Além da literatura, a trilogia O Senhor dos Anéis é um verdadeiro abalo no mundo cinematográfico. Produzido por Peter Jackson, o conjunto de filmes que trazem o Legendarium da Terra Média produzida pela mente de Tolkien virou um marco da cultura pop. E seu último capítulo, o Retorno do Rei só não ganhou mais prêmios no Óscar pois faltou indicação. No entanto, a Saga do Anel não é única, e em 2012, o diretor volta a ativa. Tendo como base o livro O Hobbit, Peter Jackson trás novamente essas criaturas. O Hobbit: Uma Jornada Inesperada apresenta a história da conquista das terras de Erebor, e da aventura de Bilbo Bolseiro ao lado de Gandalf, o Cinzento e de um grupo de anões. Agora, se o filme é tão bom quanto aos outros na Trilogia Original, você vai conhecer aqui nessa Crítica no Guariento Portal.
Atenção: Óbvio que como uma Crítica de um Filme, teremos spoiler em alguns momentos em relação a O Hobbit: Uma Jornada Inesperada. Então, ainda não viu o filme e quer ver uma Crítica? Tudo bem, mas esteja avisado. Claro que nós do Guariento Portal os damos as boas vindas a mais uma aventura na Terra Média. E por aqui também.
Os ventos sussurram na noite … O fogo era vermelho, suas chamas se espalham. As árvores eram como tochas, ardendo com luz.
Descrição do fogo de Smaug em O Hobbit: Uma Jornada Inesperada.
Um Reino Anão que outrora poderoso foi capturado por um ganancioso dragão, Smaug. Agora, a linhagem de Durin espera reaver suas terras, numa magnífica viagem pela Terra Média que dará as bases para a Guerra do Anel.
Primeiramente, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada conta a primeira terça parte do livro homônimo, com alguns vários apêndices de O Retorno do Rei. Aqui, o antigo reino anão de Erebor, a Montanha Solitária, foi tomada de seu antigo rei pelo dragão Smaug, que dominou a Montanha e queimou a cidade de Valle. Thorin Escudo de Carvalho, herdeiro do trono então reúne uma comitiva de anões, junte de Gandalf, o Cinzento, assim como Bilbo Bolseiro, um hobbit colocado como ladrão para reconquistar sua terra. Temos então uma típica jornada de heroi, com bastante obstáculos a percorrer e com um mundo diverso e rico em fauna e flora. Não por menos, nessa primeira etapa, as vastidões da Terra Média conseguem impressionar da mesma forma que a Trilogia Original. Desde o Condado até Valfenda, passando por perigosas, o mundo é vívido e encantador, mesmo com seus perigos.
Assim, é possível dizer nessa Crítica que é um deleito retornar aos rios e florestas da Terra Média. E o mesmo pode ser dito de sua trilha sonora, que embora produzida por Howard Shore, o mesmo de O Senhor dos Aneis consegue se destacar com os seus acordes já conhecidos. Aliás, é interessante que no decorrer da narrativa, ele mescla temas consagrados, como o do Um Anel ao do Condado ou da Comitiva de Anões. Isso é feito de maneira suave e dá uma espécie de toque especial em O Hobbit: Uma Jornada Inesperada. Não é possível desassociar o som das belas paisagens e do mundo criador por Tolkien. Mesmo com muitas câmeras aéreas, ainda assim o filme usou bem mais efeitos especiais do que os seus antecessores. E muito deles mais caros e mais modernos. Isso é visto no vistoso Prólogo, onde vemos a Queda de Erebor por Smaug.
A escolha de Martin Freeman para viver Bilbo Bolseiro foi certeira. E é claro que o fan-service também esta embutido, com rostos que com certeza você já viu dentro dos territorios da Terra Média.
Além do primor técnico, que nessa primeira jornada é agradável, temos o elenco. Por se tratar de uma história mais “tranquila” do que a Guerra do Anel no livro, os personagens podem ter seus problemas internos, porém se destacam com uma certa jovialidade. Gandalf, o Cinzento, feito pelo mesmo Ian Mckellen (O Senhor dos Aneis) é mais sorridente, embora saiba dos perigos de um possível retorno de Sauron. Porém, é um excelente personagem assim como o pequeno Hobbit que carrega o título em suas costas. A escolha de Martin Freeman (Sherlock Holmes) para viver Frodo Bolseiro é interessante e capta uma espécie de humor britânico involuntário. Sua junção com Gandalf rende bons diálogos, mesmo com a desconfiança de Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage, de Castlevania). Os outros anões, com a exceção de Balin, tem pouca expressividade, mas o suficiente para saber que eles tem sua própria identidade.
