O século era outro, o milênio também quando A Múmia chegou até os cinemas internacionais, em 1999. Fruto de uma ideia da Universal Studios em reviver suas franquias de monstros e criaturas da década de 30, o filme teve um início conturbado, seja nas gravações quanto no formato da aventura de seu roteiro. Trazendo a criatura de ataduras do Egito Antigo, o espectador é levado a conhecer Imhotep, o antigo sacerdote amaldiçoado por ter matado seu faraó em amor por Ankh-Su-Namun. Três mil anos depois, uma bibliotecária do Cairo se encontra com um mocinho não tão mocinho assim em busca de Hamunaptra, A Cidade dos Mortos. É claro que ela lê um livro que não devia trazendo uma maldição que pode dar muito ruim. Mas então, será que A Múmia (1999) é realmente bom? É o que você vai ver nesse Revisitando o Passado.
Existe uma antiga lenda de um lugar chamado A Cidade dos Mortos. Eles foram descobrir os seus segredos. Buscavam revelar o seu tesouro. Mas o que fizeram foi libertar uma força como nenhuma outra que o mundo já viu.
Chamada traduzida do Trailer de A Múmia, de 1999.
Aventura pastelona com bons efeitos especiais. Vai dizer que você não lembra da Múmia se regenerando dissecando uma ou outra pessoa?
Primeiramente, é importante destacar a pegada que A Múmia (1999) tem quando se trata do monstro milenar. E bota milenar nisso! Sendo uma refilmagem com outra roupagem de um filme da década de 30 da Universal, o longa de 1999 é pipoca com bastante manteiga. Simples assim! Ao invés de momentos perturbadores de terror, a história é bem mais aventuresca, ao estilo Indiana Jones de ser e bem organizada pelo diretor Stephen Sommers (que depois faria Van Helsing: O Caçador de Monstros). Então, não espere pelo roteiro que ultrapassam a consciência humana, nem mesmo um subtexto que te fará dar uma de Dostoievski quando estiver vendo o filme. Ele é simples, direto, bem pastelão e com alívio cômico, até demais é verdade! Embora funcione. É claro que existem momentos perturbadores, como quando a Múmia ressuscita ou dos escaravelhos comendo uma carninha.
Além disso, A Múmia (1999) também se destaca nos efeitos visuais. Claro que alguém que o veja nos dias de hoje irá notar uma defasagem, leve é verdade, desses efeitos. A tempestade de areia com a carona de Imhotep assim como a própria reconstrução bem fresca da Múmia foram feitos pela Industrial Light & Magic, estúdio de ninguém menos do que tio George Lucas. E junto com a trilha de acordes épicos de Jerry Goldsmith (de capirotesco A Profecia) trazem uma ideia bem grandiosa para A Múmia (1999). E realmente até hoje a reconstrução da Múmia que suga os fluidos corporais de todos aqueles que abriram a caixa com seus restos mortais dá um medinho. Pode falar! A galera inteira do filme fala de uma Maldição, que não se pode ler isso. E? Adivinhem? É claro que os personagens vão fazer essas escolhas. Não pergunte o motivo. Eles apenas fazem.
Os personagens, por mais incrível que possa parecer são caricatos… E bons! Sim, você tem que saber que isso não é um Sopranos. E que personagens caricatos se encaixam perfeitamente nesse mundo.
E justamente falando de personagens, aqui temos uma joia até mais interessante que o sarcófago de Tutankamon. Afinal, quem imaginaria que Brendan Fraser (de George, o Rei da Floresta) entregaria um personagem que incrivelmente combina e é a marca do filme? Vivendo o ex militar Rick O’Connell, Fraser trás um personagem que tem medo, não é imortal tipo Tom Cruise (a Referência é bem pesada aqui), mas que também não foge de uma boa briga, mesmo com um morto vivo. Embora se perca em alguns momentos com o excesso de piadas fora do tom. Já Rachel Weisz, que vive a bibliotecária Evelyn Carnahan. Inteligente por demais, ela não tem a malícia que O’Connel tem do mundo real. Até pelo fato de passar a maior parte do tempo dentro do Museu do Cairo, e sendo terrivelmente desastrada, algo que o filme faz questão de jogar na nossa cara.
