Cuidado com o que se fala! Em uma entrevista concedida em 9 de Novembro de 1989, Günter Schabowski se enrolou para responder aos jornalistas. Uma de suas respostas foi o suficiente para que, por “acidente”, desencadeasse um dos maiores eventos do século XX; a Queda do Muro de Berlim.
Repetindo novamente o título do livro do historiador Eric Robsbawn, o século XX sem dúvida foi a Era dos Extremos. Duas Guerras Mundiais no intervalo de vinte e um anos. Depressão econômica, bipolarização do poder, além de levantes em várias partes do globo. Rivais se transformaram em aliados, e o contrário também aconteceu, como é o caso da Revolução Iraniana de 1979 (que você pode conferir um resumo desse momento no Guariento Portal). Contudo, o principal símbolo desse mundo dividido entre o socialismo e o capitalismo sem dúvida foi o Muro de Berlim. Literalmente, uma barreira que dividia a capital alemã em duas áreas de influência. Uma comandada por Estados Unidos e seus aliados, e a outra, pela então União Soviética.
Contudo, o que é deixado de lado pela historiografia é como se deu a Queda do Muro de Berlim. Evento que marcaria o fim da bipolarização global. Tratou-se na verdade de um equívoco, que marcou profundamente o dia 9 de Novembro de 1989. Quando um burocrata do Politburo da Alemanha Oriental se enrolou em responder uma pergunta de um jornalista. Acabou cometendo uma “pequena” gafe. Especialmente quando disse que novas políticas de movimentação entre as duas Alemanhas passariam a valer a partir daquele momento. Isso foi o bastante para que cidadãos de Berlim Oriental e Ocidental se reunissem em volta do muro, e eles mesmos começassem a destruí-lo.
Com preguiça de ler toda toda a matéria Não devia, pois matérias históricas dão bastante trabalho. Mas, se mesmo assim você prefere um resumo de uma situação já resumida sobre o “pequeno” engano na Alemanha Oriental que levou a Queda do Muro de Berlim em 1989, se liga:
- Construído entre 1960 e 1961, o Muro de Berlim foi o marco da divisão do mundo. De um lado, o bloco capitalista, comandado pelos Estados Unidos e tendo a Alemanha Ocidental (RFA). Do outro, a União Soviética e o Pacto de Varsóvia com a Alemanha Oriental (RDA). Berlim, a antiga capital, foi dividia ao meio, separada pelo seu muro.
- A rígida política do Lado Oriental proibia deslocamentos para o Lado Ocidental. E isso permaneceu durante mais de vinte anos, momento em que, em termos econômicos a Alemanha Ocidental despontava com melhorias no estilo de vida e o lado Oriental praticamente se estagnava. Qualquer ato de deserção para o outro lado era punível com a Morte.
- Até que numa coletiva no dia 9 de Novembro de 1989, um burocrata, Günter Schabowski se enrolou na entrevista. Dizendo que novas leis, menos rígidas e que permitiam a movimentação valeria a partir daquele momento. No entanto, ninguém da máquina pública havia avisado os militares que guardavam as fronteiras do Muro.
- No entanto, o “estrago” já havia sido causado. Uma multidão se aglomerou nos dois lados do Muro. Ás 22:45, a primeira cancela foi aberta, permitindo assim a livre movimentação entre os dois lados de Berlim. Definitivamente, ocorria a Queda do Muro de Berlim.
Mas antes, vamos voltar no tempo para o período anterior da construção do Muro de Berlim. Após a destruição do Terceiro Reich pelas tropas aliadas em 1945, a Alemanha foi dividida. Seu lado ocidental, de influencia dos Estados Unidos, França e Reino Unido daria origem a República Federal da Alemanha (RFA). Do outro, as tropas soviéticas detinham influência, e se tornaria a República Democrática Alemã (RDA). No meio do lado socialista, residia Berlim, a antiga capital do Reich, que também foi dividida em zonas de influência. Da mesma forma que Viena, atual capital da Áustria. Assim, a parte ocidental de Berlim seguiria o regime capitalista de produção dado a sua influência estadunidense, enquanto o lado oriental viria a ser comandado pela forma de produção da União Soviética.
No entanto, os berlinenses não tinham uma barreira durante as primeiras décadas da divisão alemã. Isso passou a ser visto como prioridade de proteção do lado socialista. Que solicitou a construção de um muro que demarcasse o seu território em Berlim. As ordens foram dadas o Muro de Berlim foi construído em 1960. Em 1961, já não era possível andar pelos dois lados de Berlim.
