Uma turma de moleques enxeridos incomoda muita gente. Afinal, são eles que mostram que os vilões são simplesmente pessoas fantasiadas querendo roubar alguma coisa ou simplesmente assustar. Mas, e quando pela primeira vez, um mistério pode ter de fato contornos sobrenaturais? É o que acontece em Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis, filme animado lançado em 1998, direto para o então Home Vídeo. Depois de um longo hiato, a turma protagonizada por Fred, Daphne, Velma, Salsicha e Scooby-Doo embarcam para os pântanos da Louisiana. A Ilha Moonscar os esperam com um culto desconhecido e uma jornada que envolve um marco da cultura pop. Como Scooby se saíram dessa? É o que você vai ver na volta do Revisitando ao Passado com a Crítica desse filme aqui no Guariento Portal.
Outra noite assustadora. Mas desta vez, o fantasma está aqui!
Primeiramente, Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis se destaca pelo espetacular trabalho de sua equipe de animação, a cargo do estúdio japonês Mook Animation. Diferente de outras encarnações, aqui, a turma da Mistério S/A está mais adulta, com contornos mais sombrios e tridimensionais. O cenário também se apresenta ameaçador, mesmo sendo um filme para o público infantil. Os pântanos da região da Louisiana são extremamente bem elaborados, seja de dia ou de noite, com uma paleta de cores que mostra a natureza selvagem do lugar. Entretanto, Ilha dos Zumbis brilha quando as criaturas sobrenaturais, os zumbis, aparecem. Corpos desmembrados e criaturas com olhares e peles decrépitas lembrar o que de melhor existe neste universo do Terror. Uma ode a Madrugada dos Mortos em formato de animação.
Durante a sua produção, o time da Warner não teve tamanha interferência na produção de Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis. Na verdade, o filme foi um teste piloto para saber qual caminho a franquia da Hannah-Barbera poderia recorrer na virada do século. E isso é visto justamente com este tom, que entra na animação e ainda mais no roteiro. Como dito, a série de quadrinhos e animações estava acostumada a ter vilões desmascarados, sendo tudo voltado para a racionalidade. Ilha dos Zumbis no entanto, trabalha muito bem com a intenção de trazer de fato um tom espiritual para a aventura, e a incredulidade dos personagens, que até então sempre se depararam com pessoas vestidas de monstros. Essa pegada aliás seria seguida pelos três filmes consecutivos, mas desapareceria por um bom tempo pelo medo de ser muito “adulto” para o público infantil.
Quando o vento uiva, você sabe que tem zumbis a perambular.
E, claro que estando em um mundo mais sombrio e verdadeiramente macabro, a trilha sonora também se alinha muito bem. Na verdade, sendo uma das melhores trilhas dentro do Scoobyverso. Mesmo nos mais calmos e pacatos momentos, há uma aura e uma sensação, provocada pelos sons da floresta, assim como o vazio dos pântanos que trazem a sensação de perigo. Já a música se encaixa perfeitamente no momento auge do longa, quando os zumbis brotam de todos os cantos atrás da Mistério S/A. This Terror Time Again e The Ghost is Here, da banda Skycicle foram produzidas exclusivamente para o filme e se encaixam perfeitamente. Provavelmente, ainda estando na mente dos espectadores desde o ano de 1998. No Brasil, há ainda o destaque da dublagem dos personagens, perfeitamente em sintonia com esta aventura.
Esteja pronto para diversão do outro muito neste longa metragem de Scooby-Doo novinho em folha. Scooby, Salsicha, Velma, Daphne e Fred estão na ativa de novo para tentar resolver o mais assustador e divertido mistério de suas carreiras. Nossos garotos intrometidos desta vez encontram-se numa ilha mal assombrada para investigar o fantasma do pirata Moonscar. Mas o espírito do corsário não é o único a atormentar a ilha. Os detetives também encontram com estranhas criaturas e zumbis… e parece que, pela primeira vez na vida deles, esses mortos vivos podem ser de verdade! Somente quando as coisas começam a ficar realmente apavorantes, é que Scooby e Salsicha salvam o dia graças a uma ajuda inesperada. Scooby-Doo Na Ilha Dos Zumbis é a mais hilariante aventura de Scooby em todos os tempos, repleta de música, risadas, calafrios e arrepios.
Descrição de Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis.
É hora do terror novamente para que você morra de medo.
Outro ponto que consegue se mostrar bastante positivo é que em Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis, temos uma mescla de terror com uma comédia típica da franquia. Claro que como dito nesta Análise, o fator terror está em maior evidência, justamente pelo foco do projeto ter isso esse. Capitaneado aliás pelo diretor Jim Stenstrum, que chamou o já falecido animador nipo-americano Iwao Takamoto para auxiliar o projeto com a Monk Animation. Para aqueles que não sabem, ele foi o responsável pelo design original de Scooby-Doo. Essa sinergia é clara e evidente, como dito, com uma animação fluida, em que algumas tiradas cômicas imprimem risadas. Porém, elas fazem sentido ao saber como é, especialmente a dinâmica de Salsicha com seu querido amigo cachorro. Uma medida certa e diferente, que trás uma singularidade ao filme.
