Dezesseis anos após uma batalha, o Egito e o Império Hitita assinavam o Tratado de Kadesh. Trata-se de um acordo que pararia dois séculos de animosidades, e o mais antigo que conseguiu sobreviver até a modernidade.

Relações entre Estados no mundo moderno são comuns. Algumas vezes turbulentas, outras de forma pacífica. Contudo, a ideia de Relações Internacionais é tão antiga quanto a construção da sociedade. Quanto Impérios começaram a surgir, no Vale do Indo e na região Mesopotâmica, era comum o confronto entre grupos rivais. Algo propício na história, especialmente naquela região, que foi dominada por sumérios, assírios, babilônicos, persas, gregos e árabes. Porém, nem sempre a Arte da Guerra era a melhor opção. E mesmo dezesseis anos após a Batalha de Kadesh, dois governos buscaram a diplomacia. Assim nasce o Tratado de Kadesh, o mais antigo tratado que chegou até a modernidade.
Mas então, o que diabos é Kadesh? Kadesh era uma cidade cananeia ao lado do rio Orontes. Hoje, seus restos se encontra no território da Síria. Ali, quando Ramsés II governava o Egito uma batalha ocorreu entre este e o Rei dos Hititas. Os Hititas eram um dos povos que viviam na Anatólia, atual Turquia, e mantinha zona de influência na região do Oriente Médio. O mesmo que o Egito também queria. Com duas potências regionais buscando medir forças, não foi preciso muito tempo para que os exércitos se encontrassem. Na verdade, as animosidades entre hititas e egípcios duravam mais de duzentos anos. Foi então que em Kadesh a principal batalha aconteceu, mas deu em empate. Não por menos, pela influência dessa batalha, o acordo tem o nome de Tratado de Kadesh.

A Batalha de Kadesh parece ter ocorrido no quinto ano do Reinado de Ramsés II. O que em teoria colocaria a uma data de 1.312 a 1.275 a.C. O rei dos Hititas se chamava Muatal II, e sua residência oficial era em Hattusa, a capital do Império Hitita. Com a indefinição da Batalha de Kadesh, ainda demoraria dezesseis anos de relações pouco amistosas até que o Império Egípcio e os Hititas entrassem com uma espécie de acordo de paz. Até aquele momento, outros problemas começaram a aparecer para os dois impérios, chamando mais a atenção do que as animosidades entre si. Os egípcios tinham sérios problemas com “os Povos do Mar”. Até hoje não se sabe ao certo que povo marítimo era esse.
Já os hititas viam com preocupação o crescimento da Assíria no Médio Oriente. Então, para preservar alguns frontes de uma possível batalha, nada melhor do que baixar as armas e deixar os escribas trabalharem. O Império Hitita foi o percursor do Tratado. Após a morte de Muatal II, quem assumiu foi seu irmão, Hatusil III. Conta-se que uma tabuleta de argila foi feita por escribas hititas para o faraó do Egito. A tabuleta original se perdeu, mas se manteve viva através da reprodução dos dois povos. Resquícios na língua hitita foram encontrados na antiga capital, enquanto que Ramsés foi bem mais enérgico. Traduziu o Tratado de Kadesh e mandou grafá-lo em seu templo funerário na antiga cidade de Tebas. Essa “tradução” do egípcio antigo ajudou a compreender a língua hitita tal como a Pedra de Roseta para o próprio egípcio antigo.

O Tratado de Kadesh por fim durou oitenta anos, até o desmonte completo do Império Hitita. Embora não se tornassem amigos do peito, os dois reinos mantiveram relações amistosas. Ramsés II se casou com uma princesa Hitita por meio do Tratado assinado. Além disso, anos depois, já no reinado do faraó Merneptá, os egípcios doaram cereais para os Hititas. Eles passavam fome pois uma mudança climática destruiu suas plantações, e para que o povo não passasse fome, o faraó assim o fez. Em termos comerciais, ambas as nações saíram favorecidas, porém em especial o Egito. Agora, ele detinha uma rota até a região de Ugarite, um entreposto comercial, antes de posse apenas dos Hititas.
Com a ameaça hitita neutralizada, Ramsés pode controlar o farto tesouro egípcio para obras pessoais, como os luxuosos templos de seu tempo. Entre eles, o de Abu Simbel, que ainda pode ser visto no Egito, embora em outro local. Os povos do mar se tornaram em verdade a ameaça principal. Já para os Hititas, o Tratado de Kadesh representou estabilidade interna e externa. Como já falado, o Império estava com um novo monarca, que não gozava de muito prestígio, e a Assíria roçava o lado do Rio Eufrates. Com o Tratado, se algum povo estrangeiro atacasse o Império Hitita, o Egito automaticamente entraria em guerra também. Isso bastou para que a ameaça Assíria ficasse contida por certo tempo.

O Império Hitita não terminou de fora para dentro, mas de dentro para fora. Uma Guerra Civil consumiu o Império, saqueando Hattusa, a capital, e o restante da população fugindo para as montanhas. Já o Egito se manteve, embora posteriormente se tornasse um protetorado grego, romano e depois dominado por árabes e britânicos até atingirem sua independência. Hoje, o Tratado de Kadesh tem diversos exemplares espalhados em paredes de templos egípcios e em tábuas de argila. Dificilmente os que tem a escrita hitita estão de certa forma completo. Mas podem ser encontradas em Museus como o de Istambul, na Turquia, no Cairo, do Egito. Afinal, são as duas nações descendentes dos que participaram do acordo. Como representação de ser um tratado especial, o Tratado de Kadesh também tem uma cópia na sede das Nações Unidas, em Nova York. Então, é só ir para um desses lugares e conferir.
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