Um novo colosso.
Após o sucesso de Wolfenstein: The New Order, nada mais natural do que a chegada de uma sequência. Porém, The Old Blood surgiu apenas um ano depois contando uma história anterior ao primeiro. E ai, os fãs tiveram que esperar mais dois anos para uma verdadeira continuação de uma aventura simplesmente memorável do grande B.J Blazkowicz. Mas, será que Wolfenstein 2: The New Colossus fez toda essa espera valer a pena?
Lançado em 27/10/17, sendo desenvolvido pela MachineGames e publicado pela Bethesda para PS4, Xbox One e PC, além de ter recebido uma versão para Nintendo Switch feita pela Panic Button em 29/06/18. Tratando-se de um jogo de tiro em primeira pessoa, com muita ação, ambientando em uma realidade alternativa onde os nazistas venceram a segunda guerra.
O despertar de Blazkowicz.
Wolfenstein 2 começa com um flashback completo do primeiro jogo (você pode pular essa parte se quiser). Então, vemos que, após derrotar o maldito deathshead, Blazkowicz foi encontrado pelos seus amigos e levado às pressas para ser tratado. Após passar por uma experiência de quase morte, ele acorda em 1961, fraco e no meio de um ataque nazista.
Nesse meio tempo, o grupo sequestrou um submarino chamado Martelo Eva e estavam vivendo escondidos no fundo do mar. Porém, a general Frau Engel acabou encontrando a gente e organizando um ataque ao submarino. Então, Blazkowicz se vê obrigado a sair, de cadeira de rodas (juro) atirando em todos os nazistas que vê pela frente! E é assim, desse jeito absurdo (e épico) que o jogo começa.
Facilitando a seleção.
Primeiramente, vamos a gameplay de Wolfenstein 2. E, como esperado, praticamente tudo dos dois jogos anteriores foi mantido. Então, vou falar só das novidades que na verdade, nem são muitas. A primeira, e menor delas, é o fato de que agora quando levamos dano, B.J deita no chão e podemos atirar deitados. Mas, também ganhamos o ‘’pisão’’. Nele, podemos pular e apertar bolinha para executar um pisão e quebrar passagens frágeis que estão abaixo de nós. Outra é que, antes, nós tínhamos na roda de armas, a opção de realizar a empunhadura dupla. E isso era meio chato, porque muitas vezes você só queria trocar de arma e acabava selecionando uma empunhadura dupla no meio da confusão.
Entretanto, agora existem duas rodas de armas. Uma para cada mão. Ou seja, em nenhum momento eu acionei a empunhadura dupla sem querer, e isso é ótimo! Um detalhe peculiar, é que agora a gameplay está levemente diferente. A movimentação de Blazkowicz está um pouco mais rápida. Todavia, a mira está menos ‘’firme’’ por assim dizer. Então, eu senti uma diferença na hora de troca de tiros e fiquei com a sensação que nos jogos anteriores minha mira era mais precisa e certeira nos inimigos. Em Wolfenstein 2, muitas vezes, eu me via atirando na parede, porque a jogabilidade mudou um pouco.
O retrocesso da furtividade.
Além disso, B.J perdeu a capacidade de escalar paredes com os canos (e abrir portas também). Ao invés disso, temos uma machadinha que nada mais são do que as facas do primeiro. Serve para mortes furtivas e para serem arremessadas. Mas, tem um detalhe importante: O stealth aqui está pior. Os inimigos agora te detectam com uma facilidade absurda! Inclusive, existem cenários que o stealth simplesmente não é viável. Claro que, o foco de Wolfenstein sempre foi a ação, e tudo bem. Porém, aqui simplesmente não vale a pena em nenhum momento.
Mas, o maior problema é que, desde o primeiro, existem generais espalhados pelo mapa. Então, a ideia é você executar os tais generais (normalmente são 2 por vez) de forma silenciosa para que eles não chamem reforços. Porém, no Wolfenstein 2 isso é quase impossível. Algumas vezes você até consegue finalizar o primeiro, mas sempre que você o derruba, algum soldado vai te avistar e entregar sua posição. E ai seu plano furtivo vai para o espaço!
A dificuldade artificial.
E o problema disso é que os inimigos vêm de forma avassaladora, em hordas que parecem infinitas e você precisa se virar pra sobreviver! Para ser sincero, quase sempre (depois de um bom tempo de sobrevivência) o general restante vai ao seu encontro também e você consegue derrubar ele. Mas, isso ocorre depois de muita luta e estresse. Fica bem desbalanceado.
Agora, falando em desbalanceamento, eu preciso falar da dificuldade desse jogo. Wolfenstein não é um jogo fácil. Desde sempre. Mas aqui eles erraram muito na dose. Normalmente, existem inimigos fortes, ou chefões, que vão complicar a sua caminhada. Todavia, em Wolfenstein 2 eles introduziram a bendita dificuldade artificial.