No entanto, temos que fazer menções que se o terror está em todo o lugar, temos alguns problemas pontuais no que chamamos de roteiro. Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis foi escrito por Glenn Leopold, com o intuito de ser uma aventura exclusiva e um ambicioso projeto. E de fato, conseguiu trazer apreço do público. Porém, alguns elementos acabam sendo mal explorados, muito pelo que a narrativa é lenta a engrenar. Entende-se que, para a expectativa, há a necessidade de se criar um passado para Simone Lenoir, a habitante da ilha e toda a sua comitiva, tal como o capitão pirata Morgan Moonscar e seu tesouro, que dá nome a ilha local. No entanto, existem momentos onde essa narrativa não progride de maneira satisfatória, fazendo com que o terço final de Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis seja rápido além do necessário.
Aqui é que vem a parte mais assustadora.
Importante também destacar que Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis começa de maneira interessante, mas acaba usando isso como uma escadaria que foi pouco explorada. Diferente do que era acostumado ver, a turma da Mistério S/A se separada depois de ter visto tantos mistérios e cada um segue para um lado. De maneira análoga que Scooby-Doo, o live-action faria anos depois. No entanto, enquanto Daphne e Fred estão na TV, Velma comanda uma livraria de mistérios e Salsicha e Scooby trabalham na alfândega de um aeroporto. O problema é que, essa separação é usada de forma bem pobre, sendo colocada em um primeiro momento, e depois jogada fora e esquecida no churrasco. Tudo para que a equipe se reúna no aniversário de Daphne. Como presente, ela está buscando algum lugar que tenha um mistério de verdade. E de fato ela encontra.
No entanto, mesmo com este expectativa que muitas vezes é atrapalhada pela ação da narrativa, Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis é, sem dúvida, uma das melhores animações da franquia já lançadas. Sendo lançado como um projeto onde o diretor e o roteirista tiveram ampla independência para expor suas vontades, o filme trás como maior aparato uma ideia mais sombria e obscura, de áudio e vídeo, de que todos aqueles monstros sobrenaturais podem ser reais. E é claro o uso dos zumbis especialmente é um marco. Afinal, que criatura seria melhor a adaptar com partes do corpo caindo enquanto caminha? Além disso, tanto os personagens, principais e antagonistas são bem retratados, cada um com sua aura. Até mesmo os coitados zumbis, com um plot-twist que demonstra que de vilões eles não tinham muita coisa.
Sem dúvida, uma das melhores animações de Scooby-Doo.
Programado para um público mais infantil, Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis pode parecer em um primeiro momento assustador. E de fato, no longínquo ano de 1998 pode ter parecido tremendamente macabro para algo destinado a todos os públicos. Porém, a essência de Scooby-Doo e toda a sua trupe está presente. E melhor, ainda mais sombria como se dessa vez, o mundo tivesse muito mais mistérios do que simplesmente pessoas escondidas. É interessante notar essa irracionalidade em um ambiente de uma franquia que é extremamente racional. Claro que o roteiro tem alguns tropeços, mas ele consegue unificar de maneira apropriada o terror clássico de criaturas medonhas e cultos desconhecidos com a comédia já conhecida de Scooby-Doo. Mesmo com o uso de elementos clichês que aqui pelo menos reforçam a graça do filme.
Desta forma, podemos dizer que Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis é divertido? Isso sem dúvida alguma. O filme é uma das melhores adaptações em termos de qualidade de traços e trilha sonora que Scooby-Doo e sua equipe já tiveram. A história mais madura alimenta perfeitamente esses traços, combinando com um cenário perfeito de que o perigo pode estar em qualquer lugar. Aos poucos, a mansão Lenoir e a Ilha Moonscar se destacam como um lugar não recomendado para as férias de verão. Ou para se passar um reles aniversário. No entanto, para o telespectador, sem dúvida é uma das encarnações mais singulares dos personagens criados por William Hannah e Joseph Barbera. Sem dúvida alguma, Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis está no topo dos mais recomendados para os amantes da Mistério S/A.
Números
Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis (1998).
É hora do terror novamente, já que os fantasmas agora estão aqui. Scooby-Doo na Ilha dos Zumbis (1998) trás o melhor da Mistério S/A com uma excelente animação de personagens e cenário, uma trilha sonora marcante e é claro, um mistério muito além do imaginado.
PRÓS
- A animação do longa tem uma qualidade absurda, sendo uma das melhores já vistas.
- Trilha sonora combina perfeitamente com o ambiente, com um tom mais soturno.
- A ideia de colocar fantasmas de verdade, pela primeira vez na franquia, surpreende.
- Divertido na medida certa e mais além. Mesmo que para um público mais jovem, possa ser assustador.
- A dublagem é implacável, mostrando o excelente papel nesse quesito na Warner Bros.
- Sem nenhum impedimento, a direção acerta com seus próprios passos nesse experimento dentro da franquia.
CONTRAS
- O enredo do longa até interessa e segue o fluxo, mas com alguns solavancos no primeiro e no terceiro ato.