Terror é um gênero complicado, e isso dificilmente alguém vai negar. Primeiro, por se apegar a premissas, que para serem efetivos, devem entrar no interior de cada ser. Segundo, é difícil assustar ou provocar medo nas pessoas, pois cada um absorve diferentemente algum estímulo não muito agradável. Não importando especificamente o subgênero, seja do sobrenatural ao psicológico, um filme de terror anda sempre sobre uma corda bamba. Ou se torna estupidamente famosos, criando uma tendência de décadas, ou então terrivelmente falso, de tal forma que se perca ou se torne motivo de risadas desnecessárias. Nesse meio termo, temos Rogai por Nós (The Unholy) no original, de 2021. Trazendo uma ideia interessante sobre falsos profetas, o longa até cria uma boa expectativa, mas é completamente queimado como uma Bruxa da Inquisição. Curioso? Veja essa Crítica de Rogai por Nós, aqui, no Guariento Portal.
A ideia de Rogai por Nós e interessante e deixa aquele fio de dúvida pairando no ar. Quantos, de quantas religiões podem se fingir de falsos profetas em um mundo como o nosso?
Primeiramente, e como dito logo no início dessa Crítica, Rogai por Nós, o filme de Evangelos Spiliotopoulos (J.I Joe Origens: Snake Eyes) trás uma premissa interessante dentro do mundo sobrenatural. A existência de falsos profetas que podem enganar os mais puros corações. A dicotomia entre o bem e o mal é milenar, e aqui, o enredo nos faz pensar que aparentes milagres podem não ser necessariamente uma obra divina, mas quem sabe do lobo se disfarçando de carneiro. Essa abordagem até faz com que Rogai por Nós perca um pouco de seu tom de terror e se aproxime mais de um filme religioso. Bem ao estilo de jornada de redenção de um homem impuro depois de fazer algo heroico, assim como uma jovem dita pura, mas que é influenciada pelo lado maligno. E isso acaba não sendo negativo, mas sim uma nova experiência.
A história por trás dos milagres da pacata cidade de Banfield funciona de maneira satisfatória para com o decorrer da narrativa, embora peque bastante em alguns momentos de diálogos que são assustadores, e não no ponto positivo do terror. Agora, um ponto de destaque, não que seja sensacional, mas dentro da ótica do filme, é a atuação de Jeffrey Dean Morgan (Supernatural). O eterno pai de Dean e Sam Winchester não está aqui como matador de demônios, mas sim um jornalista sensacionalista de quinta categoria, Gerald Fenn. Procurando alçar sua antiga carreira, ele procura, e até forja furos de reportagem. Até que sua vida é estranhamente premiada com os acontecimentos da cidadezinha e de Alice Pagett, vivida pela estreante Crickett Brown. Ambos conseguem dar os meandros de atuações regulares, que sustentam a trama de Rogai por Nós para que não se perca completamente.

Mas, se por um lado a premissa é boa, a parte técnica deixa bastante a desejar. Não é pelo fato de ser um terror, ou quase isso, que os sustos tem que ser mequetrefes não. Muito culpa do áudio, dos efeitos e é claro, da direção.
Entretanto, e como essa Crítica vai falar, as benevolências de Rogai por Nós terminam aqui, pois existem muito mais erros do que acertos neste filme. A começar pelo pior de todos, a falta de uma boa ambientação que crie suspense. É inútil pensar que só com meia dúzia de altos sons e uma fotografia escura é possível fazer sustos. Ou com jump-scares. Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, mesmo não tendo mais sustos que seus antecessores, consegue criar uma sensação de espanto com categoria. Aqui em Rogai por Nós é fato já sentir o perigo se aproximando a quilômetros de distância. O som fica para trás, a câmera se vira sorrateiramente, as luzes começam a piscar, e depois vem o estridente som para provocar medo. A direção de Spiliotopoulos chega a ser novata ao usar e abusar desses artifícios.
Que aliás, poderiam ser pontos positivos se não fossem também de uma qualidade abaixo do que o filme poderia ter. A trilha sonora e sua ambientação em Rogai por Nós é precária. E a parte técnica de fotografia até tem os louros de tentar passar uma sensação sombria quanto algo está por vir. Da mesma forma que na suposta aparição de Maria, nos faz acreditar que realmente seja algo divino. Mas é algo tão raso que parece que o filme foi produzido como um estudo de uma faculdade. Tecnicamente e nesses atributos, Rogai por Nós é um amontoado raso, que mais atrapalha do que ajuda no decorrer da história. Que aliás, é outro ponto a se destacar. O roteiro produzido pelo próprio diretor e James Herbert é problemático. Ora não sabe explicar, ora com sacadas que nem mesmo o acertador da Mega da Virada conseguira ter tamanha sorte.

