Cavaleiros do Zodíaco, ou Saint Seiya no original, pode até ser uma animação japonesa, nascida em 1986. Porém, seu coração é brasileiro. Responsável pela popularização dos animes na década de noventa do século XX, junto de outros como Sailor Moon e Dragon Ball. Assim, a animação se transformou em “pai” de outras animações, como Digimon e Pokémon. O sucesso de Cavaleiros do Zodíaco fez com que o mangá que começou essa franquia se transformasse em animação, que sofreu com a censura no Ocidente com momentos de extrema violência. No entanto, o lado mais sombrio, pelo menos para os parâmetros ocidentais, foi o lançamento de Os Guerreiros do Armagedon de 1989. Afinal, o foco sai da mitologia grega e passa diretamente para a cultura judaico-cristã. A princípio, essa batalha encerraria Cavaleiros do Zodíaco como um todo, sem sequer ter uma Saga de Hades.
SAI A MITOLOGIA GREGA, E ENTRA A CULTURA JUDAICO CRISTÃ.
Cavaleiros do Zodíaco: Os Guerreiros do Armagedon se encontra cronologicamente após os eventos da Saga de Poseidon. E, de certa forma, “canoniza” os eventos de O Santo Guerreiro (1987) e A Lenda dos Defensores de Atena (1988), filmes que colocam como vilões a Deusa da Discórdia Éris e o Deus da Coroa do Sol Abel. Com a derrocada desses três deuses, surge um novo inimigo para dizimar o Santuário. Seu nome é Lúcifer, o anjo caído responsável pela queda de um terço do céu conforme o Apocalipse. Lúcifer e seus Anjos da Morte matam facilmente os Cavaleiros de Ouro vivos desde a Batalha das Doze Casas, e resta ao grupo formado por Seiya, Shiryu, Hyoga, Ikki e Shun derrotar o mal supremo. Hyoga, nascido na Sibéria e o único em que há informações de ser cristão é o responsável por contar a história do anjo.
Logo, uma dezena de personagens, por várias vezes mencionam o nome de Lúcifer. Afinal, ele era o vilão final de Cavaleiros do Zodíaco. E, sabendo desse personagem na cultura Judaico Cristã, todo o ambiente é muito mais soturno que em qualquer outro filme ou saga da animação. O Pandemônio, local de culto de Lúcifer é pavorosamente escuro e macabro. O nome Satanás ainda é utilizado em alguns momentos do filme. Esse nome vem do Hebraico שָטָן, que significa “Adversário”. Além desta figura adversária, há momentos que fazem menção a vida de Jesus Cristo. Por exemplo, um dos golpes de Moa de Trono, membro dos Anjos da Morte mostra o soar do Angelus. Esse é o momento da Anunciação, em que o Arcanjo Gabriel se revela para Maria e informa que ela será a mãe do Salvador.
ESSE SERIA O FINAL DERRADEIRO DE CAVALEIROS DO ZODÍACO.
Outro ponto de destaque em Os Guerreiros do Armagedon é o caminho de Atena até o trono de Lúcifer no Pandemônio. Em troca de evitar a morte de inocentes, Atena se “sacrificaria” subindo as suas escadarias. Acontece que a subida é repleta de sofrimento, incluindo um momento de raízes cheias de espinhos que drenam o sangue da deusa da sabedoria. O próprio anjo caído destaca que esse caminho se assemelha a Via Crucis, que Jesus Cristo se submeteu até a sua Crucificação. E, a trilha sonora ainda ajuda nesse ambiente. Não por menos, uma das canções do longa, Child of Dawn ou “Filho do Amanhecer” é utilizada depois na Saga de Hades. Essa é a música do Senhor do Submundo. Sim, a música do próprio Hades quando ele aparece em seu palácio no Inferno.
E não é só isso. A violência extrapolava os limites. Embora não censurado, o filme conta com uma momento em que Ikki de Fênix é completamente decapitado e depois desmembrado, algo que até em Cavaleiros do Zodíaco é algo forte. Agora, quanto a censura, essa existiu em um momento. É o caso de uma Bíblica sendo queimada. Isso, naquela época foi visto como um problema e foi suprimido. Contudo, em aparições posteriores e versões remasterizadas do filme a cena retornou. Mesmo assim, Seiya de Pegasus, como sempre, foi capaz de vestir a Armadura de Ouro de Sagitário e disparar uma flecha contra Lúcifer. Algo que ele fez contra Éris, contra o nórdico Durval em A Grande Batalha dos Deuses (1988), e contra Abel. Esse seria, no fim das contas, o fim de Cavaleiros do Zodíaco se não fosse pelo aparecimento de Hades e a quebra de seus 108 selos malignos.