Unir o fofinho e o macabro não é uma matéria fácil. Afinal, você pode pender para um lado ou para o outro. Existem exceções, especialmente no mundo cinematográfico, como Midsommar (2019) e A Bruxa (2015), que trazem essa dicotomia, e no mundo dos games, essa busca pode ser bem recompensada, seja com The Binding of the Isaac e com Cult of the Lamb. Este último game, produzido pela britânica Massive Monster e publicada pela texana Devolver Digital (de Death’s Door) trás ao jogador um gentil carneiro, que é revivido por um ser trevoso e que com isso, deve se render aos seus favores através de um culto. Com uma versão demonstrativa na Steam, é possível saber um pouco mais do que este game reserva. E é por isso que vamos seguir os passos deste carneirinho aqui no Guariento Portal.
A Morte aqui foi o começo. O começo da vingança do Carneiro.
Nos primeiros segundos de Cult of the Lamb, o jogador entende que toda a doçura é despedaçada rapidamente. Na pele de um cordeiro, o último de sua espécie, você é morto para que uma profecia não seja completada. E assim, os deuses daquela região se manterão no poder. Deuses estes que possuem faces com diversos olhos e tentáculos, dignos dos pesadelos de Edgar Allan Poe e HP Lovecraft. No entanto, a Morte não era o seu destino final, e “Aquele que Foi Esquecido” lhe dá uma nova oportunidade. Você irá retornar a vida, mas como consequência, deverá ser um fiel devoto de seu novo Senhor. Assim, temos o enredo de Cult of the Lamb, em que você deve atravessar locais daquela terra, destruindo aqueles que lhe mataram certa vez, e atraindo seguidores para seu estranho culto.
A jogabilidade de se divide em duas partes, uma bem mais enérgica ao estilo hack’n’slash (como Hades e Curse of The Dead Gods), e a outra, que evoca uma aura de Animal Crossing produzido num mundo de horror. No primeiro aspecto, temos que o jogador deve atravessar diversas áreas, no melhor estilo de calabouços, coletando moedas mágicas e também salvando vidas, que serão colocadas em seu futuro culto. Uma terra salva dos antigos deuses que desejam sua nova morte. Se não está acostumado com este estilo de game, em cada momento você é colocado em áreas onde vários inimigos devem ser derrotados em uma sequência, para que ao final o grande “prêmio” esteja disponível. Em caso de derrota, o jogador deve retornar suas ações desde o início. Porém, sabendo que o ambiente não será o mesmo, já que é feito de maneira procedural.
O roguelike está na cara. A atenção é cuidar do Culto.
O segundo aspecto de Cult of the Lamb talvez seja o mais interessante, e o que demonstrará mais habilidade ao jogador. Afinal, estabelecer um culto pode parecer fácil no início. Porém, quanto mais seguidores distintos existir e se filiarem, mais dificultoso será manter suas amarras. É possível que alguns de seus discípulos busquem suas próprias ideias, se tornando hereges ao seu culto, e por isso caberá ao jogador dar as devidas respostas, chegando até mesmo a oferecer em sacrifício estes seres contrários. Além disso, todos devem se manter bem alimentados, nutridos de corpo e alma para que o seu local de culto aumente de forma constante. Em ambos os casos, as escolhas devem ser cuidadosas, pois afetarão o rumo que será tomado dentro do game da Massive Monster. Assim, logo de imediato, Cult of the Lamb oferece essa dupla jogabilidade.
Como dito anteriormente, a concepção estética de Cult of the Lamb é singular. Mesmo que pareça uma arte produzida com papel, já que suas árvores e locais tem essa semelhança, a aventura do cordeiro possuído mantém uma escuridão factível, mas que não afeta em nada a jogabilidade. Seus inimigos podem parecer comuns e tranquilos de serem derrotados, mas não espere que seja tão fácil assim. Várias serão as entidades que se surgirão contra você e seu próprio culto, e nenhuma delas terá uma aura de salvadora da Pátria. Muito pelo contrário, todas são tão distintas, mas parecem vindas de um mundo onde somente pesadelos da pior espécie podem ser vistos. E de fato, essas criaturas não são simplesmente chefes esquecidos. Pelo menos nessa pequena prévia de Cult of the Lamb os antagonistas têm identidade.
Foi pouco tempo, mas a dificuldade vista é confortável.
Infelizmente, se tratando de uma versão demonstrativa de Cult of the Lamb, o tempo possível de ser jogado é diminuto. Afinal, após a primeira morte, o game se encerrou completamente. Desta forma, se a versão demonstrativa fosse um pouco maior, seria possível abranger bem mais do que o título da Massive Monster pode oferecer. A área em destaque, a Floresta Sombria, pode ser regularmente vista nesta prévia. Alguns pequenos pontos como a dificuldade não podem ser vistos em sua completude. No entanto, o pouco jogado não pode ser classificado como fácil, trazendo desafios particulares. Mesmo assim, não é possível classificar Cult of the Lamb, como se fosse um Dark Souls ou um Elden Ring, games que definem o parâmetro atual de dificuldade na indústria dos games mais atual.
De forma geral, o que mais chama a atenção em Cult of the Lamb sem dúvida é sua estrutura gráfica e a direção artística. Afinal, o game parte para uma premissa demoníaca em larga escala, sem perder o conceito “Animal Crossing” de seus personagens. Há graça em cada um deles, mesmo que eles se alinhem a um Culto no qual o deus ou guardião não seja tão alegado em atos nobres, exigindo inclusive sacrifícios de seus servos. Ademais, até mesmo o personagem principal perde sua aura nobre e indefesa para algo mais sombrio, auxiliado por aquele que anteriormente foi o receptáculo deste poder. A junção de momentos de hack’n’slash com desenvolvimento e simulação fazem de Cult of the Lamb uma ideia diferenciada, e que consegue chamar a devida atenção para jogadores que gostem de algo diferente, oriundo de mentes criativas até por demais.
A verdade para enfrentar os falsos deuses em 11 de Agosto.
Assim sendo, Cult of the Lamb, pela prévia disponibilizada pode – e deve – ser um game destinado para aqueles mais curiosos, que não tem problema algum de jogar algo que se encontra em um mundo mais profano. Afinal, você no fim das contas administrará um Culto que para todos os efeitos, pode se aproximar até mesmo do de Chthon ou de Cthulhu. É claro se for possível entender estas referências. Quanto às plataformas, a palavra do carneiro – que não é o mesmo culto de Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio – poderá ser jogado no Nintendo Switch, PC (via Steam) e nas plataformas de Sony e Microsoft. Ou seja, PlayStation 4 e PlayStation 5 e o Xbox One e Xbox Series S/X. Basta esperar é claro para quando os poderes do carneiro forem libertados, em 11 de Agosto de 2022.