Muitas são as formas de explicar a existência do Sol e da Lua, como a personificação de Khonshu no Egito Antigo. Mas nenhuma delas esbanja tanto carisma como a história contada dentro do Legendarium, o mundo criado pela mente que deveria ser estudada do escrito britânico John Ronald Tolkien. Provavelmente você deve conhecê-lo como J.R.R. Tolkien (1892-1973). Trazendo raças como elfos, anões, magos e homens em um mundo que vai além da Terra-Média, a criação – e posterior destruição – das Duas Árvores de Valinor é um acontecimento marcante. Isso levou a uma migração completa, e uma guerra para deter Morgoth, o Primeiro Senhor do Escuro. Porém, Telperion e Laurelin existiam bem antes dos Aneis do Poder da Amazon Prime ou de O Senhor dos Aneis. E aliás, você vai entender um pouco mais de seu ciclo de vida e morte aqui no Guariento Portal.
Da completa escuridão, surgem as Duas Árvores de Valinor.
Tudo começa quando os Valar, espíritos subordinados exclusivamente a Eru Ilúvatar – o equivalente a Deus dentro do Legendarium – descem até o mundo, chamado de Arda. Esses espíritos se assentam em Aman, uma porção de terra ao Oeste da Terra-Média. Ali, eles fundaram uma cidade chamada Valinor, também habitada pelas três raças de elfos, os Vanyar, os Noldor e os Teleri. Sim, os elfos não são todos iguais, existem raças específicas de cada um deles. Porém, todos viviam em harmonia, mas havia a necessidade de se criar a luz. Por isso, Yavanna, a Valar que cuidava das plantas e dos animais produziu na colina de Ezehollar Telperion, a primeira das Duas Árvores. Depois, foi a vez de Laurelin, a segunda das Duas Árvores. Elas eram literalmente a luz que iluminava Valinor e encantavam a todos que sentiam sua presença.

Com sua própria luz, o reino dos Valar foi iluminado, com a triste lembrança das primeiras lamparinas, derrubadas por Morgoth quando este roubou suas luzes, as Silmarils (de onde vem o livro Silmarillion). As Duas Árvores eram alimentadas pelas lágrimas de Nienna, a Valar da Piedade. A primeira a ser feita, Telperion, de aspecto masculino, tinha um brilho prateado – obviamente se mostrando o antepassado da Lua – com suas folhas em prata em um dos lados. Já Laurelin, de aspecto feminino, trazia uma luz dourada – representando futuramente o Sol – com suas folhas e frutos de mesma cor. Durante os Anos das Árvores, que para os Valar e os elfos foram poucos, porém, aos homens equivalem a milênios, os Valar viviam sem quase nenhum problema em Valinor. Óbvio que ficavam a espreita, buscando o paradeiro de Morgoth, que tinha se bandeado para o lado negro da força.
A sombra do passado sempre fica à espreita, esperando o momento.
Os Valar inclusive coletavam a seiva e o orvalho das Duas Árvores em toneis, função feita por ninguém menos que Varda, a Rainha dos Valar. E assim foi feito por um tempo. Mas o mal não se conforma com a luz, buscando sempre pela escuridão. E com ranço e inveja das luzes do mundo, Morgoth tramou novamente para que tudo ficasse no escuro, do jeito que ele mais gostava. Nas profundezas da escuridão, Morgoth se aliou ao espírito de uma aranha gigante, Ungoliant. Ela é parente da mesma aranha que mais a frente quase acabaria com a jornada de Frodo (Elijah Wood) para destruir o Um Anel em O Senhor dos Aneis. Pacientemente, ambos esperaram o melhor momento de destruir as Duas Árvores. Aqui, o termo pacientemente deve ser levado em consideração, pois como um Valar, Morgoth também não tinha problema com o tempo.

Chegado o momento da destruição, Morgoth perfurou Telperion e Laurelin para que Ungoliant pudesse sugar até a última gota de sua seiva, e assim foi feito. A aranha inclusive destruiu todos os toneis que guardavam a vida das Duas Árvores. Ao fim, Ungoliant havia crescido de maneira descomunal, e Morgoth foi embora com ela, mesmo que tenha ficado com medo de seu poder. Com a destruição das Duas Árvores, Valinor novamente se tornou tão escuro quanto à queda das lamparinas ainda no despertar das Eras, e os elfos se colocaram em uma batalha contra Morgoth. O Escurecimento de Valinor foi o responsável por uma migração de elfos Noldor para a Terra-Média. Mas também é a sombra de um dos capítulos mais sombrios dentro da história élfica, o Fratricídio de Alqualönde, quando elfos mataram seus irmãos elfos, algo nunca esperado dessa raça.
O Sol e a Lua são os resquícios do poder das Duas Árvores.
No entanto, os Valar ainda tentaram trazer a vida novamente as Duas Árvores, porém sem sucesso. Mesmo com o choro de Nienna e com o canto de Yavanna, as árvores morreram para todo o sempre. Porém, não sem antes deixar uma semente de esperança. De Telperion, uma pequena folha prateada nasceu, enquanto de Laurelin seu último fruto foi gerado. Depois disso, não houve mais vida dentro das Duas Árvores. As únicas luzes primordiais que passaram a existir foram as Silmarils, que audaciosamente Morgoth roubou e colocou em sua coroa de ferro, depois de partir para o norte da Terra-Média. Mas a descendência das Árvores, embora não com todo o esplendor do passado, se transformaram no Sol e na Lua, sendo o primeiro o fruto de Laurelin e o segundo, a folha de Telperion.

