LERAM AS CARTAS, E SUAS MENSAGENS NÃO SÃO AS MELHORES:
Quer você queira ou não, tentar descobrir o futuro sempre foi uma das vontades da humanidade. Desde os oráculos sumérios e egípcios, até a modernidade com a necromancia e com o uso das cartas de tarô e da astrologia. Assim, não é raro que as artes da adivinhação, com os vivos e os mortos, sejam usadas no gênero de horror. Acontece que embora com um Universo místico farto, se não for bem usado, tudo pode escorrer da mesma forma que sua vida quando Mercúrio está retrógrado. Contando a história de um baralho de tarô que se liga a astrologia e um assassinato, O Tarô da Morte, Tarot no original, é um filme de 2024 sérvio-americano, distribuído pela Sony Pictures que até pode ser rentável, mas os arcanos maiores nem a deusa Atena de fato não abençoaram a película em qualidade. Estavam todos virados de ponta cabeça.
JOVENS EM UMA ESTRANHA RESIDÊNCIA LIBERAM PODERES SOBRENATURAIS:
Primeiramente, é importante destacar que a premissa, e apenas ela, de O Tarô da Morte é interessante. Um grupo de jovens passa o fim de semana em uma casa alugada e descobre um porão com artefatos que mais parecem o Museu Oculto da Família Warren. Dentre capas, mantos e adagas, uma caixa contendo cartas de tarô estilizadas é mantida. Claro que os jovens vão usar tal artefato para a leitura de suas vidas, combinada com os signos do zodíaco, liberando uma entidade que lembra a mexicana Llorana de A Maldição da Chorona (2019) que se disfarça de cada um dos arcanos sorteados. Essa construção de cerca de 94 minutos é honesta e insta as criaturas, mantém certa coerência e ritmo sabendo usar o clichê de todos os pontos do gênero de terror sobrenatural. E o longa metragem sabe exatamente dessa intenção.
Porém, ele é extremamente mal executado em quase todos os seus aspectos, tal como O Exorcista: O Devoto (2023). Acontece que as cartas de tarô pelo menos são mais divertidas quando das mortes de seus personagens. A iluminação do longa remete a Longa Noite de Game of Thrones, tamanho a necessidade de forçar os olhos para entender o que ocorre em cada cena. E isso impacta inclusive na direção de Spenser Cohen e Ana Halberg. Há uma tentativa de criar uma atmosfera, junto com o uso de jump scares. Entretanto, enquanto filmes quanto Annabelle (2014) abusam da insurreição da criatura nas telas, a escuridão é tamanha que o design de cada um dos arcanos é inexistente. E assim, não há imersão para o espectador. O que poderia ser um arroz com feijão bem feito, acaba passando do ponto.
NINGUÉM PRECISA VER, NEM ESCUTAR ABSOLUTAMENTE NADA:
Outro aspecto problemático em O Tarô da Morte é a mixagem de som. No gênero do horror, a criação da atmosfera acontece e muito não só com imagens, mas com sonoplastia. Porém, é difícil criar empatia com os personagens quando suas vozes estão à distância e a trilha parece engolir qualquer traço de voz. Pelo menos o silêncio se mantém em um lugar seguro, mas é insuficiente para criar uma atmosfera opressiva que nem O Mal que Nos Habita (2023) consegue construir. E então perceptível que O Tarô da Morte, em sua tentativa de seguir uma trilha comum, uma rota até a Cidade das Esmeraldas dos clichês do gênero, não consegue traduzir isso em qualidade. A direção como dita, acaba sofrendo com sua própria parte técnica, mas especialmente com o roteiro.
De fato, narrativa, enredo e roteiro são três partículas que são desoladoras no gênero de filmes de terror por serem ruins. E não no ponto positivo. E em Tarô da Morte a situação é mais grave pois a própria história se sabota. A criação de todo o suspense do primeiro ato é completamente deixada de lado quando do aparecimento de um personagem roteiro. Ou seja, aquela pessoa que está presente no filme apenas para explicar tudo, de maneira didática para que não haja dúvidas. Tal personagem existe em franquias célebres como Premonição, mas neste filme, o personagem é completamente subutilizado. Além disso, temos a inevitável burrice e os estereótipos do grupo de jovens que estão prestes a serem tragados pelas forças do mal. As escolhas, embora estejam condizentes com as cartas de tarô, não são críveis de forma alguma.
O TERROR DE SHOPPING CENTER. RÁPIDO, RASO E SEM MUITO O QUE PENSAR:
Junto com a burrice dos personagens, temos é claro as atuações, outro ponto que no mínimo é esquecível neste filme. Muito é claro ajudado pelo roteiro raso dos diretores com o apoio de Nicholas Adams. Os personagens são estereotipados duas vezes, uma no filme e outra pelos seus signos do zodíaco. A virginiana Paige, vivida por Avantika é metódica e organizada. Grant, o leonino de Adain Bradley é o típico garoto de colegial que se acha o Capitão América da Marvel. Já a pisciana Haley, a protagonista vivida por Harriet Slater, está viva para sofrer, e acredita fortemente no sobrenatural. O porém é que essas atuações ficam apenas na superficialidade. No início dos assassinatos, o grupo literalmente começa a morrer e os sobreviventes não sofrem com o luto. Nem o terceiro ato, que tenta emplacar um plot twist é eficiente.
No fim das contas e depois dessa leitura com os astros, O Tarô da Morte é o típico filme de shopping center do século XXI. Ou seja, oferece diversão através de mortes inventivas e com uma premissa de unir astrologia com o uso do tarô. Porém, praticamente todo o restante do longa foge da benção dos arcanos maiores. A iluminação é ruim, a mixagem deixa bastante a desejar, interrompendo a imersão do espectador e a direção é apenas aceitável. Porém, é o roteiro que simplesmente reverte e transforma esse filme em algo retrógrado, pois se sabota com personagens burros e momentos desnecessários. Acaba que dentro de seu pentagrama, o longa metragem não é tenebroso como Olhos Famintos: Renascimento (2022), mas fica no grupo daquilo que poderia ter sido, e não foi. Uma diversão rasa de uma sexta feira à noite com os amigos, e apenas isso.
Números
O Tarô da Morte (2024)
Unindo astrologia com o jogo de Tarô, O Tarô da Morte, filme de de 2024 não tem muito o que prosperar dentro de suas amarras. Mesmo com o sobrenatural batendo a porta e com mortes inventivas dos arcanos invertidos, ainda assim sua parte técnica e especialmente seu roteiro é completamente desprezada.
PRÓS
- Premissa agradável de unir astrologia com a leitura de tarô, o que leva a mortes inventivas tais como as de Premonição.
- Embora ruim, a duração do filme acaba mantendo certa diversão ao não criar momentos desnecessários.
CONTRAS
- Sonoplastia como um todo é frustrante, não sendo possível entender o que os personagens estão querendo passar, e nem mesmo os jump scares.
- Iluminação tenebrosa. Não é que o filme se passe quase que inteiramente à noite que não é possível ver o que está acontecendo.
- Direção abusa dos clichês, e embora mediana, perde muito de seu foco simplesmente com as falhas técnicas e nenhuma inventividade.
- O roteiro é claramente o Calcanhar de Aquiles, com exposição extrema, falta de criaturas e desconexão de ideias.
- Personagens, como tradicional do início do século XXI, são extremamente superficiais e servem como um banquete para os arcanos demoníacos.