Extremamente fortificado, com locais de segurança, a regra da Alemanha Oriental era clara. Não se poderia ter nenhum tipo de movimentação entre o lado Oriental e Ocidental. Sendo passível de morte quem tentasse. Por tal motivo, era comum que aventureiros que tentassem sair do lado Oriental para o Ocidental fossem alvejados com tiros dos guardas para que não conseguissem chegar ao seu destino. Uma das causas que levaram a migração maior dos cidadãos da Alemanha Oriental para a Ocidental (e consequentemente de Berlim Oriental para Ocidental) pode ser explicado em termos econômicos.
Com a participação dos investimentos norte americanos de reconstrução de guerra, a Alemanha Ocidental aumentou o seu padrão de vida. O país se viu crescer em um derradeiro milagre de quase vinte anos. Foi comum a época colocar o lado Ocidental como ponte para o “progresso”. Do outro lado, a Alemanha Oriental, mesmo vinculada ao Pacto de Varsóvia não conseguia ir na mesma direção. Sua economia passou a encolher, e com a perseguição política do regime de Stalin que comandava a União Soviética, o medo era frequente.
Mesmo com a perda de força cada vez mais acentuada do Bloco Soviético no cenário internacional, o Muro de Berlim ainda persistia. Assim como sua política de não deslocamento por entre a Cortina de Ferro.
Essa divisão continuou existindo até a década de 80. Mesmo com a perda de força cada vez mais acentuada do Bloco Soviético no cenário internacional, o Muro de Berlim ainda persistia. Assim como sua política de não deslocamento por entre a Cortina de Ferro. Contudo, aos poucos, com a pressão internacional, a Alemanha Oriental percebeu que suas duras regras não se adequavam mais ao momento história ao qual se encontrava. Inclusive com duras críticas produzidas pelo Presidente norte-americano Reagan na década passada.
Sendo assim, o Politburo alemão buscou uma forma de criar uma nova política de movimentação. Entra em cena, neste momento, no dia 9 de Novembro de 1989 a figura de Günter Schabowski. Membro do Comitê Central da Alemanha Oriental, Schabowski havia marcado uma coletiva de imprensa. O anúncio era para divulgar as novas medidas que afrouxavam as rígidas regras de deslocamento entre do lado Oriental para o Ocidental. Foi quando um jornalista alemão, Peter Birkman, perguntou se essas novas leis valeriam a partir daquele momento.
O porta voz, ao ouvir a pergunta, se enrolou na resposta. Olhou os papéis que se encontravam em sua mão, e não respondeu de imediato. Depois de um tempo, Schabowski simplesmente respondeu que, se dependesse dele, as novas leis passariam a valer imediatamente. Depois da entrevista, ele também foi entrevistado uma vez mais, e respondeu novamente que as leis passariam a valer imediatamente. E claro, que, com o descuido ou não, essa informação viajou para os cidadãos de Berlim Oriental. Uma vez que a lei permitia que cidadãos do lado Oriental pudessem visitar e andar pelo lado Ocidental de Berlim. Algo que não acontecia desde a construção do Muro, em 1961.
No fim das contas, o grupo de pessoas que se uniu ao redor do Muro exigindo sua livre movimentação em Berlim foi criado por “acidente”.
Pouco a pouco, grupo de alemães orientais se instalaram perto das áreas fortificadas do Muro. Uma vez que, como valia imediatamente, já buscavam ir para o outro lado. O problema é que, os guardas locais não foram comunicados de que valeria “imediatamente”. Surpresos com a multidão que se formava, ninguém deu ordens de parar a multidão. No fim das contas, o grupo de pessoas que se uniu ao redor do Muro exigindo sua livre movimentação em Berlim foi criado por “acidente”.
O Comitê Central Alemão não admitia responsabilidade de uso de força letal. Mas também não admitia a livre movimentação da forma que a multidão em peso buscava, restou aos guardas locais cederem aos cidadãos. Eram 22:45 minutos em Berlim, e Harald Jäger, comandante de uma das fronteiras permitiu que os guardas abrissem os postos de controle sem nenhuma verificação. Era a primeira vez que cidadãos de Berlim Ocidental e Oriental se encontravam em mais de duas décadas. O lado Ocidental logo se juntou a celebração na data que ficou conhecida como “A Noite em que o Muro Caiu”.
Um ano depois, os dois lados da Alemanha se reuniriam novamente em uma mesma nação. E o Muro de Berlim, uma sombra do passado de divisão seria demolido por quase completo. Algumas de suas áreas ainda estão expostas como um retrato histórico. E que, estranhamente, um dos principais marcos do Século XX sem dúvida foi ocasionado por um erro burocrático. Uma frase que levou uma multidão a quebrar barreiras de mais de duas décadas.