Esses dois presentes foram dados a Valar menores, para que fossem levados ao Céu. Dentro de um recipiente especial, o fruto dourado de Laurelin foi dado a Arien. Enquanto isso, a folha de prata de Telperion foi dada a Tilion (não o Lannister), um exímio caçador, que também deveria guiar o resquício da luz pelo céu. Seu caminho era do Oeste para o Leste – motivo pela qual no início, o Sol nascia no Oeste dentro do Legendarium. O pequeno problema é que Tilion era mais instável que Arien, e de vez em quando, ele passava em sua frente ou aparecia no céu quando quem devia estar era apenas Arien. Por essa instabilidade, iniciou-se, por exemplo, a explicação para eclipses solares e de dias em que o sol e a lua estavam no mesmo momento no céu. Pelo menos, em nenhum momento, a Lua cismou em cair.
Númenor recebe uma dádiva, mas se revolta contra o Criador.
Infelizmente, Laurelin não deixou qualquer tipo de descendência vegetal, mas isso não pode ser dito de Telperion. Pelo menos mais ou menos. Por ser mais apreciada pelos elfos, que viam Laurelin como símbolo do nascimento dos Homens, Yavanna produziu uma segunda árvore idêntica a Telperion, porém sem a luz das Duas Árvores de Valinor. Como presente, essa árvore branca foi plantada na cidade de Tirion, ainda em Aman, e dela muitas mudas saíram, como Celeborn, plantada na ilha de Tol Eressëa, também uma região élfica. É de Celeborn na verdade, que temos uma nova dádiva, um presente aos homens que faziam morada em uma ilha chamada de Númenor – uma fonte dentro do Legendarium para algo parecido com Atlântida -. A mudinha da árvore cresceu e se tornou a imponente Nimloth, a Árvore Branca de Númenor.

Porém, se Morgoth havia sido destruído, isso não podia ser dito de seu intendente mais poderoso, Sauron. Quando aquele que tem a fala mansa da Segunda Era literalmente muda a cabeça da maior parte dos numenorianos contra Ilúvatar. Ao ponto inclusive de se colocar como um ser de culto para toda Númenor, a árvore é derrubada. Este aliás é o principal momento em que os homens de Númenor se viram contram os Valar e contra o Criador. Porém, Nimloth não estava de toda destruída. Isildur (Maxim Baldry) – o mesmo personagem que mais tarde iria cortar o dedo de Sauron na Última Aliança em O Senhor dos Aneis – consegue salvar o último fruto daquela árvore. Mesmo que quase não tenha sobrevivido a empreitada e completamente ferido. Com o fim de seu lar, Isildur e todos aqueles que não se converteram ao poder de Sauron partem para a Terra-Média.
A árvore branca estampa as obras élficas e o selo de Gondor.
Já em sua nova Terra, a quase filha de Telperion ainda seria posta em ameaça mais uma vez. Após o desembarque, os homens de Númenor fundaram o Reino de Gondor, cuja representação é uma árvore branca. Aquele mesmo fruto foi plantado em Minas Ithil, uma fortaleza próxima à terra de Mordor. Quando Sauron mais uma vez, incansável em sua sina de governar a todos, conquista a fortaleza dos homens, rebatizando de Minas Morgul, uma nova muda é transplantada. Afinal, a árvore é destruída mais uma vez com sua cidade, e a muda é levada para Minas Tirith. Esta cidade se torna então a capital do reino dos homens de Gondor. É ela inclusive, a Árvore Branca de Gondor que é vista em O Retorno do Rei anunciado a maior batalha da Terceira Era, a Batalha dos Campos de Pelennor.

Assim, dentro do Legendarium, o Sol e a Lua nada mais são do que o último suspiro das Duas Árvores de Valinor. Do poder da prateada Telperion e a dourada Laurelin, que iluminavam o mundo em uma época tão antiga que somente seres quase imortais ainda estavam vivos nos acontecimentos posteriores. Como é o caso da nova ascensão de Sauron e sua busca pelo Um Anel. Ou então durante a jornada literária de certo hobbit para ajudar uma comitiva de anões a buscar o seu lar de um terrível, e último dragão: Smaug. Agora, é possível compreender o motivo de muitas das artes élficas terem a impressão de árvores. Da mesma forma como o caso da bandeira do Reino de Gondor, trajada por seu último rei, Aragorn (Viggo Mortensen), filho de Arathorn na destruição completa de Sauron no fim da Terceira Era.
Pena que elas não apareceram tanto em Anéis do Poder. Mas os dez segundos dela já me fizeram viajar por todo aquele momento que eu viajei lendo Tolkien.
Sim, mas primeiro obrigado por comentar e seja bem vindo ao Portal. As Duas Árvores poderiam ter aparecido mais. Porém, já que toda a história dela é da Primeira Era e Aneis do Poder fica na Segunda Era, infelizmente só foi um flashback. Mas, já que pelo visto você curte essa família Tolkien, que tal conhecer também o momento que falamos do Um Anel. Pode ir lá dar uma olhada, se quiser é claro. https://guarientoportal.com/curiosidades/filmes/um-anel-sauron
Opa, eu que agradeço pelas boas novas. E parabéns pelo site, está bem escrito. Vou a dar uma olhada no que escreveu sobre o Anel de Sauron, pode deixar.
Esse mês meu irmão tá felizão com tudo que está passando na televisão. Teve Sandman, Casa do Dragão e agora O Senhor dos Anéis. Finalmente ele vai parar de falar um pouco sobre essa espera.
Claro né Vi, e vou encher o saco ainda mais! Pois se agora não é espera, é para falar mais ainda por aqui.