Completando o núcleo que interessa, temos ainda John Hannah, que faz o papel do irmão treteiro de Evelyn, Jonathan. Em outras palavras, ele de fato é o alívio cômico e o estereótipo do cara que quer riquezas, e as rouba de vez em quando. Mesmo assim, há uma certa ligação com o espectador embora ele seja o personagem mais sem noção dentro do grupo, uma vez que grande parte de seus momentos de graça são terrivelmente desprovidos … de graça. A junção de Fraser e Weisz consegue trazer um humor melhor. Já Arnold Vosloo faz Imhotep. Ou pra quem não conhece, a Múmia mesmo. Sua imponência se coloca em tela. Embora seja uma adaga de dois gumes. Mesmo tendo cara de mal, e jeitão de mal, Imhotep até se mostra como um vilão durante sua regeneração, mas depois, fica uma sensação de que ele não é tão vilanesco assim.
A direção é competente de verdade, trazendo ângulos mais fechados nas “masmorras”, quase ao estilo videogame de The Legend of Zelda e seus Templos em Ocarina of Time. E junto disso, a trilha sonora e os efeitos plásticos.
Lembra dos efeitos especiais que a gente ali acima nessa Crítica do Revisitando o Passado falou? Então, mas não só de tela verde vive A Múmia (1999). Alguns efeitos plásticos também eram usados. Ou a junção de ambos. O prólogo, trazendo a grandiosidade do Egito Antigo é obviamente quase todo em computação gráfica, mas algumas estátuas e construções no deserto foram feitas do zero para colocar a equipe mais dentro da narrativa. Algo que foi se perdendo com o tempo. Basta você ver como foi filmado O Senhor dos Aneis e depois O Hobbit e ver a diferença do uso do plástico com o gráfico. Mas bem, voltando para a terra dos faraós. Temos também o estilo egípcio. É claro que as túnicas e roupas daquela época podem estar um pouco desconexas? Sim! A Múmia (1999) não é um documentário histórico. Se fosse assim, nem mesmo Imhotep seria vilão.
Há por fim um destaque positivo na direção do já mencionado Stephen Sommers. Responsável por trazer esse lado mais de aventura em um filme do Lorde das Ataduras, é fácil ver que o uso de tons marrons, como as areais do deserto e as construções do Egito combinam muito bem. Assim como a direção da câmera, que é competente especialmente em grandes imagens, como a Sala dos Tesouros de Hamunaptra, ou as cavernas e vielas das cidades e das catacumbas onde as criaturas e maldições se espreitam. Mesmo que não seja apavorante ou aterrador, se alguém viu esse filme quando criança teve medo dos escaravelhos ou da ressurreição. Quem lembra da cena de que todos estão consumidos pela maldição do todo poderoso sacerdote quase vivo. Desta forma, dá pra dizer que A Múmia (1999) é um trabalho bem competente e galgou o trabalho do diretor para outros filmes.
Gente, você foi avisado cerca de quatro vezes nesse Revisitando o Passado que a história não é o ponto forte de A Múmia (1999)? Então, qual será o elemento que o filme peca mais? Personagens por acaso?
Porém, nem tudo é flores no Deserto do Saara, já que A Múmia (1999) também tem seus deslizes. Na verdade, uma queda de cara na areia. Você provavelmente viu que o roteiro não está aqui, e nem sequer foi falado. E não por acaso. Embora seja rapidinho e que flui, ele apresenta alguns desníveis. É legal pra caramba ver a regeneração da Múmia e de seu medo por gatos, assim como de seus poderes mais próximos das Pragas do Egito (que não eram da época de Imhotep, mas como dito, A Múmia não é um documentário de História Antiga). No entanto, da mesma forma que o filme vem, te pega e te diverte, ele também pode ser esquecido facilmente com o tempo. Não era preciso muita coisa para que a história fosse um cadinho mais profunda com um pouco mais de violência para a ressureição do dito cujo.