Ou seja, eles te colocam em um cenário apertado, com poucas opções de abordagem, enchem de inimigos e você que se vire para sobreviver. E isso é muito frustrante, pois você fica preso no mesmo cenário morrendo diversas vezes! Na missão que eu tinha que recuperar os códigos de ODIN, bem no final dela, eu cheguei a dar rage quit, para você ter ideia. Era uma área com um cachorro robô insuportável de forte, um soldado de armadura com laser e mais de 15 inimigos. Foi um inferno para passar, e isso atrapalha bastante a experiência porque acontecem várias vezes! Se fosse um momento, era aceitável. Mas são vários!
Bons e velhos perks.
Todavia, era de se esperar que o jogo tentasse de oferecer ferramentas para lidar com esses problemas. Então Wolfenstein 2 faz algumas coisas para tentar te ajudar. Primeiro, na questão das armas, temos poucas novidades. A maior delas é que a nossa arma a laser do The New Order, foi modificada e agora ela é capaz de usar disel como munição e por isso aplica dano explosivo (ela é excelente agora). Além disso, podemos pegar as armas pesadas dos inimigos com armaduras e elas são ótimas!
Outro detalhe é o retorno dos perks. Eles seguem a mesma filosofia de antes, mas agora com desafios diferentes, como matar um número especifico de inimigos com combustão, ou realizar outro número específico de abates corpo-a-corpo, etc. E, assim como antes, nós vamos recebendo bônus por completar tais requisitos, bem familiar.
Fortalecendo as armas.
Entretanto, o que temos de novidade principal é o upgrade das armas! Isso mesmo. Lembra que eu mencionei o fato do The New Order não contar com um arsenal fixo? Pois então, Wolfenstein 2 mudou isso. Nós temos as nossas armas de confiança e elas podem ser fortalecidas (incluindo a granada). No decorrer das fases nós encontramos kits de melhoria e gastamos um ponto para fortalecer um dos três atributos de cada arma.
E aqui é aonde vai totalmente do seu gosto e das armas que você mais usa. Eu usei muito a submetralhadora, então comprei todos os upgrades dela. Mas, um que me ajudou muito foi a munição perfurante do rifle. Contra os inimigos de armadura ela foi salvadora! Só que, como eu disse, vai depender do seu estilo. E sinceramente eu adorei essa adição! Me ajudou muito e é legal ser surpreendido com um kit de melhoria enquanto explora.
Os crocodilos furtivos.
Porém, isso não ia adiantar de nada se não existissem inimigos para derrubarmos não é? Wolfenstein 2 não traz muitos inimigos novos, mas os que traz são bem chatos. Temos os soldados grandes e armados com armas laser que também podem executar um ataque de investida poderoso em você! E principalmente os cachorros robôs que já mencionei. Eles são o terror na Terra, sério. Possuem tamanho médio, são muito ofensivos e atira um míssil que causa muito dano!
Mas, também temos um inimigo bem peculiar aqui: Os crocodilos. Isso mesmo, às vezes, em fases específicas, você pode encontrar um crocodilo escondido na água que vai acabar com seu escudo de uma vez! É um saco. Fique de olho com as águas! Também é legal mencionar que, em alguns cenários específicos, podemos evitar confrontos inclusive contra inimigos que poderiam ser considerados mini-chefes! Se você conseguir encontrar uma saída de forma rápida, é possível escapar sem lutar.
Desvendando os códigos.
Em seguida, é hora de falar sobre os elementos que podemos achar no mapa. Ou você achou que só ia encontrar crocodilos furtivos na sua jornada?! Então, os colecionáveis retornaram, mas como uma roupagem diferente. Temos as artes conceituais, o ouro, brinquedos do max, gravações, e o que eu mais gostei que foram as cartas de estrela. Essas cartas são figurinhas de artistas famosos e cada uma conta com a foto do tal. Parece com as cartas que a Ellie coleta em The Last of Us Part II. Achei bem legal!
Porém, os colecionáveis mais grandiosos são os códigos de enigmas. Você sempre acha um quando derruba um general. E, ao colecionar eles, depois de um determinado momento, você pode decifrar os códigos e descobrir a localização do pessoal de alta patente do exército nazistas. Então, após zerar o jogo, você pode ir atrás dos que restaram! Isso é muito bom de fazer (mesmo sendo difícil), e os alvos apresentam muita resistência, trazendo boas armas com eles! Além disso, nós temos os clássicos kits médicos e armaduras. A diferença maior aqui é que agora você pode só passar por cima dos itens para coletá-los ao invés de ter que apertar o botão de ação sempre.
As garras da Frau Engel
Logo depois do mapa, vem a hora de história. E aqui Wolfenstein 2 escorrega novamente, mas nem sempre. Após expulsar parte dos nazistas do Martelo Eva, Blazkowicz se vê sem opções pois a Frau Engel conseguiu capturar tanto o Wyatt quanto a Caroline e pede para que ele se entregue. Então, depois de se entregar e de presenciar uma cena um pouco traumática, a filha da general, Sirgun, acaba traindo sua mãe e possibilitando a nossa fuga! E, agora em posse de uma armadura poderosa, B.J precisa livrar o submarino das garras da Engel e assim, retomar a sua luta contra os malditos nazistas!
