Jogos independentes tendem a ter em sua essência seu próprio nicho. Alguns no entanto, conseguem chamar bastante a atenção, devido a forma como foram produzidos. Sem dúvida alguma, no mundo dos jogos de terror, Amnesia: The Dark Descent é um exemplo do segundo caso. Produzido e lançado em 2010 pela Frictional Games, um estúdio sueco, o jogador é colocado em uma lógica de sobrevivência, da mesma forma que títulos que vieram depois, como o também conhecido Outlast. Neste cenário, cabe ao jogador resolver diversos enigmas e tentar entender a história de Daniel, que acorda sem saber do que aconteceu. Apenas após ler uma carta que ele mesmo escreveu, descobre-se que ele “fez algo terrível no passado” e por isso tomou um tônico para perde a memória. Agora, será que essa viagem realmente vale a pena?
O primeiro ponto de destaque que Amnesia: The Dark Descent trás aos olhos é sua produção artística. Baseado no castelo de Brennenburg, na Alemanha, os cenários são sombrios, cheios de sombras, masmorras e portas de carvalho pesado. Escadarias podem esconder pesadelos. Por mais que em determinados momentos algumas texturas possam parecer menos trabalhadas do que poderiam ser. Contudo, é comum ver este título como algo de alta qualidade em termos técnicos. Alguns bugs especialmente quando se abrem portas também se encontram disponíveis, mas não conseguem destruir a completa imersão causada pelo jogo. Embora, é claro, pode ser fator de infortúnio para o jogador com a morte de seu personagem quando da necessidade de fugir.
Sem o som, Amnesia: The Dark Descent não seria nada:
Já a trilha sonora também é de bastante impacto, uma vez que o ambiente torna-se assustador com os mínimos sons. São barulhos de pianos tocando sozinho, objetos caindo ao chão ou simplesmente um andar esquisito de alguém ou de alguma coisa. Em verdade, a sensação dada pela estética de Amnesia é perfeita para toda a construção do título. Não por menos, é aconselhável que o jogador use fonos de ouvido para que tenha uma experiência ainda mais perturbadora, isso no bom sentido. Não é possível encontrar um momento de tranquilidade quando se une os quesitos gráficos com a trilha sonora. Especialmente quando o personagem, de certa forma, é problemático quanto ao terror do local.
Se por um lado a estética agrada, ela sozinha não seria o suficiente para fazer um ótimo jogo de terror. É então, que em termos de jogabilidade, o título apresenta uma forma de “sanidade”. Em Amnesia: Dark Descent, Daniel é um personagem que tem problemas com o escuro, sendo a maior parte das ambientações do castelo vistas na penumbra ou na completa escuridão. Para isso, ele deve encontrar lamparinas – afinal, o título se passa no século XIX – para que jamais fique no escuro. Cada vez que ele se encontrar na escuridão, criaturas aparecem com mais facilidade, e os controles ficam mais pesados, identificando a fobia do personagem.
Entenda que o game é de sobrevivência, não de matança:
Aliás, as criaturas encontradas no título são rápidas, e Daniel é extremamente fraco contra elas. Por isso mesmo, é fundamental que o jogador entenda desde já que Amnesia: The Dark Descent não é um título como pode ser identificado os últimos Resident Evil. Se Daniel tentar enfrentar uma daquelas criaturas, morrerá rapidamente. Por isso mesmo, o jogador deve se esconder, ao mesmo tempo que busca compreender a história resolvendo quebra cabeças, de maneira mais similar aos primeiros títulos da franquia da Capcom. Observar coisas assustadoras acontecendo é normal no game da Frictional Games, o importante é manter o nível de sanidade de seu personagem.
