Antigas estátuas de Constantinopla, os Cavalos de Bronze de São Marcos são únicos. Viajantes do tempo, hoje podem ser encontrados no Museu da Basílica. Enquanto réplicas podem ser vistas da Praça de São Marcos e em Paris, na França.
A Itália é um marco fora do comum quando o assunto é história. Berço do Império Romano, da Igreja Católica, o país guarda em construções praticamente milênios de sabedoria. Visitar Roma, Florença ou Veneza é como ser transportado para uma outra realidade. Caótica por diversas vezes, mas onde o novo re reúne com o antigo. E, falando especialmente desta última cidade, Veneza é uma especificidade. Ao invés de carros, o principal meio de locomoção é por meio de caminhada, ou então através das gôndolas de seus canais. Construído em uma baía cercada pelo Mar Adriático, Veneza já teve sua importância na história. Uma República onde o momento histórico concebia reinos, impérios e ducados, os Doges comandavam a cidade e seus entrepostos comerciais. Numa dessas navegações, Veneza conquistou, como espólio uma relíquia, os Cavalos de São Marcos.
Sendo usados nos planos do enredo de Inferno, filme de 2016 e do livro homônimo de Dan Brown, os Cavalos são bem mais antigos do que isso. O nome da escultura nem mesmo se destinada a São Marcos, e sim a Constantino, o Imperador Bizantino. Construídos pelo escultor grego Lísipo, os cavalos, ao todo quatro, são forjados em Bronze e foram realocadas no Século IV. De Roma, próximo dos Arcos de Trajano, o destino foi para Constantinopla. A cidade, hoje Istambul, tornou-se a capital do Império Romano do Oriente até ser tomada pelos turcos otomanos em 1453, marcando inclusive o fim da Idade Média e o começo da Era Moderna. Foi exatamente no ano de 203, quando o Hipódromo da cidade foi construído, e a escultura era uma das mais imponentes do local.
Os cavalos ficariam na cidade até que em 1204, o Doge Imortal, Enrico Dandolo, decide saquear a cidade. O Oriente se envolvia na Quarta Cruzada e os venezianos, sob o comando de Dandolo invadiram a cidade e transportaram os cavalos. Foi então que a escultura tomou o seu nome, de Cavalos de São Marcos. Justamente por ser colocado na Basílica de São Marcos, a principal Igreja de Veneza, e uma referência desse tipo de construção em estilo bizantino. Tirando um pequeno ponto da história, o Período Napoleônico, as estátuas só foram retiradas para serem guardadas no Museu da Basílica. Por serem de bronze, seu acabamento sofria com as intempéries do clima e da água salobra do Mar Adriático. Por isso, foram colocadas no lugar réplicas. Hoje, quem visita a Praça de São Marcos encontra as réplicas. Os originais estão bem guardados e preservados. E estes também podem ser visitados.
Como falado, o outro momento em que os Cavalos de São Marcos foram retirados de seu lugar de repouso foi no período de Napoleão. Quando o Imperador francês invadiu a Península Itálica em 1798 e mudou a ordem existente na Europa, ele fez o mesmo que Dandolo em Constantinopla. Levou os Cavalos para a sua capital Paris, e os colocou acima do Arco do Triunfo. Mas não o Arco que fica próximo a Champs-Élysées, a elegante e mais importante avenida parisiense. Napoleão construiu um outro Arco, a frente do hoje Museu do Louvre, na Praça do Carrossel. Somente com a queda de Napoleão e o fim das guerras europeias, em 1815, os Cavalos de Bronze retornaram novamente para Veneza. E ali continuam, repousando, e esperando a visita de quem gosta de uma história.
Curiosidade: Como dito em Inferno, Enrico Dandolo não foi enterrado em Veneza. Mas sim na antiga Basílica de Santa Sofia, em Istambul, Turquia. Infelizmente, com a queda da então Constantinopla, a Basílica se transformou em Mesquita. Algumas construções em seu interior foram destruídas. Uma delas foi a tumba do Doge. Hoje, apenas um pequeno memorial existe onde possivelmente estava sua tumba.