Temas desperdiçados.
Falando assim, a história de Wolfenstein 2 parece ótima e emocionante, mas ela não é. A premissa é justamente tudo que a trama traz. A ideia é ir até os EUA e incentivar os grupos de resistência lá presentes a formar uma revolução e assim vencer a guerra. Porém, a campanha não traz nenhuma surpresa, e poucos momentos inspirados. O melhor momento da história é quando encontramos o Hitler em pessoa e podemos mata-lo (isso vale um troféu hein!). No mais, é totalmente sem graça e sem alma, diferente dos dois anteriores.
Para falar a verdade, durante a jornada nós vamos ter momentos que debatem racismo, gordofobia, misoginia e antissemitismo e essas são discussões e criticas excelentes. Todavia, elas não fazem parte da campanha. São apenas temas a parte e isso é uma pena. Wolfenstein 2 conta mais do passado de Blazkowicz, mostrando sua terra natal, seu pai, sua mãe e isso também é bom. Mas, acaba soando também como algo secundário. A história em si, o seu cerne é muito desinteressante e bem ‘’viajado’’ em certos pontos, onde você presencia eventos realmente absurdos que te tiram da trama. Porém, eu tenho que falar que o discurso final é ótimo!
Iluminação de cinema.
Finalmente, vamos à parte técnica de Wolfenstein 2. A primeira vista, já podemos ver que os gráficos melhoraram com relação aos anteriores. Mas, o que mais me impressionou foram os efeitos de iluminação. Estão simplesmente deslumbrantes! A luz reflete de forma linda nas armas, nas superfícies e vária dependendo do ângulo em que você se encontra. Os cenários também estão bonitos, detalhados e variados. Mas o destaque vai para a iluminação! Já sobre a trilha sonora, foi a melhor da saga até agora. Em vários momentos ela me colocou no clima e por mais que não fosse espetacular, as anteriores deixavam muito a desejar e é bom ver que isso foi aprimorado aqui.
Um mix de emoções.
Agora, o level design eu devo dizer que tive sentimentos mistos. Ele é bom em vários momentos quando traz várias abordagens. Por exemplo, em determinado momento do jogo, podemos escolher entre três equipamentos que nos permitem realizar três abordagens diferentes. Uma por baixo do cenário, outra pelo alto e outra quebrando paredes e portas na pura força bruta. Então, o level design se adequa a isso, deixando essas opções bem visíveis mesmo durante o combate e isso foi muito bem pensado. Mas, em outros momentos (como já adiantei), os mapas carecem de opção, deixando a gente em um ambiente cheio de inimigos e sem nenhuma forma de fugir daquilo e acaba frustrando!
Wolfenstein 3D.
Por último, eu quero comentar um pouco sobre Wolfenstein 3D. Aqui, dentro do Wolfenstein 2, nós temos o jogo original lá de 1992, completo e pronto pra gente jogar na base. E eu não posso deixar de recomendar que você vá lá e teste! Claro que a gameplay é simples. Você só anda e atira. Porém, é muito interessante ver como um jogo tão antigo ainda é divertido mesmo em 2023! Não só isso, como também vai te desafiar! É legal pensar que a ID Software criou algo bem a frente do tempo! Além disso, é interessante para dar uma descansada da gameplay do Wolfenstein 2. Vá lá matar mais nazistas!
Conclusão.
Em síntese, Wolfenstein 2 The New Colossus é uma sequência que traz um pacote misto. Ao mesmo tempo em que inova na iluminação, na trilha sonora melhor, nos kits de melhoria e na roda de armas, acaba regredindo em história, personagens, level design, combate e dificuldade. Ele ainda é um jogo que vai te divertir. Porém, fica muito abaixo, inclusive, do Wolfenstein The Old Blood que é apenas uma expansão.
A essência está lá, mas os erros (principalmente a dificuldade artificial) acabam frustrando aquela que poderia ter sido uma ótima sequência e até ter concluído a história do Blazkowicz! Wolfenstein 2 conta com uma campanha que dura em média, 10 horas e pode chegar até as 32 horas se você pensa em fazer 100%. E é fato que esse é o jogo da saga, até então, que conta com mais conteúdo (incluindo expansões que não joguei e por isso não posso comentar).
Números
Wolfenstein 2: The New Colossus
Wolfenstein 2 continua a história do nosso querido Blazkowicz, trazendo uma iluminação incrível, bons gráficos e uma boa trilha sonora. Mas, acaba pecando no seu level design fraco, na história que não empolga e em um combate menos divertido do que os anteriores.
PRÓS
- Boa trilha sonora
- Ótima iluminação
- Wolfenstein 3D agrega muito ao conteúdo
CONTRAS
- Combate menos viciante
- Dificuldade injusta
- Level design pobre
- História sem graça
- Temas desperdiçados
- Personagens sem graça