Mudanças Climáticas estão no Top 5 dos principais assuntos do Século XXI. Quer você acredite nele ou não. Quer que você ache que seja fruto da agenda globalista ou não. Acontece que eventos extremos sempre foram o condão para a criação do cinema catástrofe. É a Lua que não trai, mas que cai em Moonfall: Ameaça Lunar (2022), um calendário maia que nem Indiana Jones soube interpretar em 2012 e também temos O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow, em inglês), de 2004. Todas estas pérolas são frutos da cabeça do alemão Roland Emmerich, que adora acabar com o mundo com efeitos de primeira ou de segunda categoria. Acontece que O Dia Depois de Amanhã, embora muito impreciso cientificamente, é dentre seus companheiros o que melhor passa a mensagem de um novo padrão de vida devido a uma ameaça global, as mudanças no clima da Terra.
Para quem não assistiu O Dia Depois de Amanhã no Star+ ou não lembra de seu enredo, um resumo. Devido as mudanças antropogênicas, nome bonito para as mudanças climáticas promovidas pelo homem, as correntes oceânicas perdem a sua capacidade de equilibrar a temperatura da Terra. Assim, o clima se descontrola e o Hemisfério Norte vai viver uma Era do Gelo. Não interessando se você está no Alasca ou em Gibraltar, o inverno está chegando mais até do que em Winterfell, no Norte da Westeros de Game of Thrones (2011-2019). Esse frio inclusive vem através de três células de tempestades colossais que conseguem cobrir continentes e com um interior que beira aos 100° Celsius negativos. Com as devidas licenças poéticas, e quebrando algumas Leis da Física, da Termodinâmica, dos Gases e da Climatologia, tal tempestade, em tal tempo, em tal tamanho com toda essa força é fisicamente impossível.
NEM TODOS OS ESTRAGOS VISTOS PODEM ACONTECER NO MUNDO REAL…
Sistemas de tempestades como os furacões, pelo menos na Terra, não são capazes de engolir continentes. Diferente dos vistos em O Dia Depois de Amanhã. O mais poderoso furacão já registrado, o Patrícia, de 2015, atingiu a região da costa ocidental do México. Mas não o encobriu. No Atlântico, sistemas devastadores, porém menos poderosos, foram observados no Século XXI. É o caso do Irma de 2017 e o Katrina em 2005, mas nenhum deles se compara ao tamanho de seus primos imaginários. Além disso, a Termodinâmica vai embora sem despedida. Em determinado momento do filme, é explicado, com maior teor científico que a tempestade pega seu ar super frio da troposfera, a camada mais fria da atmosfera, também conhecida como Lar do Rayquaza, de Pokémon. Acontece que esse ar frio consegue congelar combustível e seres humanos instantaneamente, em algo próximo de -100° Celsius.
Essa temperatura é impossível de ser alcançada na troposfera, a não ser que você seja discípulo de Camus de Aquário é claro. Nessas camadas, a temperatura média é de -57° Celsius, chegando ao extremo de -80° Celsius, algo que ainda não é possível congelar em um segundo. A Cidade siberiana de Oymyakon, na Rússia, é o local permanentemente habitado onde se registrou a temperatura mais baixa na Terra, -67,3°. E acredite, ninguém morreu assim que exposto ao ar frio. Claro que, sem as vestimenta adequadas, não recomendamos de forma alguma esse experimento científico. Sendo assim, é fato que, pelo menos na base científica da humanidade, O Dia Depois de Amanhã ganhe mais ares jocosos do que algo de embasamento empírico do padrão climático. Então, você pode visitar Nova York no Natal que não haverá tsunami. Pelo menos não dessa forma como mostrado no filme.
PORÉM, EXISTE UM POUCO DE VERDADE EM TODA LOUCURA…
Porém, existe aquela gota de orvalho que faz esse filme ser recompensador, parte de sua premissa. Em O Dia Depois de Amanhã, com o Aquecimento Global e o derretimento do gelo ártico, os níveis de salinidade no equilíbrio das correntes oceânicas se perde. Essas correntes são responsáveis pela troca de temperatura entre o Equador e os pólos da Terra. Aula de geografia básica. Sendo assim, essas correntes são fundamentais para o Clima Global, fazendo a Europa Ocidental e o Leste dos Estados Unidos não sofrer com o inverno e nem os trópicos torrarem. Pelo menos não muito. Acontece que um estudo de 2023 publicado na Revista Nature (em inglês) da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, vem com os dois pés na porta dizendo que essas alterações não são só verdade como também podem ocorrer nesse século ainda. Detalhes desse Estudo estão no site da MetSul Meterologia.
Verdade seja dita, o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, já vem estudando as correntes oceânicas, em especial a região da AMOC, ou Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico. No entanto, na visão deles, um enfraquecimento severo dessa circulação é esperado para o próximo século. Isso mesmo com os padrões atuais de emissão de dióxido de carbono. Já para o estudo dinamarquês que causou um alvoroço no mundo científico, o prazo do ponto de não retorno é entre 2025 e 2095, com confiança dos padrões estatísticos de 95%. Claro que, sendo um estudo recente, o artigo da Nature está sendo mais do que debatido, afinal, temos um século de antecipação por esses cálculos. Bom destacar que antes que você comece a prever um mundo ao estilo Frostpunk, da 11bit Studios, saiba que com o Norte mais frio, os trópicos ficarão ainda mais quentes.
GOSTE OU NÃO, ESSE É UM TEMA SENSÍVEL NO SÉCULO XXI:
Não interessando se é neste século ou no próximo, se é nesta geração ou na de seus filhos e netos. O Dia Depois de Amanhã pode ser impreciso em vários pontos, até mesmo sensacionalista. Não há nada que leve as catástrofes como as apresentadas no longa em modelos climáticos. Roland Emerich não tinha dois séculos para contar sua história, mas duas horas apenas. Porém, se há algo que deve ser tirado do filme é que essas mudanças são literalmente um caminho sem retorno e são extremamente complexas. A alteração do padrão climático causado por um possível Colapso da AMOC não se restringe ao Atlântico, mas a todo o globo terrestre. É uma pena que as nações mais industrializadas do planeta, em especial Estados Unidos, China e toda a Europa Ocidental não achem importante o tema. Acham que é uma partida de Civilization, pena que todo mundo sofre no final.