uma aventura bem dinâmica e gostosa de se asssitir.
DIVERTIDO? SIM. MAS PODERIAM FAZER UM BOM REBOOT DESSE FILME.
Assim, o problema mais evidente é o roteiro decadente, que acaba eliminando os personagens e quebra a narrativa. Há uma estranha faceta de humor que em nada agrega. Mesmo com a força de um filme de ação, existem pinceladas de horror, que nada tem haver com o sobrenatural de O Exorcista (1973) ou o gore de Jogos Mortais X (2023). Houve um grande desperdício narrativo aqui, não tão pior do que A Liga Extraordinária (2003). Mesmo assim, Van Helsing merece ser aquele tipo de filme que poderia ganhar um reboot, tal como a franquia dos Cenobitas Hellraiser teve em 2022. Seu único longa, de 2004, consegue ser falho e capenga naquilo que poderia ser um raio de sol. Mas ele acaba tendo seus pontos de luz que totalizam os seus 131 minutos de brigas entre o homem que observa o luar e aquele que deseja o sangue de outro.
Números
Van Helsing: O Caçador de Monstros
Para proteger os últimos remanescentes de uma família lendária, Van Helsing é mandado para as terras geladas da Transilvânia em busca de seu passado e para confrontar ninguém menos do que Conde Drácula, assim como outras quinhentas criaturas nesse filme inteiro de ação, com pouco horror.
PRÓS
- Os cenários são bem ricos e decorados, lembrando o Leste Europeu do Século XIX.
- Ótimas cenas de ação, visto que o longa se foca estritamente em correria de personagens de um canto ao outro.
- Boa trilha sonora, que engrandece os momentos certos e é responsável por parte do pouco horror.
CONTRAS
- A narrativa é desperdiçada em nível estelar. Tanto conceito, mas pouquíssima aclamação na hora do desenvolvimento.
- Os personagens são unidimensionais ao extremo, parecendo que o espectador está em uma roda de RPG tradicional.
- O humor, visto em A Múmia, aqui é colocado, mas fica desconexa com a narrativa mais sombria proposta.
- A direção de Stephen Sommers parece se focar exclusivamente nas cenas de ação, deixando todo o resto construído em segundo plano.