Importante também destacar que por si só, O Hobbit não teria história o suficiente para criar uma nova trilogia. E por isso Peter Jackson usou bastante dos apêndices encontrados em O Senhor dos Aneis: O Retorno do Rei. Por tal motivo, temos alguns desvios, embora necessários na trama. Como é o caso do medo de Gandalf do Retorno de Sauron e de toda a história envolvendo o feiticeiro de Dol Guldur com mais enfoque. Inclusive é claro os famosos fan-services, com a aparição de Galadriel, Elrond e do mago Saruman, peças chaves da futura Guerra do Anel. E vividos na mesma pompa por Cate Blanchett, Hugo Weaving e Christopher Lee, o único do elenco que conheceu de fato Tolkien. Então, para mostrar as enormes ligações entre o Hobbit e o Senhor dos Aneis, O O Hobbit: Uma Jornada Inesperada acerta … e erra, como essa Crítica vai partir agora.
Mesmo dentro do Legendarium, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada falha bastante em seu roteiro. Seja na mudança completa de tom de tempos em tempos, como também em criar narrativas paralelas que fazem perder completamente o sentido.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada tem o seu pior deslize na estrutura narrativa, ou de outra forma, em seu roteiro. Mesmo que seus representantes sejam os mesmos que fizeram a Trilogia Original. Aqui, mesmo sendo um filme de introdução, há cenas desnecessariamente longas de apresentação de personagens. O que relega ao espectador a ideia de que a narrativa não está andando. Não há outra forma de dizer senão que o filme é bastante arrastado. Algumas alterações em relação ao livro podem ser benevolentes no mundo cinematográfico. Porém, cuidado deve ser tomado, como é o caso da apresentação do mago Radagast, que apresenta um dos piores efeitos especiais. Além disso, o roteiro se desvirtua em vários momentos da narrativa da Montanha Solitária, apresentando outros inimigos no meio do caminho, como é o caso de uma cidade goblin que parece uma esquete fora do tom.
Aliás, o tom de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é completamente instável. Como dito anteriormente nessa Crítica, O Hobbit é originalmente uma aventura mais tranquila e sem grandes rodeios. Sendo apenas “um” livro. No entanto, não se sabe o que o diretor queria seguir que seu núcleo de fotografia acaba sendo manchado. Se de um lado temos cores vibrantes mostrando uma atmosfera de aventura, depois temos cores extremamente geladas e sóbrias, como se estivéssemos viajando para Mordor. Ora, mudanças são necessárias mas não tão radicais ao ponto de parecer que há dois filmes dentro de um. Isso é ainda aumentado pela situação de que diversas histórias paralelas começam a ocorrer. É como se o roteiro quisesse contar todas elas ao mesmo tempo, e para isso precisa dizer para o espectador dentro do filme através de cores, e é claro, com o diálogo, bastante expositivo entre todos os elementos.
A Terra Média tem bastante história para contar. Contudo, essa primeira parte de O Hobbit é definitivamente mais lenta. Mesmo que o terceiro ato, com alguns percalços gere conteúdo necessário para que o espectador busque a segunda parte da Trilogia.
Que a Terra Média é um mundo difícil de entender, todo mundo sabe. Seja pelos seus inúmeros idiomas, raças e crendices. Contudo, o roteiro em O Hobbit: Uma Jornada Inesperada se parte depois do Prólogo. De maneira bem resoluta, o longa nos trás o problema em menos de cinco minutos. Para depois passar mais de duas horas dizendo o que cada coisa deve ser feita. Destacar que há a necessidade de algo ser feito não é necessariamente pela fala, mas apenas pelo olhar. Coisa que aqui neste filme não se encontra. A primeira aparição do Um Anel na caverna de Gollum é extremamente bem feita em termos técnicos. E inclusive a ideia de charadas cai bem com a atuação de Andy Serkis revivendo seu papel. Porém, ela não se encaixa no tom enquanto e restante dos anões busca uma saída da cidade goblin para ir ao seu Terceiro Ato.
