Aumentando a radicalização de seu discurso, Jair Bolsonaro vai na direção contrária do mundo. Adota a tática do isolamento vertical – que nenhum Estado vem adotando. Assim, faz um verdadeiro desserviço a uma população que busca conforto nas palavras de um Chefe de Estado.
Anteriormente, já tinha me utilizado desde espaço na Internet para comentar sobre as peculiaridades do Presidente da República. Em especial suas atitudes sobre a contenção do Coronavírus, nova pandemia segundo a Organização Mundial de Saúde. Pois bem, mais pérolas foram divulgadas por Jair Bolsonaro em pronunciamento em cadeia nacional. Basicamente, o que o Presidente defende chama-se isolamento vertical. Ou seja, aqueles do grupo de risco devem ficar em casa, enquanto o restante da população economicamente ativa deve voltar ao trabalho. Indaga-se que a queda da economia com o aumento do desemprego no período pós-pandêmico pode ser ainda pior do que o patógeno que hoje mantém mais de um sétimo da população mundial em casa. Essa argumentação vai na contramão de praticamente todas as nações que se empenham em buscar uma respostas em conter a epidemia em suas fronteiras. A começar pelo Reino Unido.
As Ilhas Britânicas, comandadas pelo premiê Boris Johnson utilizou-se inicialmente do chamado Isolamento Vertical. Não por menos, o país foi um dos últimos na Europa a adotar restrições drásticas, como os governos de Madri, Berlim e Paris já estavam fazendo. Johnson seguia a ideia de que somente os idosos e outros do grupo de risco deveriam ficar em casa. O restante deveria seguir a vida normal. O resultado foi que, em pouco tempo a técnica não surtiu efeito, e em pronunciamento nacional, o Primeiro Ministro mudou radicalmente o tom. Fechou todas as fronteiras do Reino Unido e ordenou que todos ficassem em casa, seja de que faixa etária detinham. A Índia, que detém mais de 1 bilhão de pessoas em seu território ordenou o maior isolamento do planeta. Em ambos os casos, a técnica é o Isolamento Horizontal. Ou seja, não importa quem seja, de que faixa etária. A restrição é para todos os habitantes, salvo as exceções como os serviços essenciais de saúde e de abastecimento. Por fim, mas não menos importante, o bloqueio da atividade humana vai perfeitamente de encontro com o que propõe a Organização Mundial de Saúde e os órgãos sanitários da maior parte dos estados mundiais.
Por tal motivo, soa-se de maneira ultrajante. Sequer dizer paradoxal que o Presidente da República Brasileira adote uma postura de conflito contra todos os órgãos sanitários. Fato é que Jair Bolsonaro só tem olhos para o lado econômico da coisa. Não por menos, era um de seus pilares de apoio com o empresariado brasileiro. De fato, a preocupação de um Chefe de Estado deve estar em ambas as frentes. Depois da pandemia, a economia sofrerá violentamente, e caberá ao Estado, como sempre fez rever esta curva. No entanto, deve mediar o conflito entre a economia e a urgência sanitária, algo que o Presidente não consegue medir em seus discursos. Aliás, nem mesmo em seus discursos para conter os problemas econômicos é possível observar em suas palavras. A agenda neoliberal que se formou em seu governo é inerte em um momento de pressão dentro da economia. Tudo é mais do que passageiro, mesmo que inevitavelmente mortes ocorram. Mais uma vez, é o governo brasileiro indo de forma contrária ao que todos os países do mundo vem fazendo.
Os Estados Unidos, expoente para Bolsonaro, busca uma forma de aquecer sua economia. E para isso, busca injetar o maior pacote econômico da história, 2 trilhões de dólares. A Espanha colocou cerca de 20% de seu Produto Interno Bruto (sem ser público nem privado) a serviço dos serviços de saúde. A Alemanha, que vinha fazendo a cartilha de recuo em gastos públicos, mudou o tom e busca aumentar a dívida do Estado para conter a pandemia e seus efeitos. Enfim, em momentos de choques massivos do lado econômico, o Estado sempre socorreu, sejam os grandes empresários quanto os pequenos. Já no Brasil, a ideia inexiste. Cortar em quatro meses o salário de empregados afastados é restringir a circulação de moeda em um momento que ela já está em baixa. Doa a quem doer, mas soa-se mais uma vez contraditório. O discurso neoliberal aponta o Estado como uma mancha negra na economia, que distorce tudo que o livre mercado tem a oferecer. Contudo, nos momentos de maior crise, é o próprio Estado que deve socorrer aqueles que lhe renegam.
No fundo, o que foi visto no pronunciamento na TV e no rádio do Presidente da República é uma verdadeira afronta. Afronta para os profissionais da saúde e todos aqueles que buscam passar a informação correta para a população. Nenhum país vem buscando a quarentena vertical, como Bolsonaro tanto quer. Nenhum país está fazendo tão pouco para salvar a economia do que o Brasil. O argumento neoliberal de sua equipe não deixam que absolutamente nada de intervencionismo aconteça. Mesmo que Trump, em seu reino americano, venha fazendo esta cartilha. O Presidente tenta elevar o discurso desmerecendo uma pandemia que pode levar a um colapso do sistema de saúde, como o fez na Itália e na Espanha. Se focar na economia só mostra que o Presidente tomou uma posição. Não será uma gripezinha como ele mesmo diz que deixará o Brasil fechado. Assim, indo contra a maré, o Presidente acha que encontrou a fórmula mágica para sobreviver a esta pandemia. Fica a dúvida; será que todos os outros Chefes de Estado estão errados e somente Jair Bolsonaro está certo? Pelo lado da ciência, isso é um ledo engano.
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