Trata-se de uma escala, dividida em fases que destaca o potencial pandêmico de uma doença. Quanto maior o número, maiores são as chances de se chegar em uma pandemia.
Modificações virais ocorrem de maneira natural no meio ambiente. Afinal, os vírus propriamente dito são de certa forma instáveis. Sendo parasitas por obrigação, é comum que uma cepa ao entrar em contato com um organismo não inicial sofra mutação. Não por menos, temos exemplos simples como a Gripe. Doença produzida pelo vírus Influenza, trata-se de uma enorme família, em que alguns membros causaram surtos pandêmicos afetando a raça humana. Os principais exemplos são a Gripe Espanhola em 1918 e a Gripe Suína (H1N1) no México em 2009.
Mesmo não sendo da família Influenza, o surto protagonizado pelo Coronavírus 2019-nCoV se encaixa no padrão de propagação. De uma família que já foi protagonista de outros surtos virais, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). A classe dos coronavírus também são igualmente mutáveis, se adaptando ao corpo de mamíferos, e inclusive de répteis. Não por menos, morcegos e cobras estão entre as possibilidades iniciais de vetores virais antes dele sofrer uma mutação e afetar os seres humanos. Diante disso tudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS), agência vinculada a ONU, tem o dever de averiguar possíveis surtos pandêmicos. Ou seja, doenças que aparecem em algum lugar do mundo e tem possibilidade de se propagar para o restante do globo.
Para averiguar o grau de periculosidade de um patógeno, a OMS possui uma lista de grau pandêmico. A partir destes níveis, as nações podem ter como base o que fazer. Como proibir voos de zonas afetadas, por exemplo. Ao todo, a Organização usa seis fases. Atualmente, o surto do Coronavírus não se enquadraria em uma pandemia, mas em um surto de alto nível de propagação, a fase quatro. Somente atingirá o caráter pandêmico se alguma nação, fora a China, diagnosticar contatos diretos em comunidade onde o vetor não seja mais o país inicial. Em outras palavras, se outro país da região apresentar contaminação ativa é provável sua elevação para o grau cinco. Neste cenário, passa-se a se considerar este surto como uma pandemia.
Mas, vamos por partes. Tudo começa através dos três primeiros níveis. No nível um, o vírus existe, mas ele se encontra atrelado a outros animais que não o homem. Além disso, ele não é o vetor de nenhuma doença. Essa situação muda, quando, por meio de uma mutação ou outros fatores, uma patógeno animal passa a conseguir se hospedar no corpo humano. Instala-se o primeiro contágio, e a existência de um paciente zero. Esta fase dois da nova versão viral é uma ameaça possível, mas ainda não há a necessidade de alarde mundial. A fase três se inicia com o contágio cada vez maior do patógeno para com os seres humanos. Contudo, eles ainda são localizados e normalmente o vetor ainda é o animal que passa para o homem. Somente em casos específicos há o contágio do vírus entre seres humanos.
Até então o vírus era uma ameaça velada. Ele ultrapassa essa barreira chegando a fase quatro. Se pegarmos os casos do Coronavírus chinês, os primeiros contágios, após o vetor animal, ocorreram de seres humanos para seres humanos. Ou seja, pela lista da OMS, o surto de Wuhan já chegaria exatamente nesta faixa de pré-pandemia. A fase quatro é marcada pelo surto entre seres humanos. A contaminação se torna cada vez mais fácil entre membros de uma mesma sociedade. A possibilidade de que a doença se espalhe torna-se “iminente”. Um surto em nível quatro já é uma orientação para que nações com fronteiras terrestres e com voos diretos ao país ou ao local afetado cuidem de seus expatriados. Assim como observem qualquer possibilidade de que turistas possam ter entrado em seu território com este vírus. Afinal, ele agora detém a liberdade de ser transmitido entre humanos.
A fase cinco é o início de fato de uma pandemia. O vírus já não afeta apenas uma faixa local, como é o caso de Wuhan ou da província de Hubei, mas sim no mínimo dois locais em nações distintas da mesma região. Para isso, a contaminação torna-se ativa; o vírus se espalha simplesmente pelo ar, sem a necessidade de um vetor que tenha o contato com a nação original. A maior parte dos países ainda não é afetada por um surto de nível cinco. Mas é um exemplo claro de que em algum momento o agente viral tocará seu território. Somente quando um país de outra região registra contágio ativo, a OMS eleva para o nível máximo, o seis. Neste cenário, é decretada pandemia global e o agente está em seu auge de contaminação e disseminação pelo mundo.
No exemplo mais recente, a Gripe Suína, chamada de H1N1 foi registrada em 13 de Março de 2009 no México. Seu paciente zero ocorreu nas redondezas da cidade de La Gloria. Passado um mês, a OMS elevou seu alerta para o nível quatro. Isso quando os primeiros sinais de contágio entre humanos surgiram em 27 de Abril do mesmo ano. Apenas dois dias depois, a Organização elevou o surto para o nível cinco, indicando uma altíssima possibilidade de pandemia em escala global. O tempo passou e apenas em 11 de Junho de 2009, a OMS elevou o surto viral para o nível máximo. Nesse momento, o H1N1 se tornou uma pandemia e uma prioridade a todas as nações mundiais. O surto, embora tenha causado vítimas e se alastrado por mais de setenta e cinco países, só perdeu a sua classificação para o nível pós-pandemia um ano depois, em 2010.
Sendo assim, em termos técnicos, a ameaça de uma nova pandemia por um vírus não é desprezível. De forma alguma. Por mais que a China tente conter os seus nacionais. Uma vez sua proibição de deixar as cidades de quarentena, o vírus tem um fator recém descoberto. Ele pode infectar outras pessoas sem que o portador inicial apresente sintomas. Com esse detalhe, torna-se extremamente difícil para que as vigilâncias sanitárias consigam distinguir quem está infectado ou quem não está. Afinal, é possível distinguir quem tem os sintomas. Mas, e quanto as pessoas que passaram pela área afetada mas que não apresentaram nada e entraram?
Desta forma, por mais que no Brasil e em nenhum outro país da língua portuguesa existam casos confirmados, vale o óbvio. Mantenha a higiene, lavando sempre as mãos. Esse é o primeiro passo. Mantenha o ambiente muito bem ventilado. Mesmo sendo uma nova cepa, o coronavírus se apresente de forma similar a de uma gripe. Assim, todos os cuidados que você teria com uma influenza, já são ótimas recomendações no pior dos cenários.