Nem sempre de armas vivem as nações. Alguns aprendem com Civilization que, quem tem o poder, tem tudo. E esse poder quem tem atualmente é a Arábia Saudita sobre o petróleo mundial.
Desde o longínquo período da Revolução Industrial, a humanidade usa combustíveis fósseis para suas novas tecnologias. Do carvão passou-se para o ouro negro, como é conhecido o Petróleo. Uma das matérias primas fundamentais da sociedade, o petróleo é alvo de investidas diplomáticas e de guerras. Saddam Hussein, ditador do Iraque tomou o Kuwait em busca de suas reservas petrolíferas, iniciando a Guerra do Golfo. Os Estados Unidos detém uma parceria estratégica com nações no Oriente Médio em busca dessa matéria prima. O mesmo pode se dizer da China, novo berço do crescimento mundial. No meio disso tudo, um poderoso grupo de produtos de petróleo conseguem deter poder suficiente para controlar a produção. E, no decorrer da vontade desse grupo, os mercados podem sofrer drásticas variações de preço e quantidade. É a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a OPEP.
Caso desconheça, a OPEP é uma organização oligopolista. Para os mais leigos, trata-se da junção dos principais produtores, que, por concentrarem a maior parte da produção de petróleo, detém o poder de mercado dessa commodity. Assim, podem aumentar ou reduzir a produção de Petróleo afetando os preços do barril no mercado mundial. O grupo conta atualmente com dezoito nações e cerca de 44% da produção mundial de petróleo. Assim como mais de 80% das reservas conhecidas estão em países que fazem parte do grupo. Mais recentemente, o grupo se encontrou com a Rússia, que mesmo não estando em conjunto na OPEP é um considerável produtor de petróleo. Dado a outros fatores, o grupo almejava diminuir a produção de petróleo para conter uma baixa radical dos preços. Afinal, economias como da Arábia Saudita, Kuwait e da Venezuela se baseiam em grande parte na produção deste produto.
Contudo, Moscou não aderiu a fala da OPEP e ficou contra a diminuição da produção. Mas Riad manteve seus planos de abaixar o preço do petróleo, embora de outra forma. O governo da Arábia Saudita assim tanto aumentou sua produção como também ofereceu descontos para os possíveis compradores. Não por menos, na abertura dos mercados após a medida, o preço do petróleo em barril caíra de 45 dólares para 31,52 dólares. Essa é a maior queda da commodity desde o estouro da Guerra do Golfo, em 1991. Em um jogo de estratégia, no melhor estilo Civilization, é como se a Arábia Saudita buscasse a vitória econômica, mesmo que para isso leve metade da produção mundial ao decréscimo. Uma jogada ousada, não tão ousada quanto a jogada americana em matar um dos principais nomes do comando do Irã.
Mas ainda assim ousada, em um mercado que, na instabilidade, pode alterar as linhas gerais da economia mundial. Qual a explicação então para essa mudança? Paradoxalmente, parece surreal destacar que uma nação que tem sua economia baseada no petróleo vá na contramão, aumentar a produção para que seus preços caiam. Pelos passos dados pelo governo de Riad, o que se quer na verdade é a dominação ainda maior do mercado, em especial do governo saudita. Uma vez que a queda dos preços farão com que países que possuem custos mais elevados em produzir esta commodity sejam gradativamente mais afetados. E assim, seriam levados a interromper as suas produções para a compra de um produto mais barato no exterior. Dentre estas economias está principalmente os Estados Unidos. Assim, não há necessidade de armas nem exército. O poder do mercado de um produto tão essencial pode ser o suficiente.
A Rússia, que domina o mercado do Leste Europeu também será impactada com a queda dos preços da OPEP. Uma vez que os descontos dos árabes se abaterão também sobre esta região, aumentando a concorrência. Segundo analistas, o reino saudita pode fazer com que o petróleo caia a 20 dólares, e ainda assim sua produção seria rentável. Até mesmo num mundo em que a economia apresenta sinais de desaceleração. Uma vez que o coronavírus chamado COVID-19 vem trazendo prejuízos na produção mundial. As projeções indagam que a China já terá uma queda na produção e de seu Produto Interno Bruto.
O que deve ser sentido pelas principais nações que participam da balança comercial do país, com o Brasil incluído. Com a tendência de que a Organização Mundial de Saúde indique uma pandemia, com contenções e uma disseminação geral do patógeno, o indício forma um desastre perfeito para o cenário econômico internacional. É como se, jogando Civilization VI, além da vitória econômica, o jogo fizesse aleatoriamente um vírus diminuindo a produção do mundo. Uma queda de braço está instaurada entre Riad e Moscou, com Washington sendo um dos alvos. Resta saber até quando essa briga de preços continuará, e até quando os mercados suportaram esse clima de instabilidade mundial. O tabuleiro do complexo jogo da política mundial teve novas cartas viradas, e seus efeitos sentidos.