O problema do roteiro também pesa demais em Rogai por Nós. Pois há uma sabotagem de sua própria narrativa. Imagina só, você se alimenta de fé e em um momento, ataca a pessoa que mais está te dando fé! Como assim?
Até mesmo a própria construção da antagonista, a bruxa Maria Elnor (Marina Mazepa), é desleixada. Se o prólogo do filme poderia deixar o espectador com a sensação de que, talvez a jovem queimada não fosse uma bruxa, uma vez estarmos vendo seu sofrimento. Do outro ele simplesmente renega esse prólogo para que em pouco tempo seja possível saber que na verdade se trata de algo do lado negro da força. Interessante ainda que Maria Elnor necessita da fé das pessoas e de suas almas. Porém, chega a um ponto que ela ataca justamente a pessoa que mais tinha fé nela, a jovem Alice que aliás, é uma descendente da própria Elnor. Isso é jogado de maneira aleatória na narrativa para tentar ligar o motivo da aparição estar vinculada a garota. Em outras palavras, o fantasma ataca a própria pessoa que levava fé nela?
Em Rogai por Nós, e continuando nessa Crítica com a antagonista da trama, temos uma vilã que poderia ser um cadinho mais bem construída. E isso não no sentido de sua história, que é simples, mas eficaz. Porém, suas aparições e a sua fisionomia. Sendo uma versão sombria da Virgem Maria, após tirar a máscara que foi pregada em seu rosto, o personagem não é assustador nem deixará marcas profundas no clubinho do terror. Assim sendo, facilmente esquecida depois de semanas ao ver o filme. E como falado anteriormente, o personagem possuía um plano de fundo interessante e a premissa de Rogai por Nós era sim adequada e dava pano pra manga. Pena que praticamente tudo foi feito de maneira muito rasa e inexpressiva. Assim, perdeu-se a oportunidade, seja ela qual fosse, de um filme religioso ou de terror de brincar com possíveis falsos profetas.

Rogai por Nós e muito mais morno do que a árvore onde a Bruxa foi queimada, sem dúvida. O início pode até deixar algumas pessoas com vontade de assistir, mas a sensação final é de que havia tantas possibilidades e pouquíssimas foram usadas.
No fim das contas, Rogai por Nós pode ser dito como fraco, muito aquém do que poderia se esperar. Dos pontos altos, está sem dúvida a premissa que embarcar em uma forma diferenciada de ver o terror. Mesclando inclusive uma espécie de filme religioso com os tons sobrenaturais comuns do gênero de O Exorcista por exemplo. No entanto, muitíssimo longe da obra prima que este foi, Rogai por Nós esquece de alguns parâmetros, embora a atuação de seu duo protagonista não seja ruim. Só é passageira enquanto o espectador está dentro do filme. Depois, os personagens não serão lembrados como ícones da figura pop. Mas fazem o que conseguem para que o enredo de Rogai por Nós ande. É “bonito” ver essa tentativa de criar uma história de redenção por parte do jornalista charlatão. Mas assim, não é explorado como deveria ser.
Da parte ruim, esse infelizmente tem-se bastante a falar. Em especial na falta da parte técnica como um todo. Fotografia e áudio até tentam criar uma sensação de medo com estalar ou tons de azul, mas isso é completamente clichê ao ponto de que alguém que minimamente tenha visto outros filmes de terror se liga que algo não está certo. O medo é antecipado, e quanto isso acontece, perde-se completamente da funcionalidade do longa. O mesmo pode ser dito da história, que vai desde os diálogos, ruins se não há outra palavra, para também a criação da própria antagonista, a Bruxa que se veste como a Virgem Maria. No fim, Rogai por Nós poderia ter sido uma excelente experiência e nova no mundo do terror, mas tudo é feito de maneira tão raso que facilmente cai no esquecimento.

Divertido? Talvez. Rogai por Nós é um tipo de filme que não tem restrição para ser visto, desde que você retire da sua mente que encontrará mais problemas do que acertos. É meio que uma Sessão da Tarde um pouco mais sombria.
E então, a Crítica falou e falou. Mas, Rogai por Nós é divertido? Caro leitor, o Guariento Portal pode dizer que, da mesma forma que o filme é raso, ele promoverá uma diversão rasa dentro de suas possibilidades. Desde que você saiba desde o início que o longa não é um terror tradicional, longe disso. E nem deixará longos pensamentos em sua mente, como A Bruxa, de 2015 por exemplo (que temos Curiosidades). É um tipo de filme que você pode assistir a noite com certa tranquilidade e descontraído. Poderá se divertir? Sim. Se abstrair de todos os problemas que essa Crítica destacou. Provavelmente, Rogai por Nós não será o pior filme que você terá visto, mas ele infelizmente entra em uma lista não desejada de filmes ruins, mas não insuportáveis. Todo o questionamento do mal se vestindo de bem vai ficar para um outro momento, infelizmente.
* Rogai por Nós (The Unholy), foi lançado em 2021 nos cinemas brasileiros pela Sony Pictures. E que aliás tem a assinatura de Sam Raimi, de A Morte do Demônio. Atualmente, se encontra disponível em alguns serviços de streaming, como é o caso da Apple TV e da HBO Max. Aliás, a Crítica de Rogai por Nós só foi possível devido a assinatura do serviço da HBO. Para ver outros filmes desse streaming, você é claro pode se cadastrar no site oficial e depois de assinado, pode curtir uma infinidade de filmes e séries. Como por exemplo A Hora do Pesadelo e quem sabe, todos ou quase todos os filmes da franquia Harry Potter! Ou então você pode continuar aqui e conferir outra Análise ou Crítica do Guariento Portal.
Números
Rogai por Nós
Com algum dedo que não sabemos de Sam Raimi, Rogai por Nós (The Unholy), de 2021 tem uma premissa singular ao mostrar as formas de transformação do Mal. Porém, para por aí, com um roteiro e uma estrutura fracas e que se perde na própria história.
PRÓS
- A premissa de como falsos profetas e milagres podem não necessariamente estar ligados ao lado bom da força
- A atuação do duo principal é boa o suficiente para forçar o enredo a andar sem tantos percalços.
- Como um simples filme de "alguns" sustos, pode-se encontrar uma diversão esporádica nele.
CONTRAS
- Estrutura narrativa desconexa com uso excessivo de clichês.
- Trilha sonora antipática, sem utilizada indevidamente para indicar um susto eminente.
- Efeitos especiais muito aquém do esperado, fazendo da antagonista completamente esquecível.
- Roteiro ora raso, ora mágico, ora sabotador de suas próprias ideias. Sem constância alguma.