Aliás, esse Terceiro Ato termina como uma espécie de cliffhanger para demonstrar que a jornada sequer está na metade. Tudo bem que antes desta, há um enorme embate entre os orcs chefiados por Azog, O Profano e a Comitiva de Anões, além de Bilbo e Gandalf. Mesmo salvo por um deus ex-machina, mais um que aparece na narrativa aliás, o gancho é o suficiente para que o espectador espere motivado pela segunda parte, A Desolação de Smaug. Contudo, no fim das contas, o que fica é que O Hobbit: Uma Jornada Inesperada como introdução é uma ótima adaptação, porém desnecessariamente longa e que se perde ao querer contar tanta coisa dentro da Terra Média. Há um vislumbre claro de formar uma Nova Trilogia, mas sem um grande pano de fundo como O Senhor dos Aneis tinha com a Guerra do Anel.
Hobbit: Uma Jornada Inesperada é um bom começo, embora pretencioso para uma Trilogia. Cenários espetaculares acompanhado de uma boa trilha garantem certa diversão, mesmo que o Roteiro do longa fique bem aquém do normalmente se poderia esperar.
Desta forma, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada trás com um encanto considerável uma nova aventura na Terra Média. Antes dos eventos do retorno do Sauron, o espectador pode rever as belíssimas paisagens da Terra Média, seus perigos e todas as raças que vivem nela. Em especial o bom Hobbit Bilbo e o Mago Gandalf. As cenas de mundo e a maior parte dos efeitos especiais são bem feitos, com exceção da cena de Radagast. E a trilha sonora é capaz de rodear o espectador de volta ao Universo de Tolkien que conta com incríveis batalhas como a dos Campos de Pelennor. A atuação também é um ponto chave, trazendo um carisma para os personagens que carregam o filme no bolso, da mesma forma que a teimosia dos anões. Rever antigos nomes também deixa o coração mais apertado para aqueles que acompanharam a Trilogia Original.
Porém, tentando se equilibrar entre a criação de uma trilogia e o uso excessivo de mais história, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada desliza com profundidade em seu roteiro. Mesmo podendo ser mais leve e solto que seus irmão anteriores, ainda assim há o uso de cenas intermináveis, que fazem com que a narrativa não progrida como ela deveria fazer. Numa clara alusão de que é uma Trilogia de fato. Além disso, a fotografia acaba pecando entre se mesclar tanto entre o sóbrio e o divertido, não sabendo para onde quer seguir. Por fim, e ainda dentro do mesmo roteiro, os diálogos são bem mais expositivos, dando explicações desnecessárias que só pesam ainda mais a narrativa. O próprio longa consegue mostrar que sabe contar uma boa história. O Prólogo da Queda de Erebor é o suficiente para saber quem é o antagonista, que aliás não aparece nessa primeira parte.
Divertido? Você perguntaria depois dessa Crítica do Guariento Portal. Bem, você terá sim certa diversão ao caminhar novamente pelo Condado até Erebor. Mas não espere a preciosidade de O Senhor dos Aneis. O mesmo mundo, mas regras diferentes separam essas franquias.
No fim das contas, como essa Crítica pode falar, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é uma ótima introdução como dito. Porém, se por um lado trás uma ótima cenografia e uma trilha sonora já conhecida, ao se criar a ideia de uma Trilogia, se perde completamente dentro de suas próprias palavras. E isso para o espectador, como se a narrativa não progredisse é como se o longa não fosse tão divertido quanto deveria ser. E de fato o é. Com cenas que são bem mais longas do que deveriam, e diálogos e subhistórias que não haviam necessidade alguma de existência, a corda de O Hobbit foi esticada ao ponto de que se começou a perder qualidade. Se fosse um pouco mais curto, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada seria bem melhor. Mas, é claro, não é de todo o mal. É gostoso jantar e ver a lua novamente em Valfenda.
Números
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012).
Trazendo de volta a Terra Média para o cinema, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada mostra a Saga de uma Companhia de Anões, um Mago e um Hobbit para reaver a Montanha Solitária. Mesmo que isso demore um bocado para acontecer.
PRÓS
- Quase todos os efeitos especiais e a captura de movimentos são as melhores que a tecnologia oferece.
- A Terra Média ainda continua encantadora, com paisagens deslumbrantes e uma ótima trilha sonora.
- A atuação, especial de Freeman e McKellen dão o rumo da narrativa de Erebor com encanto.
- A aparição de antigos personagens e as ligações com O Senhor dos Aneis são um deleite para forjar este mundo.
CONTRAS
- Roteiro não é coeso. Se perde em determinadas ações e cenas de maneira desnecessária. Múltiplas subtramas.
- A Direção de Fotografia é perdida. Não sabe que tom levar, ora mais calmo ora mais sombrio como uma viagem para Mordor.
- Diálogos expositivos que diminuem a obra. Não há a necessidade de explicar tudo nos mínimos detalhes.