Que a Romênia é lar dos maiores contos da literatura gótica isso não há dúvida. Terra de Vlad, o Empalador (1431-1476), o Voivoda da Valáquia é o personagem real que inspirou um certo irlandês chamado Bram Stoker em seu clássico Drácula, de 1897. Já por volta de 2018, uma outra entidade visitou a região. Era Valak, mais conhecida como a freira encapetada do Universo de Invocação de Mal (ou Invocaverso). Claro que em seu filme solo, A Freira, interpretada pela atriz estadunidense Bonnie Aarons. Acontece que, embora no filme a localidade seja identificada como Abadia de Santa Carta, na verdade trata-se do Castelo Corvino, localizado em Hunedoara. Dito isso, vamos viajar até a Romênia, pegue a sua cruz, reze um belo terço e vamos conhecer um pouco desse Castelo. Esperamos não encontrar nada demais aqui no Guariento Portal.
“Ela aparece como uma freira para se esconder sob seu hábito, até que ela possa corromper todas nós… Ela parecia tudo, menos sagrada”
Irmã Irene (Taissa Farmiga) em A Freira (2018).
Primeiramente, para quem não lembra do enredo de A Freira, aqui vai um breve resumo inspirador. Coisas estranhas começaram a acontecer em uma abadia remota nas montanhas da Romênia. Assim, o Vaticano pede para um padre e uma noviça irem investigar, ao melhor estilo Scooby-Doo. Acontece que ao invés de pessoas mascaradas que dizem ao final odiar crianças enxeridas, o mal era real. Uma criatura, que se descobre ser Valak, tomou a forma de uma Freira – por isso o nome do filme – para possuir alguém e sair do local. É então que temos toda uma investigação do que está acontecendo pelos personagens de Taissa Farmiga, a jovem Irene e o Padre Anthony Burke de Demián Bichir. De fato, as cenas como a do pórtico de entrada, e a dos pátios internos foram gravadas no Castelo Corvino, com permissão do governo romeno.
Cheio de lendas como a Transilvânia, o Castelo Corvino é assim.
O Castelo Corvino (Castelul Corvinilor em romeno ou Vajdahunyadi vár em húngaro) é um velho conhecido do turismo romeno. Tendo iniciado sua construção por volta de 1446 a mando de João Corvino, antepassado de Mathias Corvino, personagem de Civilization VI, o castelo é símbolo de uma das mais poderosas famílias daquele tempo. Os Corvino foram reis da Hungria e da Bohemia, e duques de locais como a Áustria e a Estíria, sendo esta última também ligada a lendas vampirescas melhores que Redfall. É o caso da novela Carmilla, do também irlandês Sheridan Le Fanu, de 1872. O Castelo Corvino é tudo aquilo que se espera de um castelo medieval. Grande, com diversos salões e muralhas altas que serviam de defesa, especialmente quanto indesejáveis turcos que naquele tempo, dia sim outro também buscavam invadir e vassalizar a Europa Oriental.
As últimas alterações drásticas foram feitas no século XVII, e após esse período, o Castelo ficou a mercê do tempo e longe de qualquer autoridade governamental em manter seus tesouros. Não por menos, o Castelo Corvino passou por um período de depredação completa. Um incêndio em seu interior fez com que uma campanha de restauração fosse iniciada, fazendo o Castelo Corvino ser o que é hoje. E é claro, chamando a atenção para ser um excelente ambiente, em especial de filmes de horror, como A Freira. Na historiografia romena, de fato, o Castelo também tem ligação com Conde Drácula, e não com Valak na verdade, que é salomônico. Afinal, Vlad III, O Empalador foi mantido prisioneiro em suas masmorras. O ambiente do castelo em muito poderia ser uma representação do castelo de Drácula do romance de Stoker, a questão é que pelo menos essa parte é mera ficção.
Nem tudo é verdade, mas se tornou um ponto turístico da Romênia.
Pelas anotações do escritor irlandês em Drácula, não há nenhuma menção ao Castelo Corvino. Na verdade, a localização desse castelo chega algo visto em Castlevania, série da Netflix baseada nos icônicos jogos da Konami, em algum lugar desolado. Já em A Freira, acontece que embora seja um Castelo, o filme se passa em uma Abadia, então, nada mais óbvio do que existirem áreas com imagens sagradas. O problema é que para essas cenas internas, não foi possível a filmagem em nenhum local na Romênia. Existe uma vez proibição no país de filmar em lugares ditos sagrados. Por esse motivo, embora a equipe tenha viajado e feito o uso abusivo da área externa do Castelo Corvino, as cenas no interior por exemplo, foram filmadas em estúdio, tendo como base uma Abadia em Sussex, no Reino Unido, de acordo com o diretor do longa, Corin Hardy.
Aliás, além de local turístico, o governo romeno abraçou a ideia de transformar o Castelo Corvino em um ótimo cenário de locação de filmes. Isso vai de encontro com a política local de baratear e subsidiar tais produções, fato que leva filmes de menores orçamentos a se mudarem para a Romênia. O mesmo poderia ser dedicado ao mundo dos games, com estúdios ganhando protagonismo. Mas A Freira não foi um filme pequeno, com seus nada modestos 22 milhões de dólares, recebendo 366 milhões de bilheteria. Agora, se algum dia desejar ver esta Maravilha da Romênia, que pelo menos não é assombrada por nenhum, mesmo que a equipe tenha sido benzida por um padre ortodoxo local, basta sair de Bucareste e se atentar as condições climáticas e ao horário de funcionamento. Só não recomendamos se perder no meio do caminho. Afinal, vai que!