O mundo do terror sempre teve seus altos e baixos. Em comum aos grandes momentos desse gênero no cinema, podemos destacar O Exorcista por exemplo, e mais recentemente a franquia Invocação do Mal. Contudo, é possível dizer que os grandes nomes são a exceção de um Universo mais povoado por títulos pavorosos e sem muita inovação do que por grandes pérolas. Neste tempo contudo, após o sucesso da franquia criada por James Wan, um spin-off de Invocação do Mal foi pensado. Afinal, por que não expandir uma franquia que gera bastante lucro aos estúdios e agrada ao público? Surgiu assim Annabelle, a primeira parte da história da boneca possuída que já tem sua própria trilogia. Entretanto, resta saber é claro se esse filme consegue cumprir com o prometido.
Para começo de conversa, Annabelle (2014) é uma história baseada em um objeto real. Trata-se de uma boneca de pano atualmente selada no Museu Oculto da Família Warren, nos Estados Unidos. Segundo os mitos e as lendas que cercam a boneca, ela estaria impregnada por forças demoníacas, e por isso, deve se manter trancada para não gerar nenhum mal. Com algumas modificações no visual, Annabelle (2014) segue inicialmente a cartilha básica de filmes de assombração. Produzido por John R. Leonetti, o espectador entra em contato com o casal Mia e John Form. Ele é um workaholic e ela está grávida.
Tudo ia bem, até que Annabelle aparece:
Entretanto, a vida da família vira de ponta a cabeça quando na vida do casal entra a boneca Annabelle, que desta vez possui um visual bem mais assombroso do que sua contraparte do mundo real. Inicialmente, a boneca não tem nada demais. É somente depois de um atentado vivido pela família através de uma jovem chamada Annabelle, que se mata com a boneca, que as situações de terror começam a se tornar um padrão para o longa. Até então, o roteiro se mantém levemente morno, indicando uma criação de personagens para o casal, que é bem vivido por seus atores, em especial por Annabelle Walls, atriz que faz Mia Form. Esta personagem é a principal atormentada pela boneca possuída durante todo o longa.
Contudo, o filme já cria a expectativa de que algo maligno existe em torno da boneca. Afinal, mesmo antes destes acontecimentos, temos uma espécie de salto no tempo com a única apresentação do casal Warren (os protagonistas de Invocação do Mal) em uma rápida entrada. Neste momento, eles destacam para um grupo de estudantes que a boneca – a Annabelle é vinculada a uma entidade demoníaca, que estava se aproveitando de suas boas ações. Provavelmente, esses estudantes estiveram em contato com a boneca após a família Form, uma vez que os acontecimentos do longa explicam a possessão da boneca.
Desde o início, a ameaça demoníaca se mantém a espreita, se aproveitando da situação:
Com essa pequena entrada, Annabelle (2014) já estabelece sua ameaça sem precisar mostrar muito, o que ao mesmo tempo é bom quanto ruim. Bom no sentido de que, uma vez diagnosticado o vilão, o diretor e o roteiro podem usar o quanto quiser de soluções inventivas para trazer o susto ou uma sensação de desespero. Isso não quer dizer que a criatura apareça a todo momento, mas o espectador se sentirá desconfortável uma vez que sabe que algo está a espreita. Contudo, é negativo também pois o próprio roteiro acaba se tornando bastante regular, afinal, uma vez que a ameaça já é conhecida, o que resta é construir a narrativa para derrotar essa ameaça.
De imediato, é bom dizer que Annabelle (2014) não inventa a roda. E de fato este não é o seu sentido. É sim um filme do gênero terror honesto, com momento de suspenses muito bem produzidos pela direção. Em alguns momentos, Leonetti faz lembrar a estrutura de filmar de Wan em Invocação do Mal. Por isso, a identidade da franquia, de certa forma permanece a mesma. O cenário e a iluminação ajudam nos momentos de maior tensão. Mesmo que não sejam inventivos demais, beirando ao clichê. Porém, esse clichê acaba funcionando pois o roteiro o usa de maneira bem estruturada.
Annabelle (2014) é tradicionalista; isto é, é uma lição do que existe em filmes de terror de assombração.
Se por um lado a história se introduz de maneira satisfatória e o segundo ato é consistente, o fechamento do longa aparenta ser desproporcional. Isso se dá no fato de que a conclusão, embora encerre de fato a narrativa não gera o clímax final como o longa, no decorrer de sua construção vinha propondo. Em verdade, o final acaba sendo jogado ao público. No fim das contas, Annabelle (2014) é um terror mediano. Algumas inconsistência no roteiro podem ser percebidas para os mais atentos, mas em si, o longa flui de maneira tradicional. Além disso, não abusa demais de jump-scares, embora os tenha e uso de forma bastante adequada.
Por fim, como já informado, as atuações dos personagens são simpáticas. E, um ponto que para os amantes do mundo do terror são as diversas homenagens a obras do passado, como é o caso de O Bebê de Rosemary. Na verdade, é possível até ver em determinadas cenas uma certa semelhança com o longa de Roman Polanski. Contudo, não se afobe, Annabelle (2014) é a forma tradicional de um longa de assombração demoníaca. É divertido e abre as portas para um imensurável Universo de histórias do casal Warren, só é realmente esquecível se comparado com a série original.
Números
Annabelle (2014)
Annabelle é uma receita do básico de filmes de terror de assombração. E por isso mesmo, acaba sendo mediano, embora competente.
PRÓS
- É clichê, mas os usa de maneira consistente e eficiente, criando uma densa atmosfera.
- Atuações respeitáveis, especialmente nos momentos de maior tensão.
- Uso apropriado de Jump-Scares, o que não prejudica a narrativa.
CONTRAS
- Final que não condiz com a estrutura da narrativa, desproporcional.
- Mesmo convencendo, o roteiro é simplesmente mais do mesmo.
- Certos pontos da narrativa podem parecer arrastados e desnecessários.