Entretanto, por mais que o ideal de sobrevivência esteja no coração de Amnesia: The Dark Descent, o título também conta com a alma de jogos de Puzzle. Não por menos, a maior parte da exploração do jogo será para reconstruir situações, observar páginas do diário de Daniel para compreender sua história e logicamente, momentos de Puzzle. Pode parecer que essa junção não seria a mais ideal, uma vez que com o cenário de terror seria impossível se focar na resolução de enigmas. Contudo, o game consegue unificar estas duas formas, apresentando com consistência na técnica e na forma esses dois gêneros. Não por menos, os controles respondem bem e são fáceis de aprender. Em pouco tempo, é possível entender não somente o que fazer, mas também o momento certo de se esconder ou fugir de alguma ameaça.
Amnesia: The Dark Descent tem falhas, mas é competente em tudo que faz:
Infelizmente, Amnesia: The Dark Descent não é um título perfeito, embora tenha pontos positivos de destaque. A própria história, ou melhor, o enredo que envolve o personagem Daniel pode até criar uma certa tensão. Contudo, seu terceiro ato é desproporcional ao que o título vinha pregando desde o início, isso mesmo com os três finais que o game possui. Nenhum deles, em geral, é de certa forma agradável. Além disso, outro ponto que se destaca negativamente é a longevidade. Após o término do ato principal, por mais que o jogador não tenha obtido os três finais, não há muito o que se fazer, e provavelmente, o jogador não retornará para todas as situações que envolvem Amnesia: The Dark Descent.
Desta forma, Amnesia: The Dark Descent se sai de forma ótima como um título do gênero terror com muitos mistérios a desvendar. O modo sobrevivência em seu sangue permite não somente uma atmosfera de tensão como também ressalta o caráter do título, que não é de enfrentamento, mas de fuga. Tudo isso também é elevado pela competente parte técnico, com um destaque especial para a trilha sonora do game, que se encaixa no cenário medieval e no jogo de luzes e sombras. Até mesmo as músicas que ficam em segundo plano refletem a atmosfera de Amnesia. Assim sendo, encontrar o verdadeiro significado da amnésia de Daniel é um perfeito cenário de um game de terror, produzido com a qualidade para se destacar entre a multidão.
A Frictional Games marca seu nome com um excelente jogo de terror:
Mesmo assim, ele apresenta algumas irregularidades, como já citado. Por mais que o enredo prenda, ainda assim não é alto ao ponto do que Amnesia: The Dark Descent propunha e nem o que era esperado por um game com aspectos positivos elevados. Além disso, sua longevidade é baixa, uma vez que praticamente é um título que se joga uma única vez. Por mais que essa vez fique entranhada em sua mente como um momento tenso, apavorante e de pura aflição. Para os amantes de jogos de terror, Amnesia: The Dark Descent é um título ótimo, competente e que age da forma correta no mundo do terror, criando seu próprio espaço e colocando a franquia como algo a ser observado no mundo da sobrevivência.
Amnesia: The Dark Descent foi lançado primeiramente por meio da Steam em 2010. Contudo, o jogo também está disponível para PlayStatin 4, Xbox One e Nintendo Switch. Porém, nestes consoles, o título se encontra unificado com a sequência A Machine for Pigs e com a expansão gratuita Justine. Amensia: Colection foi lançado respectivamente em 2016, 2018 e 2019 para as plataformas acima destacadas. Mais recentemente, a Frictional Games destacou o anúncio de Amnesia: Rebirth. Este será o mais novo título da franquia de terror de sobrevivência. Porém, será ainda lançado no Outono de 2020 apenas para PC (via Steam) e PlayStation 4.
Números
Amnesia: The Dark Descent
Produzido pela Frictional Games, Amnesia: The Dark Descent é um passeio aterrador na loucura de um homem em busca de respostas.
PRÓS
- Trilha Sonora soberba e ótima produção técnica.
- Clima de sobrevivência acima da média com tensão a cada momento.
- A questão da insanidade produz um conflito agradável, criando a dificuldade necessária.
- Uso apropriado da mistura de puzzle com a sobrevivência na veia.
CONTRAS
- Longevidade aquém do esperado. Título para se jogar uma vez.
- Enredo inicialmente envolvente, mas com três finais que não se adequam ao resto do conteúdo.