A busca do equilíbrio é mais antiga do que aparenta. Tanto Thanos quanto Thomas Malthus tinham ideia de que os recursos eram escassos. E que a população crescia além destes recursos. Assim, o Titã Louco acreditava que com um estalar de dedos, a Teoria Malthusiana seria posta em prática.
É impossível que até a presente data, você não tenha visto os dois últimos filmes da Saga de Super Heróis da Marvel, Os Vingadores. Mas se você não viu, aqui vai o tema central deste arco. Em Guerra Infinita (2018), Thanos, uma criatura vinda de Titã, uma das Luas de Saturno busca as Jóias do Infinito. Seu intuito é bem simples; ao ver seu planeta ser devastado pelo aumento populacional e a escassez de recursos, ele busca um equilíbrio. Para isso, pretende matar metade de toda a vida do Universo. Thanos permitiria assim, em sua concepção, que a outra metade viva em dignidade.
Pode parecer loucura do Titã Louco, que o transforma em um verdadeiro tirano, mas não tem nada de alienígena em seu argumento. Na verdade, essa ideia é bem terrena. Um homem, o pai da demografia construiu uma Teoria que dizia que o aumento populacional era um caminho sem volta. O construtor dessa ideia foi ninguém menos que Thomas Malthus, e por isso a ideia se transformou na Teoria Malthusiana.
Com preguiça de ler toda toda a curiosidade? Não devia, ainda mais se você gosta do Universo Marvel. E também, de um pouco de história e política. Mas, se mesmo assim você prefere um resumo de uma situação já resumida sobre o encaixe da Teoria Malthusiana com o Titã Louco, Thanos, aqui vai:
- É de conhecimento geral o que Thanos, o principal vilão do Universo Cinematográfico da Marvel deseja. Controlando as Joias do Infinito, ele dizimaria metade de toda a vida no Universo em busca de um equilíbrio. Esse “problema” clássico de oferta e demanda já havia sido debatido bem antes, com Thomas Malthus, o pai da Teoria Malthusiana e da demografia.
- Segundo Malthus, o crescimento da produção de alimentos era inferior ao crescimento populacional. Assim, chegaria-se em determinado momento que a fome seria inevitável. Para isso, o controle populacional se mostrou a única forma. Seja com celibato, seja se casando mais tarde.
- Com o advento da Revolução Verde, a Teoria Malthusiana perde força, uma vez o aumento colossal da produção alimentícia. Contudo, a teoria é reformulada pelos neomalthusianos, que colocam agora a pobreza como problema fundamental. Sendo assim, quanto mais a população aumenta existe uma tendência do aumento da pobreza e da violência.
- Esse argumento, embora não dominante deixou marcas em outras teorias e políticas sociais durante o século XX. Também é usada no cinema, como no filme baseado no livro homônimo de Dan Brown, Inferno (que você pode conferir a crítica aqui no Guariento Portal), e também Godzilla, o Rei dos Monstros.
Num contexto terráqueo, Thomas Malthus (1766-1834) verificou as mudanças sociais ocorrendo em tempo real. Nascido no Reino Unido, o iluminista via as modificações ocasionadas pela revolução Industrial dentro da Inglaterra. Não por menos, sua maior obra é “Um Ensaio sobre o Princípio da População”. Com esse estudo, Malthus foi colocado como o pai dos estudos da população, a demografia. O cientista via que a maior parte da população campesina passou a trabalhar em indústrias e se movimentar para os centros urbanos. O capitalismo industrial começaria a se formar ali.
Porém, uma coisa preocupava Malthus, da mesma forma que Thanos. Com o “progresso” vivido pela humanidade no período, o cientista notou alguns dados. Queda na taxa de mortalidade e aumento da taxa de natalidade. Sendo assim, passou-se a morrer menos pessoas e a nascer cada vez mais. Isso criaria um perfeito paradoxo, uma vez que os recursos da Terra são obviamente escassos. Malthus então fez uma previsão catastrófica; nestas condições, a humanidade seria jogada na fome.
Matematicamente, Malthus concluiu que a população crescia em progressão geométrica. Em contrapartida, a produção de alimentos vinha em progressão aritmética. Sendo assim, em algum momento do tempo, não haveria mais comida para toda a população. Assim, a humanidade viveria tempos sombrios. Essa seria a catástrofe Malthusiana. E qual a solução para este dilema? Bem, diferente do Titã Louco que buscava a morte de metade da população, Malthus via o controle populacional como a melhor saída. Casamentos cada vez mais tardios, assim como o celibato poderiam contribuir para que a curva de crescimento da população diminuísse.