A Múmia (1999) é chicleteiro. Ou seja, seus personagens são legais, a história corre bem rapidinha e os efeitos, mesmo depois de décadas são competentes. Dá um gosto de ver como o Egito Antigo foi trabalhado, mesmo com o defeito do roteiro.
Assim, A Múmia (1999) pode ser visto como um filme pipoca banhada na manteiga. Mas aquela manteiga grudenta por demais. Porém, que todo mundo come. E até o final. Trazendo uma vertente bem diferente dos Monstros da Era de Ouro da Universal, aqui temos uma aventura com todos os seus trejeitos. Um homem com pitadas de comédia, a mocinha que faz o papel de inteligente, o vilão que tem uma cara vilanesca e o alívio cômico da hora errada. Porém, diferente de Tubarão (1975) e Anaconda 2 (2004) por exemplo, que tem animais, a rapidinha história do Egito Antigo consegue levar o espectador para um mundo que tem tons de feitiçaria na veia e que encanta. E aqui ela fica mais divertida com poderes e maldições no que na História da escola. Trilha sonora, efeitos especiais e a atuação canastrona dos personagens dão o Registro Geral de A Múmia.
No entanto, a história do filme de certa forma é honesta. E isso ninguém pode negar. Mas precisaria ser melhor aproveitada. Mesmo com o carisma de seus personagens. Basicamente, enquanto Imhotep está renascendo, criando moscas, chuva de meteoros e vertendo as águas do Nilo em sangue ele é temido. É pavoroso e dá um medo do caramba para uma criança de dez anos de idade. Porém, completamente ressuscitado o Lorde de Ataduras simplesmente parece alguém de outra era, com um corpo musculoso e bem preparado de academia. Apenas isso. Há essa quebrada do roteiro que o personagem em versão computação chega a ser melhor que o original. Além disso, pela classificação do filme para crianças de 13 anos, não espere por nenhum elemento nojento que a Era de Ouro da Universal poderia trazer em A Múmia (1999). É um filme pastelão adolescente de aventura da década de 90.
Recomendação do Revisitando o Passado? Assim, A Múmia (1999) é aquele filme que você pode trocar pela Sessão da Tarde, sentar com um irmão mais novo ou um filho e se divertir. Não te fará pensar na vida, na verdade e no Universo, mas te grudará na televisão por algum momento por pura diversão.
Então, o que dizer de A Múmia (1999)? Para quem recomendar nesse Revisitando o Passado? Oras, se está no Revisitando o Passado, é provável que você já tenha visto ao menos uma vez na vida esse filme. Claro que ele não é um mar de qualidade, apresentando alguns momentos em que a graça devia ser jogada para escanteio, e vai lá e o personagem tem que fazer uma piada. Mas é extremamente divertido, e esse é o seu melhor ponto. Descompromissado, o espectador acaba entrando na onda de uma múmia milenar e da necessidade de matar alguém imortal. Sem muito o que dizer, com uma história rapidinha e com personagens que se encaixam em cena, A Múmia (1999) é o filme clássico de Sessão da Tarde para assistir com o seu filho ou irmão mais novo. E claro, com um balde de pipoca grudada na manteiga.
Números
A Múmia (1999).
A Múmia (1999) é um filme pastelão aventureiro com algumas pitadas de terror. No calor do Egito, tudo é corrido, com uma história simples e personagens simpáticos. Sem dúvida, é o típico filme Sessão da Tarde.
PRÓS
- Sem dúvida divertido. A melhor experiência de um filme de Múmia atualmente.
- Trilha sonora e ambientação com tons épicos de uma jornada.
- Efeitos especiais competentes até mesmo para os dias de hoje.
- Personagens simpáticos, que se perdem um pouco no tom. Porém simpáticos e com ótima ligação.
- Direção inteligente ao pincelar uma aventura com cenas rápidas de horror.
CONTRAS
- A história poderia render algo maior e melhor. É épico, mas ao mesmo tempo não é.
- A Múmia em si é um baita vilão, mas quando está se regenerando. Ela poderia ser mais perigosa.