Pois bem, Thanos deve ter lido os escritos do demógrafo, mas foi mais radical. Políticas de controle de natalidade não seriam viáveis, e vendo o fim de seu planeta, o tempo não estava a favor. Por isso, Thanos sai em busca das Joias do Infinito para que, apenas em um estalar de dedos consiga trazer um equilíbrio para o Universo. Com as devidas escalas, tanto Thanos quanto Malthus buscavam um censo em comum, o equilíbrio entre a escassez e a sobrevivência da vida.
Através dos Neomalthusianos, ao invés de alimentos, o aumento populacional levaria a uma dificuldade maior do desenvolvimento de uma nação. Assim sendo, em outras palavras, quanto mais a população crescesse, mas a pobreza e a criminalidade se inflaria na humanidade
Claro que existem argumentos mais do que válidos que retiram as ideias da Teoria Malthusiana, pelo menos para alguns. Malthus não contava com a Revolução Verde que simplesmente fez crescer ainda mais a produção de alimentos. Assim, eliminando a possibilidade de crescimento por progressão aritmética deste fator. Já Thanos, com o poder das Joias do Infinito poderia simplesmente dobrar os recursos do Universo para que jamais houvesse fome, ao invés de matar metade de toda a vida. Mesmo assim, se a Teoria Malthusiana saiu do cenário internacional, ela depois retornaria com uma nova variável, a pobreza. Através dos Neomalthusianos, ao invés de alimentos, o aumento populacional levaria a uma dificuldade maior do desenvolvimento de uma nação. Assim sendo, em outras palavras, quanto mais a população crescesse, mas a pobreza e a criminalidade se inflaria na humanidade. Assim, Thanos novamente tem uma sobrevida com o seu argumento.
Uma diferença fundamental entre os dois é que, por mais paradoxal que seja, Thanos detinha um senso de igualdade entre as criaturas que desejava destruir. Enquanto as Teorias Malthusiana e Neomalthusiana, por óbvio, eram destinados aos mais pobres e vulneráveis. Afinal, cientificamente são os que mais são afetados por políticas de controle de natalidade. Já Thanos não decidia por si mesmo quem viveria e quem morreria. Isso ficaria a cargo do Destino. Seu modus operandi era simplesmente dividir a população do planeta dominado ao meio. E assim metade deles era dizimado, enquanto a outra viveria para contar a história. Seria mais ético e moral do que o proposta por suas contrapartes humanas? Isso entra em outra discussão. Fato é que, embora a Teoria Malthusiana não esteja presente como dominante na política humana hoje em dia, ela deixou marcas.
Os próprios Neomalthusianos, por exemplo, tem seu próprio grupo de aceitação. E não por menos, no decorrer do século XX suas teorias influenciaram políticas ao redor do mundo. A China, lar de um sétimo da população atual até o fim do século passado detinha a Política do Filho Único. Uma clássica forma de colocar as ideias de controle populacional em prática. A eugenia perpetrada pelo nazismo durante os eventos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) também bebe da fonte de Malthus. Aqui, todos aqueles que não fossem alocados na raça ariana e que tivessem algum distúrbio deveriam ser selecionados e castrados, mesmo que quimicamente. Assim, se homogeneizava a população, destruindo os detentores de genes ditos perigosos, assim como se controlava a população.
No fim das contas, o Titã Louco do mundo cinematográfico da Marvel é bem mais humano do que poderia se imaginar.
Por fim, grupos ambientalistas usam a ideia de “praga humana” para se referir a perda de biomas causados pela ação humana, comparando-a a um câncer. E, como tal doença, deve ser retirado da equação. Esta teoria inclusive é usada no mundo do cinema como plano de fundo. Por exemplo, em Inferno, baseado no romance de Dan Brown e também em Godzilla 2: Rei dos Monstros. No fim das contas, o Titã Louco do mundo cinematográfico da Marvel é bem mais humano do que poderia se imaginar. Sua ideia de equilíbrio definitivamente não é nova. E não é tão fácil assim de se por em prática como num estalar de dedos.
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